31.01.05

voltei!

mas amanha tem arroz, feijao e farofa pra 9

nao sei quando escrevo

muitas fotos

dusseldorf é legal, pena que é cheia de alemaes

o tempo tava uma bosta

ciao!

Postado por leticia em 19:45

dusseldorf streisend

Nosso vôo saía de Eindhoven às duas e pouco da tarde, então tínhamos que sair cedo de Düsseldorf pra pegar a estrada com calma, reabastecer e devolver o carro, e fazer o check-in com tranqüilidade. Até que nem nos perdemos muito e caímos na estrada sem problemas. Chegamos em Eindhoven com muita calma, e aproveitamos a meia hora de tempo a mais pra dar uma olhada a jato na cidade. Estacionamos o carro na estação de trem e demos uma volta rápida por ali mesmo. Como não tinha nada pra ver, porque, honestamente, não tem nada pra ver ali mesmo além do estádio Philips, fomos fazer compras num supermercado onde já tínhamos ido em Rotterdam, ano passado. Eles têm umas sopinhas enlatadas ótimas, e fizemos um estoque, até porque com a falta de tempo e o horário em que chegamos em casa ultimamente essas coisas quebram o maior galhão: gorgonzola, lagosta, aspargos, salmão, frango, e só não compramos mais coisas porque não entendíamos o que estava escrito no rótulo e os desenhos não eram exatamente elucidativos. Também compramos couve-de-Bruxelas que tava em oferta e nós adoramos, dois tipos de pão de forma com grãos estranhos, e os xaropes de laranja e frutti di bosco que o Mirco adora, pra fazer refresco. Pegamos o carro e fomos direto pro aeroporto, não sem antes dar uma volta danada e inevitável, seguindo as instruções de uns holandeses simpáticos que passeavam por ali, naquele frio. Carro devolvido, check-in feito, sentamos pra comer uns sanduíches que tínhamos trazido do hotel em Düsseldorf, porque a única cafeteria do aeroporto não tinha nada a oferecer além de caríssimos sanduíches de pão de forma que não davam nem pro buraco do dente da galera esfomeada. O vôo foi light como sempre, dormimos todos como pedras, e depois foi só encarar a estrada de Ciampino até em casa.

Tio Ryan, eu te amo. Mas se não fosse o Euro, hein, Tio, cê não tava com essa bola toda não, podes crer. Trocar dinheiro é uma encheção de saco cara demais pra um mero fim de semana. Os preços aumentaram, principalmente aqui e na Grécia, mas pelo menos tornou tudo mais fácil.

A brincadeira toda saiu meio cara porque 1) alugamos carro e 2) dormimos em hotel e não em albergue. O carro, incluindo gasolina e pedágios e estacionamento, saiu por € 44 por cabeça. Uma noite no hotel saiu € 66 por casal. A passagem, a € 0,42/pessoa em cada trecho, acabou ficando uns € 40, por pessoa, ida e volta, depois das taxas. Não achamos a comida tão cara. Pena que não deu pra entrar em supermercado nenhum na Alemanha, porque tava tudo fechado no domingo.

Agora da Alemanha a única coisa que ainda tenho vontade de ver é a Bavaria. Da Holanda quero ver Utrecht, Delft e Maastricht. E aceito sugestões, obviamente. Até porque eu gostaria de curtir mais um fim de semana europeu, cortesia Tio Ryan, antes de partir pra Argentina.

Postado por leticia em 10:01

30.01.05

DusseldorfstrEss

Quando acordamos, às sete e meia, a vista da nossa janela era essa, não muito convidativa:

Descemos pra tomar café e os Mauros já estavam na mini-restaurantezinho do hotel. Eu AMO café da manhã de hotel. Como muito, me farto, e não preciso nem almoçar. E se tem uma coisa que a Alemanha tem de bom é o pão. Mil tipos diferentes, com grãos malucos, cereais estranhos, texturas diferentes, cores apetitosas. ADORO! Comi vários tipos diferentes de pãezinhos com gergelim, com semente de abóbora, com semente de girassol, com semente de papoula, com queijo na massa, com queijo por cima. Recheei com queijo, com presunto, com peito de peru defumado. Comi maçã, uva e pera. Comi cereal com leite. Comi mini-Brie e mini-queijinho-redondinho. Comi torrada integral com Philadelphia. Tomei iogurte de frutas e iogurte branco com mel. Tomei suco de laranja e leite achocolatado. Aaaaaah, que maravilha!

Fomos direto pra parte da cidade que hospeda esses grandes show-rooms permanentes de moda. Visitamos a sala da malharia do Gianni, cumprimentamos o pessoal, vimos como funciona a coisa. Vocês sabem que eu sou curiosa, e como nunca conheci ninguém que trabalhasse com moda, tudo isso é um mundo estranho pra mim. A sala deles, que é como se fosse uma loja meio intimista, é assim: em um canto há umas poltronas de couro branco muito estilosas. Ao lado, uma mesa onde as meninas selecionavam combinações de roupas pras modelos vestirem. Bem no meio, uma ilha com máquina de fazer café, uma bandeja de Baci Perugina, bloquinhos timbrados, essas coisas. Num lado, o banheiro e o trocador; no outro, os armários pros casacos dos hóspedes. Na outra parte da loja, outras duas mesas. Em torno à loja inteira, araras com as roupas, da coleção que sai em outubro nas lojas. Então o negócio funciona assim: o cliente (dono de loja) chega, dá uma olhada, hm, gostei desse casaquinho aqui; uma das meninas diz assim como quem não quer nada que o casaquinho fica muito bem com uma calça assim ou assada; o cliente faz hmmmmm pode ser, a tal das meninas chama a modelo, que pega as peças de roupa, vai pro trocador e veste o casaquinho e a tal calça e uns acessórios pra dar um tchan. O cliente olha, vê que a roupa fica legal no corpo, pergunta que outras combinações de cores são possíveis (porque o casaquinho tem, digamos, a borda interna das mangas de uma cor diferente da cor da malha), a menina da equipe pega uma pastinha de papel reciclado onde estão colados pedacinhos de tecidos coloridos e mostra as combinações possíveis. O cliente acha legal, pega um anel de madeira colorida de um negócio comprido porta-anéis em cima de uma das mesas, enfia o anel no gancho do cabide e recoloca a peça na arara. E assim vai. No final, anotam-se as peças que o cliente escolheu, marcadas com o anel da sua cor, o cliente escolhe as quantidades, e pronto, foi feito o negócio. Não é legal? Achei um sistema interessantíssimo. O que não é interessantíssimo é que eu adorei várias peças, mas não dá pra comprar agora, porque, como eu disse, só vão aparecer nas lojas em outubro. Bosta!

Dali fomos dar uma volta pelas ruas desse mesmo bairro. Eu gosto da arquitetura germânica, precisa e lógica; adoro as janelas quadradas e os telhadinhos que parecem de brinquedo. O Mirco já odeia tudo, acha os tijolinhos escuros deprimentes e as janelas quadradas com jeito de hospital psiquiátrico. Claro que o clima não ajudava em nada: neblina, frio, chuvinha chata às vezes. Claro que os bêbados nas ruas às nove da manhã também não ajudavam. Apesar do frio desgraçado, nos distraímos batendo papo e dando risada, e nem percebemos que nossos pés estavam morrendo lentamente, e prestes a cair.


Ao lado dessa casa bonitinha havia um show-room multi-marcas e, pro meu espanto, vi Havaianas no letreiro também! Pena que não tinham vitrine.


Depois de umas voltas nos mandamos pra cidade velha, Altstadt. Que é bem bonitinha e tem uma pracinha linda, mas eu acho que estava esperando algo de muito mais velho. Entramos na igreja de S. Andreas, com um interior tardo-renascimental germânico/barroco muito claro e bonito, e um homem que roncava terrivelmente num dos bancos do fundo. Achamos interessante o mijador logo na entrada da Altstadt. Achamos terríveis os cartazes anti-mijo colados em tudo que é lugar, que provavelmente querem dizer "vai mijar na tua casa, seu nojento".

Descobrimos com surpresa que chegamos no meio do carnaval Dusseldorfense. Carnaval em Düsseldorf significa, pelo que entendemos, desfiles em trajes militares típicos de não sei qual época. O estranho é que os uniformes e as perucas brancas com rolinhos laterais tinham toda a pinta de uniforme do exército Inglês da época do Último dos Moicanos, sabe? Chegamos na praça principal, que não fotografei porque a luz tava péssima, e vimos um palco com umas meninas vestidas assim de militar, fazendo umas coreografias muito simples, estilo chacretes do programa do Bolinha, sabe, perninha pra cá, um passinho pra lá, e coisa e tal, ao som de algo que deveria ser uma marchinha militar, latida em alemão. Um bêbado berrava coisas estranhas no microfone, mas além de umas risadinhas discretas não vimos nenhuma outra manifestaçao de alegria do público. No meio da praça, uma barraca distribuía cerveja, obviamente. Ficamos esperando pra ver se o pessoal se animava, mas nada. Ficou naquilo mesmo.

Então continuamos a dar voltas pelo centro antigo e fomos parar nas margens do rio – juro que esqueci o nome em Português; em italiano é Reno. No verão a vista deve ser deslumbrante, porque as casas do outro lado do rio são LIIIINDAS e as pontes são muito bonitas, mas a neblina que pegamos dava vontade de chorar. Olha que horror:

Bateu uma fominha básica e fomos almoçar. Queríamos comer no Schumacher, que estava no guia de Düsseldorf que o Gianni baixou da internet, mas foi só a gente chegar perto que vimos um dos grupos carnavalescos (cada grupo, que eu suponho que corresponda a um bairro, tem cores diferentes) entrando e entupindo o lugar, e tivemos que desistir. O centro antigo é cheio de restaurantes de cozinha de tudo que é lugar: tailandesa, libanesa, chinesa, argentina, italiana, espanhola, irlandesa, americana. Aliás, o que eu vi de restaurantes e lojas com nome italiano e letreiros exibindo "made in Italy", "italianisch", "Roma", "Luigi", etc, não tá no gibi. Acabamos indo comer no Maredo, uma rede de comida pseudo-espanhola/pseudo-mexicana que as meninas da malharia nos tinham recomendado na noite anterior. Eu não almocei, claro, depois daquele café da manhã nababesco. Um garçom simpático, Boris, mandado por uma gerente ASQUEROSA, veio tentar nos ajudar a decidir o que fazer depois do almoço, comunicando-se através de mímica, expressões faciais e canetadas no nosso mapa. Lá fora víamos passar outros grupos carnavalescos, e quando saímos um outro desfile fresquinho estava começando, envolvendo cavalos, meninas de tranças que pulavam pra esquentar as pernas protegidas só por meia-calça fina, e um adorno de chapéu muito estranho: COLHERES DE PAU. Alguém, pelamordedeus, sabe me explicar o que colheres de pau fazem nos chapéus de um uniforme militar antigo alemão? Fiquei me coçando de curiosidade, mas como ninguém fala Inglês em lugar nenhum dessa terra, não tinha ninguém pra quem perguntar. Alguém sabe alguma coisa a respeito disso?

Passeamos ao longo da Königsallee, uma avenidona bonita com um canal no meio e mil lojas chiques de moda francesa e italiana. Como as lojas estavam TODAS fechadas, inclusive nos shoppings, não tinha mais muita coisa pra fazer. Então resolvemos ver a única coisa que nos restava: a torre Rheinturm. Sabíamos que daria pra ver muito pouco lá de cima, porque lá de baixo a situação era essa:

Mesmo assim subimos, feito seis otários, e obviamente não vimos xongas porque das vidraças só se via o branco da névoa. A vista deve ser lindíssima quando o tempo tá legal, e a torre é também um relógio de alta precisão cujo funcionamento ignoro. Descemos os cento e tantos andares no elevador rapidíssimo e voltamos pro hotel.

Os meninos foram fazer sauna e bater papo; eu fiquei lendo Dickens. Mirco voltou, tomou banho, reclamou da falta de civilização que é não ter bidê (todos os italianos que eu conheci até hoje aqui na Itália central medem o nível de civilização de um país predominantemente através do fato de ter ou não ter bidê), vimos uma meia horinha da cobertura CNN das eleições no Iraque, e encontramos o resto do povo na recepção. Onde vamos jantar? Voltamos pra Altstadt, tentamos um restaurante libanês, comi um quibe ótimo e uma esfiha hedionda, desistimos, rodamos, chovia, pelamordedeus vamos entrar em qualquer lugar antes que os pés e os narizes caiam, e acabamos parando no mesmo restaurante da noite anterior. Que felizmente estava bem menos cheio, e conseqüentemente com o ar mais respirável – parece que a precisão dos alemães ainda não chegou ao departamento de saúde pública, porque todo mundo fuma em tudo que é lugar, mais ainda do que na Itália, e quando eu perguntei ao garçom velho e antipático se eles não tinham uma seção não-fumantes recebi como resposta um grunhido e uma risada de desprezo. Conseguimos achar o tal garçom simpático da outra vez, e com a ajuda de um menu em Inglês finalmente conseguimos fazer o pedido. Dessa vez todo mundo atacou o joelho de porco, menos eu e Chiara, que fomos de filé com pirê de batatas mesmo. Estava uma delícia, com um acompanhamento de brócolis num molhinho de ervas que não conseguimos evitar. Tínhamos pedido o prato sem molho nenhum, zero molho, nein sauce, porque na noite anterior os filés vieram soterrados por uma coisa amarela muito estranha que tinha toda a pinta de salsão num molho de maionese, mas não conseguimos descobrir exatamente o que era. Italiano não é chegado em molhos bizarros e normalmente não come coisas que vêm escondidas ou nadando em molhos bizarros, por isso quase todos que pediram filé na outra noite acabaram comendo só os croquetinhos de batata que por um acaso do destino foram salvos do molho bizarro. Mas o molhinho no brócolis eles não resistiram. Pelo menos não era à base de maionese, que eu abomino. Comemos muito bem, batemos altos papos filosóficos, religiosos e históricos, e voltamos pro hotel pra dormir.

Postado por leticia em 12:06

29.01.05

Düsseldorfstrass

Mirco acordou às cinco e foi direto pra oficina, pra deixar umas coisas organizadas pros meninos pintarem mais tarde. Eu não conseguia mais dormir e fiquei lendo Dickens, depois tomei meu banho, um bom café da manhã, peguei o carro do Mirco e fui pegar o Gianni e a Chiara em Santa Maria. Dali fomos pra Torgiano pegar o Mirco, e pegamos a estrada. O Mauro e o não-Mauro, que moram em Bastardo (juro), já meio que no caminho pra Roma, nos encontraram num Autogrill na estrada mesmo. Passamos um ligeiro excesso de bagagem pro carro deles e fomos direto até o aeroporto de Ciampino.

O vôo saiu na hora, como sempre, porque Tio Ryan não nos decepciona jamais, e todo mundo dormiu direitinho. Chegamos no aeroporto de Eindhoven, que é minúsculo e todo bonitinho limpinho moderninho, e logo de cara vimos um ruivo com uma menininha que segurava um cartaz com o nome do Mirco. É que nós estávamos levando três caixotes de aventais com o nome da escola de cozinha da irmã do Mirco, que o namorado dela deveria ter vindo de Rotterdam pegar. Como estava de cama com a gripe que pegou a Europa de jeito, mandou o amigo ruivo, que nós já tínhamos conhecido no aniversário do tal namorado, em abril do ano passado, na Toscana. Descarregamos os caixotes de aventais, pegamos o carro alugado da Hertz (um Wolks Sharan de 9 lugares) e, até que com poucos problemas, porque quem estava co-pilotando não era o Mirco e quem dirigia era o Gianni, caímos na auto-estrada.

A paisagem é bonitinha mas muito triste no inverno. As casas holandesas são tão arrumadinhas, sempre com uma florzinha, um bicho, uma coisinha fofa na janela, cortininhas brancas, telhadinhos impecáveis, cerquinhas simétricas. Mas as árvores secas e nuas, o céu cinza, o termômetro do carro que marcava 3 graus lá fora, os campos marrons, tudo isso dá uma tristeza!

Paramos num hotel/restaurante na estrada pra almoçar. Eu adoro os holandeses; são quase sempre muito simpáticos e sempre falam Inglês direito. Comemos bem; os meninos atacaram uns hamburgers abertos com salada e eu e Chiara fomos de bruschetta de cogumelos com presunto e salsinha. Voltamos pra estrada e logo depois ultrapassamos a pseudo-fronteira com a Alemanha – e imediatamente neguinho começou a ultrapassar nosso carro a um milhao de quilômetros por hora. Chegamos a Düsseldorf quando já estava escuro. Custamos um pouco pra achar o hotel, entre Platz de cá e Strass de lá, mas finalmente chegamos.

O hotel era... estranho. Não me levem a mal, tudo muito arrumado e limpo, funcionários cordiais (eu disse cordiais, não simpáticos), mas os quartos eram... estranhos. Estávamos no último andar, e todos os quartos eram duplex. No andar de baixo, a TV com duas poltronas, o banheiro e a porta que dava pra uma varanda comum a todos os quartos daquele andar. No segundo andar do quarto, acessível somente através de uma escada íngreme assassina, da qual por pouco não caí e quebrei o pescoço mais de uma vez por ter cometido o crime de querer fazer xixi no meio da noite, a cama e um armário. É melhor não acordar e levantar de repente da cama, por causa do alto risco de dar uma cabeçada no teto baixo e inclinado. Atrás do hotel, a estação de trem, que felizmente não era muito barulhenta. O aquecimento do quarto não funcionava nem com reza forte; o da parte de baixo funcionava, e muito bem, e o calor que subia era suficiente pra dormir direito.

Então; tomamos banho, trocamos de roupa e fomos jantar com o pessoal da malharia onde o Gianni trabalha. Eles mantêm um show-room permanente em Düsseldorf, que é, e eu não sabia, um importante pólo de moda na Europa. Havia uma feira internacional de moda entre 31 de janeiro e 2 de fevereiro, e todo ano, nesse evento, uma equipe da malharia vai a Düsseldorf, cuidar pessoalmente dos clientes. Eu e Mirco também fomos convidados e fomos jantar na cidade velha com o pessoal da empresa. Ao todo, éramos 15. O restaurante, cujo nome não consegui decifrar entre as letras excessivamente góticas do cartão de visitas, era tipicamente alemão, freqüentado por alemães, o que não é necessariamente um elogio. A cerveja é de produção própria e, disseram todos, gostosa e bem leve – eu não sei, tenho pavor de cerveja, fiquei na Pepsi horrivelmente sem gás mesmo. Só um garçom foi simpático com a gente, talvez porque alemães e italianos estejam, moralmente e comportamentalmente falando, em pólos opostos. Falava um Inglês muuuuuuuuuuuuuito xexelento, mas dava pro gasto. Quase todo mundo comeu salsichão branco (...) com repolho (...); eu e Gianni pedimos peito de frango grelhado com arroz de ervilhas e um outro acompanhamento gostoso, de cogumelos e umas coisas que jamais identificamos nadando num molhinho pálido. Mauro não-Mauro foi de joelho de porco com repolho. Coitado do Mauro, que dividiu o quarto com ele.

Demos muita risada; a equipe da malharia (que pega até mal chamar de malharia; eles só trabalham com cashmere e lã Merinos e apliques de vison verdadeiro e coisas do gênero, e as roupas custam uma fortuna já aos lojistas, imagina pra nós, pobres mortais) é simpática, ainda mais quando a cerveja corre solta. Mas lá pra uma certa hora ninguém se agüentava mais em pé, e fomos nanar.

Postado por leticia em 11:06

28.01.05

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Foi só eu falar que por aqui neva pouco que pronto, acordamos hoje de manhã com toda a paisagem branca lá fora. Neve mesmo, de verdade, que acumula nas ruas, não derrete logo de cara, cobre os campos e telhados. Levamos quase 20 minutos pra varrer a neve da ladeira da garagem, que fica no subsolo. E mesmo assim o carro escorregou, patinou, girou as rodas em falso, e quase não subiu. Viemos pra oficina a 40 km/h, com o carro no cruise e o pé direito encolhido pra não pisar acidentalmente no freio, que nessas condições é melhor nem tocar pra não sair piruetando pela rua. Outros carros passavam por nós com imensas (e pesadas) camadas de gelo acumuladas no teto. Meu carro, que normalmente dorme fora, essa noite ficou na oficina, porque ontem voltamos pra casa juntos no carro do Mirco. Agora o Punto tá lá fora, debaixo do pinheiro, e mesmo assim já está todo branquinho. Tem um pouco de vento também, que joga os grandes flocos brancos no chão em um ângulo inclinado. O termômetro do carro marcava 1° C às oito e meia da manhã.

Estou começando a achar que essa viagem a Dusseldorf vai ser a maior furada. Isso se o avião sair do chão. Nossa esperança é que vamos partir de Roma, que tem um clima superlight e só muito raramente tem esses problemas climáticos extremos.

No sul do país as estradas estão bloqueadas. O telejornal das oito hoje mostrava quilômetros e quilômetros de carros e caminhões parados nas estradas nevadas, os motores ligados, funcionários da Defesa Civil distribuindo bebidas quentes e sanduíches pros coitados dos motoristas. Os limpa-neve e os spargisale (os tratores que espalham sal grosso na estrada) não são suficientes, e muitos trechos da rede viária do país estão totalmente intransitáveis.

Eu definitivamente ODEIO inverno.

p.s.: Estou tentando terminar dois posts pra distrair vocês até eu voltar da Germânia. O problema é a falta de tempo mesmo; ontem chegamos em casa às nove e meia da noite e só jantamos porque eu tinha deixado a sopa pronta, senão quem é que teria tido saco de cozinhar? Ou de sair de casa naquele frio pra comer fora?

p.s.2: Mil obrigados ao Rodrigo de Portugal que aparentemente solucionou o problema do e-mail preguiçoso. Agora só falta eu ter tempo de ligar pra Telecom reclamando.

p.s.3: Anti-histamínico é melhor que Lexotan pra ajudar a dormir. Mas não façam isso em casa, crianças.

Postado por leticia em 13:06

25.01.05

saco

O defeito do meu e-mail é o seguinte: do nada, sem que eu tenha mexido em coisa nenhuma, às vezes no meio do processo de envio de vários e-mails previamente escritos, me abre a seguinte janela no meio da tela:

An error occurred while sending mail. The mail server responded: mail not accepted from blacklisted IP address. Please verify that your e-mail address is correct in your Mail preferences, and try again.

Normalmente ele volta sozinho ao normal em poucos dias, sem que eu tenha que mexer em nada – nem saberia onde mexer, já que não fui eu que mudei a configuração ou causei o problema. Só que dessa vez já tem MUITO tempo e tenho quilos de mensagens pra responder. Alguém sabe o que diabo pode ser isso?

Postado por leticia em 20:26

friaca

Os meteorologistas afirmam que essa será a semana mais fria do ano por aqui. Ontem à noite houve picos de -23° C lá no norte, perto da Áustria. Hoje fiquei em casa pela manhã, passando roupa; às onze teria que estar em Perugia pra dar aula pro Aluno Endocrinologista, que ligou às dez e quinze pra dizer que achava melhor eu não ir, porque tava nevando muito e eu talvez não seria capaz de voltar pra casa com tranqüilidade. Quarentona Estressada, que também tinha aula da uma da tarde até as três, ficou empacada no buraco onde se esconde, na fronteira da Umbria com a Toscana. A neve fechou as estradas e ela não pôde sair de casa. Enquanto eu passava minha roupinha, via uns floquinhos solitários voando pra lá e pra cá, mas poucos, e do tipo que dura pouco, que vira água quando bate no vidro. A previsão pra hoje era de neve inclusive a bassa quota, ou seja, em baixas altitudes, e, de fato, Bettona, que fica exatamente do lado oposto à minha casa, lá longe, estava toda coberta de neve, mesmo não ficando tão no alto assim. Assis estaria mais linda se não fosse a nuvem de tempestade de neve que cobria o topo do Subasio. Mas os telhados estavam todos branquinhos. Aqui embaixo, no vale, dificilmente a neve cai pra valer. A última vez foi em 1981, e foi OOOOOO acontecimento. Há fotos do evento espalhadas por todo o prédio da prefeitura.

Desde que cheguei aqui pela primeira vez, já encarei frente fria vinda da Finlândia, da Sibéria e sei lá mais de onde. A frente fria que está atravancando a vida dos Botenses essa semana vem da Groenlândia. Rapadura é pouca mas né mole não.

Postado por leticia em 20:23

24.01.05

estacionamientos tabajara

Ontem Gianni e Chiara vieram aqui em casa à tarde pra resolver a história da viagem. Fizemos as reservas, que hoje foram confirmadas por e-mail. Então o itinerário vai ser assim: eu e eles vamos sair de Roma dia 14 de março. Chegamos em Buenos Aires de manhã cedo, mudamos de aeroporto e pegamos diretamente o vôo pra Foz do Iguaçu (que em espanhol vira a maravilha "Iguazu", socorro). Como o Mirco já viu as cataratas duzentas vezes e não pode ficar mais que uma semana longe da oficina, eu vou antes com os meninos, vemos as cataratas e Itaipu, voltamos pra Buenos Aires dia 18, encontramos o Mirco no aeroporto e vamos diretamente lá pra baixo. Não lembro direito a ordem das paradas, porque honestamente essa não é a viagem dos meus sonhos e não participei ativamente da organização, mas vamos ver El Calafate, Perito Moreno, Ushuaia e coisas assim. Depois voltamos pra Buenos Aires, que o Mirco conhece bem, ficamos ali alguns dias e voltamos pra casa dia 30.

De uma certa maneira me sinto uma traidora, por estar botando os pezinhos tão perto de casa e não passar por lá, mas não tem outro jeito. Pelo menos assim o Mirco tira essa cisma de Patagônia da cabeça, e na próxima vez que formos ao Rio vamos ficar só lá, em vez de catar sarna patagônica pra nos coçar e encolher meu tempo em solo carioca.

Hoje vamos jantar peixe na casa deles e ajustar os últimos detalhes, como reserva de hotel, etc. Eles compraram um guia da Argentina, que só o Lonely Planet tem; fiquei tentada, mas é tão caro quanto o da Irlanda, e perguntar qual dos dois eu escolheria é como perguntar a macaco se quer banana.

Postado por leticia em 09:12

23.01.05

- 3,5 kg e contando.

Postado por leticia em 22:10

i say, pip, old chap!

Quinta passada terminei The Great Gatsby, várias vezes começado e só agora terminado. Sinceramente, não achei nenhuma Brastemp. E logo depois, porque eu sou chain-reader e quando vejo que o que eu estou lendo está terminando pego logo outro, pra não entrar em abstinência, comecei Great Expectations. Confesso, não sem um tico de vergonha, que nunca tinha lido Dickens. Como esse ano estou num período de amores pelos clássicos, e como trouxe do Rio um monte de Penguin Popular Classics daqueles comprados a 5 reau nas feirinhas de livro da Nossa Senhora da Paz e na Afonso Pena, onde mora minha avó, pelo menos o primeiro semestre vai ser mesmo de ataque aos clássicos. Depois veremos.

"That was a memorable day to me, for it made great changes in me. But it is the same with any life. Imagine one selected day struck out of it, and think how different its course would have been. Pause you who read this, and think for a moment of the long chain of iron or gold, of thorns or flowers, that would never have bound you, but for the formation of the first link on one memorable day."

Great Expectations, Charles Dickens

Postado por leticia em 21:09

22.01.05

uhuuu

Ganhei uma turma nova. É um delicioso grupo de três pessoas, de nível intermediário-avançado; nos encontramos quatro horas por semana, às quartas à tarde e aos sábados de manhã. Foram uma mais que grata surpresa, e não só porque recebo mais por turmas de mais de três alunos. Temos S., namorando há 13 anos, apaixonado pela Escócia e assinante da revista Celtica, que eu nem sabia que existia. Temos M., 34 anos, casado com a irmã de S., consultor de informática, parceiro de xadrez de S. Temos F., 28 anos, casada, um filho de dois anos e uma gravidez de dois meses, formada em Filosofia, terminando um Master em Filosofia da Ciência, seja lá o que isso significa. Todos gostam de viajar, de ver coisas diferentes, de ir ao cinema, de ler ficção científica, fantasia e romances históricos. Não é uma bênção?

Além deles, agora me encontro na seguinte situação pedagógica: tem a Quarentona Estressada, que tem aulas de Português duas vezes por semana e rende um outro post só pra ela; tem o Burbone e a Burbina, pai médico do trabalho e filha figuraça, que têm aulas de Inglês Elementar e são fãs dos meus cookies; tem o Aluno Endocrinologista, em Perugia, que também faz Inglês. Agora parece que vai rolar uma outra turma em Collazzone, que é meio longe daqui mas pagam minha gasolina, então não tem grilo. Nada confirmado ainda, mas outras coisas estão surgindo. Bom.

Bicha Pedagógica ligou pro S. semana passada, depois da aula, pra perguntar o que ele tinha achado. Todo mundo em silêncio na recepção, como se fosse uma conversa reservada, e Bicha Pedagógica repetindo tudo o que o menino falava do outro lado da linha: que tinha levado um choque porque imaginava que o curso seria mais fácil, que não imaginava que ia cair com alguém que falava Inglês tão bem, que ele e os outros se sentiram transportados pros EUA (e confesso que foi difícil conter a risada). O melhor de tudo foi que o Chefe Catanese estava na sala e ouviu tudo. Mais tarde veio comentar comigo que tinha falado pessoalmente com o Burbone, que declarou estar satisfeitíssimo com as aulas. Que eles (e eu também) se divertem, eu sei, porque passamos a aula inteira rindo. Volto pra casa exausta, porque Burbina só tem 9 anos e tem muita dificuldade em acompanhar o ritmo do pai, que bem ou mal se lembra de muita coisa, mas me divirto, e isso é absolutamente crucial.

E pra comemorar a esplêndida relação custo-benefício do meu salário de dezembro, me dei de presente um par de horas na minha livraria preferida. Comprei um livro de exercícios de Francês básico, os contos de Lampedusa, dois Camilleri da série do Commissario Montalbano, Lady Chatterley’s Lover, Billy Budd. Em casa me esperam ansiosamente The Importance of Being Earnest, Bartleby the Scrivener, L'Étranger (olha como eu sou otimista), entre outros. Quase comprei o guia Lonely Planet da Irlanda, mas era caro pra burro e resolvi não exagerar. Até porque daqui a uma semana tem Dusseldorf, e mais tarde tem Argentina.

Postado por leticia em 09:07

21.01.05

da série a horripilantemente tenebrosa TV italiana

Voltou o C.S.I., agora às quintas-feiras, em vez das sextas. Não sei que fim vai levar C.S.I. Miami, que não chega nem perto do original, e que tinha ficado nas sextas enquanto Grissom & cia estavam de férias.

Sei que agora, na onda do sucesso da série, apareceu uma outra série italiana no mesmo estilo: R.I.S. Delitti Imperfetti. O RIS é o Reparto Investigazioni Scientifiche (pron. Reparto Investigatsioni Shentifike) dos Carabinieri, e ultimamente andava-se falando muito deles, sem motivo aparente. Só fui entender o porquê depois que começaram a passar as primeiras chamadas pra série. A semelhança com C.S.I. não é, absolutamente, mera coincidência. TUDO é copiado: a abertura, a trilha sonora, os flashbacks explicativos com closes repentinos nos detalhes que fazem a diferença e imagem distorcida ou com cores diferentes; as frases de efeito; as sobrancelhas franzidas e os olhares 43; os diálogos cheios de duplos sentidos; expressões tipicamente Grissom como "vou ouvir o que o morto tem a me dizer". Uma boa parte da diversão do programa é ficar contando as semelhanças. Mas a série é bem produzida e, até onde eu sei, baseia-se em fatos reais, solucionados pelo RIS. A maior parte do elenco é sofrível, mas isso é só um detalhe. Há belas tomadas de Parma, cidade onde se passa a história e que eu infelizmente não conheço. O chefe da equipe é um bonitão, e há só uma mulher na esquadra. Há as clássicas situações do tipo começamos com preconceito contra as mulheres mas ela acabou nos conquistando com sua competência e seu ponto de vista feminino que muitas vezes gera insights decisivos.

Eu adoro essas séries sobre as Forze dell'Ordine – Carabinieri, RIS, Guardia di Finanza. E não, não é fetiche de farda, é porque são bem feitinhas mesmo, e eu gosto do assunto. Fora essas séries, o programa de documentários Solaris, que vai ao ar às quatro da tarde, quando não há ninguém em casa pra assistir, Superquark e La Macchina del Tempo, dois documentários sérios que também vão ao ar em horários infelizes, e Le Falde del Kilimangiaro (Aos Pés do Kilimanjaro), programa sobre viagens que vai ao ar no sábado à tarde, quando todo mundo tá dormindo depois do almoço, não há absolutamente mais nada assistível na TV italiana. Tudo isso junto deve dar, no máximo, uma hora de programaçao decente por dia. E ainda querem quase 100 euros por ano de assinatura obrigatória, sendo que a RAI, além de ser uma bosta, ainda tem uma quantidade impressionante de publicidade.

Pior de tudo é a mania dos reality shows. Além do Grande Fratello, que esse ano foi decidido entre uma bicha escandalosa filho de iranianos, nascido em Israel e criado em Milão, um pedreiro toscano de longos cabelos louros estilo Conan, neto de uma etíope, e uma galesa completamente louca (ganhou a bicha escandalosa, o Jonathan, que é uma simpatia e mereceu), há várias outras coisas do tipo rolando.

Tem o Amici di Maria de Filippi, que um dia já se chamou Saranno Famosi (literalmente Serão Famosos) e é tipo o tal de Fama, do qual eu ouvi falar; acompanha a vida de um bando de jovens aspirantes a artistas de dança, canto e artes dramáticas dentro de uma escola especializada, plantada nos estúdios da Mediaset (leia-se Berlusca). Sábado à tarde tem programa ao vivo, com desafios entre os participantes, bate-boca na platéia e os cortes de cabelo mais estranhos que o mundo já viu.

Tem a Isola dei Famosi, que leva ex-famosos decadentes pra um lugar isolado (esse ano o tal lugar isolado era simplesmente o lado mais deserto de uma ilha não sei onde, que no outro lado hospeda um resort milionário), na tentativa de ressuscitá-los. Esse ano quem ganhou foi um modelo espanhol leeeeeeeeeendo e muito simpático.

Teve La Fattoria (a Fazenda), que levou outros ex-famosos decadentes pra uma espécie de chácara, onde deviam tocar adiante a coisa – arar, plantar, colher, secar, preparar, estocar, abater, tosar, alimentar – como se estivessem no século sei lá o quê, sem luz elétrica nem nenhum tipo de eletrodoméstico ou máquina sofisticada, com roupas de tecido cru, sem água corrente, etc. Não sei quem ganhou, e o programa não foi pra frente.

Tem o chatérrimo I Campioni del Cuore (Os Campeões do Coração, ô nome cafona), que acompanha as desventuras de jovens machos italianos e não, na luta por um lugar ao sol no mundo do futebol. É apresentado por uma morena estonteante e muito simpática, que apresenta também Timbuctu, um programa sobre curiosidades do mundo animal que eu espero sinceramente que não saia do ar.

E agora inventaram uma palhaçada que anda me irritando muito, porque deslocou o Comissário Rex, companheiro de sesta: Il Ristorante. Mais uma vez temos ex-VIPs decadentes, agora enfurnados num restaurante. Eles mesmos têm que decidir quem cozinha, quem serve, quem passeia entre as mesas e finge que trabalha, quem faz as compras, quem limpa e coisa e tal. É possivel ligar pra RAI e reservar uma mesa, porque teoricamente funciona como um restaurante de verdade. A mestra-de-cerimônias é a Antonella Clerici, linda loura simpática, gorducha e atolada que apresenta o La Prova del Cuoco todos os dias, na hora do almoço. Só se mete em roubada e todos os outros programas que caem na mão dela são um horror. O confessionário do Ristorante é a despensa; em vez de dizer que fulano foi eliminado se diz que foi demitido; e outras coisas do gênero, mas o modelo é exatamente idêntico ao do Grande Fratello, claro. O chato é que as puntate (os episódios) ao vivo vão ao ar bem depois do almoço, quando normalmente estou com as mãos cheias de espuma de detergente pra lavar louça e não posso nem mudar de canal. Acabo assistindo àquela bosta. Os únicos participantes que conheço são uma condessa ou baronesa, sei lá, chamada Patrizia De Blank, uma perua toda esticada, mãe de uma retardada que participou do primeiro Isola dei Famosi e foi imitada durante MESES por todos os programas humorísticos, por causa da voz de taquara rachada e dos comentários nonsense; e uma tal de Tina, que inventou um personagem meio vamp e basicamente ficava sentada numa poltrona em forma de boca, com vestido de gala e bois enrolado no pescoço, com um mordomo em pé ao seu lado, fazendo comentários maldosos sobre as roupas dos participantes durante um programa cafonérrimo da Maria de Filippi, que ainda vai ao ar. Depois que engravidou e engordou uma tonelada, a Tina sumiu, e agora foi desencavada e jogada nesse Ristorante, com seu cabelo descolorido e seus cachinhos à base de baby-liss. Lembram que uma vez eu comentei que saiu num jornal inglês uma matéria sobre a péssima qualidade da TV italiana? A manchete estava no alto da primeira página, ilustrada com uma foto dessa Tina. Pra vocês verem que eu não estou exagerando.

O pior de tudo é que eu sei de tudo isso não porque assisto aos programas, mas porque qualquer acontecimento mais ooooooh que se passe durante esses programas vai parar no TELEJORNAAAAAAL. Então você tá lá jantando numa boa, ouvindo aquelas notícias fofas sobre crimes passionais, guerras de clãs mafiosos, atentados no Iraque, a última gafe do Bush, os resultados das partidas de futebol, e de repente o âncora solta aquela notícia-bomba sobre a fulana de tal, que brigou com a beltrana ao vivo, no ar, durante o programa de ontem. É mole ou quer mais?

Postado por leticia em 14:25

20.01.05

cani e chiacchere

Ontem fomos jantar uma pizza básica na nossa pizzaria preferida, agora melhor ainda sem gente chata fumando do seu lado. Tinha pouca gente, porque tá frio demais pra sair à noite, e os adolescentes que normalmente freqüentam o lugar chegam de lambreta – queria ver vocês encarando lambreta à noite com temperaturas em torno de zero Celsius. Depois, como fazemos sempre, fomos dar um pulo na Arianna pra cumprimentar os cachorros. Encontramos a seguinte situação: na garagem, Demo dormindo sozinho, com o buraco nas costelas do lado esquerdo que um cachorro da vizinhança lhe deu com uma dentada, domingo passado. Na cozinha, lá em cima, um presépio vivente: Arianna e Lucia (a avó do Mirco; mais conhecida como Laspo', apelido de La Sposa, que era como o falecido marido a chamava) cobertas de farinha, despejando um fio de mel e de Archemis (um licor vermelho horripilante) sobre um prato de chiacchere. Leo deitado num tapetinho na lareira, com a barriga virada pro fogo, a cabeça apoiada na pata direita, essa por sua vez apoiada na borda da grelha pra bisteca, a mo' de travesseiro. Ao lado dele, quase caindo, Virgola, sua mãe aleijada (aqui se diz handicapped, mas pronuncia-se ândi-kappáta), com três metros de língua de fora. Ela sempre dorme ali perto da lareira, mas quando começa a esquentar demais começa a suar e logo olha pra gente desesperada pedindo água. Quando tem que dividir o espaço com o Leo, que é um folgado como eu nunca vi na vida e espaçoso como ele só, acaba sendo deslocada pro lado, a ponto de cair no chão. Legolas estava sentado embaixo da mesa, só com o focinho aparecendo por baixo da borda do tampo, encarando o prato de chiacchere com a cara mais séria do mundo e abanando a ponta do rabo.

Chiacchere* (ou frappe, o nome muda dependendo da zona) são doces típicos de Carnaval. São feitas, como a massa de macarrão, com farinha de grão duro e ovos, mais "uma gota de vinho ou de Martini pra ficar crocante, uma pitada de açúcar e raspas de limão". A massa é cortada em fitas largas, que depois são meio que trançadas, ficando mais ou menos com a forma da fitinha vermelha da campanha anti-AIDS. Depois são fritas, escorridas, polvilhadas com açúcar de confeiteiro (zucchero a velo) e cobertas com um fio de mel ou de Archemis, o tal licor maldito. Eu detesto, porque não sou muito chegada em fritura nem em quase nenhum doce que não leve chocolate na receita, mas aparentemente o Legolas adorou, porque depois que comeu a primeira ficou com aquela cara de pastel, encarando fixamente o prato e grunhindo quando fingíamos que não estávamos entendendo. Depois foi se sentar perto do balcão, bem debaixo do prato, encostou a cara na fórmica e soltou um suspiro imeeeeenso, até despertar a compaixão do Mirco, que lhe deu duas das pequenas. E depois chega, né, hora de dormir; levamos o pimpolho lá pra baixo pra dormir com as gatas, chafurdando em meio a velhos suéteres de lã e edredons furados. Leo ficou lá na lareira, claro, porque afinal de contas quem comanda o batatal cachorral da casa é ele, e sultão que é sultão tem todo o direito de ficar no quentinho até a hora que bem entender.

* Chiaccherare (pr. kiakerare) quer dizer conversar, bater papo. Os italianos têm o hábito de dizer "due" (ou "un paio", um par, a couple) ou "quattro" quando se fala um número indefinido de palavras, passos, conversas ou qualquer outra coisa. Então "vou ali bater um papo" se diz "vado a fare due/quattro chiacchere", e "vou dar uma voltinha" se diz "vado a fare due/quattro passi". Não é incomum ouvir senhoras fazendo compras na barraca de fruta e verdura da Rita, dizendo "Dammi un po' quattro pere, o' Ri'", ao que a Rita responde, "Quattro di numero?" ("Me dá umas quatro pêras, Rita"; "Quatro quatro mesmo ou quatro por assim dizer?"). É ou não é uma delícia essa língua? :)

Postado por leticia em 19:55

resposta

Oi Rosemary, tudo bem? Primeiro de tudo, obrigada pela sua educação.

Eu não entendi uma coisa: por que marroquino não é legal, e sim magrebino? Marroquino não é quem veio do Marrocos? Aqui quando usam magrebino é sempre em um sentido muito ambíguo, significando vagamente norte-africano. Como a minha experiência pessoal é com marroquinos mesmo, usei marroquinos.

A história das enfermeiras polonesas me veio à mente ontem porque naquela manhã eu tinha ouvido, na rádio RAI, uma matéria exatamente sobre isso. Agora que a Polônia faz parte da Comunidade Européia, profissionais poloneses que queiram vir trabalhar aqui não precisam mais fazer prova de conhecimentos lingüísticos – uma decisão tão idiota quanto a do Itamaraty, de não mais exigir fluência em Inglês pros novos diplomatas. Não importa de onde vem a criatura; se vai trabalhar num outro país, tem que falar a língua, oras! Nada mais lógico, mas enfim, lógica anda em falta no mundo. O problema é que aqui faltam enfermeiros (faltam tipo 40.000), já que, como no Brasil, e por motivos que ignoro, enfermagem é uma carreira considerada meio, digamos, meio coisa de Suely Maria. E aí neguinho sai pescando enfermeiros em tudo que é lugar, pagando uma baba (já vi anúncios oferecendo € 3.350,00/mês). Só que é uma coisa séria, né. Uma enfermeira que dá um remédio errado, ou faz um curativo errado, ou encaminha um paciente errado pra um procedimento porque não entendeu o que estava escrito no prontuário é uma coisa MUITO grave. Eu nunca tinha ouvido falar dessa história e fiquei meio assustada quando pintou isso no rádio. Mas talvez nem tivesse comentado se não tivesse caído como uma luva pra ilustrar o que eu queria dizer àquela mala que me escreveu.

Eu acho, sim, que a maioria dos extra-comunitários que caem de pára-quedas aqui (ou melhor, vêm de barquinho até Lampedusa) trazem problemas, de verdade. Talvez porque a Itália não tenha ex-colônias, por isso nenhum dos grupos extra-comunitários que vêm pra cá fala italiano, e isso dificulta enormemente a integração. Já falei aqui várias vezes de como é, de forma geral, distribuída a criminalidade aqui na Itália; não vou me repetir. Confirmo o que eu sei a respeito de marroquinos – de outras nacionalidades não posso dizer nada: CEM POR CENTO dos marroquinos que já passaram pela oficina, e são realmente muitos, deram algum tipo de problema, do mais grave, com advogado e Carabinieri e ameaças de morte no meio, à simples encheção de saco. Cem por cento é muito, muito mesmo, mesmo quando a amostra é relativamente pequena. Conhecemos outras pessoas que têm microempresas e contam histórias parecidas, com estatísticas semelhantes. Não dá pra fingir que isso é normal.

Um abraço,

Leticia

p.s.: explica mesmo essa história do magrebino que eu fiquei curiosa!

Postado por leticia em 08:34

jump

Eu cheguei a contar que vimos Alexander semana passada? Já sabíamos que seria uma bela bosta; qualquer filme cujo protagonista tenha cabelos à la Van Halen não pode dar em nada de bom. Mas nós adoramos esses filmões épicos (que aqui se chamam kolossal, sílaba tônica ko), e o Mirco nem dormiu. Eu babei, como sempre, no figurino, nos tecidos, nas espadas, nas armaduras. Também gosto de cenas de guerra pré-pólvera, qualquer uma, até mal feita, desde que eu não veja nenhum cavalo (e, nesse caso, também camelos – ou dromedários? Não lembro – e elefantes) sofrendo. Pra não falar nas risadas que eu dava quando rolava um sentimento entre o Alex e Hefestinho, e a galera fazia hmmmmmmmm! Ah, gente, são essas bobeiras que dão sentido à vida, né não?

Postado por leticia em 08:18

heh

Eu adoro o Fabio :)

Postado por leticia em 07:44

19.01.05

como tem gente cri-cri nesse mundo!

Vamos por partes, como sempre.

Primeiro: eu respondo SEMPRE a TODOS os e-mails que me mandam. Quando não respondo logo de cara, é porque o e-mail deu tilt, coisa que infelizmente acontece muito freqüentemente. Qual seria o problema de dizer "não respondo a e-mail"? Assim como deixo bem claro, no TEMPLATE do paca, que não gosto de comments, não teria nenhum problema em dizer que não gosto de e-mail. Coisa mais sem lógica. E depois a idiota sou eu.

Segundo: eu não "não me dei bem" na Alemanha. Não gostei de Berlim, o que é uma coisa totalmente diferente, como qualquer pessoa semi-alfabetizada é capaz de compreender. Depois a idiota sou eu...

Terceiro: se eu falasse só de coisas bonitas e legais, esse seria um blog docinho e fofo. Eu não sou docinha e fofa e minha única intenção é divertir as pessoas – admitam, vocês se divertem, tanto é que continuam voltando. Provas disso são as inúmeras amizades que fiz com Brasileiras Legais que Moram na Alemanha e Não se Acham AAAAAS Alemãs, os e-mails educados e inteligentes que recebo de gente que não concorda com o que eu digo mas acha graça mesmo assim, e principalmente o fato de que a Alemanha é, desde o Incidente Berlim, o segundo país que mais visita o paca. Gozado, né?

As coisas mais engraçadas da vida são as cafonices, as gafes, os imprevistos, os incidentes bobos, as trapalhadas. Qual é o programa humorístico que faz piada de acontecimentos normais? As memórias mais duradouras de uma viagem são as coisas que deram certo ou o que deu errado? Eu falo de coisas boas aqui, sim, falo bem de pessoas sobre as quais tenho algo a dizer, falo de coisas bonitas, de comidas boas, de livros maravilhosos, mas tanto não tem graça que ninguém lembra. Já pararam pra pensar por que eu nunca falei dos meus outros vizinhos? Porque são todos normais. Os únicos vizinhos bizarros e incomodativos que eu tenho são a Suely Maria e seu companheiro com pinta de cafetão. Se eu começar a falar dos outros, que são tão normais que a gente nem lembra que eles existem, isso aqui vai ficar um porre.

Quarto: o botão "fechar" é serventia da casa. Em vez de ficar torrando o meu saco, vá fazer algo de mais útil, ou ler alguém que só escreva coisas com as quais você concorda.

Quinto: se eu caso ou não caso, isso é problema meu. Se todo mundo que não casa começar a ser rotulado disso ou daquilo, vai ser uma beleza. Conheço uma dúzia de brasileiras muito decentes e competentes e que escrevem muito bem em blogs muito badalados que se ofenderiam imensamente com esse comentário idiota.

Sexto: nome cafona não significa NECESSARIAMENTE baixo nível, mas vamos admitir que a probabilidade é grande. Pais bem educados dificilmente botam nomes esdrúxulos nos filhos, e pais bem educados têm mais probabilidade de criar filhos bem educados. Pura lógica, mas lógica requer inteligência, sabe, nem todo mundo é capaz de absorver esses conceitos óbvios. E prestaram atenção naquele "não significa necessariamente..." ali em cima? É importante, viu?

Sétimo: EU dizer que EU sou ex-médica é ofensivo pra quem, cara-pálida? Isso é assunto meu, se EU me formei e resolvi não exercer isso não é ofensa pra ninguém – é uma decisão minha e pronto, e não quer dizer absolutamente nada, a não ser isso mesmo: que eu me formei e resolvi não exercer. Se dizem que o Harrison Ford já foi carpinteiro (ex-carpinteiro, pois), isso é uma ofensa pros carpinteiros do mundo? Ora, por favor, vamos permanecer dentro dos limites da sanidade mental, tá?

Oitavo: parasita quem? Se eu pago todos os meus impostos direitinho e pontualmente, TANTO AQUI QUANTO NO BRASIL? Trabalho feito um cachorro, penso em três línguas diferentes por dia, cuido da casa, faço compras, mantenho vivas as minhas plantas, ajudo na contabilidade, levo a família inteira ao médico e meço a pressão de todo mundo, entrego faturas, pago contas, busco peças, atendo telefone, faço a contabilidade, vou ao banco falar com o diretor, brigo com cliente que não paga, dirijo caminhão e empilhadeira, dou banho nos 4 cachorros, ajudo a plantar tomate e tulipa, faço pequenos consertos em casa, traduzo, ensino, cozinho, organizo, arquivo, escrevo, perco o meu tempo dando satisfação a gente chata, não erro uma crase e ainda me chamam de parasita? E que história é essa de não cuspir no prato em que comi? O governo italiano por acaso me sustenta? Me dá alguma coisa de graça? Eu estou trazendo problema pros outros aqui? Quem traz problemas pro país são os marroquinos que se jogam na frente dos carros pra ganhar indenização, são as enfermeiras polonesas que botam em risco as vidas dos pacientes porque não entendem as instruções em italiano, são os chineses que trabalham por salários de fome e roubam o emprego dos italianos, são os mafiosos do sul que matam a torto e a direito. Tenho todo o direito de cuspir no prato, sim, porque eu ajudei a preparar a comida que estava nele.

E quer saber? Vá encher o saco de outro, faz favor.

p.s.: A data da viagem à Argentina ainda não foi decidida, porque ainda não sei exatamente quando vou poder ir.

p.s.2: No outro fim de semana (não esse, o outro) estaremos em Dusseldorf. Dicas...?

Postado por leticia em 20:41

toma, papuda

Porque AINDA tem gente que nao acredita que eu seja ex-médica.


Mais tarde boto no ar a resposta ao flame da chata da Irene. Nao posso responder porque o e-mail ainda esta' estranho, por isso vou publicar. Merece.

Postado por leticia em 12:27

18.01.05

i 1/2

Ah, meu e-mail deu tilt de novo e nao consigo mandar mensagens ha alguns dias. Assim que meu lindo servidor italiano parar de palhaçada eu respondo tu-di-nho que esta' encalhado na minha inbox, ta'?

Postado por leticia em 09:03

capone

A IG fala de máfia, e eu aproveito o gancho pra dar o meu pitaco. Já falei de máfia aqui várias vezes; acho um assunto interessantíssimo e é impossível não traçar um paralelo com o audacioso crime organizado carioca. A diferença crucial é que os criminosos italianos não são tão horrorosos e não falam "colé, mermão", e que a máfia tem o seu próprio código de honra muito particular. Se bem que ultimamente isso vai ficando cada vez menos visível; morre tanta gente que não tem nada a ver com a história que já tá ficando esquisito. Por outro lado, ainda há muitos assassinatos no velho estilo: ontem mesmo morreu um baleado num restaurante. Há algumas semanas, sempre em Nápolis, um outro foi assassinado dentro da sala de jogos de um bar. E por aí vai. A guerra entre os clãs napolitanos não dá trégua, e a polícia obviamente pouco pode fazer. Assim como a PM não dá mole e não sobe em determinadas favelas, também há bairros nas periferias barra-pesada de Nápolis onde a polizia não vai não, tá pensando que são otários?

Postado por leticia em 08:41

17.01.05

brrr

Anda um frio miserável por aqui. A Itália está sendo "interessata" por uma "perturbazione" fria vinda não sei de onde, e parece que até quinta-feira vai ser essa Sibéria. Em algumas zonas o termômetro chegou a 15 graus abaixo de zero, e é claro que o frio virou oooooo assunto da semana. Mas o problema maior é que não chove há séculos, o que só contribui pra intensificar o fenômeno do smog nas grandes cidades. Quase todas, inclusive Perugia, que não é exatamente grande mas pensa que é, adotaram aquele delicioso sistema de rodízio de carros baseando-se nas placas de final par ou ímpar. Mesmo assim parece que não tá funcionando. Gente demais, carro demais. Hoje ouvi no rádio uma entrevista com um professor italiano que leciona na Universidade de Rotterdam. Ele comentava como não dá pra comparar os dois países em termos de uso de bicicleta, porque a Holanda é toda plana e a Itália não. Sei não, mas pra mim isso é desculpa, porque a relação do italiano com o carro é uma coisa muito, mas muito singular. Junte-se a isso uma consciência ecológica menor ou igual a zero, e pronto, cá estamos, todos afogados em smog.

Postado por leticia em 21:33

16.01.05

domenica

Hoje Mirco acordou tarde. Eu nem tomei café pra não acordá-lo (ele anda muito estressado e acorda às cinco da manhã e vai ver TV na sala, e acaba re-dormindo no sofá) e fiquei na cama terminando o livro sobre os celtas. Fomos almoçar na Arianna, que fez lasanha, coisa que eu não comia há séculos. Nem deu pra brincar direito com Leguinho nem nada, porque tava um frio do cacete e porque tínhamos combinado de passar na casa do Gianni e da Chiara pra resolver que viagem fazer esse ano. Gianni encasquetou com a Argentina. Mirco adora a Argentina e o Moreno foi pra lá semana passada; a passagem tinha sido comprada no ano passado e há meses que toda vez que nos encontrávamos o papo era SEMPRE Argentina. Imaginem a intensidade da minha encheção de saco. Mas dessa vez parece que a coisa é séria, porque o Gianni achou voos relativamente baratos também de Buenos Aires pra Uchuaia e El Calafate, pra ver a geleira de Perito Moreno e coisa e tal. Aparentemente vai rolar mesmo, no final de março. Vamos ver.

Postado por leticia em 20:46

15.01.05

uff!

E eu pensando que o fim de semana seria light.

Só conseguimos sair da oficina às quatro da tarde, porque veio um cliente calabrês que de vez em quando aparece, e como paga sempre em dia e sem criar caso, foi atendido. O cara é louro de olhos azuis e tem cara de tudo menos de calabres; muito simpatico e educado. Ajudou a soldar uma plaquinha pra reforçar uma lateral do caminhão e só não veio almoçar com a gente porque ainda tinha que encarar umas dez horas de viagem até a Calábria.

Depois do almoço tardio Mirco foi cortar o cabelo, missão demoradíssima, porque o barbeiro dele não marca horário e a fila é sempre longa. Eu fiquei dando uma guaribada em casa e preparando o jantar pro Fabio e pra FeRnanda, que chegaram às oito e meia. Mirco chegou depois, exatamente do jeito que tinha saído – a fila no barbeiro estava tão grande que ele resolveu deixar pra lá, continuar com o arbusto na cabeça e dane-se. Aproveitou o tempo livre pra ir fazer compras numa grande loja DIY (que aqui se chama fai-da-te) em Perugia, e voltou carregado de ferramentas, furadeiras, aparafusadores elétricos e outras coisas igualmente excitantes.

Pro jantar inventei um antipasto quente, e acabou que deu certo: forrei as minhas forminhas pra muffin de silicone com batata ralada, depois coloquei um pouco do recheio de salmão que tinha sobrado daquele jantar pros meninos que iam pra NY, cobri com mais batata ralada, polvilhei com sal e alecrim e pus no forno. Ficou bem gostoso. Depois fiz penne com salmão defumado (tínhamos que desencalhar o último salmão defumado que compramos na Metro, antes que acabasse a validade) e creme de leite. Simplinho e gostosinho, ainda mais com uma polvilhada de pimenta branca por cima. Fomos dormir cedo, porque estávamos exaustos e porque não tinha nada de interessante pra ver na TV.

Postado por leticia em 07:44

14.01.05

hmpf

Concordo pRenamente com a Fernanda. Há poucos dias morreu um piloto italiano que corria no Paris-Dakar de motocicleta. Pronto! Para-se o país, todo mundo só fala dele, como se fosse herói nacional. Entrevistam as velhinhas da cidadezinha dele, Castiglion Fiorentino, e todas dizendo que ele era uma pessoa fenomenal, que a cidade não vai ser a mesma sem ele, que sei lá o quê. Ora, façam-me o favor! A cidade é pequena mas não tanto; querem realmente que eu acredite que todo mundo que foi entrevistado realmente o conhecia a ponto de poder dizer que era uma pessoa maravilhosa? O que que ele fez por Castiglion Fiorentino? O que que ele fez de importante na vida? Ah, peraí, né. Pra começar que eu já não tenho o menor respeito por quem tem família (ele deixou dois filhos pequenos) e se aventura nessas coisas. Quer fazer esporte de risco? Faz enquanto ainda não tem ninguém dependendo de você, meu querido, senão vira egoísmo daqueles brabos. Sei que o cara foi enterrado numa cerimônia cheia de pompas, caixão coberto com a bandeira nacional e tudo. Palhaçada.

Postado por leticia em 08:33

13.01.05

Eire

The Invasion Myths

Eire, or Ireland, is named after the Celtic goddess, Eriu. Irish mythology describes a series of invasions which led to the establishment of Celtic Ireland, summarized in the mediaevel Lebor Gabala Erenn ("Book of Invasions of Ireland"). The invading tribes were, in succession, the Cessair, the Partholon, the Nemed, the Fir Bolg, the Tuatha de Danann and, lastly, the sons of Mil Espane, or Milesians. Eriu was a goddess of the divine race of the Tuatha de Danann, or People of the Goddess Danu. She and two other goddesses, Banbha and Fodla, each extracted a promise from the conquering Milesians that Ireland would henceforth take its name from her and her alone. The fili ("poet" or "visionary") Amhairghin (Amergin) reassured Eriu that Ireland would be named after her; in return, she promised that the sons of Mil Espane would rule Ireland for all time. The Tuatha de Danann retreated to the dark and secret places, caves, forests, burial chambers, under the waves of the sea, beneath the hillsides, under the streams, where they still live to this day as faery folk.

(...)

The Cessair were a tribe of Amazons, or goddess-women, who invaded Ireland before the time of the Great Flood. Their leader was Cessair, supposedly a great-granddaughter of the Biblical Noah. When the Flood came, the only member of the Cessair to survive was a male god, Fintan, who was Cessair's consort. He survived because he had the power of shape-shifting: he became a salmon, an eagle and a hawk; he spent the first year of the Flood living under the waters in a cave called "Fintan's Grave". He lived to Christian times, was a witness to all the succeeding invasions, and was therefore the supreme authority for all questions of history or tradition.

After the Cessair came the Partholon, also named after an individual. (...) Nemed was the leader of the next group of invaders, the Nemed. After internal disputes, they abandoned the country. (...) The Fir Bolg (men of the Belgae) were descendants of the Nemed. They were still in possession of the land when the next wave, the Tuatha de Danann, arrived. The Fir Bolg were defeated at the First Battle of Mag Tuired and forced to flee to the islands, notably Islay, Arran, Man and Rathlin. During this battle, Nuadu, king of the Tuatha, had his arm severed. The blemish meant that he could no longer be king, and a prolonged contention over rights of sovereignty ensued.

The Tuatha de Danann were wizards and magicians who had learned their arts by living in the remotest northern islands of the world. They had four inestimable treasures: the Great Fal was a prophetic stone, which uttered a cry when, and only when, it was touched by the future king of Ireland (cf. the Arthurian legend of the sword in the stone); the spear of Lugh guaranteed victory to whoever held it; the sword of Nuadu could not be escaped, once it had been drawn from its scabbard; and the cauldron of the Dagda ("good god") was inexhaustible, so that no company could ever leave a feast unsatisfied. All the other invasions had been sea-borne, but the Tuatha de Danann, using their magic, flew to Ireland in dark rain clouds and were literally rained on to the mountain of Conmaicne Rein in Connaught, where their falling obscured the sun for three full days. The greatest of the Tuatha de Danann became Ireland's gods and goddesses: Danann herself, mother of the gods, and Lugh, Nuada and the Dagda, already mentioned; the Morrigan ("Great Queen"), goddess of battle and the Dagda's consort; Brigit, goddess of light and fire, daughter of the Dagda; Manannan Mac Lir ("son of the sea"), who gave his name to the Isle of Man; Dian Cecht, the "sage of leechcraft" and god of healing; and many others.

The Second Battle of Mag Tuired was fought by the Tuatha de Danann against the Fomoire or Fomori, a race of grotesque giants. They were led by Cichol Gricenchos Mac Goll, whose mother, Lot, had lips in her single breast and four eyes in the back of her head.

(...)

While the Tuatha de Danann and the Fomori were still at war, the last invasion came. This was led by Mil Espane (Milesius of Spain), so that the tribe he led is called either Sons of Mil Espane or, more simply, Milesians. The legends give the date of this invasion as a thousand years before Christ. It seems strange to think of most modern Irish people as being descended from Spaniards - we are reminded of Tacitus's geographical error in placing Spain to the west of Ireland. However, the legendary accounts all agree that the Milesians were, indeed, the last race to conquer Ireland. Moreover, they were a mortal race, whereas the Tuatha de Danann and the Fomori, who were never entirely banished from the island, were gods and magicians.

Kingdoms of the Celts - a History and Guide, John King

Os negritos e sublinhados são meus. Não é uma coisa linda de morrer?

Postado por leticia em 20:20

12.01.05

ui

Os dias têm andado corridíssimos. Ontem foi a última aula de Português pra Bicha Chata, o que significa cinco horas e meia a menos de aula por semana, até me arrumarem outros alunos. Quando não estou dando aula, estou rodando por aí, entregando faturas a clientes e levando cheques a fornecedores, pegando peças de caminhão ou latas de tinta e solvente com o meu carro, o do Mirco ou o Fiat Uno caquético da oficina, encarando a fila no banco ou nos correios. E o resto do tempo fico aqui na oficina, que por enquanto anda bem tranqüila, apesar de não faltar trabalho. Estamos numa fase interessante, de preparação pré-organizativa, por assim dizer. Oficialmente desde primeiro de janeiro a oficina está no nome do Mirco, e começamos tudo do zero. Arrumei todo o escritório, exilei lá pra cima do armário os arquivos e fichários com documentos de 99, 2000 e 2001 e trouxe os outros, mais recentes, pra dentro do armário. Tirei muita poeira e teia de aranha, botei tudo em ordem cronológica, remendei etiquetas caidas; fizemos novas etiquetas e divisores internos pros novos fichários, tudo mais simples e mais organizado. Dei uma geral no computador, que é entupido de coisas estranhas em lugares bizarros – culpa da terrível falta de intimidade do italiano com eletrodomésticos em geral. A Elisabetta, secretária que saiu daqui no começo de dezembro, era um amor mas não particularmente brilhante. Assim como o Mirco, só sabia usar Excel, até pra escrever cartas, um hábito abominável que estou custando a remover do cérebro do lanterneiro. Além disso ela tinha mania de salvar documentos, muitas vezes enormes, no desktop – não sabia criar atalhos. Há varios files chamados "fatura" – de quê? De compra? De venda? De que ano? A quantidade de post-its colados pelo computador, ao redor do monitor, por cima das páginas do calendário de parede, é assustadora. Há uma quantidade impressionante de informação espalhada por todo o escritório, e aos poucos estou tentando botar ordem nas coisas, juntar anotações que falem do mesmo assunto, criar bancos de dados, atualizar os já existentes. Criei arquivos e tabelas pra tentar facilitar na hora de fazer as faturas, que devem fazer referência aos respectivos recibos fiscais e documentos de transporte; assim, em vez de ter que enlouquecer catando toda essa papelada na hora de faturar, basta copiar e colar a informação que já inseri na tabela.

Mas a culpa do antigo caos não era só da Elisabetta, coitada. Aqui ela tinha que lutar contra uma quantidade imensa de monstruosos inimigos da calma, da paciência e da organização: a ignorância, a voz alta, o stress, o dialeto e o semi-autismo do Ettore; a ignorância, a voz alta, o stress, os dialetos e a total falta de educação dos motoristas de caminhão, que entravam aqui como se fosse a casa da mãe Joana, falando alto, pegando no telefone, fumando, apoiando coisas em cima da escrivaninha; o barulho enlouquecedor de tornos, esmeris, prensas, máquina de cortar folhas de metal, pistolas de pintura a jato de ar comprimido, marteladas, marretadas, furadeiras, máquinas de soldar; a eterna poeira que se deposita imediatamente após a mais vigorosa faxina; a sirene de alerta das duas empilhadeiras quando dão marcha a ré; o cheiro de tinta, o fedor dos marroquinos, a fumaça dos caminhões, a umidade e o frio ártico do escritório, as blasfêmias de todos aqui – outro hábito horrível que estou penando pra abolir da vida do Mirco. Difícil se concentrar e fazer alguma coisa direito com tudo isso acontecendo. Mas aparentemente agora a coisa se acalmou, porque o Ettore realmente parou de dar pitaco e só abre a boca quando lhe perguntam alguma coisa. Cliente que não paga não é mais atendido, fornecedor que erra muito nas faturas (sempre pra mais, obviamente) e/ou entrega o que lhe dá na telha, além do que foi pedido, deixa de ser fornecedor, e só isso já reduziu MOOOOITO o nível de stress. Também não se faz mais hora extra; chega-se meia hora mais cedo de manhã, tenta-se respeitar os orçamentos feitos aos clientes, vai-se embora na hora de ir embora. Mudamos de contador: deixamos pra lá o Furio, que é amigo da família mas um horror em termos de organização e pontualidade, e pegamos o Giuseppe, amigo do Moreno, um cara legal, jovem, formado em Economia e Comércio, que sabe o que está fazendo. Então começamos com o pé direito, com tudo novo, tudo organizado, todos os documentos em ordem e tirados no prazo certo, tudo devidamente carimbado, assinado, xerocado, arquivado, de modo que não vai mais ser preciso organizar uma caça ao tesouro pra achar uma xerox do documento do marroquino ou os documentos de smaltimento (como é isso em Português? Em Inglês seria algo como disposal) de tinta e outros materiais tóxicos que obviamente não podem ser simplesmente jogados no lixo. Agora sabe-se onde está tudo, criamos uma bela rotina de trabalho, o que reduz a probabilidade de erros e de esquecimentos; quem manda é só o Mirco, de verdade, nada mais de autoridade dividida; não tem mais briga com cliente chato que não paga, não tem mais aquelas loucuras de trabalhar sábado à tarde e domingo de manhã porque o cliente largou o caminhão aqui na sexta à noite e o quer pronto e pimpante na segunda de manhã cedo, não tem mais essas maluquices. Já consigo ficar aqui o dia inteiro sem querer chorar de irritação, como acontecia antes.

Claro que o ideal seria estar dando mais aulas e vir pra cá só nas horas livres, até porque agora ficou muito mais fácil e muito menos time-consuming manter tudo organizado, e não há necessidade de ter alguém aqui plantado no escritório oito horas por dia. O telefone toca menos, porque praticamente só cliente chato é que ligava pra torrar a paciência do Ettore; como agora já sabem que com o Mirco o buraco é mais embaixo, os mais chatos simplesmente deixam de vir, pra não ter que ficar chorando preço, prazo, sei lá mais o quê, ou explicando por que raios não pagou a última fatura, ou por que o cheque bateu e voltou. Depois de um certo horário já não tenho mais nada de concreto pra fazer, enquanto que em casa as coisas pra limpar, as roupas pra passar, a comida pra cozinhar, a louça pra lavar (ah, isso não, porque eu sou paranóica com louça e lavo tudo antes mesmo de terminar de mastigar a última garfada), os livros pra ler, as coisas pra escrever, o nada pra fazer, se acumulam. Não posso reclamar; gosto de me sentir útil, e menos culpada por não poder pagar exatamente a metade de todas as nossas contas, e também estou aprendendo muita coisa e tentando perder a mania de deixar tudo pra cima da hora, mas por outro lado preciso de tempo pra fazer as minhas coisinhas. Estou de dedinhos cruzados pra ver se me aparecem novos alunos e novas traduções. Já falei com a Bicha Pedagógica lá da escola pra me arrumar logo uns alunos, de preferência por ali mesmo, na sede, e não em Perugia, que eu não tenho dinheiro pra pagar toda essa gasolina. Vamos ver no que vai dar. Já apareceu uma proposta pra dar aula pra um casal "muito exigente", o que quer que isso signifique, lá nos cafundós do Judas, sexta-feira, das sete às nove da noite. Falei pra Bicha Pedagógica, tá brincando, né, nega? A escola considera toda Perugia como sendo "in zona", e por isso não me paga adicional, mas pra mim não é não! São trinta quilômetros da porta de casa até essa última saída de Perugia, e é melhor nem falar dos engarrafamentos. Inda mais sexta-feira à noite! Tá bom que o cinema fica ali pertinho, mas peraí, né, tudo tem seu limite. Ele ficou de me arrumar coisa melhor, mas insistiu muito pra eu pensar, porque esse casal "muito exigente" não quer qualquer um dando aula pra eles não, e eu sou ex-médica, limpinha, domino perfeitamente todas as línguas que falo, não blasfemo nem falo (muito) palavrão, sou viajada, estudada, cheirosa, tenho dentes estupendos e fisicamente tenho nacionalidade não-definida, o que, acreditem, é uma coisa ma-ra-vi-lho-sa. Bicha Pedagógica deixou bem claro que eu TENHO que ir dar aula pro Casal Exigente, porque não há mais ninguém na escola que tenhas as minhas características – só ele, que morou 8 anos em Londres, coisa que ninguém diria já que ele não é exatamente muito esperto. Mas dar aula lá onde o vento faz a curva você não quer, né, bella? Bati o pezinho e disse pra ele jogar uma conversa em cima do Chefe Catanese (ah, esses sicilianos...) pra ver se ele me paga a gasolina. Senão não tem história. Ah, fafavoaêeee....

Postado por leticia em 19:55

11.01.05

ai, meus sais gramaticais...

- A Rita está bem, graças à deus - disse Yolanda esta tarde, enquanto esperava novo contato do marido na Argentina.

N'O Grobo de hoje. Por que, ó céus, por que neguinho insiste na crase antes de palavra masculina?

Postado por leticia em 07:35

na Bota

No último sábado houve um terrível acidente ferroviário mais pro norte. Um trem de passageiros, que fazia a movimentadíssima linha Verona – Bologna e vinha em alta velocidade, bateu em cheio num trem de carga que estava parado no trilho único de uma estação de passagem. Os mortos são 17 e os feridos são muitos. As fotografias do local do acidente são de arrepiar; vagões praticamente na vertical, outros completamente destruídos.

A conta-gotas, começam a aparecer podres do sistema ferroviário, junto com as teorias sobre a causa do acidente – que vão ser sempre teorias, já que os maquinistas de ambos os trens morreram na hora. Primeiro o maquinista do trem de passageiros teria avançado um sinal vermelho. A mulher do finado disse que era uma hipótese absurda, que o marido era muito preciso e cuidadoso e que jamais avançaria um sinal assim, na cara dura. Mais tarde disseram que o maquinista avançou foi o sinal amarelo, provavelmente porque não o viu, já que a neblina naquele dia estava uma coisa absurda. Quando notou que havia um trem parado nos trilhos, tentou frear, mas àquela altura do campeonato a distância não era mais suficiente. Depois saiu a notícia de que o chefe da tal mini-estação de passagem viu que o trem não parou e tentou avisar o maquinista pelo celular (!!!!!!!!), mas que ninguém respondeu à chamada – ou o maquinista não ouviu, ou o telefone estava no vibracall, ou o acidente já havia acontecido. Mais depois ainda alguém deixou escapar que só no ano passado houve DOZE avanços de sinal vermelho em diversos pontos da Ferrovia dello Stato no país, mas nenhum desses casos foi denunciado ou oficialmente registrado. E só aí começou-se a discutir os sistemas de segurança das ferrovias. Parece que essa linha Verona – Bologna, uma das mais movimentadas do país, é uma das poucas que restaram sem sistema de segurança automatizado. Olha o Zaire aí, gente!

E exatamente à meia-noite de domingo pra ontem entrou em vigor a bendita lei anti-fumo, que proíbe o fumo em TO-DOS os lugares públicos fechados e locais privados abertos ao público, a menos que tenham uma sala reservada pra fumantes, com sistema de depuração de ar aprovado pelo governo. Não é só o fumante fora-da-lei que está sujeito a multas, mas também o dono do estabelecimento que não mandá-lo tomar no cu e apagar o cigarro. Aliás, o dono do estabelecimento tem o dever, segundo a lei, olha que delíciaaaaaaaa, de chamar as autoridades (leia-se dedurar) se o fulano se recusar a apagar o cigarro. Os proprietários, obviamente, já se rebelaram, nós não somos X-9 não! Tem problema não, deduro eu mesma. Não vou ter o menor problema em ligar pros Carabinieri se alguém insistir em fumar do meu lado enquanto como minha pizza.

Como 1) A imeeeeeeeeeeensa maioria dos proprietários de bares, pubs, restaurantes, boates, pizzarias, etc etc etc alega que não teve tempo (só dois anos, coitados...) e/ou dinheiro pra botar em ação as reformas necessárias e a instalação do sistema de depuração, e 2) Há uma infinidade de locais desse tipo que funciona em prédios históricos que não podem ter sua estrutura modificada pra se adaptar a esse tipo de lei, a imeeeeeeeeeeeeeeeeensa maioria desses lugares tornar-se-á, definitivamente, smoke-free. Aleluia, irmãos! E que vão todos tomar no cu, os fumantes. Vão fumar lá fora quando o termômetro está lá embaixo, vão!

Needless to say, já aumentou a freqüência da publicidade de adesivos e chicletes de nicotina na TV e no rádio. E há rumores de que o governo financiará esse tipo de tratamento anti-vício pra quem quiser parar de fumar.

Também needless to say que a primeira multa, que rolou à meia-noite e um de ontem, foi aplicada em, tchan tchan tchan... Nápolis!

Enquanto isso... Meu irmão tenta estágio na Souza Cruz. Mas se for trabalhar lá de verdade eu corto relações. Juro.


Postado por leticia em 07:09

10.01.05

tuatha de danaan

Eu juro que comecei a ler Delitto e Castigo, pra acompanhar o clube de leituras do maldito Alexandre, que fica botando minhocas literárias na minha cabeça. Mas não estou com muito saco pra ler em italiano ultimamente. Talvez porque eu esteja entrando em uma nova fase Irlanda da minha vida (já passei por várias). Desencavei uns livros que eu trouxe do Rio e que nem lembrava mais que tinha, e no momento estou lendo Kingdoms of the Celts – A History and Guide, de John King. Não tenho a menor idéia de quem é John King, se tem cacife pra falar desse assunto, se o livro pode ser levado a sério, mas eu realmente adoro esse assunto e gosto muito desse livro. Em breve contarei a história de Queen Medb e King Ailil, uma das minhas preferidas. E esse ano pretendo, de verdade, ir à Irlanda.

Postado por leticia em 07:17

09.01.05

Vao la' ler o Allan de hoje, vao.

Postado por leticia em 23:31

06.01.05

pregui...

E hoje é feriado na Itália: Epifania. É o dia no qual a Befana, uma bruxa, traz doces e brinquedos pras crianças boas e carvão pras crianças que se comportaram mal.

Nós aproveitaremos o dia pra descansar, trabalhar e ir ao cinema, necessariamente nessa ordem. Descansar porque ontem foi um dia longo e depois ainda fomos comer pizza com Gianni e Chiara e ficamos programando viagens e olhando atlas até duas da manhã. Estamos saindo agora pra almoçar na Arianna, depois temos que dar um pulo na oficina pra resolver umas coisas, e dali vamos diretamente ao cinema ver The Grudge. Alguém já viu? Não sei nada sobre esse filme, se é bom, se é horrível, se dá medinho, se dá pena.

Postado por leticia em 12:23

05.01.05

japa girls

Hoje chegou pelo correio um estojinho japonês lindo mandado pela minha amiga Hanae, de Osaka. Como de modo geral toda a Europa, a Itália está eternamente infestada de japoneses. A Università per Stranieri di Perugia, onde estudei em 2002 (que saudade! Que saudade da polacca pazza!), não é exceção. Na nossa turma havia duas que fizeram o curso completo de seis meses, Hanae e Ayako. Moravam juntas mas não conviviam harmoniosamente, coisa que eu obviamente só fiquei sabendo agora porque nenhuma das duas jamais deixou transparecer nada. Dois doces de meninas. Eu normalmente não gosto de gente docinha, e confesso que particularmente da Ayako (depois explico) tinha um pouco de pena, um sentimento que eu desprezo. Mas realmente gostava da companhia delas, de verdade. Meninas calmas, risonhas, esforçadas.

Além do Silvio, que é um santo, só eu tinha paciência com as meninas. Sei que pode parecer estranho, mas eu adoro ensinar, explicar, elucidar, esclarecer. ADORO. E tenho paciência com gente burrinha, afinal de contas a culpa não é deles. Só não tenho paciência com médico que escreve tuberculose à esclarecer, com engenheiro que vai almoçar no restaurante à kilo, com advogado que dá uma telefonema, com arquiteto que escreve se você quizer, com professor que estuda a calda do girino (essa eu vi, ninguém me contou. E adivinha como se chamava? Suely.), com tradutor que escreve encima. Com gente geneticamente burrinha, ou que simplesmente tem talentos diferentes dos meus, eu tenho paciência sim. E adorava explicar gramática italiana pras japinhas. Adorava estudar com elas.

São meninas completamente diferentes uma da outra. Ayako tem vitiligo e usa maquiagem pesada; é claramente envergonhada da sua aparência e é a típica japonesa de excursão na Europa, com cabelos tingidos e permanentados, roupas caras e bonitas quando analisadas separadamente mas um desastre quando combinadas, pernas tortas e passinhos de gueixa. É bobinha, não entende piadas, é infantil e sonhadora, tem bolsinha da Hello Kitty não porque é cool mas porque adora a Hello Kitty, os pais não querem que ela se case, nunca, pra ter alguém que cuide deles na velhice. Hanae é beeeeem mais inteligente e beeeeem mais esperta; menina safa, que mesmo não conseguindo sacar, de ouvido, a diferença entre R e L, é capaz de dar gargalhadas verdadeiras com uma piada engraçada – ainda que leve um tempinho pra registrar a informação em língua estrangeira. Eu adorava as duas. Hanae foi embora assim que terminou o curso mas me escreve sempre, às vezes me manda presentinhos. Trabalhou numa padaria em Osaka e me escrevia reclamando que era muito chato. Agora voltou a estudar italiano. Ayako ainda ficou mais um tempo, refazendo pela terceira vez o curso de italiano no qual sempre levou bomba; trabalhou um tempinho numa agência de turismo em Perugia, namorou um croata que morava na Grécia mas só queria o dinheiro dela, sofreu com a desilusão, culpou o vitiligo, seu visto acabou e ela voltou pra casa. Agora dá aulas de italiano pra crianças. O e-mail que ela me mandou antes da primeira aula dizia que ela estava muito neruvosa mas confiante de que tudo daria certo. Torço muito por ela, de verdade.

As imagens mais significativas que tenho delas ocorreram no jantar brasileiro que fizemos na casa do Silvio. A Hanae raspou até o último grãozinho de farofa da panela. E a Ayako bebeu meio copo de vinho branco e entrou na sala dizendo: mi sento rivera! (mi sento libera), ou seja, me sinto livre – coitada, se embebedou com meio copo de vinho branco vagabundo e já se sentia poderosíssima.

Adoro as duas, e essa semana pensei muito nelas, depois que chegou o cartão de Natal da Ayako. Mais ainda depois que o estojinho lindo da Hanae aterrissou aqui em casa.

Fui correndo enchê-lo de canetas coloridas. Eu tava mesmo precisando de um estojo! Fico que nem criança quando consigo organizar essas coisas: agenda nova, estojo novo, canetas coloridas, borracha nova, branquiiiiinha! Fico toda hora tirando tudo da bolsa, olhando, namorando, depois boto tudo de novo na bolsa.

Postado por leticia em 18:58

04.01.05

eu, hein

Devem ser as influências malignas dos Botenses, que só sabem falar berrando. Sei é que ultimamente quando chego em casa estou sempre com a garganta doendo, como se eu tivesse passado horas me esgoelando em um show de rock. Comecei a prestar mais atenção a como eu dou aula, e freqüentemente me pego literalmente berrando em sala, ainda que não seja absolutamente necessário, já que a única turma minha que tem mais de um aluno tem DOIS alunos, e que até onde eu sei não têm nenhum déficit auditivo. O que será isso?

Postado por leticia em 21:19

03.01.05

exausta!

Postado por leticia em 20:47

02.01.05

buongiorno!

Existe um modo de tirar os malditos smileys do Messenger? ODEIO aqueles negócios. Hoje a ciência já sabe que smileys ridículos vêm da mesma família que as .gifs animadas. Ambas espécies que deveriam ser extintas na marra. Ô coisas chatas!

Postado por leticia em 08:50

01.01.05

Matilda

E o livro do dia, e primeiro do ano, foi Matilda, de Roald Dahl. Já devo ter falado aqui de Roald Dahl umas trezentas vezes; adoro tudo o que ele escreve. Pena que só fui descobri-lo quando já era adolescente e estudava no Britannia. Não há livros melhores pra crianças espertas do que os seus. Um humor negro, uma sinceridade, umas analogias simplesmente geniais. Compartilho:

Capítulo 1 – The Reader of Books

It's a funny thing about mothers and fathers. Even when their own child is the most disgusting little blister you could ever imagine, they still think that he or she is wonderful.

Some parents go further. They become so blinded by adoration they manage to convince themselves their child has qualities of genius.

Well, there is nothing very wrong with all this. It's the way of the world. It is only when the parents begin telling us about the brilliance of their own revolting offspring, that we start shouting, 'Bring us a basin! We’re going to be sick!'

School teachers suffer a good deal from having to listen to this sort of twaddle from proud parents, but they usually get their own back when the time comes to write the end-of-term reports. If I were a teacher I would cook up some real scorchers for the children of doting parents. 'Your son Maximilian,' I would write, 'is a total wash-out. I hope you have a family business you can push him into when he leaves school because he sure as heck won't get a job anywhere else.' Or if I were feeling lyrical that day, I might write, 'It is a curious truth that grasshopers have their hearing-organs in the sides of the abdomen. Your daughter Vanessa, judging by what she's learnt this year, has no hearing-organs at all.'

I might even delve deeper into natural history and say, 'The periodical cicada spends six years as a grub underground, and no more than six days as a free creature of sunlight and air. Your son Wilfred has spent six years as a grub in this school and we are still waiting for him to emerge from the chrysalis.' A particularly poisonous little girl might sting me into saying, 'Fiona has the same glacial beauty as an iceberg, but unlike the iceberg she has absolutely nothing below the surface.' I think I might enjoy writing end-of-term reports for the stinkers in my class. But enough of that. We have to get on.

Matilda (Roald Dahl)

Postado por leticia em 22:21

oi!

O primeiro dia do ano significa sempre almoçar na Arianna. O dia estava lindo, e depois do almoço (cappelletti feitos em casa, com molho de tomate; carne brasileira na brasa; chuchu refogado) fomos dar uma volta ali em torno da casa com os cachorros. Esquecemos de descer com a máquina fotográfica, mas eu também não tava no clima – ando meio jururu esses dias. Descobrimos uma cachorra nova numa casa velha que hoje abriga uns cavalos de corrida e 24 gatos: é uma filhotona toda desengonçada, com patas gigantescas e orelhas muito longas. Linda, deliciosa! Infelizmente é arredia que só e não deixa ninguém chegar perto dela. Amanhã vou levar um pedaço de salame pra ver se ela cede.

Postado por leticia em 20:17