de ChaLEAN Extreme e coisas da bota

O programa funciona assim, ó: são 90 dias no total, 3 fases de 30 dias cada. Burn Phase, Push Phase e Lean Phase. Cada fase tem 4 semanas com 5 dias de malhação e 2 de descanso. Dos 5 dias de malhação, 3 são de weight training (Burn Circuit 1, 2 e 3, Push Circuit 1, 2 e 3 etc) e 2 de cardio.

Praticamente acabei a primeira semana da Burn Phase porque amanhã é dia de descanso e a semana recomeça no sábado. Vamos às minhas impressões até agora, começando pelos pontos negativos:

. Cara, levantar peso É CHATO PRA CARALHO. Nem a Chalene consegue melhorar muito a coisa; é chato chato chato, prontophaley.

. Não tem musiquinha, lógico, porque não é aeróbica. E a falta de musiquinha faz a série ficar praticamente infinita. O tempo não passa, é um certo saquinho.

. E aí entra um outro problema: a Chalene é legal e tal, mas ela é PÉSSIMA em duas coisas, cueing e timing. Nas primeiras vezes que você faz a malhação e portanto ainda não conhece a coreografia, você perde um monte de coisas porque ela simplesmente sai pulando e não avisa qual o movimento a ser feito, pra qual lado, quantas vezes – ou seja, cueing. Como ela fala o tempo todo (aquelas coisas motivacionais de americano que a gente ignora solenemente), esquece de avisar a pobre gorda que agora ela tem que levantar os bracinhos 8 vezes pra esquerda. Também esquece de contar, e erra coreografia pra cacete, inclusive entrando errado na música – zero timing. Eu já conheço todas as séries de cor, então corrijo eu mesma e faço o mesmo número de repetições dos dois lados, mas se você for seguir exatamente o que ela faz é capaz de ficar sarada de um lado e gorda do outro ;) Tudo bem, totalmente contornável.

. O programa alimentar é impossível de seguir. É do tipo high-protein, low carb, e eu sou uma pessoa totalmente carb. Sinto MUITA falta da minha ração de 80 gramas de macarrão integral jogados na salada, da batata cozida pequena junto com o franguinho sem gordura, da minha fatia de pão integral no café da manhã. Aliás, o meu maior problema com programas rígidos assim é o café da manhã: quer acabar comigo é me privar da minha fatia de pão torrada com uma fatia fina de queijo e meia de peito de peru e meu copo de leite desnatado com uma colherinha de chá de cacau sem açúcar. Porque qualquer combinação pão + queijo pra mim é a melhor coisa do mundo, e leite com chocolate é a melhor bebida do mundo. Apesar das opções de café da manhã do programa serem bem legais (quase sempre omelete de claras com algum tipo de queijo e verduras, ou então ricota light ou cottage, que eu adoro), nada disso fica totalmente legal sem um pãozinho e um leitinho. De modo que estou penando – e ODIANDO. Como eu estava indo muito bem antes de começar o programa, comendo de tudo mas pouco e contando minhas calorias com o bodybugg, é isso que eu vou voltar a fazer. Vou só aumentar um pouco as proteínas, porque pegando peso não tem jeito mesmo; eu queria muito um shake de proteínas mas aqui no interior do Gabão essas coisas são impossíveis de achar.

. As séries de cardio são UM PORRE, cheias de jairzinhos, polichinelos e outras coisas horríveis e pré-históricas que eu absolutamente abomino, além de queimar muito menos do que os Turbo Jams. Mas não podem ser substituídos por TJ porque incluem breves intervalos de muitas repetições com pesos leves pra aumentar muscle endurance, que o TJ não tem. Então o que eu estou fazendo é fazer um TJ nos dias dos três circuitos de peso (como eu já disse, a semana tem 3 circuitos de peso e dois de cardio chatão, um seguido de alongamento e outro de abdominais), pra poder ter uma queima calórica que me permita comer decentemente. Note to self: NÃO FAZER CARDIO DEPOIS DO CIRCUITO DE PESO, SUA ANTA! Porque o corpo não aguenta. Mesmo.

O ponto positivo:

. Funciona. De verdade. Em uma semana você sente os resultados; é uma coisa louca. No dia seguinte a um circuito de peso os quadríceps femorais gritam sem parar, socorro, socorro, é uma coisa linda. A parte posterior das coxas chora de dor, uma delícia. A sensação de satisfação, the endorphine kick que rola depois de malhar é mais duradoura porque o músculo fica dolorido muito, muito tempo depois que a parada acabou, ao contrário da aeróbica. E a sensação de poder é muito, muito boa. Você fica se achando, de verdade, e com razão: durante a malhação as pernas tremem, o suor escorre, os músculos berram, você faz um esforço a mais e aumenta o peso e consegue terminar as repetições. E aí você tem todo o direito de dizer EU SOU PHODA, FOI MAL AÊ.

Já perdi 9 quilos do meu peso máximo depois da gravidez. Semana que vem já vou conseguir entrar na minha bermuda-milestone (enquanto não couber nela significa que estou imensa), uma xadrez em tons outonais que custou 10 euros na Sisley e que uso com meia-calça e botas marrons. Vai ficar uma tchutchuca com o casaco fúcsia que comprei na H&M em Paris com a Lulu ano passado, mesmo mal podendo experimentar porque as minhas costas estavam tão largas que eu mal conseguia vestir. Experimentei outro dia pra ver se já estava fechando, e dei uma risada: está ó-te-mo, fechando facinho, acinturado, confortável – LARGO. Lindo.

. Um grupo do Facebook chamado “Uccidiamo Berlusconi” (“Matemos Berlusconi”) acabou de ultrapassar os 14.000 membros.

. Berlusconi cancelou um almoço com o rei da Jordânia porque estava com torcicolo. E no mesmo dia entrou num avião e foi pra Rússia numa viagem diplomática. Quando você acha que o cara já conseguiu ofender todo mundo, ele vai e prova que fundo do poço tem porão. Cacetes estrelados…

brasil II

. Neguinho anda revoltadíssimo aqui porque “descobriram” que um senador italiano trabalha em média só 10 horas por semana.

. Depois que o Lodo Alfano foi recusado, Berlusca resolveu atacar de outro lado pra garantir a sua im(p)unidade e quer acelerar a reforma do sistema judiciário. Até aí tudo bem, já que a justiça italiana é lenta mesmo e volta e meia ouço na televisão que fulano foi condenado pelo crime cometido há vinte anos atrás (não tô brincando). O pequeno detalhe que faz a diferença é que essa reforma inclui a submissão do judiciário ao executivo. Então tá.

. Tava rolando uma proposta de lei que transformava homofobia em crime. Logicamente não foi aprovada, inclusive tendo votos contra da esquerda. Bafafá total e reprovação pública da UE.

. A UE deu outro pito na Itália por causa da dívida pública do país, que a UE chamou de “insustentável”.

Peraí, mas eu não tinha saído do Brasil e ido morar na Itália?

potocas

. Pra minha mãe, que continua achando que eu exagero quando digo que a educação na Itália é uma merda: saiu a lista das melhores universidades do mundo, e a primeira instituição italiana da lista aparece só em 174o lugar. A segunda, em 204o lugar.

. Carol assassinou o controle remoto da televisão da sala, de tanto babar nele. Nossos celulares também sofreram um pouco mas voltaram à vida sozinhos.

. Sexta-feira passada foi um dia de desvirginamento. Primeiro foi o lance da escolha do Rio pras Olimpíadas. A cena: eu sentada no chão do banheiro enquanto a Carol brincavana sua banheirinha, dentro do box, com o vidro de shampoo (é lógico que ela prefere o vidro de shampoo a todos os 1.874,5 brinquedinhos de banho que tem). O laptop num canto embaixo da pia, acompanhando a eleição no site do COI e no Twitter. And the Oscar goes to… Rio de Janeiro! Dei um grito, Carol chorou, tive que pegá-la no colo, molhei o banheiro inteiro, ela começou a rir e eu também, fiquei me abanando que nem Miss Universo ganhando o cetro e a coroa, chorando e rindo feito uma idiota. O outro desvirginamento foi o seguinte: deixamos a Carolina na casa da Arianna pela primeira vez enquanto fomos fazer outra primeira vez, uma ópera, no teatro Lyrick (é assim mesmo, com k no final, tá; não pode ser um bom sinal, e realmente não é) na esquina da rua da Arianna. Fomos cedo pra lá, jantamos, e quando começou a ficar meio em cima da hora saímos como se fosse a coisa mais natural do mundo. Depois soubemos que ela brincou, falou e dormiu; o Ettore me ligou praticamente na última estrofe da ópera avisando que ela tinha acordado e tava chorando. Saímos correndo pela rua feito uns doidos, mas era fome, coitada; bastou a mamadeira hipercalórica da noite (3 biscoitos de criança, sem gordura nem glúten nem ovo nem açúcar, que se dissolvem rapidamente na mamadeira; 2 colheronas de creme de arroz, milho e tapioca, muito comum por aqui; 2 colherinhas de um pozinho com açúcares e vitaminas especiais pra crianças com baixo peso) pra ela sossegar. Dormiu no carro e não reacordou, felizmente.

. A ópera: era Rigoletto, com certeza uma das menos badaladas. O único trecho conhecido é “La donna è mobile”“. Eu não conhecia NADA da história e nem tive tempo de catar na Internet, então fui no escuro mesmo. A experiência foi interessante porque, poxa, eu nunca tinha ido à ópera e gosto muito de música clássica. Mas tudo tem um porém, não é mesmo. Nesse caso os poréns eram vários. A acústica do Lyrick é HORRÍVEL, como já tínhamos constatado há alguns anos no espetáculo do Stomp. Isso porque ele não foi concebido como teatro; era uma fábrica de sei lá o quê (acho que produtos químicos, não lembro) que fechou ou faliu (também não lembro; veja que contadora de histórias que eu sou) e mais tarde foi reaproveitada. Uma das partes virou clube de bocha com um bar nos fundos que vive cheio de desocupados jogando carta nos fins de semana. A outra parte virou esse teatro absolutamente hediondo, por fora e por dentro. O espaço entre as desconfortáveis poltronas é microscópico. Nas laterais do palco há painéis reproduzindo os afrescos de Giotto na basílica de San Francesco, com direito às partes danificadas pelo terremoto de 97 e tudo. Enfim, um horror.

E aí começa o espetáculo. Era uma montagem modernosa – ODEIO. Adoro novidades e mudanças, mas acho que há algumas coisas – muito poucas, na verdade – que devem ficar como sempre foram. Balés clássicos e óperas são algumas delas. Tristeza ver o Rigoletto de salopete jeans e uma mochila de plush rosa-choque como corcunda. Simplesmente não dá.

O coro. O coro não era desafinado, mas não cantava em conjunto. Volta e meia a voz de um dos cantores sobressaía, o que, até onde eu sei, não deve acontecer.

Os cantores. Não entendo nada de ópera, mas não gostei de nenhum. Pouquíssima potência vocal (se bem que pode ter sido tudo culpa da acústica), vozes que sumiam afogadas pela orquestra com uma frequência um pouco excessiva. A cantora que faz a filha do Rigoletto não alcançou várias notas, embora tenha tentado com empenho.

O cenário. O cenário praticamente não existia, e talvez tivesse sido melhor não colocar cenário nenhum. Porque em um certo ponto da história desce do teto uma GRADE ao longo do palco inteiro. O Rigoletto se esgoelando na frente da grade e a filha dele atrás. Quem acha que colocar qualquer coisa entre o público e o que o público deve ver é uma idéia de jerico levanta a mão. Quase fiquei vesga tentando ver a desgraçada da mulher piando por trás da grade. Pra quem estava sentado bem na frente talvez não tenha incomodado tanto, mas quanto mais longe você fica, mais os contornos da grade ficam fuzzy e viram uma coisa só, uma mancha cinzenta que cobre a maldita da cantora, deixando-a meio fora de foco. A sensação era a de estar dirigindo num temporal, sabe, quando você tem que se esforçar pra distinguir o que está vendo porque tudo está no meio daquele cinzume todo. Desagradável.

O figurino. Já falei da salopete do Rigoletto, mas não disse que a Maddalena era gorda e estava usando um corpete preto com as costas cheias de amarrações, com direito a banha espremida entre elas, calças pretas justas que a deixavam com um culote gigantesco e botas de cano alto que em uma certa cena ela tinha que tirar, revelando batatas da perna imensas. Também não disse que a sua peruca ruiva era tão, mas tão artificial que de onde eu tava dava pra ver os reflexos da luz no nylon. Vergonha alheia total.

Mirco e Gianni fugiram correndo no primeiro intervalo e foram tomar cerveja no bar do clube de bocha. Eu, Chiara e Yari resistimos bravamente. A música de Verdi é muito boa e fechando os olhos dava pra se divertir. Quando começaram as primeiras notas de La Donna è Mobile sentia-se no ar a vontade coletiva de cantar junto, bater palminhas ou pelo menos fazer nãnãnãnãaaanãnã, coisa que felizmente ninguém fez (embora todo mundo tenha aplaudido na hora errada O TEMPO TODO). Dá arrepios mesmo e só aquele trechinho já compensou todo o resto. Imagino como deve ser legal ver uma ópera que você conhece melhor, tipo Carmen ou alguma do Mozart. Fiquei tão empolgada que comprei um Nozze di Figaro pela Amazon; deve chegar essa semana.

Enfim, fui embora quando o Rigoletto já estava chorando a morte da filha, de modo que não perdi muito. Quando finalmente deitei na cama estava me sentindo refreshed. Gostei.

. Meus novos melhores amigos, bodybugg e Chalene, estão derretendo minhas banhas a olhos vistos. Perdi 9 quilos (considerando o peso máximo a que cheguei, embora só tenha começado a malhar e contar calorias seriamente depois de já ter perdido uns três) até agora e minhas coxas estão ficando duras feito pedra. Essa semana tenho um trabalho chato pra entregar, mas semana que vem vou voltar a cumprir minha promessa de não pegar mais traduções gigantes pra poder organizar a minha vida direito, e vou começar o ChaLEAN Extreme, inclusive fazendo as receitas do programa. Vamos ver o que vai acontecer em 90 dias. Porque não sabemos ainda onde vai ser a festa de aniversário da Carolina, mas eu vou usar o que eu quiser, e não o que couber. Estou prometendo; podem cobrar.

. Divirtam-se com a imprensa internacional sobre o caso Berlusconi.

Le Figaro
Le Monde
Spiegel Online (cortesia da @FrauGlaeser)
Guardian
CNN International (adorei a descrição do Berlusca como “flamboyant”)
El País

bota

Estou sem tempo até pra fazer xixi, mas não podia deixar de comentar aqui hoje.

Ontem o Lodo Alfano, o projeto de lei que dava imunidade TOTAL aos 4 cargos mais altos do governo, foi recusado. FOI RECUSADO!

Uma série de considerações deve ser feita:

. Os fãs de Berlusconi dizem que não importa porque ele não é culpado de nenhum dos oitocentos mil processos no qual está sendo acusado de coisas diferentes. O que esquecem de mencionar é que foi inocentado de alguns por juízes tipo de Bari ou de Palermo (pra quem não sacou: terras de máfia) nomeados tipo poucas horas antes da sentença. De outros saiu incólume porque o crime prescreveu – mas prescreveu porque ele mesmo fez leis que reduzem o tempo de prescrição. De outros escapou porque o crime não é mais considerado crime – de novo, por decisão dele mesmo. Então tá.

. Antes da sentença sair ele andava por aí dizendo que se a lei não fosse aprovada, se demitiria. Estamos esperando sentadinhos (porque em pé dá varizes).

. O Presidente da República, que na verdade não tem muito poder mas em alguns casos uma determinada lei pode depender da assinatura dele pra ser aprovada, virou praticamente de esquerda porque nos últimos tempos vem repetidamente vetando maluquices do governo ou comemorando decisões esquerdistas como essa de ontem.

. Essa semana Berlusconi foi condenado a pagar não sei quantos milhões de multa numa história entre editores que não entendi muito bem porque não estou acompanhando. Os seus jornais imediatamente manchetaram coisas tipo “injustiça! Ataque pessoal!” etc.

. O respeito às autoridades judiciárias é uma pedra fundamental de qualquer democracia. Quem acha que Berlusca vai inventar alguma coisa pra virar a mesa e anular as decisões contra ele diga EU! (TM @realwbonner). Na boa, daqui a pouco a situação aqui vai estar tão insustentável que a ONU vai ter que mandar tropas. Juro.

merda sul ventilatore

Rapaz, a coisa tá feia aqui na bota.

O escândalo do Berlusconi com as garotas de programa de luxo tá dando pano pra manga, lógico. Ontem uma das tais garotas deu entrevista num programa radicalmente de esquerda, o Anno Zero, que conseguiu milagrosamente voltar ao ar depois das férias mesmo depois de uma certa campanha contra da parte da direita. Confirmou que, sim, passou a noite na casa do presidente do conselho de ministros, que foi sempre muito gentil com ela, se interessou pelos seus problemas (parece que ela estava fazendo o tal programa pra conseguir abrir uma atividade comercial cuja falência tinha causado o suicídio do pai, não sei direito porque não vi e o Mirco tava meio dormindo quando viu e não lembra direito) etc. Entre outras coisas.

Aí rolam várias coisas paralelas, que dão mais pano pra manga ainda. Berlusconi visita o Papa numa semana e na semana seguinte o mesmo Papa faz sermão contra o divórcio (não precisamos nem dizer que o Berlusca está se divorciando da sua mulher plastificada e peruésima). Váaaarios debates sobre a posição da igreja nessa história toda, que não deu um pio consistente sobre o comportamento nada ortodoxo do presidente. Rolam também tentativas de mudar de assunto, tipo o discurso do Berlusconi na festa de aniversário do seu partido, falando que a esquerda torce pra crise piorar pra poder botar a culpa na direita e que comemorou a morte dos soldados no Afeganistão porque é contra a presença de militares italianos lá (no comment). Rola o presidente do conselho querendo processar jornais italianos e estrangeiros que dão notícias sobre o caso das prostitutas e outras coisas bizarras sobre ele; em particular, o jornal italiano que ele quer processar está pra ser processado por ter publicado, todos os dias há não sei quantos meses, uma série de dez perguntas que gostariam que Berlusca respondesse. Tipo assim, o cara quer processar um jornal POR FAZER PERGUNTAS. A coisa é tão absurda que até a União Europeia já meteu o bedelho; pena que perdi o link do Figaro sobre o assunto. Váaarios debates sobre a liberdade de expressão no país, já que os maiores jornais, as maiores revistas, as três maiores redes de televisão privadas, as maiores editoras todas pertencem ao Presidente do Conselho. Agora tá rolando ainda um lance sobre o chamado “escudo fiscal”, que não entendi direito porque não estou acompanhando bem, uma lei que permitiria o retorno de grana pertencente a italianos e atualmente investida em paraísos fiscais mediante o pagamento de uma multa ridícula. O mecanismo é complexo mas logicamente, vindo de quem veio, as intenções não podem ser lá essas coisas; ontem o partido do Di Pietro, meu ídAlo, fez um protesto em Roma com todo mundo vestido de mafioso, pois segundo eles esse tipo de manobra só vai favorecer quem lavou dinheiro e mandou pra fora, bem coisa de mafioso mesmo. Vou pesquisar mais sobre o assunto e quando entender alguma coisa venho aqui dar os detalhes. Rola o Presidente do Conselho que diz, ao lado de um Zapatero meio surpreso, que é o melhor presidente do conselho da história do país. Rola o Presidente do Conselho dizendo “ou ela ou eu” sobre uma repórter que lhe faz perguntas cabeludas. Rola que tudo isso, tudo isso mesmo, começou com uma carta, publicada em um jornal, escrita pela mulher do Berlusca que afirmava que estava se divorciando porque o marido “frequenta menores de idade” – daí partiu o primeiro escândalo, aquele sobre o Berlusca na festa de aniversário de 18 anos da tal Noemi Letizia e as entrevistas com ela, que dizia que o chamava “papi” e que eram “muito íntimos”; uma coisa horrorosa, enfim.

Em suma, o país ferve. Nem Janete Clair seria capaz de inventar uma história tão rocambolesca assim.

Estou me divertindo horrores.

A Daíza postou dois links ótimos, um pra esse vídeo hilário (inglês com legendas em italiano) e outro pra esse jornal “alternativo”, onde recomendo os artigos de Marco Travaglio.

Enquanto isso, Carolina anda cada vez mais ridiculamente cabeluda, engatinhando à velocidade da luz, cruising de móvel pra móvel e atualmente se especializando em ficar em pé segurando-se com uma mão só, alternando dias de greve de fome com dias de comilança desmedida, falando “tetetetete” e “mamamamama” e “dadadadada” e “bababababa”, rindo quando me vê malhando e se sacudindo quando ouve música.

berlusca don giovanni

A Dri pediu pra eu comentar o episódio do divórcio do Berlusca, mas sinceramente estou pouco informada sobre o assunto porque cada vez que eu vejo aquela cara bronzeada-cor-de-tijolo dele com aquela cabeça asfaltada de cabelos na TV eu mudo de canal. A Daíza resumiu muito bem a coisa, pra quem quiser entender melhor (e dar umas risadas).

Ontem vimos um pedaço de Ballarò, um programa de debate político que sempre acaba em porrada. Em um certo momento o Franceschini, secretário-geral do maior partido de oposição, fez um comentário irônico, tipo “sim, sim, foi a esquerda quem manipulou as informações, afinal de contas somos nós que possuímos a imprensa nesse país, jornais, revistas, canais de televisão”. E um figurão da direita ainda se sentiu ofendido! Cara, é rir pra não chorar. Mais cedo, o Striscia la Notizia, o meu, o seu, o nosso programa italiana preferido, tinha dito que não iria fazer piadas sobre um assunto tão sério… mas que tinha certeza de que a coisa acabaria bem porque o Besluconi vai acabar criando uma lei que proíbe o divórcio dos mais altos escalões do governo. Hohohoho! Vocês duvidam? Não, né.

Enquanto isso, decidi dar o meu cinque per mille (cinco por mil, ou cinco milésimos, como você preferir) à UAAR. Se você não marcar nada na sua declaração de imposto de renda esses cinque per mille vão pro governo, você sabe, né.

terremoto

Obrigada a todo mundo que escreveu perguntando se tava tudo bem por aqui.

Sim, nós sentimos o terremoto, mas o epicentro foi no Abruzzo e aqui na Umbria não houve vítimas nem danos. Mas o tremor foi tão forte que foi sentido até em Roma, que, além de ser tudo na vida, normalmente não treme. Eu tinha acabado de botar a Carol pra dormir, depois da mamada das 3 da manhã, quando senti a cama tremer. Achei que fosse o Mirco se coçando e já tava pronta pra dar uma cotovelada nele quando ouvi os armarios rangendo e vi as abelhinhas do móbile da Carol balançando. Oplá, pensei. Sentei correndo na cama pronta pra pegar a Carol e sair correndo, mas não senti mais nada. O Mirco acordou (ele só acorda com terremoto mesmo), abriu a janela pra ver-ouvir se tava rolando algum bafafá na rua, mas aparentemente ninguém nem saiu de casa. E voltamos a dormir.

Mamãe ficou tão aterrorizada que agora só dorme com o seu melhor pijama, pra não ficar perambulando molamba na rua (e aparecendo molamba na televisão) se a casa cair.

uia

Acabou de tocar a campainha. Fui toda sorridente abrir a porta achando que era a Arianna, pra sessão vespertina de babação de neta, mas dei de cara é com um padre. Com aquele negocinho de água benta na mão. Confesso que fiquei sem reação: apesar de saber que de vez em quando eles passam pra benzer as casas, isso nunca tinha acontecido com a gente. Aliás, acho que eu nunca tinha visto um padre tão de perto, se vocês querem saber.

Vejam bem, eu não tenho nada contra padres, individualmente falando, embora ache que qualquer pessoa que escolha uma estrada de celibato e puxação de saco papal e estudos muito sérios de contos da Carochinha e histórias pra boi dormir não pode estar muito bem da cabeça. Eu só não quero é que venham me torrar a paciência e me catequisar. Coitado, duvido que quisesse me catequisar, mas tenho certeza bissoluta que ele ficaria esperando uma oferta no final da baboseira lá dele. Jamais me passou pela cabeça deixá-lo entrar, logicamente, apesar de saber que uma bênção sem sentido e uns esguichos de simples H2O sejam completamente inofensivos; digamos que é contra a minha religião ;) Mas também nunca pensei de antemão em que tipo de resposta dar nesse tipo de situação. De modo que quando ele sorriu e perguntou “Posso?”, eu sorri muito educadamente e disse com o máximo de delicadeza possível, “Não! Desculpe, mas não!”. Ele ficou me olhando com cara de bunda; também não deveria estar preparado pra essa resposta vinda de alguém obviamente não muçulmana. Depois sorriu, apontou pro enfeite cor-de-rosa pendurado na porta e disse, “De qualquer maneira, felicidades por esse evento tão feliz”. Sorri de volta, agradeci, pedi licença e fechei a porta.

Enquanto isso, em Terni, um professor que retirava o crucifixo da parede da sala de aula antes de começar a lecionar e o pendurava respeitosamente outra vez antes de sair (lembro-vos que o crucifixo não tem nada que estar ali, to start with; as escolas do governo são laicas, por lei) foi suspenso e multado. O mundo laico italiano está dando o maior apoio pra ver se consegue-se livrar o cara da sentença absurda e aproveitar o fuzuê pra acabar com essa palhaçada de crucifixo em tudo o que é lugar público. Um juiz judeu chegou a ser preso porque se recusou a trabalhar num tribunal com um crucifixo gigante pendurado bem atrás dele na parede, mas já foi liberado. Não preciso nem dizer que nenhuma das duas histórias ganhou muita notoriedade na imprensa.

É por essas e outras que eu quase, quase tirei o crucifixo do meu quarto do hospital e deixei um post-it no seu lugar dizendo “Volto logo”.

vita da casalinga (vida de dona-de-casa)

Mais ou menos, já que a faxineira vem duas vezes por semana pra dar aquela geral, minha mãe passa roupa e no final das contas o que eu faço de trabalho de casa é só cozinhar. Também só faltava eu ter que fazer mais alguma coisa, com a Carol sendo assim tão time consuming. A parte da dona-de-casa entra no setor intelectual da minha vida atual. Porque embora eu esteja tentando trabalhar um pouquinho, passo a maior parte do tempo sentada no meu acampamento no sofá da sala, ou dando mamadeira pra Carol, ou tentando dar o peito, ou esperando que ela arrote, ou trocando fralda. E nessa logicamente a televisão fica ligada o tempo todo, de modo que acabo assistindo aos programas que as donas-de-casa assistem.

Eu e minha mãe já demos tanta, tanta risada com o nível de “cafonismo” (TM mirco) e de hediondidade da televisão italiana que a Carol chega a acordar quando está no colo de uma das duas. Eu sei que vocês já tão carecas de saber que a TV italiana é o horror, o horror, mas eu juro, tem que ver pra crer. Os cabelos, as golas, os sapatos, a maquiagem… Jisúis! Por isso que esse país tá desse jeito. Não tem absolutamente LA-DA de interessante pra ver o dia inteiro! Acabo vendo e revendo os mesmos filmes over and over. Aliás, a coisa mais chata de bebê (além de sleep deprivation, é claro) é que você nunca, nunca fica com as duas mãos livres ao mesmo tempo. Freqüentemente não fica nem com uma só das mãos livres. E conseqüentemente não dá pra ler. De madrugada, durante as mamadas interminavelmente lentas e quando eu prefiro não ligar a TV pra ver se a Carol aprende que à noite não se faz nada além de dormir, seria maravilhoso poder ler alguma coisa. Qualquer coisa. Mas tá na cara que tão cedo não vai dar. Que puxa…