potocas e carolinices várias

Ultimamente a Carol tem duas grandes preocupações: se as coisas/bichos falam ou não falam, e de ver os olhos. Não dá pra explicar direito, então vamos exemplificar:

– Ih, olha, Carol, uma joaninha! Olha que linda! (boto a joaninha numa folha de papel e levo pra ela ver; foi o Mirco que começou com essa mania de Little Beast Appreciation Day – volta e meia ele chega em casa com uma caixinha furadinha com um bicharoco dentro, de besouros gigantescos e chifrudos a bichos-folha, passando por formigas e caramujos)

– Que linda, mamãe, ela é tão pinininha! Deixa eu ver o olho dela!

Ou então.

– Amor, cuidado pra não pisar na vespa ali na frente, ela tá dodói.

– Coitada! Ela não fala! Deixa eu ver o olho dela!

Ou ainda:

– E aí, Carol, que música você cantou na aula de inglês hoje? A dos macaquinhos?

– Foi… Mas o macaquinho não fala.

***

– E aí, Carol, o quê que você fez de bom na escola hoje?

– Eu peguei o papel que caiu no chão.

– Ah tá. E depois?

– Depois eu comi e depois você chegou!

***

Amanhã é o aniversário da Declaração dos Direitos Humanos. Aquela que o Vaticano não assinou.

***

Ontem foi feriado aqui, o dia da Maria Imaculada ou sei lá o quê. Como se já não bastasse o ridículo de venerar uma fulana que engravidou sem perder a virgindade (haja paciência…), eles ainda tornam a coisa mais estúpida ainda dizendo que a Madonnina distribui presentes, à la Papai Noel. Como eu nunca tinha vivido essa experiência Madonnal no contexto infantil, porque até o ano passado a Carol nem sabia o que era um presente (e até agora ainda não entende bem o conceito, como ilustrarei a seguir), pra mim 8 de dezembro era só mais um estúpido feriado católico como tantos outros. Mas na quarta-feira, enquanto estava no vestiário esperando a Carol trocar os sapatos, uma outra mãe perguntou pra Carol o que a Madonnina ia trazer de presente pra ela. Nunca tinha ouvido falar dessa maluquice antes. Por sorte a Carol estava cantando sozinha e não ouviu porque teria sido difícil explicar; eu respondi qualquer coisa que nem me lembro e ficou por isso mesmo. A outra mãe ainda se despediu da gente dizendo “Buona Madonna!”. O que significa “Buona Madonna”? Entendo desejar feliz natal, porque é um feriado mais longo, muita gente viaja, a maioria fica dias sem trabalhar, então na verdade estou desejando boas miniférias, mas Buona Madonna pra mim é exatamente igual a desejar bom domingo. Nada de especial.

***

A Carol quase não vê televisão, só DVDs (rigorosamente em português ou inglês, lógico; italiano é absolutamente proibido dentro de casa), de modo que não vê propaganda nenhuma de nada. Como a gente adora comprar mas tenta não passar isso pra ela no dia-a-dia, o conceito de presente não está bem claro na cabeça dela ainda, felizmente. Outro dia perguntei o que ela ia pedir pro Papai Noel e ela respondeu: um presente. Depois pensou um pouco e me perguntou: Mas mamãe, o que tem dentro do presente? Morri de rir (não na frente dela, lógico) :-) E o melhor desse desapego todo é que ela nem toca no assunto, não pede nada, não pergunta nada de quando o Papai Noel vem nem coisa nenhuma. Por enquanto parece que estamos fazendo tudo certinho.

Isso porque o lance do Papai Noel só rolou porque não dá pra escapar mesmo, já que todas as crianças só falam disso e até os panfletos do supermercado mostram fotos do velho. Aproveitei o ensejo pra usá-lo como suborno no esquema do cocô. Horrível, eu sei, mas eu já estava arrancando os cabelos! Não tinha jeito de botar a menina pra fazer cocô no vaso! Só precisei ameaçar UMA VEZ que Papai Noel achava muito feio criança fazer cocô na fralda quando já é perfeitamente capaz de fazer no vaso, e que não sabia se ela ia ganhar presente, pra ela parar com a bobeira e passar a fazer no vaso. Fiquei me sentindo péssima porque suborno é uma coisa pérfida, ainda mais com criança, mas eu já não sabia mais o que fazer mesmo. Ainda bem que funcionou.

***

Essa eu PRECISO contar porque é surreal demais.

O Marco, pai do Menino Que Não Pode Suar, é a pessoa mais certinha do planeta. Vamos esquecer por um minuto que é muito fácil ser certinho e fazer questão de usar camisa passadíssima e engomadíssima quando não é ele que passa ou engoma. Concentremo-nos no fato da precisão da criatura em si.

Ontem encontramos com eles numa pizzaria e começou a rolar o papo da árvore de Natal. Vamos ignorar o momento awkward quando o Menino Que Não Pode Suar perguntou por que a gente não tem presépio e a mãe dele respondeu “porque eles não têm espaço” em vez de deixar que nós mesmos respondêssemos. Prestem atenção na loucura:

O pai do Marco jogou fora a árvore de Natal do ano passado. Marco ficou furibundo mas resolveu comprar uma natural pra ver que bicho que dava. Só que achou a árvore “muito irregular” (lógico) e conforme foi montando foi achando que estava tudo muito estranho. Então entrou no carro, dirigiu até a esquina (uns 200 metros), analisou à distância a árvore na varanda da casa, e começou a apontar com aquele negocinho laser enquanto falava com a mulher no celular: “Tá vendo essa bola dourada aqui que eu estou apontando? Bota ela mais pra esquerda… Mais pra sua esquerda… Isso!”. E assim terminou a montagem da árvore de Natal.

Sem mais por hoje.

9 ideias sobre “potocas e carolinices várias

  1. Menina, essa coisa de propaganda e serissima! A Julia so assite NickJr aqui nos EUA, que nao tem propaganda. Ela nunca pedia nada de nada pra gente. Corta pra nossa viagem ao Brasil em dezembro passado. La ela assistia Discovery Kids, mas tem propaganda (nao tem canal infantil no BR sem propaganda). Uma ou duas semanas depois alguem perguntou pra ela o que o Papai Noel ia trazer e ela responde na lata “uma Lava-lava” (maquininha de lavar que passava a propaganda direto). Quase morri. Depois disso ela passou a pedir pra gente comprar varios brinquedos na hora que passava a propaganda. O horror. Ainda bem que estamos de volta, dessa parte eu nao vou sentir nenhuma saudade.

    • Sei como é, no Rio a Carol também vê Discovery e aquele monte de propaganda é um saco. Ainda por cima esses brinquedos terríveis criadores de meninas amélias, máquina de lavar, pia pra lavar louça, tábua de passar, cruzes…

  2. A minha tem 4 e é igual à sua. Também só assiste vídeos e o único canal aberto é o Nick Jr que não tem propaganda. Disse a uma das avós (que costuma dar brinquedo) que já tinha muitos brinquedos e não queria nada de Natal. E disse à outra avó (que costuma dar roupas e sapatos) que já tinha muitas roupas e muitos sapatos e não precisava de nada.
    Ganhou um brinquedo de Sinterklaas na escola e quando fomos a outra festa de Sinterklaas recusou o brinquedo dado porque disse que já tinha ganhado um.
    Tenho certeza que é pela ausência de propaganda. Uma vez passou uma tarde na casa do primo vendo Discovery Kids e voltou com uns pedidos de um brinquedo que faz não sei o quê e o queijo da vaca que ri. Depois de uns dias esqueceu.

    • TOC porque não é ele que faz as coisas… Quer a casa toda limpa mas não é ele que limpa; quer sempre 6 camisas passadas no armário mas não é ele que passa; quer o filho sempre arrumado mas NUNCA deu banho no garoto nem trocou fralda nem nada… Assim até eu, né!

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