28.02.05

libri e ancora libri

Domingo de manhã, enquanto o Mirco não acordava, li The BFG, de Roald Dahl, que é muito divertido. Imagino que traduzir aquilo deve ser um castigo dos infernos, porque os neologismos e jogos de palavra são numerosíssimos, e interessantíssimos. Concordo pRenamente com o Alexandre: se você não fala Inglês, está morto para o mundo, meu amor. Sorry.

Depois do almoço na Arianna passamos no Gianni pra acertar umas contas, e depois fomos pra casa. Fiquei passando roupa até a hora do jantar, e chapamos vendo 12 Monkeys. Nunca consegui ver esse filme inteiro, impressionante.

E comecei The Old Man And The Sea, de Hemingway, que estou custando a ler por falta de capacidade de concentração. Minhas mãos ainda estão doendo, mesmo depois do fim de semana sem nem tocar no computador, mas vou ter que agüentar a onda porque tenho 40 páginas pra entregar antes de partir pra Argentina. Ui.

Postado por leticia em 14:04

27.02.05

mais feshtenha

Sábado teve festa na casa da FeRnanda. Antes passamos na casa dos sérvios, que tinham convidado a gente pra jantar. Batemos um papinho, comemos uns antipastinhos e uma sopinha, que eles fazem muito bem, botei as fofocas em dia com a Aurora, uma italo-sérvia IMENSA (tanto de altura quanto de ossatura), inteligente e muito esperta que estuda em Terni, e depois fomos pra Ripa. Nevava, mas não tivemos problemas na estrada, que felizmente não tava congelada – Ripa fica no alto de uma colina, como todo bom castelinho medieval, e quando a temperatura cai de repente depois de uma chuva não há carro no mundo que suba a ladeira. Chegamos junto com a Nadia e o Aldo, que moravam em Rivotorto mas se mudaram pro Brasil e estão aqui de férias. Bem mais tarde chegaram a irmã da FeRnanda, Renata, com o marido Stefano; moram na Toscana e ela saiu do trabalho tarde, encontraram neve na estrada, e levaram horas pra chegar. Aí atacamos: pão de queijo, pastel de carne e palmito que o Fabião improvisou, salgadinhos mil, salame, mortadela, alho em conserva, coisinhas do gênero. O bolo, de cenoura com cobertura de chocolate, foi ela mesma quem fez, coisa completamente inédita já que na família dela ninguém cozinha nada, há gerações e mais gerações. Não comi, mas todo mundo gostou. Também teve brigadeiro e bolinho de chuva, parabéns animado, a cachorra fazendo xixi de agitação, Skank tocando no som, risadas e muitas fotos, que eu obviamente não vou botar aqui porque estou em momento anti-foto total. Chegamos em casa às três da manhã, a massa falida.

Postado por leticia em 14:02

26.02.05

feshtenha

A festa do Franco acabou não sendo tão divertida como costuma ser. Chegamos tarde, porque dei aula até as oito da noite, e acabamos ficando na ponta da mesa oposta à dele e dos amigos que conhecemos. Ao nosso lado, duas professoras de Inglês, uma da Università degli Studi di Perugia, e a outra da Stranieri, justamente pro curso de Comunicazione Internazionale que eu quero fazer. Foi uma pena ter sentado ali, porque o Franco e seus amigos mais íntimos são as pessoas mais cultas e engraçadas que eu já conheci aqui na Itália, senão na minha vida inteira.

Ele mesmo é professor de Inglês e tradutor, lá na Stranieri. Um homão alto, forte, peludo, e bichérrimo, e que ainda por cima tem uma queda pelo Mirco. Uma história sua famosa rolou lá mesmo na universidade: ele, fazendo mil gestos, caras e bocas pra explicar sei lá o quê, até que um aluno levanta a mão e diz:

- Pô, professor, o senhor faz tanta careta que fica parecendo até que é meio bicha!

Ao que ele responde:

- Só meio, querido?

A única vez que eu dei mais risada do que quando ele contou essa história foi ele mesmo relatando o dia em que ficou preso no carro do Mizio. Mizio também ensina Inglês e também é tradutor, mas fala Português de Portugal e sempre me cumprimenta dizendo "como estás?", que eu acho engraçadíssimo. Ele é um amor, e de uns tempos pra cá anda trabalhando com cerâmica, usando uma técnica antiga que sempre foi segredo de família, e que ele resgatou. Temos um vaso meio dourado dele lindão aqui na sala.

Mas então: o Franco é a pessoa com menos senso prático que já pisou na face da Terra. Não sabe usar celular nem videocassete, não sabe usar o cartão do banco, e quem administra suas finanças é um amigo que trabalha num banco. Não sabe dirigir, não sabe nem ferver água pra fazer chá, e cada dia janta na casa de um amigo, ou num restaurante, ou algum amigo vai à casa dele pra cozinhar.

Um dia Mizio foi buscá-lo pra ir trabalhar, e no caminho passou no supermercado. Franco tinha caído no sono, e como era uma coisa rápida, Mizio trancou o carro, um Toyota ou outra coisa do gênero, e deixou o homem lá dentro. O tempo foi passando, o sol foi esquentando, Franco começou a suar e acabou acordando. Quis abrir a janela pra se refrescar, mas não conseguia. Tentou abrir a porta, mas não achava a alavanca ou o botão. Começou a sinalizar loucamente pras pessoas que passavam, mas obviamente ninguém se dignou a parar pra falar com aquele maluco de peito peludo que esmurrava os vidros de dentro do carro. Só quem parou foi um negão, um africano que vendia bugigangas. Franco desesperado tentando se fazer entender, e o negão nada. Franco tira da bolsa um caderninho de telefones e encosta na janela, apontando pro nome do Mizio – aparentemente ele queria que o negão telefonasse pro celular do Mizio, não se sabe como, pra que ele viesse abrir a porta. Nesse momento Mizio sai do supermercado, vê aquele negão enorme parado em frente à janela do carona, e, achando que eles estavam marcando algum encontro caliente, não se aproximou, pra não interromper as negociações. O tempo foi passando, o negão nada de sair dali, Mizio achou estranho e foi ver o que tava rolando. Quando finalmente abriu a porta, o comentário do Franco foi:

- Odeio o design japonês.

Crianças, ele e o Mizio contando essa história deixam você ficar sem ar de tanto rir. A cara do Franco imitando ele mesmo quando finalmente Mizio abriu a porta e ele pôde dar aquela super-respirada, é o que há. Até hoje quando eu lembro dessa história fico rindo sozinha.

Faltou só o Francesco, ex-chefe do Mirco e da Stefania na empresa onde eles trabalharam há alguns anos. Francesco é um genovês requintadíssimo, discreto, educado, bem vestido, cheiroso, culto, divertido, viúvo e rico. Sentimos falta dele no jantar, que no final acabou sendo divertido do mesmo jeito, principalmente no momento abertura de presentes. Eu dei um livro do Ian McEwan, Mirco deu um quadro de metal com ímãs pra fotografias, que ele mesmo pintou. Mizio deu uma caneta que estica, virando um apontador daqueles tipo antena de TV, pra dar aula. Os comentários do povo, conhecendo o retardamento tecnológico do aniversariante: só não vai esquecer de encolher a antena pra escrever, hein? E ele dando risada, e fingindo que escrevia com aquele negócio compriiiido.

Quando saímos do restaurante a neve tava caindo direto, mas felizmente não tivemos problema na estrada.

Na sexta não tivemos forças pra fazer nada. Gianni veio aqui em casa resolver mais uns dos intermináveis detalhes da viagem à Argentina, e acabou indo embora depois da meia-noite. Eu chapada, com as mãos tremendo, os punhos doendo horrivelmente, os tendões gritando de tanto digitar, e ainda por cima tendo que escrever e-mail pra uma criatura chamada Sema, que não sei nem se é homem ou mulher, perguntando se há vagas no hotel em El Calafate. Devo ter picado muita salsinha na tábua dos dez mandamentos mesmo.

Postado por leticia em 14:00

25.02.05

Gente, alguém pode me indicar um bom hotel em Buenos Aires? Andamos dando uma olhada, mas achamos tudo meio cafoninha. Por favorrrrr?

Postado por leticia em 23:44

num credito!

Acabei a Tradução Infinita! Nem acredito!

Tô com os punhos doendo, vou lá comer uma pizza e descansar minhas mãozinhas exaustas e em estado pré-LER. Ciao.

Postado por leticia em 20:10

24.02.05

de neve, livros e mais nada

Ontem nevou bastante no país inteiro. Toda a Itália parada por causa dos transtornos causados pela neve, inclusive as ilhas. Até aqui no interior do Gabão nevou direitinho, uns flocos imensos, que se acumulavam na estrada. Lá pra hora do almoço o sol saiu e derreteu tudo. Hoje tá um frio desgraçado, mas nada de neve; céu limpo e ar fresco típicos do inverno. Uma das tulipas roxas já está dando o ar da graça, devagarzinho. A embalagem diz que é uma espécie de "fioritura tardiva", e provavelmente a flor só vai sair em abril ou maio. Não tenho pressa.

Pro Franco Romano comprei um livro do Ian McEwan que eu nunca li, mas gosto do autor e acho que ele vai gostar, até porque é professor de Inglês e tradutor. Pro Gianni comprei a tradução de White Teeth, de Zadie Smith, que é uma das coisas mais hilárias que eu já li. E pra Fernanda comprei a tradução em italiano de High Fidelity, que é outra das coisas mais hilárias que eu já vi.

Estou gostando de The Lady Chatterley's Lover. O início é meio lento, mas agora a coisa começa a esquentar – e bota duplo sentido nisso.

E como eu sou uma pessoa problemática, lógico que não me contentei com os três livros pra presente, e pra mim mesma, porque eu mereço, comprei Fight Club, que eu ainda não tinha lido, do Chuck Palahniuk; BFG, do Roald Dahl (o que a Camila, um docinho, filha da Julie, ganhou de Natal); The Old Man and the Sea (porque eu falei que esse ano seria o ano dos clássicos); The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, de Mark Haddon, porque mesmo se eu nunca tivesse ouvido falar desse livro, com esse título ele já teria me enchido de curiosidade; e Storia del Miracolo Italiano, de Guido Crainz, aquele que eu ouvi no rádio outro dia se perguntando comé que a Itália virou primeiro mundo (cof cof cof) sem nunca ter deixado de ser um país de camponeses ignorantões. Estou curiosíssima, íssima, íssima. Compartilharei, compartilharei.

Postado por leticia em 12:03

23.02.05

zoo station

E pra não deixar o dia de hoje sem post... As aventuras de Legolas, o cachorro que dorme sentado, no Mundo Encantado dos Bichos da Arianna, acompanhado de sua fiel escudeira, a gata tigrada Priscilla (pronúncia-se Prishilla, tá?). A foto mostra nosso super-herói em momento de relax, tendo ao fundo o pombal, patos e galinhas. Isso porque não é mais época de gansos nem perus, e os coelhos morreram todos.


Postado por leticia em 12:08

22.02.05

ew

Ainda não terminei a Tradução Mais Chata do Mundo. Não consigo me concentrar, o troço é chato demais! Agora falta pouco, mas parece que por isso mesmo faltam também as forças. Só de olhar pro Word já tenho vontade de sair correndo.

A sorte é que vem outra tradução legal depois. Estranha, mas legal. E é segredo também, então tá de bom tamanho que vocês fiquem felizinhos por mim, tá bom?

Postado por leticia em 08:52

cicogna

Tá uma engravidação generalizada ultimamente. Primeiro foi a Ane, depois a Carola; no fim de semana recebemos a notícia de que Marco e Michela, nossos companheiros de sagra do ganso, da cebola, do aspargo etc, também estão in dolce attesa. Gianni e Chiara andaram jogando um papo pra cima da cegonha e torcem pra serem presenteados esse ano. Só falta a FeRnanda, que acho que só não engravidou ainda porque não consegue pensar em outra coisa além de engravidar.

Falando em FeRnanda, sábado tem festchenha de aniversário dela em Ripa. E ontem, bem no meio do FotR, que passou no Canale 5, ligaram pra nos convidar pra um jantar gay na quinta. Aniversário do Franco Romano, que é uma figuraça. Estranhamente, esse ano o balacobaco não vai ser em restaurante chinês. De qualquer maneira vai ser ótimo; não vemos esse pessoal há muito tempo e eu já tava ficando nostálgica.

Postado por leticia em 08:46

21.02.05

nham

Há alguns meses a Carola me mandou, lá de Dubai, um pacotinho de curry pra carnes, um de curry pra legumes, e um de páprica. Já usei todos, de vários jeitos, mas o problema maior sempre era o molhinho, que nunca ficava legal. Hoje acho que acertei.

O peito de frango, que eu tinha no congelador, já cortado em cubinhos, ficou marinando desde manhã cedo em um pouco de azeite, o curry pra carnes, páprica, uma folha de louro e alho bem amassado. Lá pro meio-dia acendi o fogo e "saltei" o frango na frigideira anti-aderente, até pegar uma corzinha. Polvilhei um pouco de farinha de trigo e juntei um pouco de leite, que, com a farinha, engrossou um pouco. Deixei tudo cozinhando assim com a panela tampada. Resultado: o frango ficou superhipermegamacio, desmanchando na boca; o molhinho, antes pálido, pegou a cor e o sabor do curry e ficou numa consistência perfeita – pra ajustar, um tiquinho de água, se necessário. Joguei umas amêndoas tostadas no final, pra dar um tchan, e pronto. Comi com arroz selvagem bem temperadinho com alho e cebola. Ficou uma verdadeira di-li-ça. Bobo do Mirco que não gosta dessas coisas e foi de spaghetti com molho de tomate-cereja e atum.

Pro jantar de hoje vou fazer frango com cerveja no forno. O pedaço é pequeno e não identificável (a Arianna que me deu, e eles aqui cortam o frango de um jeito completamente diferente do nosso, não entendo nada); vai ficar pro Mirco, com batata palito feita no forno. Eu provavelmente vou de salada de alface com atum e milho, ou então faço uma sopinha de cereais, que com essa temperatura e essa dor de garganta cai muito bem, obrigada.

Adoro ficar em casa e ter tempo pra cozinhar com calma. Mesmo que o motivo pelo qual eu estou em casa seja uma tradução chatíssima e, conseqüentemente, interminável.

p.s.: Ah, ontem consegui meia hora pra começar a estudar Francês, e peguei no sono lendo Lady Chatterley’s Lover, que é um livro, hm, como direi, singular.

Postado por leticia em 13:42

20.02.05

ARGH

Domingo é dia de almoçar na sogra, então lá vamos nos comer pasta fatta in casa e bichos estranhos grelhados na brasa da lareira – hoje eram puntarelle di maiale, costelinham de porco, que eu acho trabalho demais pra pouca carne e sempre ignoro solenemente.

Enquanto estávamos dando uma geral na cozinha, chega o Salame-Mor do tio do Mirco com seu filho (...), o chatinho com cara de albanês. Chatinho é pouco. E além de chatinho é burrinho – tem quase quatro anos e ainda fala numa língua que só ele entende, e não compreende coisas óbvias que a gente lhe repete vinte vezes. Eu com essa idade praticamente já sabia ler, mas tudo bem, eu sou mesmo um fenômeno e estatisticamente não conto. E além de chatinho é mal educado, e eu tenho muito medo desse menino quando crescer. Até porque a mãe é maluca, maluca mesmo, em uso de psicotrópicos, história de internação psiquiátrica, acompanhamento pelo Centro de Saúde Mental da cidade, uso do filho como escudo quando é ameaçada, e outras coisas legais desse tipo.

O problema é que é difícil evitar a falta de educação e a idiotice eterna. Olhem que exemplo brilhante de maravilhosa pedagogia infantil:

Legolas está deitado embaixo da mesa da cozinha, exausto, dormindo e roncando, depois de muita brincadeira nos campos em torno da casa. O Chatinho, sentado numa cadeira, começa a cutucar uma pata do Legolas com o pé. Normal, criança é assim mesmo, mas tem que ser corrigida. Aí vem o Salame-Mor:

- Não faz isso que ele te morde.

Aí a Arianna completa a asneira:

- Cê já viu como os dentes dele são grandes? Ele arranca o teu pé fora, hein?

Aí eu começo a me irritar, e dou uma explicação decente:

- Chatinho, olha só, os cachorros aqui de casa são todos muito bonzinhos e bobocas, e praticamente nunca vão te morder, por mais que você encha o saco deles. Mas se você fizer isso com um cachorro que não te conhece, ele pode se irritar e te machucar, mesmo sem querer.

Arianna repete:

- Pois é, Chatinho, olha só que dentão que ele tem.

Finjo que não ouvi e continuo, quase rosnando:

- Além do mais, Chatinho, se você estivesse dormindo numa boa e alguém viesse cutucar o teu pé, você acharia legal?

Chatinho faz que não com a cabeça.

- Então por que é que você faz isso com o cachorro? Se você não gosta de ter seu pé cutucado enquanto dorme, provavelmente o cachorro também não gosta. Ele tem tanto direito de dormir em paz quando você. Se você se comportar bem com os outros, com os bichos, com as plantas, todo mundo também vai se comportar melhor com você (olha o otimismo da garota).

O Salame-Mor continua:

- Viu, Chatinho, cuidado, hein, senão ele te morde.

Peguei meu casaco e fui esperar o Mirco lá fora, antes que me viessem ganas de matar alguém.

Postado por leticia em 13:37

19.02.05

Sciascia

"Posso permettermi di farle una domanda?... Poi gliene farò altre, di altra natura... Nei componimento d'italiano lei mi assegnava sempre un tre, perché copiavo. Ma una volta mi ha dato un cinque: perché?"

"Perché aveva copiato da un autore più inteligente".

Il magistrato scoppiò a ridere. "L'italiano: ero piuttosto debole in italiano. Ma, come vede, non è poi stato un gran guaio: sono qui, procuratore della Repubblica..."

"L'italiano non è l'italiano: è il ragionare" disse il professore. "Con meno italiano, lei sarebbe forse ancora più in alto".

La battuta era feroce. Il magistrato impallidì. E passò a un duro interrogatorio.

**

- Posso permitir-me de fazer-lhe uma pergunta?... Depois lhe farei outras perguntas, de outra natureza... Nas redações de italiano o senhor me dava sempre nota três, porque eu copiava um texto já publicado. Mas uma vez o senhor me deu um cinco. Por quê?

- Porque aquela vez o senhor tinha copiado de um autor mais inteligente.

O juiz começou a rir. – Italiano... Eu era bem fraquinho em italiano. Mas, como o senhor pode ver, no final das contas não foi um grande problema: cá estou eu, procurador da República...

- O italiano não é o italiano: é o raciocínio – disse o professor. – Com menos italiano, o senhor talvez tivesse ido até mais longe.

O gracejo fora feroz. O juiz empalideceu. E passou a um duro interrogatório.


Una Storia Semplice, Leonardo Sciascia.

Postado por leticia em 10:02

18.02.05

Sem tempoooooooooooo

Enxaquecadaaaaaaaaaaaaa

Sonhei com um lobo gigante na Gastao Bahiana e os cachorros que se recusavam a entrar no elevador pra fugir do lobooooooooooooo

Acordei cansadaaaaaaaaaaaaaa

Gianni conseguiu passagens relativamente baratas pra Iguaçu, El Calafate e Ushuaiaaaaaaaaaaa

Jantei um McChicken ontem e hoje acordei e fui direto liquefazer-me no banheirooooooooooo
(melhor não saber que coisa metem naqueles hamburgeeeeeeeers)

Traduções infinitaaaaaaaaaaaaas

Frio do caceteeeeeeeeeeeeee

Parabéns pra Daizaaaaaaaaaaaaa que ela mereceeeeeeeeeeeeeee (aproveitem e leiam o resto do blog e a historia do ciganinho eslavo pra voces verem que quando o mundo inteiro tem pinimba com um povo, algum motivo existeeeeeeeeeee)

Postado por leticia em 08:23

17.02.05

crema di piselli

Olha, não querendo me gabar mas já me gabando: neste exato momento, borbulhando e fervendo na minha panelona T-Fal, encontra-se a melhor sopa de ervilha do mundo. Ever. Tá?

Postado por leticia em 09:38

15.02.05

no comments

O cafet... opa, o companheiro da Suely Maria, vocês sabem, fuma no elevador TODOS OS DIAS. TO-DOS OS DI-AS. Semana passada fiz uma coisa muito legal: escrevi SOU REALMENTE O MAIOR DOS ESCROTOS, PORQUE ALÉM DE FUMAR NO ELEVADOR OCUPO SEMPRE DUAS VAGAS QUANDO ESTACIONO! e colei atrás da Audi TT ridícula dele. Pena que estava muito empoeirada e a fita gomada ficou meio assim assim. Como colei na traseira, perto da placa, ele com certeza não viu logo de cara e deve ter feito alguns quilômetros com aquilo à mostra. Hoje à tarde, quando cheguei da escola, vi a Audi estacionada que nem a cara dele, com a roda anterior esquerda ultrapassando a faixa que delimita as vagas. Parei bem do lado esquerdo, COLADA no carro dele (mas dentro das faixas da MINHA vaga), e conseqüentemente impedindo-o de abrir a porta e obrigando-o a entrar pelo lado do passageiro. Agora há pouco eu estava mandando um fax (o aparelho fica na sala, logo na entrada, ao lado da porta) e ouvi uma porta bater. Olhei pelo olho mágico e não deu outra: o idiota do cara esperando o elevador com o cigarro aceso. Como eu tava de calça de pijama e também porque não gosto muito de rodar baiana, ainda mais com gente desse nível, não saí pra discutir. Assim que ele desceu, corri pra fora, pintei o olho mágico dele com pilot atômico preto, resisti à tentação de entupir a fechadura de SuperBonder, e em vez disso escrevi outro cartaz: ESCROTO QUE FUMA NO ELEVADOR, TOMARA QUE SEU PINTO CAIA, SEU FILHO DA PUTA (em italiano fica lindo, juro). E colei na porta.

Sei que ele não vai parar de fumar no elevador nem de estacionar feito a cara dele, porque quem nasce escroto morre escroto, mas enquanto isso eu vou me divertindo. O próximo passo vai ser, acho, um ovo no pára-brisas dianteiro, já que injeção letal é meio arriscado. Furar os pneus também seria legal, principalmente porque custam os olhos da cara, mas não dá tempo de terminar o selviço antes de alguém ver. Uma bela arranhada com chave na lateral? Manteiga na maçaneta da porta de casa? Aceito sugestões. O escroto merece.

Postado por leticia em 17:06

14.02.05

leiam

Nao tem como nao rir (e concordar, sobretudo). Ja' vejo meu pai lendo e dando risada e dizendo é isso mesmoooooooo.

:)

Postado por leticia em 14:26

rir pra não chorar

E a notícia que não sai da boca do povo nesse início de semana é a do albanês e o trator. É assim, ó: um albanês entra, bêbado, numa boate de topless e go-go girls. Bebe ainda mais e começa a encher o saco das meninas e dos outros clientes. O albanês é chutado pra fora da boate. O albanês bêbado, e agora também puto da vida, rouba um trator que estava por ali dando sopa (a boate fica na zona industrial de Bastia, cujo asfalto está sendo renovado), vai ao estacionamento da boate, que divide um galpão com uma fábrica de portões, e começa a descer o pau nos carros estacionados ali em frente. Ontem à noite, quando soubemos da notícia, passamos por ali no caminho pra casa e vimos uma Fiat Multipla completamente detonada, e um gazebo de metal, da fábrica de portões , reduzido a uma massa disforme. A notícia saiu, obviamente, no telejornal regional, e nas filas do banco, dos correios, do supermercado, não se fala de outra coisa. Compreensível, porque 1) quando é imigrante que faz cagada (e cagada desse tipo é quase sempre imigrante que faz) vira logo notícia, 2) a história é tão maluca que não tem como alguém tê-la inventado, e 3) como aqui não acontece nada nunca, qualquer coisinha já vira logo OOOO evento do século. 2005 vai ser lembrado em Bastia como o ano que começou com o albanês e o trator.

Postado por leticia em 14:20

13.02.05

a outra vizinha

Quase todos os edifícios por aqui têm algum tipo de comércio no andar térreo. Nosso prédio tem um irmão gêmeo, que fica em cima de um bar e de um jornaleiro – na verdade o jornaleiro é uma continuação do bar e pertence ao proprietário deste, que larga a máquina de café pra lá pra ir buscar a revista que você pediu. Embaixo do nosso prédio há um salão de beleza (Parrucchiera Valeria), cuja placa luminosa, instalada num poste no canteiro central da rua de acesso ao aglomerado de casas e prédios onde moramos, é um ponto de referência em Cipresso. Você vem vindo pela estradona de Cipresso, e quando vir a placa Parrucchiera Valeria vira à direita, tá? Ao lado do salão da Valeria ficava uma loja de artigos pra caça e pesca (só coisa super útil, cês tão notando?) que era outro ponto de referência pra quem vinha lá em casa pela primeira vez. O nosso prédio não é o do bar, é o da loja de caça e pesca, tá? Quando nos mudamos pra cá a loja já estava desativada, com jornais velhos e amarelados colados nos vidros da vitrine, mas o letreiro ficou lá, vivo e forte, ajudando gente a encontrar o nosso prédio, até uns meses atrás. Não víamos ninguém, mas todo dia notávamos que um pedaço da vitrine estava livre de jornais, depois surgiu uma parede amarela, depois uma placa com um peixe encostada no chão, depois uma vassoura num canto. Achamos que era a loja de caça e pesca que reabria, ou um clube de pesca, ou uma outra coisa inútil qualquer. Até o dia em que surgiram, do nada, umas roupas horrorosas penduradas em CORRENTES, estendidas a esmo por toda a vidraça. Pela falta de cuidado estético e de qualidade das peças, TODAS claramente de tecido sintético, com costuras tortas e apliques em pelúcia, achamos que fosse um bazar de Natal ou coisa do gênero. Até o dia em que apareceram lá dentro um balcão com uma máquina registradora, um vaso de plantas e um aparelho de som. Na porta de vidro, uma fotografia de uma mulher com os olhos muito maquiados, o pescoço enrolado num lenço de oncinha esvoaçante, em uma pose daquelas de femme fatale, que eu honestamente acho incrivelmente broxantes. Ficamos achando que fosse algum bazar beneficiente pra uma menina morta, que seria a da foto, sei lá, não seria incomum. Até o dia em que o Mirco chegou em casa na hora do almoço dizendo que tinha ouvido no rádio algo sobre uma imprenditrice de Bastia que abriu uma loja em Cipresso, e pra conseguir o dinheiro necessário fez um calendário, bancado do proprio bolso.

E aqui pauso pra explicar o lance dos calendários aqui na Itália. Todo mundo que fica famoso faz um calendário, inevitalmente em trajes sumários, poses sexy e em um cenário paradisíaco e supostamente exótico (e conseqüentemente afrodisíaco, dizem). Todo VIP italiano já fez um calendário. Todo mundo que saiu do Grande Fratello já fez um calendário, ao menos. Pode-se dizer que o calendário é um indice de VIPidez, porque VIP que é VIP TEM que fazer pelo menos um calendário na vida. Não sei quem compra essas coisas porque honestamente se toda banca de jornal resolvesse vender tudo que é calendário que sai, não haveria mais espaço pra jornais, revistas ou coleções de bonecas de porcelana ou modelos de carros antigos.

Sei que a tal mulher fez o diabo do calendário pra cobrir as despesas da abertura da loja, que não tem nome nem letreiro nem coisa nenhuma, só a foto dela colada na porta com fita durex, lenço de oncinha no pescoço, os olhos afogados em kajal preto, na tal pose sexy. Mirco anotou o nome da mulher e assim que chegou em casa fomos direto catar na internet. Descobrimos links pras fotos do calendário, que são qualquer coisa. Imaginem uma mulher nem feia nem bonita, corpo que só fica legal quando ela levanta os braços e arqueia a coluna, com maquiagem feita em casa, camisolinhas que ela deve usar de verdade, fazendo poses ridículas em lugares absurdos – no bosque perto do estádio em Perugia, na cadeira da sala de estar, com direito a estante no fundo e tudo, enrolada em lenços coloridos, deitada no meio de folhas secas.

No dia da suposta grande inauguração da loja, em cima do balcão lá dentro viam-se umas garrafas tamanho família de Coca-Cola, uma bacia de plástico provavelmente cheia de salgadinhos gordurosos comprados no supermercado dos imigrantes, uma pilha de guardanapos brancos. Duas garotas, claramente suas amigas e não clientes, lhe faziam companhia. As luzinhas piscantes do aparelho de som denunciavam a presença de música, com certeza algo bem meloso da categoria da Laura Pausini. Mais nada.

A loja tá aberta desde antes do Natal e eu nunca vi ninguém entrando nem saindo, nem lá dentro, nem com sacolinha na mão ali pelos arredores. E olha que eu entro e saio de casa vinte vezes por dia.

Agora imaginem eu saindo de casa pra trabalhar outro dia e dando de cara com uma folha de papel pautado colada na porta da loja, com a seguinte mensagem escrita à mão, com caneta Bic Cristal azul: A LOJA FICARÁ FECHADA ATÉ A PRÓXIMA SEXTA-FEIRA, POR MOTIVO DE ENTREVISTA NA TV.

Gente, viver em cidade pequena é uma fonte eterna de grandes emoções. Juro.

Postado por leticia em 13:48

12.02.05

ai, ai

Decidi que em junho vou fazer o CELI, a prova pro certificado de língua italiana que corresponde aos exames de Cambridge, por exemplo. Primeiro porque quero me testar, segundo porque sinto falta de estudar alguma coisa, mesmo que seja algo que já sei, e terceiro porque a gente nunca sabe, pode vir a servir se eu decidir fazer outra faculdade (já decidi, entende, mas fico hipotizando porque não sei se esse ano vai dar). Ainda não decidi se faço o CELI ou o CIC, de italiano comercial, que corresponde ao BEC do inglês. O site da Università per Stranieri, órgão responsável pela elaboração do exame, além de ser horroroso não é muito atualizado (sites italianos nunca o são) e não há nenhuma prova disponível do CIC pra eu dar uma olhada e sacar que nível de conhecimento técnico é necessário. A prova custa € 78 e eu posso fazer em Perugia mesmo, claro, que é mais perto pra mim. Já baixei o módulo de inscrição e a prova vai ser em junho. Não há mais leituras obrigatórias, apesar d’eu ter lido já os livros recomendados pro ano passado. Como in any case você tem que ler ALGO em italiano pra comentar na prova oral, acho que vou reler Il Deserto dei Tartari, que eu amo, e algo do Camilleri, que eu sei que os professores adoram porque é em siciliano e tem sempre ironias e críticas ao sistema (ou aos sistemas – o oficial governamental e o mafioso).

Ontem maloquei um livro de francês lá da escola e decidi que vou dedicar uns 40 minutos por dia, TODO DIA, a estudar essa língua. Não quero nem saber. Só vou abrir exceção pro fim do mês, que é época de faturar e quando fica tudo muito confuso.

Depois que consegui, finalmente, terminar o Lampedusa, não sei mais o que ler. Peguei Billy Budd, Sailor, do Melville, mas não consigo me concentrar. Pensei em reler Marcovaldo, mas não é o momento. Tem um Lady Chatterley’s Lover ali olhando pra mim, e alguns Brontë, uma Allende, um Sciascia, um Malcolm Lowry, um Joyce, um Camus, todos me mandando mensagens subliminares, leia-me, leia-me. Mas nenhum deles está me inspirando particularmente agora.

Outro dia ouvi no rádio uma entrevista com um historiador que escreveu um livro sobre o mistério do milagre econômico italiano, já que todo mundo sabe, menos os italianos, que a Itália ainda é um país de camponeses desprovidos de qualquer noção básica de cultura ou cidadania, sem capacidade intelectual, incapaz de aprender qualquer língua estrangeira que seja, e cujo governo não estimula, absolutamente, o estudo, básico, universitário ou otherwise. Achei engraçado ouvir esse tipo de coisa no rádio. Imagino quanta gente não deve ter ligado pra RAI, ofendidíssima, dizendo que não lê porque não tem tempo, ou que lê, sim, talvez não jornais ou livros, mas revistas, aquelas de fofocas, sabe, já é alguma coisa, né. Hohoho. Anyway, a locutora mencionou o tal livro desse historiador, e eu anotei num post-it que ficou no pára-sol do carro e agora não lembro. Mas estou morrendo de vontade de ler.

Então agora estou aqui sentada sem saber o que fazer, ouvindo As Bodas de Figaro que o canal 5 tá passando não sei por quê, tentando decidir 1) o que ler depois do Lampedusa, 2) em que ordem realizar as tarefas do dia, que incluem uma ida à farmácia, outra à padaria, uma faxininha básica, estudar francês, lavar o cabelo, agilizar o almoço, ficar sem fazer nada um pouquinho. Provavelmente vou começar pelo ficar sem fazer nada um pouquinho.

Postado por leticia em 09:11

11.02.05

la cicogna...

Vocês já foram dar os parabéns pra Carola?

Postado por leticia em 08:49

10.02.05

Pra não dizer que eu não falei de vizinhos

Eu disse que o resto do meu andar é tranqüilo e muito normal e conseqüentemente não rende post. É verdade. Mas tenho duas vizinhas "de bairro", por assim dizer, que merecem algumas linhas.

Começamos pela vizinha da frente. Exatamente ao meu prédio há uma casa muito grande, rodeada por um pequeno gramado, com muitas roseiras. A casa não é particularmente feia, mas tem uns detalhes em vermelho, como as esquadrias das janelas e as varandas, que me dão arrepios. Nessa casa moram quatro pessoas: a Foca Monja, o Cornudo, o Filho da Foca, e a Mãe da Foca.

Foca Monja é como os italianos carinhosamente chamam as mulheres gordas. Imagino que cada país deve ter o seu animal de referência; os brasileiros usam baleia, orca e outros cetáceos, e os italianos (e quando digo italianos digo os italianos aqui da Itália central, não sei como é nos outros lugares) usam a foca monja, que é simplesmente uma espécie de foca. A Foca Monja em questão é uma senhora já de uma certa idade, muito gorda, sem dentes, que goza, na cidade, de uma reputação assim, digamos... repreensível. Porque sabe-se que o marido, doravante chamado Cornudo, não lhe dá nem um tostão. E ela resolve o problema divertindo velhinhos. Custa menos que uma prostituta de Perugia, e o velho não fica morrendo de vergonha por ser velho e feio, porque ela também é velha e feia. Um dos clientes mais famosos da Foca Monja é o irmão caquético do tio do Mirco, um senhor de 80 anos carinhosamente chamado de Pecorello (algo como "Carneirinho"), porque não tem mais um dente sequer na boca, e neguinho acha que aquela boca retraída lhe dá um aspecto de carneiro. O engraçado é que todo mundo sabe desse "trabalho informal" da Foca Monja, e ninguém se escandaliza – ou então ninguém se escandaliza mais, porque a coisa já rola há muitos anos. Dizem que ela foi muito bonita quando jovem, mas eu não acredito, porque não tem os traços bonitos nem a pele interessante, e principalmente porque tem um olhar de retardada. Pena que esse blog não tem áudio, porque eu poderia imitar pra vocês a voz da Foca Monja quando chama o cachorro, um Yorkshire chatíiiiiiiiiiiiiissimo chamado Jimmy. Pelo menos nós achamos que se chama Jimmy, porque a falta de dentes prejudica a dicção e não dá pra saber se é esse mesmo o nome do cachorro, ou se é Timmy, ou Dimmy, sei lá.

O Cornudo bate na Mãe da Foca, e isso todo mundo também sabe. Parece que ele já teve uma empresa de transportes, mas hoje é aposentado e passa o tempo todo podando as malditas roseiras, que dão flores de todas as cores. O cachorro late pra todo e qualquer ser vivo que passe em frente à casa, causando indiferença no Cornudo e gritos de Jimmeeeeeeeeeeeeeeee na Foca Monja. A Mãe da Foca, que já morreu mas esqueceu de deitar, dá uns mini-passeios ali em torno da casa, sempre de lenço na cabeça e bengala na mão. Sempre séria, sempre calada.

O Filho da Foca dirige um Mercedão esportivo totalmente inadequado à sua idade cronológica, coisa muito comum por essas bandas. Não tenho idéia do que faz da vida e só o vejo muito raramente.

A Família da Foca mora só no andar de cima da casa, que é de tijolinhos amarelos e tem muitas flores espalhadas pelas varandas. A parte de baixo é um grande salão envidraçado, e ficou muito tempo exibindo uma plaquinha de aluga-se, até que começaram a rolar boatos de que ali estavam pra abrir uma pizzaria da asporto (to go), do tipo que não tem mesas nem balcão nem nada, você vai ali comprar a pizza pra levar pra casa e pronto. Maravilha! Nada de bagunça nem gente bêbada nem gente fumando, e a imensa comodidade de uma pizzaria logo embaixo de casa; não dá tempo nem da bichinha esfriar! Infelizmente há duas semanas vimos que o boato não passava de um boato; no salão envidraçado abriram uma loja de acessórios pra kart. Não consigo imaginar nada de mais inútil. Fosse pelo menos um açougue, uma agência dos correios, uma agência funerária que fosse, porque sei que uma livraria seria pedir demais, mas uma loja de acessórios pra kart? Socorro.

Mas o mais interessante sobre a Foca Monja é que ela sabe tudo da vida de todo mundo. Já foi avistada fofocando nas áreas mais remotas de Bastia e das cidades vizinhas. Passa boa parte do tempo pendurada na grade vermelha da varanda, tomando conta da vida dos outros. Quando, há alguns meses, eu e Mirco saímos do prédio com dois armários de madeira que o Mirco tinha envernizado pro banheiro da FeRnanda, ela gritou da varanda estratégica, sua gávea particular: Tão se mudando, é? Quando voltamos do Rio, cheios de malas, ela gritou: Siete stati laggiù? (Laggiù, literamente "lá embaixo", se refere a qualquer lugar desconhecido e longe, leia-se depois de Perugia, em qualquer direção. Nesse caso obviamente ela estava falando do país tropical do qual eu venho, e que ela não sabe direito qual é porque não sabe nem em que galáxia vive.). Eu respondi que sim. No dia seguinte ela perguntou a mesma coisa pro Mirco outra vez, e ele respondeu que não. Minha resposta a muitas das coisas que ela me pergunta é um simples não e um sorriso que desencoraja outras perguntas. Imagino a pele da Foca começando a coçar, a ficar vermelha, placas alérgicas de curiosidade se formando. Hohoho.

Particularmente não acho que ser fofoqueira é o maior defeito do mundo. Há coisas piores, muito piores. Na verdade há MUITAS coisas piores. Mas que tem horas que irrita, ah, tem.

Postado por leticia em 10:48

:))))))))))

O-TE-MO. Deve ser mal do nome :)

Postado por leticia em 07:42

09.02.05

Pronto, terminei a mui sem-graça saga Dusseldorf.

Postado por leticia em 10:05

08.02.05

ele de novo

Falando em ler, semana passada terminei Great Expectations, que recomendo com fervor. Comecei os contos de Lampedusa, mas não consigo ler mais que meia página sem ter que levantar pra fazer alguma coisa importante ou sem cair no sono (não porque é chato, mas porque estou exausta mesmo). Estou gostando, mas ainda não identifiquei nenhum trecho particularmente brilhante pra compartilhar. Só que fiquei com vontade de reler Il Gattopardo, que eu li em Português há muito tempo. Lembro de ter absolutamente adorado, e imagino que vá adorar ainda mais, lendo em língua original e entendendo um pouco mais da realidade do livro, já que hoje sei mais sobre a Sicília e a história da Itália do que quando o li pela primeira vez. Vou ter que comprar, porque não tenho.

Também fiquei com vontade de ler outras coisas do Roald Dhal. Como meus alunos Três Mosqueteiros são muito legais (todos os três usam agendas Moleskine, aaaaah!) e têm um gosto literário bem parecido com o meu, decidi ler com eles um conto do Roald Dhal em aula hoje. Escolhi The Way Up To Heaven, que eu amo. Compartilho: (não é uma delícia a cafonice dessa palavra, "compartilhar"?)

"All her life Mrs Foster had had an almost pathological fear of missing a train, a plane, a boat, or even a theatre curtain. In other respects, she was not a particularly nervous woman, but the mere thought of being late on occasions like these would throw her into such a state of nerves that she would begin to twitch. It was nothing much: just a tiny vellicating muscle in the corner of the left eye, like a secret wink, but the annoying thing was that it refused to disappear until an hour or so after the train or plane or whatever it was had been safely caught.

It was really extraordinary how in certain people a simple apprehension about a thing like catching a train can grow into a serious obsession. At least half an hour before it was time to leave the house for the station, Mrs Foster would step out of the elevator all ready to go, with hat and coat and gloves, and then, being quite unable to sit down, she would flutter and fidget about from room to room until her husband, who must have been well aware of her state, finally emerged from his privacy and suggested in a cool dry voice that perhaps they had better get going now, had they not?

Mr Foster may possibly have had a right to be irritated by this foolishness of his wife's, but he could have had no excuse for increasing her misery by keeping her waiting unnecessarily. Mind you, it is by no means certain that this is what he did, yet whenever they were to go somewhere, his timing was so accurate just a minute or two late, you understand and his manner so bland that it was hard to believe he wasn't purposely inflicting a nasty private little torture of his own on the unhappy lady."

The Way Up To Heaven, by Roald Dahl

Façam um favor a vocês mesmos e vão comprar um livro de contos (o meu é Completely Unexpected Tales) dele ou vão catar o conto na internet. Não vou dar o final do conto aqui pra não estragar a surpresa. Vale a pena.

Postado por leticia em 09:46

07.02.05

arre!

Ando meio com a síndrome da Flabb. Primeiro que não tenho tempo mesmo de ficar sentada ao computador, nem pra escrever, que dirá pra ler. Ganhei uma outra turma, a tal de Petrignano que tinha incompatibilidades de horário que acabaram sendo resolvidas; aulas às terças e quintas, das seis e meia às oito da noite, num agriturismo. É legal porque o livro que eles usam (a professora que dava aula pra eles arrumou outro emprego e saiu da escola, por isso herdei a turma) é específico pra quem trabalha com hotelaria e turismo, superinteressante. Talvez eu herde mais uma turma, em Santa Maria, porque a professora que dava aula por lá, uma americana gordinha e simpática, foi mordida pelo basset da empresa e teve que ir ao hospital, e os médicos são legalmente obrigados a fazer a denúncia contra o proprietário do cão. A gordinha acha que o clima não vai ficar legal entre ela e a empresa e já deu umas indiretas de que não quer mais trabalhar lá. Eu já morei em Santa Maria e toda hora tenho que ir ao banco lá, ou entregar faturas, ou medir a pressão da avó do Mirco, por isso não seria um problema dar aulas lá.. A tal da americana vem de Castiglione del Lago, coitada, longe pra caramba, pra ser mordida pelo basset em Santa Maria degli Angeli. Tá fula da vida. Além disso a Bicha Pedagógica também renunciou, porque está ocupadíssimo com outras coisas business-related (ele é formado em Economia) e não dá mais conta da coordenação pedagógica. A maioria dos cursos dele termina em fevereiro ou março, e ele não sabe se vai continuar na escola e pegar novas classes. Melhor pra mim.

Com isso tudo, o cansaço vai acumulando, e não tenho forças pra fazer nada quando chego em casa além de comer um negocinho qualquer, tomar banho e chapar. Durmo mal, por n motivos, e acabo não descansando nunca. Vamos até cancelar a ADSL ilimitada, porque com todos os impostos e todas as roubadas que a Telecom te impõe, acaba saindo uma fortuna, e se ninguém em casa tem tempo de usufruir, não tem sentido. Como não temos tempo pra fazer todas essas contas, essa decisão também acaba se arrastando. A casa anda imunda, porque dou semi-limpadas nos micro-espaços de tempo que acho. Hoje passo o aspirador de pó voando, amanhã tiro o pó a jato, depois limpo o banheiro meteoricamente. Conseqüentemente, a casa nunca fica toda limpa ao mesmo tempo, porque quando chego no banheiro já tá na hora de limpar os vidros outra vez. Porre.

No meio dessa confusão toda, o único que tem tempo e pique pra organizar a viagem à Argentina é o Gianni, que trabalha longe mas praticamente não faz hora extra no início do ano, período de calmaria no mundo do cashmere. Eu, com a minha animação total e absoluta por essa viagem a esse país dos pampas cuja língua me enche os ouvidos de mel e cujos habitantes considero tão simpáticos, educados e humildes, fico mais que feliz em deixar tudo nas mãos dele. Vai na fé, Gianni. E arranje uns vôos internos bem baratinhos, porque senão com meu salário não consigo pagar tudo, e eu de orgulho ferido fico insuportável.

Postado por leticia em 09:38

06.02.05

fds tsé-tsé

O fim de semana foi praticamente uma clausura. Na sexta Gianni, Chiara e Moreno vieram comer pizza aqui em casa. O assunto foi, claro, Argentina – meu preferido. Not.

Sábado fui pra oficina cedo com o Mirco, e antes do meio-dia saí pra levar uns documentos pro contador. Voltei pra casa, deixei o almoço engatilhado, dei uma mini-geral na casa, Mirco chegou, almoçamos, eu fui lavar na mão uns suéteres de lã enquanto o Mirco capotava, e lá pras quatro eu também acabei dormindo no sofá. Acordamos às sete da noite, Mirco com o nariz entupido e sinusite e dor no corpo, jantamos, vimos um pouco de TV e fomos dormir de novo.

Domingo acordamos às nove e meia da manhã, coisa rara, especialmente pra mim, totalmente early bird. Como todo mundo na casa dos pais do Mirco tá doente, resolvemos dar um pulo lá mais cedo pra dar uma mão com as galinhas, os cachorros, a casa, o almoço. Acabou que a Arianna já tava melhor e quando chegamos tava se preparando pra servir o café da manhã pros cachorros e pras gatas (no início ela comprava ração pras gatas, mas os cachorros comiam tudo. Como as gatas adoram a ração dos cachorros, agora todo mundo, inclusive elas, come comida de cachorro e pronto. Comem todos juntos, os seis, trocando toda hora de tigela, uma suruba só.). Mirco foi dar uma volta de ônibus com o Moreno, que tava no volante desde as cinco e meia da manhã. Eu fiquei lá curtindo o galinheiro e o Leguinho, enchendo o "bondinho" de lenha. O bondinho é uma caixa com rodinhas que é enganchada num cabo de aço e levantada até a varanda da cozinha através de um motorzinho instalado ali mesmo na varanda; o depósito de lenha fica lá embaixo, antes do galinheiro, então quando a caixa esvazia é só descê-la com o motorzinho até o quintal, descer as escadas, desenganchar a caixa, levá-la até o depósito de lenha, enchê-la de lenha, voltar pro quintal, enganchá-la no cabo de aço, subir as escadas, ligar o motorzinho, aterrissar cuidadosamente a caixa na varanda, e transferir a lenha do bondinho pra caixa de lenha da varanda. Depois de colhermos uns ovos frescos no galinheiro, subimos pra fazer a massa pro almoço. O molho já tava pronto, simples, de tomate e manjericão. A carne já tava pronta pra cozinhar, foi só descongelar e botar na brasa com azeite e sementes de funcho – carneiro, que eu não gosto muito porque é gordurosa demais, e com sementes de funcho não há santo que me faça comer. O contorno também já tava engatilhado – corações de alcachofra com azeite, salsinha e o maldito limão. O almoço foi tranqüilo, mas enquanto fazia a massa comecei a sentir a danada da enxaqueca e assim que acabamos de comer voltamos pra casa. Dormimos até as cinco da tarde, e como eu estava um pouco melhor resolvemos ir ao cinema. Vimos Neverland, uma delícia de filme! Voltamos, vimos um pouco de TV e dormimos de novo, eu já devidamente enxaquecada outra vez. Emocionante, né.

Postado por leticia em 09:43

03.02.05

Então vamos ao relato da viagem. Organizei cronologicamente, então dêem um scroll básico ali pra janeiro que vocês vão achar.

Postado por leticia em 11:08

uia

Semana passada a vista aqui de casa era essa:


Não parecia que eu tava na Suécia?

(detalhe: eram DEZ DA MANHÃAAAA)

Postado por leticia em 10:23

02.02.05

uff!

O dia foi corrido ontem, como tem sido sempre nos últimos meses. Manhã na oficina corrigindo as faturas, aula com o Aluno Endocrinologista em Perugia e um giro rápido no centro pra comprar feijão preto e procurar farinha de mandioca (que não tinha mais na única loja que vende), almoço voado, oficina, mais faturas corrigidas, tentativa de enviar as Ri.Ba. pro banco, irritação, tempo que voava, o feijão que me esperava, compras a fazer, Ipercoop lotado, compras feitas em DEZ MINUTOS, casa, feijão no fogo, faxina meteórica feita igual à minha cara, banho, Moreno chegando e eu em casa sozinha fazendo cuca de banana, papos sobre a Argentina, eu fingindo muito interesse, a irmã do Gianni chegando com o namorado que se chama Marco mas nós chamamos de Bruno, depois Gianni e Chiara chegando com o Mauro e o Mauro não-Mauro (ele se chama Pietro mas todo mundo o chama de Mauro), o último a chegar foi o Mirco, as cadeiras não bastam, tem que pegar as extras da IKEA na garagem, acabou a água mineral, tem que pegar mais na garagem, não deu tempo nem de trocar os lençóis da cama, nem de pendurar a roupa na corda, usei a couve italiana e ficou bem razoável, o feijão ficou qualquer coisa, a farofa não deu nem pro buraco do dente, sobrou só uma colherada de arroz pro meu almoço de hoje, a cuca de banana sumiu todinha, a caipirinha ninguém quis, a louça tá toda lavada e a casa tá toda arrumada, fomos dormir às três da manhã, ainda não consegui terminar Great Expectations, a turma nova que iam me dar não era compatível com meus horários e fiquei na beiça, que merda, ainda não fiz as contas das horas de aula de janeiro por falta de tempo, hoje tem oficina de manhã + aulas non-stop até as sete e meia da noite, não tenho tempo de tocar no meu livro de Francês, que passeia comigo de carro todo dia, na esperança de conseguir uma meia horinha básica que nunca vem. Meu cabelo tá horrível. Estou cansada.

Postado por leticia em 08:31

Semana passada fomos televisionalmente massacrados com assuntos Holocáusticos. Eu DETESTO esse assunto. Primeiro porque sempre fui fã de história antiga, medieval, renascimental, e sempre detestei história moderna e contemporânea. Segundo porque a hipocrisia, a visao monoteísta e parcial e a mentirada da mídia sobre esse assunto, com conseqüente ignorância da galera, me dão uma irritação sem fim. Então quando eu leio uma coisa assim (leiam também o outro post do Rafael, "Ainda Israel") é mais que justo que eu bote pilha pra todo mundo ler. Porque nunca é tarde demais pra rever seus conceitos.

Postado por leticia em 08:23