08.02.06

:))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

Meu penúltimo aluno do dia, um arquiteto simpático e inteligente que é a cara do Ewan McGregor, mete a cabeça dentro da minha sala de aula verde.

- Quê que foi? Entra, menino.
- É que temos um convidado especial hoje.


ELE ENTRA NA SALA DE AULA COM UM FILHOTE DE TERRANOVA NOS BRAÇOS. VOCÊS NÃO ESTÃO ENTENDENDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

Basicamente ele foi avaliar um projeto sei lá onde, na roça, e achou o coitadinho abandonado no meio do capim, com aquela cara de desamparado. Resolveu levá-lo pra casa, já que ele mesmo mora meio na roça, em uma casa grande, com três filhos, e a cachorra da família já está muito velha e quase subindo no telhado. Que sorte do filhote!

Compreensivelmente, quase tive um treco quando vi o cachorro. Coitado, de tão amedrontado ele nem se mexia; peguei-o no colo e senti o coraçãozinho disparando. Me olhava com aqueles olhos bonzinhos e eu quase chorei. Dei aula com o filhote dormindo no meu colo, roncando, com a cabeça apoiada na mesa.

Postado por leticia em 23:35

27.08.05

o amor é lindo

Hoje a gatinha, que se chama Giulietta, trouxe um camundongo morto pra casa. Devidamente devorado, da cabeça aos pés. E depois, pra complementar o café da manhã, foi comer a ração do Leguinho. Na mesma tigela, com ele.

Postado por leticia em 10:47

23.08.05

cats and dogs

Eu não canso de observar bichos. Nesses dias dormindo na Arianna, tentamos ficar o máximo de tempo possível com os meninos, já que ficam o dia inteiro sozinhos em casa, coitados. Então saímos da oficina, passamos em casa pra jantar e tomar banho, e corremos pra Arianna. Levamos todos pra passear ali em torno mesmo, até a estação and back. Leo e Demo são desobedientes e por isso vão de coleira. Só que não foram acostumados e ficam o tempo todo tropeçando, se enrolando e empacando. Leguinho, o único obediente, vai solto, porque depois das nove não há ninguém ali na rua, só na praça, tomando sorvete. Virgola vai no carrinho de bebê que o Ettore achou inteirinho fora de uma caçamba de lixo há muitos anos, e desde então virou o Virgolamóvel. Imagino que quem nos vê deve achar que somos malucos: uma cachorra loura num carrinho de bebê, um preto imenso solto, com a língua de fora e a bunda rebolativa, e dois cachorros retardados, com coleiras improvisadas, com cara de quem comeu e não gostou.

De manhã acordo sempre muito cedo, com os malditos galos se esgoelando lá fora, e aproveito pra dar uma volta com os meninos. Solto todos, porque às seis da manhã não incomodam ninguém. Todos os dias o Leguinho vai fazer o cocô dele láaaaaaa longe no campo, comemora, volta, rouba um toco do depósito de lenha do quintal, deita no gramado na minha frente e começa a roer o toco e comer a casca (cada louco com sua mania, after all). Os mongos do Leo e do Demo desaparecem e só voltam pra casa quando já estamos saindo, as línguas de fora, as patas cheias de lama. Perdemos uns cinco minutos pra arrebanhar os dois pra dentro e fechar o portão.

E ainda tem as gatas.

Eu sou uma dog person inconversível, vocês sabem. Tenho pouca paciência com bichos arrogantes como gatos, mas alguns me conquistam. A Priscilla, dengosa como era, passava os domingos inteiros no meu colo. Mas a Priscilla, única gata suja do mundo, que fazia cocô pelo quintal inteiro, menos onde havia terra pra enterrar, foi convenientemente despachada com três filhotas pra casa de uma prima da Arianna, que estava precisando se livrar de uns ratos asquerosos. A filhota preta ficou com a tia do Mirco, que é quem está cuidando das galinhas, dos patos, dos gansos, dos pombos e dos coelhos enquanto o povo está na Holanda. E em casa ficou uma das filhotas tigradas, que por sorte é dengosa que nem a Priscilla. Literalmente escala o seu corpo até chegar no seu colo, arranha a sua perna pedindo carinho, deita de barriga pra cima, suspira, ronrona, morde o rabo do Legolas. Um amor! :)

Postado por leticia em 14:36

13.07.05

uia

A notícia não boa da semana é que a namorada dos cachorros está no cio outra vez. Toda hora ela vem encher o saco dos meninos, estacionando-se do lado de fora do portão do quintal e tentando os coitados com olhares sensuais e piscadelas. O resultado é que todos ficam de mau humor, a não ser o Demo, que é leve e consegue escalar mesmo a cerca mais alta, e some a noite inteira. Chega de manhã ou de madrugada exausto, chorando pra que alguém lhe abra o portão. Até aí tudo bem, sempre foi assim. Só que hoje de manhã ele apareceu, depois de mais uma noitada de sexo selvagem, com um buraco na testa, tão fundo que se vê até o osso. Não se sabe o que aconteceu; pode ter sido outro cachorro, pode ter sido um carro, alguém pode ter dado uma porrada nele. O fato é que o Ettore ficou impressionado com o tamanho da cratera, e chegou até a ter pena do bicho – e quando chega a esse ponto é porque realmente é A CRATERA. Não quero nem ver.

Postado por leticia em 22:31

18.06.05

porque sim.

legolas gosta de ficar (dormindo) sentado entre as alfaces e o canteiro de salsinha.

Postado por leticia em 15:27

03.06.05

querem uma foto patografada, querem?

Quem viu La Prova del Cuoco na quarta-feira viu duas fotos do Legolas sendo mostradas no ar, ao vivo. A história é a seguinte: a Antonella, a apresentadora mais bonita, simpática, atolada e gorducha da TV italiana, tem um labrador chamado Oliver, que estava procurando uma namorada. Começaram a chover e-mails e cartas na redação do programa, invariavelmente acompanhadas de fotos de cachorros, machos e fêmeas, pequenos e grandes, velhos e jovens, feios e lindos, labradores, microcães, pugs, vira-latas e até outros bichos. Ela lê as cartas no ar e ainda há uma galeria de fotos. Semana passada resolvi mandar duas do Leguinho pra ver no que dava. Uma é inédita, uma dele deitado no chão de boca aberta e língua de fora, com um pedaço de pau na bocona, e a outra é essa. Antonella leu uma parte do meu e-mail no ar: esse é o meu cachorro brasileiro, Legolas, que brinca com os gatos – ou algo desse tipo. Mostrou as fotos e fez voz de criança pra dizer como era lindo ele dando beijo na gatinha.

Cachorro popstar são ooooooutros 500... ;)


Postado por leticia em 19:50

30.05.05

kittens

São cinco fêmeas, as filhotas da Priscilla. Todas parecidas, a não ser essa preta, que é danada de arredia e eu só consegui fotografar pela primeira vez ontem. As outras são umas pestes, pentelham os cachorros, se enfiam entre os pedaços de lenha no depósito, comem espaguete com molho de tomate e mamam o tempo todo. A Priscilla é a mãe mais zen que eu já vi: aquelas cinco pestes pisando na cara dela, mordendo o rabo dela, mamando com a maior força, e ela nem tchum: calma, lânguida, de olhinhos fechados. A gente pega os filhotes no colo e ela nem liga, fica lá sentada, os olhinhos piscando, a boca aberta em um bocejo.

Postado por leticia em 20:07

14.05.05

...

Depois de um almoço tardio e uma sesta que durou das quatro às seis, resolvemos mover nossos traseiros gordos e passar na Arianna pra pegar o Leguinho e dar uma volta antes da pizza com Gianni, Chiara & cia. Demos de cara com os gansos da Arianna, que estranhamente estavam passeando pelo quintal como se estivessem passeando na ciclovia da Lagoa, observando a paisagem e coisa e tal. Não entendemos nada. Chamamos os cachorros e não ouvimos resposta. Demos a volta na casa e vimos Lucia, a avó fofa do Mirco, procurando os gansos. Ela tinha aberto a "porta" do cercadinho onde os gansos ficam durante o dia, pra pastar capim (aquele cercadinho com o guarda-chuva que serve de guarda-sol pra eles, se derem um scroll down acham a foto), entrou pra mudar a água da bacia, e quando levantou o olhar os gansos tinham picado a mula. Lá fui eu pastorear os gansos (que em italiano é palavra feminina, l'oca – plural le oche) de volta pro cercadinho, enquanto os cachorros observavam através do portão dos fundos. A coisa boa é que os gansos andam sempre juntos, então basta convencer um a voltar pro cercado que os outros vão atrás. Quando se separam, por culpa de algum obstáculo, entram em pânico, é de rolar de rir – me lembra aquela cena de FormiguinhaZ (ou seria A Bug's Life?) quando as formigas se desesperam quando a fila é interrompida.

Acabamos não indo a lugar nenhum porque o tempo estava horrível. Ficamos brincando com os cachorros no campo e colhendo (e comendo) favas na horta, enquanto Ettore e Arianna aumentavam a altura de todas as cercas da casa, pra evitar que os cachorros fujam à noite. Leguinho semana passada passou uma noite fora, namorando; voltou de manhã em estado bagaçal total e dormiu o dia inteiro. Leo toda hora faz isso, e ultimamente o Demo também. Desde que eu vim morar aqui, e muito antes do Leguinho vir, vivo enchendo o saco da Arianna pra cercar os cachorros – caramba, ela já tem uma cachorra aleijada em casa porque foi atropelada; do outro lado do campo tem uma estrada onde os carros passam voando, e todos nós sabemos que os cachorros vão muito além dessa estrada porque quando eu ia correr praqueles lados muito freqüentemente dava de cara com Demo e Leo voltando de alguma missão secreta. Todos os cachorros da casa, inclusive o Leguinho, desde que foi morar lá, já foram encontrados passeando pela cidade, ou em Assis, ou lá na casa do chapéu; já nos ligaram tantas vezes avisando que tinham encontrado os cachorros perdidos por aí que já perdemos a conta. Não sei o que se passa na cabeça de quem não entende, mesmo com todos esses sinais mais do que claros, que uma tragédia está por vir. Demoraram, mas finalmente, por pressão minha e do Mirco, resolveram cercar a casa, no ano passado. Só que o Leo é pequeno e cava por baixo de qualquer coisa ou se enfia em qualquer buraco e foge; o Demo é leve e pula por cima de qualquer cerca; e o Leguinho é preto e à noite, depois do jantar, quando Ettore vai fumar o último cigarro do dia na companhia da cachorrada no campo, é fácil pra ele se afastar sem que se perceba. Foi numa dessas que ele atendeu ao chamado uterino da namorada coletiva deles e deu no pé, pra passar a noite na gandaia. Agora vocês imaginem um carro vindo a 100 por uma estrada não iluminada e pegando de frente um cachorro de 40 quilos como o Legolas, preto e conseqüentemente invisível. Não só morreria o cachorro, mas muito provavelmente haveria feridos humanos também, e quero ver quem encararia os custos e a responsabilidade perante à lei. Realmente, lidar com gente ignorante é quase tão irritante, cansativo, exasperador, desagradável e impossível do que lidar com gente maluca.

Postado por leticia em 23:43

11.05.05

porque bicho feliz são outros 500, né

Postado por leticia em 22:16

02.05.05

cats

Até esqueci de contar: Priscilla, a Rainha do Deserto Intelectual que é o interior aqui do Gabão, teve filhote! Foi no fim de semana passado. Esses são os filhotinhos com menos de 12 horas de vida:


E esses são os filhotes ontem, com uma semana de vida.

Não são uma coisa? :)))))

Postado por leticia em 17:54

23.02.05

zoo station

E pra não deixar o dia de hoje sem post... As aventuras de Legolas, o cachorro que dorme sentado, no Mundo Encantado dos Bichos da Arianna, acompanhado de sua fiel escudeira, a gata tigrada Priscilla (pronúncia-se Prishilla, tá?). A foto mostra nosso super-herói em momento de relax, tendo ao fundo o pombal, patos e galinhas. Isso porque não é mais época de gansos nem perus, e os coelhos morreram todos.


Postado por leticia em 12:08

27.12.04

ai meus sais

Em casa de gente maluca ninguém escapa da doideira, nem os cachorros. Vejamos:

. Leo fugiu pra namorar semana passada. Ficou dias fora e voltou macérrimo, com priapismo e dor nos músculos. Passou mais outros tantos dias sentado na cadeira em frente à lareira da cozinha, se recuperando da atividade intensa, tomando vitaminas e anti-inflamatórios. Ainda não está 100%. Ele adora salame, mas não come presunto. Ontem tentamos enganá-lo pela enésima vez, enrolando uma fatia de presunto numa de queijo, que ele ama. Ele cheirou, pegou com a boca, jogou no chão, separou o queijo do presunto, comeu o queijo e ficou olhando pra nossa cara. O presunto ficou lá no chão.

. Leguinho faz festa quando acaba de fazer cocô e é completamente viciado em pedaços de pau, que ele rói até não sobrar nada. Quanto mais friável for a casca, melhor. Uma vez, na falta de um pedaço de madeira assim à mão, ele simplesmente pegou um da lareira – aceso. Entrou na sala desfilando com aquele treco fumegante, uma ponta na boca e a outra ponta em brasa.

. Virgola é o aspirador de pó da casa: tudo que cai no chão ela traça. Também tem ouvido de tuberculoso e é sempre a primeira a ouvir se tem alguém chegando.

. Demo tem pêlo comprido e tudo o que vocês podem imaginar gruda naquela barriga peluda dele. Quando fazemos carinho nele acabamos sempre sentindo alguma coisa espetando a mão: um graveto, uma folha seca, um pedaço de casca de fruta, carrapichos. A barriga dele é rosa, assim como a parte interna da boca. Ele chora quando fazemos carinho nele. E quando paramos, fica roçando a cabeça contra a nossa mão, pedindo mais.

Postado por leticia em 21:56

09.12.04

Eccolo!

E, pra não perder o hábito, fotos tiradas ontem, na Arianna. Observem o estado de intensa sonolência e total exaustão do meu cachorro, causada predominantemente pelos longos dias de amor com a namorada dos meninos, uma peludinha preta e branca que vem toda manhã paquerá-los de longe.

Postado por leticia em 21:43

05.09.04

uma é manca, a outra é grogue

O pé vai bem, obrigada a todos que perguntaram e desejaram melhoras. Tirar a crostona foi a melhor coisa que eu já fiz na vida. A nova crosta é mais fina e não repuxa tanto a pele ao redor, ou seja, a dor e a coceira diminuíram bastante. Nem manco mais.

Quem não tá bem é a gatinha tigrada que o Ettore levou pra casa. Deve ter comido alguma porcaria por aí e há uns três dias anda mal de verdade, com os olhos mal focalizados, andar titubeante, corpo esquelético. Só bebe leite e muita, muita água. Mas já está melhorando, muito lentamente. Quinta-feira, que foi quando ela começou a passar mal, a coitada nem apareceu: passou o dia dormindo sentada num canto do jardim. Hoje no almoço ela já deu umas voltinhas, pegou sol e tomou o leite que eu dei. Mas ainda tá toda grogue. Se amanhã ela não melhorar mais um pouco, levo a bichinha ao veterinário.

Postado por leticia em 19:25

29.08.04

a pedidos

Domingo é dia de almoçar na sogra. Melhor ainda quando a mala do sogro não está (foi pra Sérvia passar o fim de semana. De carro. Don't ask.). Comemos tagliatelle feitas em casa, que o Mirco fez com a ajuda da Arianna e da mãe dela, Lucia. O molho foi feito com tomates maduros colhidos da horta da casa. E o carneiro na brasa é uma das especialidades da Arianna.


Mas antes do almoço demos banho nos ragazzi. Olha o Demo como sofre, coitado. E o Leguinho nem tchum, como sempre.

A famosa gatinha:


L*egolas enchapelado (e vejam se ele não está a cara do Milton Nascimento com esse boné azul):

Postado por leticia em 18:25

coisas fofas

Ettore um dia viu uma gatinha tigrada rondando a oficina. Quando abriu a porta do carro, ela entrou na maior. E virou a nova moradora do Zoológico Arianna, que já conta com 4 cachorros bizarros, galinhas, perus, gansos, patos de duas espécies diferentes, pombos, várias famílias de coelhos e um gatinho, único sobrevivente de uma ninhada de 4, cuja piranhíssima genitora já foi avistada morando numa casa abandonada láaaaa do outro lado do campo que fica à esquerda da casa da Arianna.

A gata, que não tem nome, é um dengo só. Eu normalmente acho gato um porre; odeio bicho arrogante e que não dá atenção aos humanos e aos outros bichos. A mãe desse pequenininho é assim, arredia, chata, se esconde, não dá trela pros filhotes. Essa tigrada não: é do tipo que qualquer um pode pegar no colo, ela se desmancha toda, ronrona, fecha os olhinhos, vira de barriga pra cima.

Ontem jantamos na Arianna depois de fazer compras no supermercado de mendigo (leia-se Penny). Os cachorros não estavam em casa; aparentemente tem uma cadela no cio num armazém lá atrás do campo, onde sei lá quem mantém uns cavalos, e os cachorros toda noite vão lá dar uma paquerada básica. Peguei a gatinha no colo e atravessei o campo, assobiando. Láaaaa na casa do chapéu vi um vulto grande, preto e rabudo que levantou a cabeça quando assobiei. Chamei Leguinhoooo!, ele reconheceu a minha voz e veio correndo, atravessando o outro pedaço de campo como uma flecha. A gatinha se assustou e cravou as unhas na minha camiseta (e no meu pescoço), mas quando viu que era o mongo do L*egolas sossegou. Demo ficou por lá mesmo, me olhou, fingiu que não era com ele e voltou pra paquera. Leo nem deu as caras. Os dois apareceram muito mais tarde, exaustos. Ficaram parados no portão fechado esperando que alguém se dignasse a abrir pra eles.

Quando voltei com o Leguinho, botei a gatinha no chão. L*egolas deu uma lambida no focinho dela, outra na bunda do pequenininho, e foi beber água e desabar no chão, cansado. Pena que a gente não tava com a máquina, mas assim que der tiro fotos.

Postado por leticia em 09:01

07.06.04

Promessa é dívida

Os quatro pimpolhos na mala do meu carro, sábado à tarde. Notem o comprimento ainda discreto da língua do Legolas.

Esses buracos no chão são feitos pelos javalis, que saem do bosque (a área do Monte Subasio é um parque nacional e há várias zonas de bosque, obviamente tudo com caça proibida) pra procurar trufas e outros tubérculos.


Alguns dos buracos podem perfeitamente ter sido feitos por outros cachorros tão bobos como o Demo, que ficou horas cavando sabe-se lá o quê.


E depois daquela escavação toda ficou assim:

(atentem pra terra na língua. Espetáculo.)


Legolas, feliz com a bola de baseball na boca.


Legolas enfeitado com flores do campo.


Uma sequência do já não discreto comprimento lingual do Legolas.


Demo não aguentou mais e capotou de cansaço.


E os quatro pimpolhos na mala do carro, prontos pra voltar pra casa.

Postado por leticia em 10:44

06.05.04

a pedidos

Essa amarela ai é a unica da ninhada que saiu amarela, e foi a primeira a ser comprada (na foto ela esta no colo da dona, vizinha da oficina).

Gostou, Julie? :)

Postado por leticia em 12:59

14.03.04

Meu cachorro se reproduziu

Legolas andou tendo um caso com uma dálmata da oficina em frente à do Mirco. A cachorra sempre foi agitadíssima, desde filhote, e eu cansei de botar água na cumbuca dela porque, na agitação, ela acabava virando a tigela. De tão chata que ela é, acabaram deixando-a acorrentada, coisa muito comum por aqui e que eu acho de péssimo gosto, mas essa cachorra é MUITO chata, pula em cima dos outros, suja todo mundo, corre sem parar, é birutinha. Mas fazer o que, tem gosto pra tudo: Leguinho se apaixonou e nasceram 5 filhotes, 4 machos pretos e uma fêmea malhada que alguém já levou pra casa. Hoje de manhã fomos ver os pimpolhos. Deleitem-se.


Houve boatos sobre a verdadeira paternidade dos rebentos, mas o jeito de sentar não deixa dúvidas. Meu cachorro finalmente desencalhou, depois de 6 anos de celibato total! Uhuuu!

**

Aproveitamos a manhã cachorral pra dar banho nos cachorros na Arianna. Aqui vemos Demo no início do processo, lambendo a água com sabão da cara, e com cara de eu-sou-o-mais-miserável-dos-cachorros, no final, curtindo o efeito porco-espinho.

Postado por leticia em 14:53

13.03.04

Plantão Pacamanca informa: Legolas é

Plantão Pacamanca informa: Legolas é papai. Mais informações amanhã.

Postado por leticia em 22:40

17.02.04

Vejam que cachorro ativo e dinamico que eu tenho...

Postado por leticia em 13:32

04.02.04

Mais um “veranico”. Depois de uma semana gelada, o último weekend foi super light em termos de temperatura, e por enquanto o clima ainda é de inverno carioca, super tabajara. Anteontem de manhã fui aos correios, só de pullover de lã sobre a malha, e senti calor. De tarde fui correr (na verdade correr um pouco e caminhar muito, porque estou super fora de forma), de camiseta de manga curta. Como é bom poder ir à varanda pendurar as roupas no varal e voltar com as mãos inteiras, em vez de duras, congeladas e insensíveis!

Mas acho que a coisa não dura. Olhando pela janela agora cedinho só vejo um paredão branco de neblina. Merda.

Essas são as fotos do tombo do Mirco domingo, no quintal da Arianna. Foi querer brincar de cabo-de-guerra com meu cachorro e se estabacou de costas no chão. Não consegui tirar nenhuma foto dele já no chão. Estava ocupada me sbudellando (algo como “eviscerando”) de rir.


**

Anteontem fomos ao Ipercoop, o supermercadão aqui da área, pra nos distrair, e acabei comprando uma maquininha de fazer pasta, igual à da Franzoca. Comprei também o famoso rolo de macarrão, e uma tábua de madeira pra preparar a massa, já que a minha mesa hedionda é porosa demais pra fazer qualquer coisa com farinha, vai ficar tudo imundo. Ainda essa semana pretendo fazer um macarrão qualquer. Depois digo como ficou e dou a receita.

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Aquela planta comprida que no Brasil se chama Espada de São Jorge aqui na Itália se chama Lingua di Suocera (língua de sogra). Vivendo e aprendendo.

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E a penúltima parte da epopéia sérvia: o mercado de Majilovac. Sabe feiras medievais, ao aberto, com lama no chão e as coisas mais estapafúrdias expostas ao público? É assim. Vendem porcos, sapatos, chapéus, colheres de pau, trenós, galinhas, peças de carro, gasolina, chocolate, binóculos, cigarro, roupas de couro, roupas de couro falso, bandejas em inox, meias (comprei várias), facões, relíquias de guerra, brinquedos tabajara, vestidos de gala, cestos de vime, móveis, carneiros, ferramentas, temperos, água mineral de origem duvidosa, bebidas alcoólicas de tudo que é tipo, pneus, maquiagem, canetas coloridas, perfumes falsos, malas e bolsas, enfeites de Natal. Entre outras coisas. Só não vendem livros.

Que depressão esse mercado! Aquela lama no chão, os carros estacionados de qualquer jeito, gente feia e encasacada caminhando carrancuda pra lá e pra cá, gesticulando com os vendedores; as roupas incrivelmente cafonas penduradas nas araras; todo mundo fumando sem parar; os vendedores botando a mercadoria em amassadíssimos sacos plásticos de supermercado antes de dar aos clientes; gente vindo fazer compras de TRATOR; gente com casaco de pele falsa; gente experimentando sapato ali mesmo, em pé na lama; senhoras comprando brocas pra furadeira e correia pro motor do carro; crianças querendo brincar com os porcos e galinhas... Caramba, é outro planeta mesmo. Chegamos em casa cansados de tanto ver coisa estranha e feia. E as únicas coisas que eu comprei em todo esse tempo na Sérvia foram nesse mercado: alguns pares de meias coloridas (listradas de vermelho e branco, listradas de amarelo, branco, preto e verde, preta com bolinhas azuis, listrada de lilás, verde, amarelo, azul e laranja, e uma listrada em tons de cinza e azul com o desenho do Tigrão), um batom fedorento mas bonitinho, e uma bolsa horrível em couro fake pra Carmen, que é de uma cafonice ímpar. Só.

Sei que em Belgrado com certeza teríamos visto coisas bonitas, e não falo só de coisas pra comprar. Dizem que a cidade é bonita, e vimos algumas pontes interessantes no caminho até lá na volta pra casa, mas infelizmente o tempo e o clima não permitiram. Não posso nem dizer que ficará pra próxima, porque espero veementemente que não haja uma próxima. Programa de índio assim de novo, nunca mais.

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No começo de março vamos a Rotterdam visitar a irmã do Mirco que tá morando lá. Ela quem vai pagar as passagens, porque eu não tenho dinheiro pra ir nem na esquina...

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E pra não perder o hábito, fotos cachorrais. Esse é um vizinho da Arianna que tem vários microcães. No domingo passou lá pra visitar, e levou toda a trupe.


Mister Legolas fazendo pose blasé:


E todo feliz com seu galho no meio do mato:

Postado por leticia em 09:08

31.01.04

Por falar nele...

Das 12 às 19 horas sentados no caminhão, dentro da oficina.

Postado por leticia em 08:42

18.01.04

Hoje tem bicharada, tem sim

Hoje teve festa de Santo Antônio na praça, em frente à igreja de Santa Maria degli Angeli. Tem toda aquela papagaiada de benzer os bichos, dão bandanas pros bichos (claro que não peguei uma pro Leguinho, onde já se viu meu cachorro usando bandana de santo!) e distribuem pane benedetto pra galera. Aliás, o pão era de ontem, duro feito pedra.


O pessoal leva seus bichos pra praça pra abençoar, e leva também carros novos e tratores. Sim, tratores. Mas vamos por partes.

Leguinho não é um cachorro espetacular à toa: é o único cachorro que se auto-leva!


A praça tava lotada de gente. Olha o tratorzão que uma criatura levou pra benzer:


Tinha de tudo: cavalos, gatos, coelhos, passarinhos, peixinhos. Não vi cabritos nem porcos, coisa que, dizem, todo ano tem.


E a cachorrada, claro, em quantidades industriais. Desde os microcães, que decidimos não fotografar, até os imensos e patetas Terranova.


Muitos cachorros pentelhos, agitados e histéricos, como esse poodle mala, o beagle que não parava quieto de jeito nenhum, o Ercole (Hércules), imeeeenso e ferocíiiiissimo cachorro do Roberto, amigo do Mirco.


Claro que os clássicos não podiam faltar: basset hound, pastores alemães, basset, husky siberiano, bulldogs, os labradores da Croce Rossa Italiana (a Cruz Vermelha).


Algumas coisas não-identificadas também:


Esse é o cachorro do Moreno, amigo do Mirco:


E esse é um dogue de Bordeaux, raça que ficou famosa com um comercial de telefone celular, no qual um cachorro desses fala com sotaque napolitano.


Rolaram altas paqueras!


Depois fomos almoçar na Arianna, onde estavam preparando o último porco do inverno. Aliás, essa era uma porca. Almoçamos em meio a salames, presuntos imensos (a porca era meio assim, overweight, sovrappeso, balofa) e pedaços de carne que esperavam seu cruel destino no moedor de carne, pra virar linguiça.

Mais tarde pegamos um DVD (Jet Lag), uns pedaços de pizza al taglio que agora me pesam horrivelmente no estrombo, e mais nada. Domingo de chuva é assim: chato, mas bão.


p.s.: Amanhã boto as fotos do escritório criativérrimo e coloridérrimo. E das minhas meias coloridas, únicos souvenirs que eu trouxe da Sérvia...

Ciao ciao!

Postado por leticia em 21:42

14.01.04

Eu ia voltar a escrever sobre os Brasileiros Chatinhos que Moram na Alemanha e Se Acham OOOOS Alemães, que voltaram a atacar, enchendo o saco da coitada da Debora e o meu também, mas não vou não. Cansei de verdade.

A pedidos:

Detalhe que semana passada, levado pelo safado do Demo, meu cachorro foi parar lá no alto de Assis! Relato de Arianna:

"A senhora que os encontrou fez a gentileza de botá-los no carro e levá-los até a estação, perto de casa. Estou eu parada na estação esperando quando vejo um carro com duas pessoas dentro e o Demo atrás. Quando chegou mais perto vi que quem estava no banco do carona não era uma pessoa, mas o Leguinho, todo sério e empertigado."

Esse é o meu cachorro maria-gasolina! :)

Postado por leticia em 09:37

27.12.03

coisa de louco esse bicho!

E meu negao parado feito um dois de paus, pegando sol:

Postado por leticia em 09:38

amigao

Eu e meu negao na porta da Arianna:

Postado por leticia em 09:36

17.12.03

Todos esses anos de ruindade capilar e ainda não aprendi que não posso esperar nem 5 minutos pra passar os 1.874,25 cremes e óleos pra cabelo ruim, depois de lavá-lo. Tem que ser pá-pum: tirou a toalha da cabeça, tacou o creme, senão os cabelos se rebelam de modo irreversível. Como hoje. Burra.

**

Essa semana meu cachorro bateu 2 records: um de retardamento mental, passando mais ou menos SEIS HORAS sentado dentro do caminhão, na oficina (não dormindo, mas sentado no banco do carona, olhando tudo muito sério), e um outro de, bom, esse também de retardamento mental, dando uma cabeçada no Demo, em um episódio no melhor estilo desenho animado. Diz a lenda que o Ettore havia levado os cachorros pra passear no campo, depois do jantar, como sempre faz (porque se ficar em casa tem que conversar com a mulher, e eles não têm nada a dizer um pro outro). Cada um foi pro seu lado; o tempo passou, Ettore quis ir embora, assobiou chamando os meninos, e veio cada um correndo de uma direção. Nenhum dos dois é muito bom de freio, o que resultou numa colisão frontal-cabeçal que obviamente atordoou só o Demo, porque o Legolas é osso duro de roer e não é uma cabeçadinha básica que consegue derrubá-lo.

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E ontem vimos Last Dawn, penúltimo filme que sobrou pra ver no multi-sala de Perugia aonde vamos sempre, porque não há nenhuma estréia nova há duas semanas (vocês sabem, aqui no interior do Haiti os filmes chegam com muito atraso), e nós já vimos todo o resto, inclusive aquele filme adolescente da Disney com a Jamie Lee Curtis, que aliás está envelhecendo muito dignamente, mas engordou pacas. Em Last Dawn todo mundo fala muito pouco, o que em versão dublada, acreditem, é uma bênção – a dublagem desse filme é particularmente horrível; a coitada da Monica Bellucci (a mulher mais linda do mundo, na minha opinião, e é umbra, aqui de Città di Castello, terra do Massimo e do Samuele, lembram?) ganhou uma dubladora com voz de adolescente idiota. As paisagens são bonitas, o Bruce Willis faz o seu eterno papel de homem iceberg destilador de charme masculino, neguinhos morrem, neguinhos são salvos, blah blah blah.

O último filme da lista é o mais recente Massacre da Serra Elétrica, que eu até gostaria de ver, mas minha companhia lanterneirídica não é muito chegada. Mas o que eu queria mesmo era ver um filme cagaço total. Poucos filmes me dão medo; sou uma menina durona. O último que foi capaz de me dar super hiper mega cagaço foi The Ring. Quequeísso, minha gente? Que filme é esse??? Dormi de luz acesa e tudo! Pé de pato mangalô 3 veis!

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E existe uma grande possibilidade de uma semana de férias na Iugoslávia. Sim, eu sei, é estranho.

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Ando tão cansada ultimamente! Um ano e meio sem voltar pra casa dá cansaço cardíaco; esse ano foi emocionalmente exaustivo; trabalho 7 dias por semana em dois empregos que eu ODEIO para chefes que eu desprezo profundamente, resultando em cansaço físico e mental; me sinto isolada do mundo culto, porque aqui no interior da Guatemala o pessoal é mais bronco que o Chico Bento, e isso dá um cansaço ceLebral; tenho cansaço intestinal porque fiquei tanto tempo comendo pouco que agora o menino tem preguiça e não trabalha mais direito; enfim, estou com as baterias absolutamente arriadas. Queria um mês sem fazer bissolutamente nada, sem falar nada, em nenhuma língua, sem aprender nada, sem explicar nada, sem contar nada, sem responder nada a ninguém, sem sentir frio, sem fazer NADA além de olhar pras estrelas e ver filminhos e ler livrinhos e cozinhar/comer coisas gostosas e descomplicadas (leia-se pipoca e pão de queijo pronto). Pô, Papai Noel, dá um jeito nisso aí, cara...

Postado por leticia em 10:45

11.11.03

dia-a-dia

Almocinho light hoje: filés de merluzo cozidos no vinho branco com salsinha e pimenta-do-reino (ficaram rigorosamente com gosto de NADA, fiquei com preguiça de cortar a cebola, deu nisso.) e arroz de brócolis com cenoura – cozinhei tudo junto, pra poupar tempo, gás, espaço (e consequentemente detergente e tempo) e vitaminas. Fiz duas cenouronas e um brocolão e meio, e meia xícara de arroz. Sobrou pra cacete, ou seja, amanhã o almoço vai ser repeteco, com hamburger no lugar do merluzo.

Ontem aproveitei o solzinho delicioso da hora do almoço pra dar banho no legolas, que tava fedendo horrivelmente. As crianças passavam e se admiravam, porque ele fica quietinho, com aquela cara de cordeiro pronto pro abate, enquanto eu esfrego com sabonete Phebo e depois enxaguo na base da canequinha. Quando eu falo que ele é um cachorro espetacular, não é corujice minha não, é verdade. Um cachorro que não é alérgico a nada, come tudo e acha ótimo, se dá bem com todo mundo, quase não late, não tem pulga, e ainda por cima não se rebela quando toma banho não se acha em cada esquina não, tá pensando o quê!

E aí amanhã começa o UmbriaLibri 2003, uma feira dos editores umbros. Vou ver se convenço o Samuele a me levar a Perugia pra ver. Mas tenho que ir sem carteira, senão já sei que vou acabar morrendo nuns Calvinos, nuns livros de receitas...

Postado por leticia em 15:48

10.10.03

Post cachorro-filosófico

A única parte da minha vida que não mudou nada aqui na Italia é o Legolas. Mesmo depois de tanto tempo na casa da Carol, lá no Rio, e depois de todos esses meses na casa da Arianna, aqui na roça em Santa Maria degli Angeli, ele não perdeu nenhuma das suas manias. Me acorda em torno das seis e meia sempre do mesmo jeito: senta ao lado da cama e fica me encarando. Eu me finjo de morta; ele começa a respirar forte, fazendo barulho. Eu continuo de olhos fechados, morrendo de vontade de rir, e ele começa a abanar o rabo. Continuo quieta, e ele finalmente me dá uma nada sutil patada no braço, e aí não tem jeito, tenho que levantar.

Nada mudou na nossa rotina, mas mesmo assim ainda me espanto com a facilidade com a qual ele entende as coisas, memoriza percursos, assimila hábitos. Depois de um aquecimento rápido vamos caminhando através do parque, pegamos a rua Vietnam, e é só a gente virar na estrada transversal por onde corremos sempre, e ele já começa a acelerar, olhando pra minha cara, as orelhas saltitando. Quando nos aproximamos de casa ele começa a se agitar; quando chegamos se deita no capacho do lado de fora e fica quietinho lá no sol, enquanto eu dou uma varrida na casa. Quando volto do trabalho, na hora do almoço, ele vem com a cara toda amassada de sono e um tênis na boca (nem sapato nem chinelo, sempre tênis, sabe-se lá por quê). Quando cruzo os talheres ele sabe que eu acabei de comer e logo vou levá-lo pra sair, então é só ouvir o barulho do garfo e da faca sobre o prato que ele levanta todo animadinho, doido pra dar uma volta. Ou então se estou no telefone, é só ele ouvir um “então, tá...”, ou então “um beijo!”, ou ainda “allora ci sentiamo dopo”, que sabe que acabei a conversa e posso voltar a dar-lhe atenção, e já começa a se agitar.

A infantilidade dos cachorros me encanta : )

Mas aí entramos na questã principal dessa história: é impressionante a capacidade que algumas pessoas têm de passar batido pela vida, sem olhar pros lados, sem observar, sem aprender nada. Outro dia estava com Leguinho no parque em frente de casa quando passa a minha vizinha de cima, a que tem o jardim no final do edifício (o apartamento dela equivale a dois apartamentos do andar térreo, onde eu moro, e ela ainda tem o jardim no térreo ao final do lado esquerdo). Ela vai caminhar todo dia de manhã com a Nina, insuportável basset velha e chatíssima, infernal latidora que faz um escândalo quando passo com o Legolas em frente à grade do jardim. Leguinho foi lá cheirar a cachorra – normal, cachorros se saúdam. A mulher não só não me reconheceu (nem a mim, nem ao Legolas, e olha que nem eu nem ele costumamos passar inobservados em terras italianas), como ainda botou a cachorra, que a essas alturas já estava latindo como uma doida e avançando no Legolas com a petulância que só os microcães têm, protetivamente no colo. Isso porque o Legolas nem encostou nela; cachorros pequenos são, pra ele, mera curiosidade e pouco dignos de interesse. A vizinha pediu pra eu afastá-lo porque a Nina estava com medo dele. Tipo, hello? Você tem cachorro há anos (a Nina é bem velhinha) e mesmo assim não entende NADA do assunto? Não sabe que macho e fêmea não brigam, e quando brigam é a fêmea que bota o macho pra correr? Não conhece nada de raças, não sabe que labrador, depois do tatu-bola, é o bicho mais bobão do mundo? Nunca viu meu cachorro na rua comigo, brincando com as crianças que saem da creche na hora do almoço, com velhinhos que passam de bengala e param pra dar bom dia bem embaixo da janela dela?

Imediatamente lembrei de uma coisa que muito me surpreendeu, ano passado. Tudo bem, eu sempre fui espertinha, além da média; sempre tive o hábito de reparar em tudo, perguntar tudo, querer entender tudo, de ler tudo, de fazer comparações com coisas já vistas ou ouvidas, de extrapolar, de aprender. Mas hoje em dia entendo que eu não sou tãaaao acima da média assim, ou melhor, não sou tão fenomenal assim – é a média é que é baixa. Porque as pessoas simplesmente NÃO OLHAM o que há ao redor. São incapazes de assimilar, de comparar, de aprender. Ano passado, antes de voltar pra Itália, dei aula de Inglês pra uma turma muito, digamos, complicada. Todos adolescentes, sem saber uma palavra de Inglês (o que, sejamos sinceros, já é muito estranho. Não saber NENHUMA palavra de Inglês, nos dias de hoje? Meninos e meninas da classe média baixa? Mas nenhuminha mesmo, nem good morning?). Um dia boto no quadro, como introdução a vocabulário novo, a palavra hard. Entre os alunos, dois com camiseta do Hard Rock Cafe. Pois não é que me olharam TODOS como se nunca tivessem visto a palavra na vida? Ainda perguntei, mas vocês realmente nunca viram essa palavra escrita em lugar nenhum? Não. Fiquei chocada. Como é possível um ser humano passar tão incólume pela vida? Como é possivel ignorar coisas que nos são bombardeadas todo dia, o tempo todo? Como é possivel uma pessoa ter um cachorro e não entender NADA de cachorro? Como é possível uma pessoa ter um videocassete em casa e não saber nem ligá-lo? Como é possivel alguém comer um prato particularmente gostoso e não querer saber que ingredientes leva? Como é possivel alguém usar uma camiseta e não ter a mais longínqua idéia do que está escrito nela?

Sou eu que sou maluca?

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Coisas a incluir na lista de coisas que deveriam ser proibidas, junto com dente de ouro: malhar/correr/caminhar com tênis sem meia (sinto o chulé fúngico só de pensar, as micoses borbulhantes, todos os funguinhos fazendo festa no suor, aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah), malhar de cabelo solto, malhar maquiada, malhar de argolona nas orelhas. Muito dedo no olho pra essas criaturas.

Postado por leticia em 10:24

03.10.03

o horror

O negócio do Legolas foi o seguinte: estávamos muito placidamente, ontem pela manhã, sentados no parque onde o levo sempre pra brincar. Eu sentada no meu banco, lendo Giovanni Verga, e o Legolas sentado no gramado olhando os estudantes que chegavam pra estudar (tem uma escola no fim da rua). Sei que eu também estava errada, porque o Legolas estava solto, mas aqui tudo que é cachorro anda solto pela rua, até cachorro que mora em casa e tem um quintal pra correr. As ruas são deles, e pelo menos nunca vi nenhum tipo de problema, brincam entre eles, se conhecem, passeiam juntos. Todos os velhinhos de Bastia conhecem o Legolas, nos dão bom dia de manhã; as crianças da creche que fica exatamente em frente à minha casa não têm medo dele, que fica sentado no capacho pegando sol enquanto eu cozinho. Como todo labrador, é um cachorro bobo, mas é cachorro, e macho. Por isso se aproximou do tal dogo argentino, que veio com o dono de bicicleta, como sempre, mas que eu não tinha visto que estava chegando. A sorte do Legolas foi que o cachorro pegou de mau jeito na bochecha dele, e pelo visto o esquema é como o do pitbull, que trava a mandíbula uma vez que morde, porque se o Hannibal tivesse aberto a boca pra ajeitar a mordida e pegar melhor, tinha esmigalhado o crânio do meu cachorro. As it was, foi uma mordida de um dente só, que no entanto furou a pele da bochecha do Legolas. Eu ainda consegui puxar o Leguinho pelo rabo, o que ajudou a aumentar a distância entre os cachorros e assim a reduzir o dano, mas o diabo do cachorro não largava de jeito nenhum! Eu gritando feito uma louca, xingando o cachorro em português, em italiano, em inglês, em aramaico; Legolas rosnando; o Hannibal em pé nas patas de trás com a bocona fechada e aquele dentão furando a bochecha do meu cachorro. Me lembro de ter gritado como nunca gritei antes (aliás, minhas duas únicas crises histéricas antes dessa foram por raiva, mas dessa vez foi por medo mesmo, e é muito diferente e uma sensação HORRIPILANTE), me lembro dos alunos em frente à escola com as mãos nos cabelos e os olhos esbugalhados, lembro da pele da bochecha do Leguinho esticando, esticando, e eu pensando vai rasgar, vai deixar um rasgo na boca do meu cachorro, bestia bastarda, figlio di una mignotta, bastardo puttano, cazzo di cane di merda, cazzo di padrone di merda, cazzo di vita di merda, andate tutti a fa’n culo, branco di disgraziati, até que não se sabe como mas o Hannibal largou, puxei o idiota do Legolas pela coleira, que por ele ainda iria continuar a rosnar como um imbecil, a boca do Hannibal cheia de sangue, a cabeça do Legolas toda babada. A conclusão brilhante do dono do Hannibal: realmente eles não se dão bem... Se estivesse armada eu juro que matava. Aliás, preferiria ter matado a chutes, pra fazer sofrer bastante, quebrar todas as costelas, esmigalhar os olhos, estourar os órgaos internos. Cheguei em casa com as pernas tremendo. Lavei a cabeça do Legolas mas só fui ver o machucado quando ele, como todo cachorro ridículo depois que se molha, começou a esfregar a cara no chão. Vi o rastro de sangue que ficou no pavimento, olhei com cuidado e vi aquele buraco fundo, fundo, que quase se chegava a ver os dentes do outro lado do furo. Fomos até o veterinário, perto do supermercado de pobre: aberto a partir das 10:30. Eram 8:30. Voltei pra casa, olhei pra máquina de lavar, decidi resolver o problema. Saímos de novo pro centro, comprei fita isolante, voltei pra casa, virei a máquina de cabeça pra baixo, olhei, vi que a fita não iria resolver. Levei meia hora pra desencaixar o tubo que estava rachado, fiquei com as mãos pretas porque o bicho se desintegrou na minha mão. Voltei à loja, comprei outro tubo e duas presilhas, voltei pra casa, usando faca como chave-de-fenda apertei as presilhas em volta do tubo, botei a máquina em pé de novo, botei meus lençóis dentro, liguei. O vazamento se reduziu a umas gotinhas bobas, fiquei feliz. Opa, dez e meia. De novo ao veterinário. Na minha frente, um senhor levando dois cachorros pra tatuar. Meia hora depois entramos nós; o pêlo em volta do buraco foi devidamente raspado, a ferida foi devidamente limpa, o dogo argentino foi devidamente amaldiçoado, 15 euros foram devidamente gastos. Na volta passamos na farmácia barateira pra comprar os antibióticos – uma semana acordando meia-noite pra dar ¾ de comprimido enrolados em uma fatia de queijo de plástico (tipo americano) que o Legolas engole sem nem mastigar, ainda bem. Almocei arroz com feijão do dia anterior, fui lá fora checar a correspondência, vi que tinha chegado a senha do cartão do banco pelo correio. Fomos aos correios (que ficam do lado do veterinário) ativar meu cartão do banco, voltei com os pés em chamas de tanto caminhar. Marta me manda uma mensagem; tem que passar em 3 bancos antes de ir trabalhar, chega tarde ao escritório. Tudo bem, respondo, vou a pé até Santa Maria e pego a bicicleta que tinha ficado na casa da Arianna desde o jantar com os brasileiros, e de lá pedalo até o escritório.

Fui dormir às oito da noite. Hoje meus braços e ombros estão doloridos por causa da força que fiz pra puxar o Legolas ontem. Ele está bem, todo pimpão como sempre. Agora o levo ao parquinho do lado da creche, onde em teoria cachorros não podem entrar, mas eu considero as garrafas de cerveja quebradas e as guimbas de cigarro muito mais prejudiciais às crianças que eventualmente queiram brincar lá do que o xixi do Legolas (o cocô eu recolho sempre). O parque é grande, então ficamos lá na outra parte, longe de onde estão o balanço e a gangorra. Ninguém frequenta o parque mesmo, a não ser casais de namorados, tarde da noite.

Eu queria saber é o que é que se passa na cabeça de uma criatura que compra um cachorro agressivo desses. Será que o cara acorda de manha e pensa, “hoje vou comprar um cachorro bem malvado, daqueles que matam onça na fazenda, mesmo eu não tendo fazenda, nem vacas, nem onças na floresta do lado da fazenda”. Ou será que ele entra na loja de animais e pede o cachorro mais agressivo que existe no mundo, o mais anti-social, porque é suuuuuper legal sair com o bicho e não poder nem perguntar as horas pra alguém que esteja com outro cachorro? E o mais legal de tudo é que um idiota desses não pensa nem de longe em amordaçar o pimpolho. Bastardo.

Postado por leticia em 17:23

17.09.03

eca

Legolas hoje comeu um grilo. Assim, abocanhou, mastigou, engoliu, lambeu os beiços e foi brincar de outra coisa.

Sem mais no momento.

Postado por leticia em 18:23

29.08.03

tadinho

Hoje estou de férias do Legolas. Ettore nos viu quando voltavamos da corrida matinal, e pegou-o emprestado por hoje, levou-o embora pra oficina. Volta hoje à noite. A gaze e a fita gomada do curativo da pata, que ele comeu, ainda nao foram eliminadas; acho que tah na hora de consultar um veterinario. O mais ridiculo é que foi soh o Ettore abrir a mala do carro pra ele subir, todo pimpao, sem nem olhar pra minha cara. Cachorro safado! Mas nao o culpo; se eu tivesse que escolher entre morar num apartamento sozinho e ver minha dona soh tres vezes por dia ou numa oficina com um vai-e-vem enorme de gente, todo mundo dando trela pra mim, escolheria a segunda... Coitado do Legolas, é o melhor cachorro do mundo, merece uma fazenda inteira soh pra ele, mas mais do que o meu apartamentinho em Bastia no momento nao posso oferecer :( Que mae de merda que eu sou. E que cachorro azarado que ele é :(

Postado por leticia em 11:54