31.12.04

reveilão

Quem não liga pro Natal dificilmente se empolga com o Ano-Novo. Acho que nunca passei um réveillon legal na minha vida – provavelmente porque a minha concepção de "legal" é muito diferente daquela clássica festão + álcool na cabeça + beijos em bocas estranhas. Há anos adormeço antes da meia-noite chegar. Meu primeiro réveillon aqui foi passado na casa dos pais do Mirco. Acabamos dormindo no sofá muuuuito antes da meia-noite. Em 2002 estávamos em Catania, na Sicília, e também caímos no sono assistindo a algum Star Wars. Em 2003 estávamos numa festa estranhíssima na Sérvia, mas só por falta de coisa melhor pra fazer.

Esse ano passamos o dia inteiro na oficina. Nesse dia 31 a micro-empresa (da qual Ettore era o chefe) foi fechada, e reaberta no mesmo dia no nome do Mirco, por razões que eu levaria um dia inteiro pra explicar. Os dois passaram a manhã toda no tabelião registrando o negócio, e eu fiquei na oficina atendendo telefone, organizando tabelas e mandando por fax pro tabelião, que não tem Excel e não sabe fazer tabela, e principalmente preparando as faturas de dezembro, que é o trabalho mais chato do mundo. Depois do almoço voltamos pro escritório pra terminar as malditas faturas, e acabamos tudo às nove e meia da noite. Um frio do cacete, eu morrendo de fome e cansaço, doida pra voltar pra casa, e o Mirco, que tem o às vezes péssimo habito de não deixar nada pra depois, ainda pára no meio da estrada pra fotografar umas árvores trigêmeas que ele vê todos os dias há cinco anos mas só agora lembrou de fotografar.

Mas tudo bem, eu já tinha deixado o jantar engatilhado. Foi só botar o pedaço de carne argentina no forno, apoiada diretamente na grade pra gordura escorrer, e as abobrinhas já cortadas longitudinalmente e batatas-palito congeladas também no forno, em seus tabuleiros. Moreno veio jantar com a gente, e resolvemos sair de casa, eu muito a contragosto, umas quinze pra meia-noite. Fomos pra casa de um amigo do Moreno, e encontramos umas outras pessoas que já conhecíamos. Eles moram no pedaço de Bastia que fica aqui atrás de Cipresso, onde eu moro; até que tinha vida aqui em torno, a julgar pelos muitos diferentes pontos de modesta queima de fogos, a que assistimos do quintal. Depois voltamos pra dentro porque tava frio pacas, o pessoal jogou cartas enquanto eu, que estava totalmente anti-social, fiquei vendo The Blues Brothers na TV. Fomos dormir lá pras duas da manhã.

Postado por leticia em 23:00

30.12.04

cachos

Finalmente chegou o pacote da mamãe, com artigos de jornal, uma blusa de tricô, o líquido pra escova progressiva, entre outras coisas.

Decidi que vou ser lisa só até o líquido que ela mandou acabar. Cabelo liso é ótimo mas não tem nada a ver comigo. E não é só porque à medida em que o tempo passa eu vou ficando com mais e mais cara de árabe (síria, no caso), mas porque não tem nada a ver mesmo. Fico engraçada de cabelo liso, e não bonita. Não é pra mim.

Postado por leticia em 08:04

29.12.04

hm

Eu fico angustiada com essas catástrofes. Gostaria de ser capaz de fazer alguma coisa pra ajudar, mas não posso fazer nada além de mandar um SMS pra doar um euro. Dificilmente tenho esses arroubos concretos de solidariedade, porque meu instinto de auto-preservação fala mais alto, mas cada vez que vejo novas imagens dos alagamentos e das pessoas sofrendo de um modo que eu não consigo nem imaginar sinto que se eu estivesse lá, não pensaria nem remotamente em voltar pra casa. Ficaria por lá, ajudando, como estão fazendo muitos turistas. Bactérias e vírus não gostam de mim, eu também não gosto deles, e acho que o risco de adoecer diminui quando você não tem tempo pra ficar doente porque a vida de outras pessoas pode depender do seu estado de saúde. E com certeza voltaria pra casa certíssima de ter decidido virar ex-médica. A necessidade faz o ladrão, sim, mas não significa que essa transformação valha pro resto da vida.

Postado por leticia em 11:16

28.12.04

puke

Hoje, na televisão, o repórter pergunta ao padre como é possível continuar sendo cristão depois de uma catástrofe desse nível. Onde está Deus?, perguntam as letras brancas na tela, enquanto no fundo correm as imagens surreais das tsunamis cobrindo tudo. O padre não responde, lógico, que ele não é bobo, e imediatamente puxa o assunto pra outro lado, o lado de sempre: ah, a igreja estará sempre ao lado dos necessitados (engraçado, então o que o senhor ainda está fazendo aqui na Itália? Em vez de ficar dando entrevista, vai pra Tailândia abraçar os órfãos caterrentos, vai!), faremos de tudo pra ajudá-los, e esperamos em breve começar a reconstruir as igrejas.

PÁRA TUDO. Como assim, Bial? Zilhões de mortos, vivos que em breve morrerão esvaindo-se em diarréias coléricas e infecções bizarras e delírios de dengue, gente que não tem água pra beber nem comida pra comer nem casa pra morar nem hospital pra se tratar, e você vem me falar de RECONSTRUIR IGREJAS? Nojo, nojo, nojo, nojo, essa gente me dá vontade de vomitar. Se eu acreditasse em reencarnação, na próxima gostaria de ser uma médica sem fronteiras daquelas fodonas, assexuadas, de olhos azuis e bochechas coradas e dignos pés-de-galinha ao redor dos olhos, e com certeza andaria armada, fuzilando gente que fuma onde não é pra fumar e padres idiotas que fazem declarações desse tipo.

O nojo maior é que aqui tem a história do otto per mille: basicamente uma doação compulsória (e não deixe que o paradoxo dessa expressão lhe escape) de oito milésimos da sua renda anual, que ou vai pro governo (se você não marcar nada) ou vai pra igreja católica (se você marcar o quadradinho indicado). A igreja, aliás, todo ano passa comerciais na TV e no rádio pedindo o seu otto per mille. Se eu fosse o Serjão, diria: otto per mille de cu é rola.

Postado por leticia em 11:11

27.12.04

ai meus sais

Em casa de gente maluca ninguém escapa da doideira, nem os cachorros. Vejamos:

. Leo fugiu pra namorar semana passada. Ficou dias fora e voltou macérrimo, com priapismo e dor nos músculos. Passou mais outros tantos dias sentado na cadeira em frente à lareira da cozinha, se recuperando da atividade intensa, tomando vitaminas e anti-inflamatórios. Ainda não está 100%. Ele adora salame, mas não come presunto. Ontem tentamos enganá-lo pela enésima vez, enrolando uma fatia de presunto numa de queijo, que ele ama. Ele cheirou, pegou com a boca, jogou no chão, separou o queijo do presunto, comeu o queijo e ficou olhando pra nossa cara. O presunto ficou lá no chão.

. Leguinho faz festa quando acaba de fazer cocô e é completamente viciado em pedaços de pau, que ele rói até não sobrar nada. Quanto mais friável for a casca, melhor. Uma vez, na falta de um pedaço de madeira assim à mão, ele simplesmente pegou um da lareira – aceso. Entrou na sala desfilando com aquele treco fumegante, uma ponta na boca e a outra ponta em brasa.

. Virgola é o aspirador de pó da casa: tudo que cai no chão ela traça. Também tem ouvido de tuberculoso e é sempre a primeira a ouvir se tem alguém chegando.

. Demo tem pêlo comprido e tudo o que vocês podem imaginar gruda naquela barriga peluda dele. Quando fazemos carinho nele acabamos sempre sentindo alguma coisa espetando a mão: um graveto, uma folha seca, um pedaço de casca de fruta, carrapichos. A barriga dele é rosa, assim como a parte interna da boca. Ele chora quando fazemos carinho nele. E quando paramos, fica roçando a cabeça contra a nossa mão, pedindo mais.

Postado por leticia em 21:56

26.12.04

Natáu

O almoço de Natal foi um belo pé no saco, por causa do climinha entre Mirco e a cunhada, que deu uma hipersupermegapisada intergaláctica de bola semana passada. Comemos o de sempre: fatias do pão umbro cascudo com patê de fígado de galinha, com salmão e manteiga, e com patê de tartufo; depois cappelletti com recheio de carne misturada de peru, vitela e cappone (galo castrado), uma parte in brodo, ou seja, cozido no caldo de cappone, e a outra parte com molho de tomate mesmo. Depois cappone assado na brasa com salada. E de sobremesa todos aqueles doces natalícios que eu odeio: panetone, pinolata, torrone, panforte. À noitinha fomos ao cinema ver Closer (meio assim assim), jantamos sanduba na Pans & Company do shopping, paramos pra tomar uma cervejinha/Bailey’s no Suggestum com Moreno e um amigo, e voltamos pra casa pra mimir.

Hoje, feriado aqui na Bota (dia de Santo Stefano), resolvemos ficar em casa. O tempo tá uma bosta, um convite à preguiça, e há um monte de carne argentina e brasileira na geladeira nos esperando (compramos na Metro, no sábado à tarde). Compramos dois filés mignons argentinos e um pedaço gigantesco de roastbeef (que eles pronunciam rósbif-a) brasileiro – como diabos se chama isso em Português? Almoçamos uma sopinha chinesa de pacote, a última que sobrou das compras em Paris, depois um filezinho show de bola feito na bistequeira de ferro guisa, com batatas no forno, assadas com azeite e alecrim. Como Hannibal Lecter, nós também nos amarramos num Chianti, e abrimos uma garrafa decente pra acompanhar a carne. Aaaaaaaaaah quanto faz falta uma carninha decente, em vez desses bifinhos anêmicos de vitela que neguinho adora aqui!

**

Eu ganhei chocolates holandeses do namorado da cunhada, papatinhos forrados de lã pra usar dentro de casa, uma mochila ótima pra viajar, um casaco ROSA absurdo, daqueles recheados de pluma de ganso. Só que, além de ser rosa (que é a cor da moda, vocês sabem), é curto, o que pra mim não faz o menor sentido. Eu sinto frio no corpo inteiro, e não só do umbigo pra cima; pra mim casaco curto é tão idiota quanto blusa de lã de manga curta. Qual é o propósito dessas coisas? Amanhã vou a Perugia trocar. Não tenho nenhum casaco desses de pena de ganso; me deixam maior ainda do que eu já sou, e também acho muito esportivo, não faz o meu tipo. Prefiro sobretudos, e queria um marrom, pra se juntar ao meu preferido, cinza-escuro estilo militar, com golinha coreana, ao preto Valentino e ao branco tabajara que eu tenho que levar ao Rio na próxima vez pra dar uma mudada na cara dele. Foi baratérrimo, mas o modelo é muito assim assim, queria uma coisa mais diferentinha. Mirco ganhou um pulôver marrom e um perfume Roberto Cavalli que, apesar da caixinha DE ONCINHA AZUUUUUUUL, é bem cheiroso.

Eu ainda não abri meu autopresente, o livro da Allende que o grisalhão da livraria cismou de embrulhar, mesmo eu dizendo que era pra mim mesma. Acabou que me comprei também uma agendinha Moleskine, cujo único defeito é ter pauta. Detesto escrever em papel pautado. Minha aversão a obedecer a ordens e regras chega a esse ponto. Mas tem umas coisas ótimas: duas páginas pra anotações de viagens (com espaço pra data, destino e comentários gerais), fusos horários, conversão de medidas e tamanhos de roupas e sapatos, códigos DDI, distância entre as principais capitais do mundo, mini-agenda telefônica destácavel, e uma espécie de bolsinho interno pra colocar papeizinhos que normalmente tendem a tomar chá de sumiço. Não sou muito de usar agenda, porque esqueço sempre que ela existe, mas adoro tê-la. Adoro agenda, diário, bloco, papel, de qualquer tipo, tamanho, cor, material. Basta que não seja pautado ou, pior ainda, quadriculado, como se usa muito aqui. O Moleskine (tipo sketchbook, com folhas espessas) que serviu de semi-diário em 2004 está acabando. Digo semi-diário porque acabo escrevendo praticamente só quando viajamos; colo ingressos de cinema, teatro, passagens de avião, trem, ônibus, metrô, cartões de visitas de lugares legais, bilhetes nos quais nos deixaram endereços e e-mails. Seu sucessor foi comprado em Castellina in Chianti nesse verão, durante a Saga dos Salames; foi feito à mão e tem capa de couro com as três musas da primavera gravadas na capa e há um lacinho pra amarrar e mantê-lo fechado. Estou doida pra inaugurá-lo.


Postado por leticia em 14:49

Eu fico sempre tão impressionada quando vejo essas notícias de tufão, terremoto, ciclone, alagamentos. Tudo isso é tão completamente fora da minha realidade que me assusta de um modo incrível. Não tenho idéia de como reagiria se me encontrasse em uma situação semelhante. A Umbria é zona altamente sujeita a terremotos, o que torna muito caro construir qualquer coisa aqui, já que é obrigatório ter um esquema antisísmico e coisa e tal. Mas eu nunca testemunhei nada, a não ser um ridículo tremor uma vez, enquanto estávamos na fila do cinema. Ninguém mais sentiu e eu nem comentei nada porque achei que fosse impressão minha, mas dias depois vi uma notinha no jornal local mencionando o minitremor.

Nessa época do ano há milhares de italianos passando as férias na parte da Ásia atingida pelo terremoto/maremoto. Roberto, amigo nosso, em teoria partiu hoje pela manhã pra Tailândia, mas a essa altura do campeonato já não sabemos mais se foi ou se está plantado no aeroporto, esperando sabe-se lá o quê. Quando acontecem essas coisas, o Ministério do Exterior se mobiliza rapidinho e é possível saber, se necessário, os nomes de todos os cidadãos italianos que estão no local atingido. Entra-se em contato com as agências de viagens e tour operators, disponibilizam-se números de telefone pra falar diretamente com o Ministério, e quem está por lá e consegue dar notícias de alguma maneira, acaba na TV: acabo de ouvir uma entrevista com um fulano que foi passar a lua-de-mel nas Maldivas e acabou abrigando-se com a jovem esposa no teto de um bungalow, de onde mandava SMS pra assegurar a família de que está bem, apesar do rio de lama que corre lá embaixo. Já pensou que maravilha? Onde você passou a sua lua-de-mel? No teto de um bungalow, nas Maldivas, durante o quinto maior terremoto do planeta. Muito romântico.

Eu tô brincando, mas não consigo nem imaginar o horror de passar por uma situação dessas. Pior ainda é pensar que esse tipo de coisa acontece sempre em lugares miseráveis, como o fodidíssimo Bangladesh.

Postado por leticia em 14:10

25.12.04

babbo

Ah, hoje é aniversário do meu pai. Mandem uns parabéns pra ele, mentalmente, por favor. Grazie.

Postado por leticia em 09:33

eca

Fomos ver Birth com o Moreno ontem à tarde. Cinema vazio, nada de fila, aaaaah, maravilha!

Pena que o filme é um porre. UM PORRE. A história até que não é das piores, mas a mão do diretor é pesada demais. O filme é totalmente feito de coisas que eu abomino em cinema:

. Diálogos cheios de pausas longuíssimas e absolutamente inexistentes na vida real. Olhares podem ser expressivos, mas definitivamente não são capazes de manter diálogos complicados.
. Pessoas paradas olhando mudas pra algo que não tem nada a ver com nada, por horas a fio, algo também inexistente na vida real.
. Diálogos com perguntas não-respondidas, sem que alguém se irrite com isso. Tipo:
- O que é isso?
...
- O que é isso?
...
[No que uma pessoa normal começaria a chacoalhar o interlocutor não-respondente]

. Cenas overdramáticas e ridiculamente teatrais que só vão fazer sentido no final do filme.
. Situações absurdas que todo mundo acha normal. Tipo: casal novaiorquino cheio da grana acha normal que um menino desconhecido entre em casa e peça pra falar com a patroa a sós, na cozinha. Ora, por favor!
. Atuações ridículas aduladas pela imprensa. Quem foi que disse que o garoto que faz o Sean "deu um banho de interpretação"? Ficar parado sério olhando pro nada não é difícil, especialmente pra americanos, que normalmente nascem com aquele bloqueio total dos músculos da expressão facial.

Caraca, que ódio, que filme lento, que filme chato! Que vestidos LINDOS os da Nicole Kidman! Filme chato me deixa de péssimo humor.

**

Como o grande lance aqui é o almoço do dia 25 e não o jantar do dia 24, fomos comer no restaurante chinês de Ponte San Giovanni na volta do cinema. Moreno nunca tinha comido chinês, mas detonou o arroz cantonês e o frango com amêndoas. Acabamos indo dormir cedo, mentalmente cansados de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo na família e profissionalmente. Hoje tem o maldito almoço na Arianna, distribuição de presentes ridículos e coisa e tal. Ainda bem que o Mirco já decidiu que logo depois do almoço vamos cair fora. Não vamos ao cinema à tarde porque já vimos tudo o que está em cartaz. Provavelmente vai rolar um DVD em casa mesmo. Acho ótimo.

Postado por leticia em 09:32

24.12.04

sdfa sdvfweoriseo

Como toda pessoa de bom senso, acho Natal um verdadeiro porre. Não só porque pra mim não significa nada, como bem diz o Alexandre (viram como ele não erra mais os porquês? ;), mas porque essa forçação de barra pra dar presente pros outros é incrivelmente estressante, cara e hipócrita. Detesto dar presentes só porque tenho que. Quando vejo uma coisa legal que me lembra alguém querido, compro e dou, na medida do financeiramente possível, claro. Perguntem pra Newlands que ela sabe bem como é: vivo mandando-lhe coisas bubus pelo correio, coisas idiotas que não servem pra nada, mas eu tenho certeza de que ela vai gostar porque têm cores bonitas, ou uma textura maneira, ou uma ilustração gostosinha, ou porque lembra alguma coisa engraçada que nos aconteceu em um determinado momento. Em contrapartida, meu quadro magnético está coberto de desenhos dela, tenho vários marcadores de livros desenhados por ela, e a bolsinha que abriga o kit de sobrevivência pacamanca elástico pro cabelo + batom + manteiga de cacau, que eu levo sempre comigo, é uma coisinha deliciosamente esdrúxula de paetês rosa-choque, presente dela. Minha escrivaninha é coberta de pequenas pilhas de coisas que eu vou juntando aos poucos, até que virem uma quantidade decente pra ser mandada pelo correio. Minilivros, comidinhas, receitas, cartões-postais, fotos, panfletos bonitos, brinquedinhos de ovo Kinder, adesivos, cartões de visita extravagantes, tudo isso vai sendo distribuído conforme eu vou descobrindo a quem vai agradar. Já esse perrengue de ter que comprar presente de Natal, vou te dizer...

Pra cunhada eu trouxe do Brasil uma bolsa artesanal toda cheia de bordados bizarros; juntei um marcador de livros interessante e pronto. Pro namorado dela, um cinzeiro comprado na feira hippie da General Osório. Pra malinha do Francesco, o filho b. do tio banana do Mirco, que é uma criança cha-tér-ri-ma e bur-ré-si-ma, que os pais (...) e o resto da família entopem de brinquedos caríssimos e de roupas que daqui a dois meses não vão mais caber nele, comprei um livro daqueles duros, cheio de bichos, buracos nas páginas, jogos de palavras. Pra avó do Mirco, que é a coisa mais fofa desse mundo, um pijama de flanela comprado na feirinha de Bastia, hoje de manhã. Pro Ettore comprei uma garrafa de grappa, que é o meu presente anual, já que ele não gosta nem se interessa de coisa nenhuma. Pro azar dele, a garrafa quebrou assim que cheguei em casa com as compras. Pra Arianna, brincos de ouro branco e zircone que depois me arrependi de ter comprado porque foram caríssimos e ela realmente não entende a diferença entre um metal e outro, entre um design bonito e um não, mas agora Inês é morta. Pra Marta trouxe um porta-niqueis de casca de coco, também da feira hippie, que sei que ela vai odiar porque é bastiola fashion e bastiola fashion só gosta de coisas da moda, mas não tô nem aí, um choque cultural de vez em quando é bão, e fiz também uma latona de cookies com chocolate chips e amêndoas. E aí fiquei sem saber o que dar pro Mirco, que infelizmente tem gostos refinados muito fora do meu alcance econômico, e além do mais compra e fatura as coisas das quais precisa (e gosta), como máquinas fotográficas, celulares, material de escritório. Acabei comprando um livro pra criança que me fez dar uma gargalhada gigante na livraria de Santa Maria degli Angeli: La Storia della Cacca – A História do Cocô. O dono da livraria, um grisalho que destila charme pelos poros do nariz, deu outra risada quando cheguei com aquilo na caixa, e disse que o livro é maravilhoso. Quando estava saindo da livraria bati o olho numa máquina fotográfica descartável com flash colorido, quer dizer, as fotos saem no tom que você escolher. Peguei uma verde. Claro que as esverdeadas fotos eventualmente irão parar aqui.

E aí assim, como quem não quer nada, toca o videofone: era o hominho da SDA, pra entregar um pacote. Fiquei toda boba achando que era o pacote que a minha mãe mandou há séculos, com o livro de Português do meu aluno bicha e mais outras coisas pra mim, um pacote que se perdeu no buraco negro dos correios italianos. Mas qual não foi minha surpresa ao ver que era uma caixa elorme vinda diretamente de Ottawa! Eowynzinha, amiga, não tenho palavras! Tô doida pra provar esse icewine, comé que toma isso? E os livros todos? E o Calvin? E o salmão, que eu amo? E o cartão de Natal, lindo? E as meias de dedinhos do Piu-Piu, ridículas como eu gosto?

:)))))))))))))))

**

Pra quem acredita nessas coisas natalinas, bom natal, tá? E brigada a quem me escreveu dando votos de boas festas. Sei que não parece, mas dou muito valor a essas coisas. Valeu mesmo. Porque foda-se o Natal, mas é o pensamento que conta, né não?

Postado por leticia em 13:31

a lil' get-together

Ontem veio um pessoal jantar aqui em casa: Peppone e aquele casal que precisava de informações sobre NY, Gianni e Chiara, e a irmã do Gianni, Roberta, com o namorado calado, Marco (que eu jurava que era Bruno, que horror!). Quarta e ontem passei o dia cozinhando: fiz mini-pizzas de cebola e sálvia e de alecrim com sal grosso, cappelletti com recheio de salmão defumado (fiz a massa e o recheio em casa) com molho de abobrinha, lagostins cozidos rapidamente no vinho branco com azeite e salsinha, com salada mista, e petit gateaux com sorvete de creme que eu mesma fiz. O jantar foi um sucesso tal que fui até aplaudida, apesar de ter achado os cappelletti muuuuito mais ou menos, principalmente se penso no trabalho que me deram. Mas enfim, demos muita risada, papeamos muito, vimos fotos, falamos de viagens, e depois que o pessoal foi embora, pra lá de meia-noite, ainda fui ajeitar a cozinha e a sala. Àquela altura do campeonato já tinha perdido o sono, e acabei dormindo no sofá, abraçada ao How the Irish Saved Civilization.

Pictures to come.

Postado por leticia em 13:02

23.12.04

How the irish saved civilization

We know, again from the Gospels, the hatred of the Jews of the first century for the Roman tax collectors. By the time of Ausonius [sec. IV] that hatred was universal. But now I must ask a great concession of my readers: to pity the poor tax man, whose life was far more miserable than the lives of those who suffered his exactions. The tax man, or curialis, was born that way: Can you imagine the dawning horror on realizing that you were born into a class of worms who were expected to spend their entire adult life spans collecting taxes from their immediate neighbors - and that there was no way out?

But this was only the beginning of the horror. Whatever the curiales were unable to collect they had to make good out of their own resources! Who were these wretches, and how were they assigned their doom?

***

E agora fiquei com vontade de ler os outros livros da série Hinges of History. E esse também, que não faz parte da série mas tem cara de ser bom.

Vejam bem, não são tratados de História; são introduções, pontos de partida pra quem não sabe nada do assunto e quer saber mais. A narrativa é deliciosa, as curiosidades são muitas, a ironia é tanta. A-DO-RO.

Postado por leticia em 14:07

22.12.04

relendo, e re-amando

I - The End of the World
How Rome Fell -
and Why

On the last, cold day of December in the dying year we count as 406, the river Rhine froze solid, providing the natural bridge that hundreds of thousands of hungry men, women, and children had been waiting for. They were the barbari - to the Romans an undistinguished, matted mass of Others, not terrifying, just troublemakers, annoyances, things one would rather not have to deal with - non-Romans. To themselves they were, presumably, something more, but as the illiterate leave few records, we can only surmise their opinion of themselves.

...

Inspecting the Roman soldiers now, we note the quiet authority of their presence, the polish of their person, the appropriateness of their stance - they are spiffy. More than this, there is an esthetic to each gesture and accountrement. All details have been considered - ad unguem, as they would say, to the fingertip, as a sculptor tests the smoothness and perfection of this finished marble. Their hair is cut with a thought to the shape of the head, they are clean-shaven to show off the resoluteness of the jawline, their dress - from their impregnable but shapely breastplates to their easy-movement skirts - is designed with the form and movement of the body in mind, and their hard physiques recall the proportions of Greek statuary. Even the food in the mess is prepared to be not only savory to the taste but attractive to the eye. Just now the architriclinus - the chef - is beginning to prepare the carrots: he slices each piece lengthwise, then lengthwise again, to achieve slender, elongated triangles.

We look out across the river to the barbarian hosts, who in the slanting, gray light of winter mass like figures in a nightmare. Their hair (both of head and face) is uncut, vilely dressed with oil, braided into abhorrent shapes. Their bodies are distorted by ornament and discolored by paint. Some of the men are huge and muscular to the point of deformity, their legs wrapped comically in the garments called braccae - breeches. There is no discipline among them: they bellow at each other and race about in chaos. They are dirty, and they stink. A crone in a filthy blanket stirs a cauldron, slicing roots and bits of rancid meat into the concoction from time to time. She slices a carrot crosswise up its shaft, so that the circular pieces she cuts off float like foolish yellow eyes on the surface of her brew.

How the Irish Saved Civilization, Thomas Cahill

***

O que eu não daria pra ver esse evento ao vivo!

Postado por leticia em 13:55

21.12.04

today's best song ever

Deep down in Louisiana, close to New Orleans,
Way back up in the woods among the evergreens
There stood a log cabin made of earth and wood,
Where lived a country boy named Johnny B. Goode
Who never ever learned to read or write so well,
But he could play the guitar just like a ringing a bell.
(Chorus)

Go Go
Go Johnny Go
Go Go
Johnny B. Goode

He used to carry his guitar in a gunny sack
Or sit beneath the trees by the railroad track
Oh, the engineers would see him sitting in the shade,
strumming with the rhythm that the drivers made.
The people passing by, they would stop and say
Oh my that little country boy could play

(Chorus)

His mother told him someday you will be a man,
And you will be the leader of a big old band.
Many people coming from miles around
To hear you play your music when the sun go down
Maybe someday your name will be in lights
Saying "Johnny B. Goode Tonight"

(Chorus)

Postado por leticia em 20:50

20.12.04

ventania

Tá ventando pra burro. Já cheguei à conclusão de que os italianos têm uma ponta de razão quando dão a culpa de tudo ao vento. Toda vez que o vento sopra forte assim, e gelado assim, eu fico com dor de cabeça.

Meu aluno endocrinologista me receitou almotriptan contra a crise de enxaqueca. Custa uma fortuna e resolvi dar um pulo na minha médica de família, uma vesguinha muito boazinha, pra ver se ela me dava uma receita daquelas vermelhinhas, que me permitem de pegar o remédio de grátis na farmácia. Acabou que ela me deu uma amostra grátis com três comprimidos. Devo tomar um assim que começarem os sintomas iniciais da enxaqueca (eu não tenho aura, pulo diretamente pra cefaléia e dali pra enxaqueca homicida), mais um, depois de duas horas, se não sentir nenhuma melhora.

Hoje de manhã fiz um milhão de quilômetros, entre bancos, correios, padaria, escritório do Roberto pra deixar um negócio pra ele que o Mirco consertou, galpão de cliente pra deixar o cesto de Natal, oficina, onde botei umas faturas em ordem. Todo esse entra-no-carro-aquecido e sai-pro-vento-gelado repetido mil vezes não pode fazer bem a ninguém. Resultado: já tá a pontada atrás do olho esquerdo me atazanando outra vez. Mas não quero tomar nada, porque a enxaqueca bombástica mesmo só vai vir daqui a quatro semanas, se for uma menina pontual, e quero fazer um teste pra ver se o almotriptan funciona. Vamos ver se com um paracetamolzinho passa essa dorzinha. Já almocei (massa curta com atum refogado na cebola, cenoura meio crua, meio cozida, e milho) e agora vou ver o Comissário Rex antes de encarar outros quilômetros pra lá e pra cá, e depois finalmente dar aula de português à Quarentona Estressada.

Postado por leticia em 13:59

parem de fumar, suas malas!

E o bafafá da semana é que a partir de dez de janeiro vai ser proibido fumar em lugares públicos. Bares e restaurantes que não puderem fazer uma área separada pros fumantes vão ter que simplesmente virar locais pra não-fumantes. Depois da Irlanda e do surpreendente Butão, finalmente a Bota parece que vai dar um passo adiante no quesito civilização, coisa que anda em baixa por aqui há muito tempo.

Então eu vou contar pra vocês a epopéia que é essa lei: já tá tramitando há séculos (desde que eu vim estudar aqui, em 2002, que escuto essa história), mas toda hora neguinho pedia pra adiar, adiar, adiar, sabe como é, mas agora parece que a coisa vai mesmo, e mesmo assim tem gente pedindo mais 6 meses pra se adaptar! Ora, por favor!

E vou contar pra vocês também o argumento idiota, imbecil, retardado, sem sentido, mentiroso, forçador de barra que os proprietários dos locais usam: que a freqüência vai cair porque os fumantes vão parar de ir a lugares onde não podem fumar. HAHAHAHA Faz-me rir! Era a mesma coisa que se dizia quando proibiu-se o cigarro nos cinemas e teatros. Aaaaaah ninguém mais vai ao cinema se não puder fumar, vão todos falir, oooooooooh.

Não preciso nem dizer que não aconteceu nada disso e neguinho se acostumou. Acostuma-se com praticamente tudo nessa vida, e onde o bom senso não existe, infelizmente tem-se que dar porrada na cabeça – nesse caso, criar uma lei e aplicar multas aos desobedientes. Mas convenhamos: vocês acham realmente que um cara vai deixar de ir à sua pizzaria preferida só porque lá não se pode fumar? Vocês realmente acham justo que esse fumante possa se dar ao luxo de reclamar seu direito de ir comer lá? Ora, vão todos tomar no cu, o meu direito de manter meus pulmões limpos e meus cabelos cheirosos são infinitamente mais importantes do que o seu direito de se envenenar, feder, ter dentes e unhas amarelos, ser impotente, canceroso e cardiopata, ter envelhecimento precoce e fôlego reduzido! Mas façam-me o favor! Não me venham com chorumelas!

Ouvi entrevistas de chefs na TV dizendo que acharam ótima essa idéia, apesar de acharem que o movimento nos restaurantes provavelmente vai cair logo depois da implantação da lei. Claro, né: quem fuma tem o paladar reduzido e não é capaz de apreciar totalmente os esforços de um chef aplicado. O garçom de um restaurante que freqüentamos, em Assis, nos confidenciou que sua última radiografia de tórax deu um susto no doutor, que perguntou quantos maços de cigarro ele fumava por dia. Resposta: nenhum, doutor, mas eu trabalho numa pizzeria onde é permitido fumar. Já há algum tempo esse restaurante, que também faz uma pizza ótima e no verão tem um jardim maravilhoso onde se pode comer sob as árvores, proibiu o fumo no salão interno. Agora no inverno eles infelizmente liberaram um pouco porque os fumantes não têm como sentar lá fora, porque tá um frio do cacete (e eu digo: FODAM-SE ELES!), mas mesmo assim não há mais cinzeiros nas mesas. O garçom tá contentão. Agora eu me pergunto: no verão, se eu quiser comer lá fora, onde é mais fresco e mais bonito, se tiver alguém fumando na mesa ao meu lado e conseqüentemente me irritando, eu vou ter o direito de reclamar?

Sou mais a Califórnia, onde até fumar em alguns locais abertos é proibido. Não importa se tem toda a ionosfera por cima das nossas cabeças; gente fumando do meu lado incomoda, me deixa fedorenta, impede que eu sinta o sabor da comida, e por isso eu vou reclamar SEMPRE.

Postado por leticia em 13:49

os mais e os menos

E saiu o sempre tão esperado ranking de "vivibilidade" das províncias italianas, feito todo ano pelo jornal Il Sole 24 Ore (clique em Bologna Regina del 2004 pra abrir um arquivo .pdf com o artigo do jornal). Bolonha, que sempre ficou em ótima colocação, esse ano ficou em primeiro lugar. Em segundo, Milão, e em terceiro, Trento. Roma ficou em 14o lugar, coitada, e a pobre Perugia é a 74a! As piores são todas do sul: em último lugar, pelo segundo ano consecutivo, Messina, na Sicília.

Postado por leticia em 13:31

19.12.04

findi

Ontem tivemos um dia cheio – cheio de programas inusitados. Mirco trabalhou até as quatro da tarde, e eu fiquei em casa dando uma faxinada, passando roupa, dando uma engatilhada no almoço – enfim, ameliando. Almoçamos um risotinho básico de abobrinha, salmão e açafrão, e logo depois chegaram Peppone e um casal de amigos. Esse casal vai passar dez dias em NY em janeiro e queria dicas do que ver, onde dormir, etc. O lance é que o Mirco sempre viajou muito, então todo mundo que quer dicas de viagem vem encher o saco dele. Pois então; esse casal é muito simpático. Ela é esperta pra caramba, apesar da combinação scarpin de cobra de salto altíssimo + jeans D&G + suéter de tricô com capuz, muito esportivo. O namorado é o clássico salame roedor de unha, mas bonzinho. Eles ficaram aqui até quase as seis, e depois que foram embora nos mandamos pro cinema.

Vimos Ocean's Twelve, e achamos uma bosta. Não uma bosta comparada com Ocean's Eleven; uma bosta mesmo. Roteiro esburacado, silêncios irônicos que não têm graça, private jokes, e inúuuuuuuuuuumeras forçações de barra. Só vale porque grande parte do filme se passa em Roma, que vocês tão carecas de saber que é tudo na vida, e porque tem o George, e porque a Zeta-Jones está absolutamente deslumbrante, com um corte de cabelo que ficou ó-te-mo.

E depois do cinema e de um sanduichinho na Pans & Company do shopping fomos pra casa do Roberto, em Santa Maria. Tínhamos sido convidados pra jogar Pictionary (tipo um Imagem e Ação, lembram?) com Roberto, Cristiana e outro casal de amigos, mas acabamos jogando outras coisas. Um jogo se chamava Taboo e é bem legal: você tira uma carta do maço e tem o tempo da ampulheta pra fazer os seus companheiros de time descobrirem a palavra escrita na carta, sem em nenhum momento mencionar certas palavras que também estão na carta – essas são as palavras-tabu. Por exemplo: a palavra que meu grupo tem que adivinhar é espelho, e as palavras tabu são reflexo, imagem, etc. Parece fácil, mas em certos casos você tem que dar uma volta danada pra chegar na bendita palavra. Até deu pra rir, mas nem eu nem Mirco somos pessoas particularmente competitivas, e não gostamos de jogar coisa nenhuma; o Mirco só gosta de competir com ele mesmo, e eu não gosto de competir com ninguém, principalmente comigo mesma. Mirco errou todas, não conseguiu fazer ninguém adivinhar nada, ficou nervoso e estressado, e acabou não se divertindo. Depois jogamos um negócio com cartas e uma maquininha que cospe cartas em você; esse é legal, mas a gente demorou tanto pra montar a maquininha e entender as regras que depois de duas rodadas já era mais de meia-noite e ninguém se agüentava mais em pé. Fomos pra casa e chapamos imediatamente.

Postado por leticia em 07:51

18.12.04

aiaiai

Acabo de ver no suplemento gastronômico do telejornal uma receita de chocolate quente que me deixou vendo estrelas. É o chocolate quente mais famoso de Florença, do café Rivoire, bem na praça principal da cidade. Eu nunca experimentei, mas a cor do negócio, pelo menos na TV, era linda. O lance é o seguinte: mistura-se leite e água (mais leite do que água, não entendi direito as proporções porque estava hipnotizada pelo chocolate), chocolate gianduia (pouco) e cacau em pó (o que já vem açucarado). Deve-se deixar ferver, depois desliga-se o fogo até a fervura sumir, depois ferve-se de novo, depois desliga-se o fogo de novo, umas duas ou três vezes. O que fica é um líquido cremoso mas não exagaradamente cremoso, escuríiiiiiiiiiiiiiissimo, e que deve ser realmente um manjar dos deuses. Nem vou experimentar. É mais seguro.

Postado por leticia em 13:33

XV

O rapaz acordou muito bem disposto no outro dia, estava, ou pelo menos parecia, restabelecido completamente. Os ares tonificantes de Santa Teresa produziram-lhe efeitos miraculosos.

- Até que enfim podia mandar ao diabo os xaropes e as tisanas que, de tempos a essa parte, lhe melancolizavam a vida e relaxavam o estômago. E, ainda metido entre os lençóis, na matinal preguiça das sete e meia, dispunha-se a filosofar sobre o ridículo episódio da véspera, quando um leve rumor na porta do quarto lhe desviou o curso das idéias. Era a menina que trazia o café.

Viu-lhe a pálida mãozinha medrosamente sordir por entre a fisga da porta mal cerrada, para depôr no chão, como era de costume, a chávena de porcelana. Amâncio, porém, desta vez saltou da cama e, correndo de gatinhas, a empolgou nas suas.

A mãozinha quis fugir, ele não consentiu, e com ela veio um braço que as folhas da porta arremangavam.

Começou a beijá-lo sofregamente, desde a ponta dos dedos até os biceps; enquanto Amélia, sempre escondida ia consentindo, toda ela arrepiada em cócegas.

- Um beijinho... pediu ele, mostrando o rosto.
- Logo!
- Com certeza?...
- Com certeza!

E a pequena desapareceu muito ligeira, - tique, tique, tique, pela escada.

Pouco depois combinaram a primeira entrevista. Ela subiria ao sótão, logo que a casa estivesse completamente recolhida. Amâncio que a esperasse no escuro e com a porta do quarto apenas cerrada.

O rapaz não pôde ficar tranqüilo nem mais um instante.

As horas nunca lhe pareceram tão longas e as conversas tão intermináveis. Um sobressalto feliz perturbava-o todo, tirava-lhe o apetite e não lhe permitia um pensamento que não fosse cair aos pés de Amélia.

Por maior caiporismo, o Dr. Tavares tinha essa noite uma visita que parecia disposta a não largá-lo. Era um velho de sua província, muito falador de política, apaixonado pelas eleições, pelos conservadores, mas que, nem à mão de Deus Padre, pronunciava os rr e os ss e dizia: "Os partido liberá, os senadô", e outras barbaridades.

- Quando se irá este cacete?... pensava Amâncio, trêmulo de impaciência.

E o Tavares a puxar pelo demônio do homem, a fazer-lhe perguntas sobre perguntas e a despejar contra ele a sua retórica inexaurível.

Até o guarda-livros que às vezes passava dias e dias sem dar uma palavra, estava essa noite disposto a falar pelos cotovelos. Ainda pilhara o chá e, repimpado na cadeira, com um brilhante a luzir num dedo, o ar satisfeito, os punhos bem engomados, taramelava a respeito dos seus projetos de casamento. "Sim, que ele, havia coisa de ano e meio, estava para desposar uma linda menina e de educação esmeradíssima. Já há que tempos a pedira!... Só esperava que a casa, onde trabalhava desde os seus quinze anos, lhe desse sociedade, como aliás, havia já prometido. – Ah! Toda a sua ambição era fazer família! Que vidinha melhor que a do casado?... o matrimônio era um complemento do homem... A gente enquanto moça não sentia a falta da esposa, mas depois?... quando chegasse a velhice?... Aí é que seriam elas! Não! não podia admitir um eterno celibato!... A vida do solteiro tinha seus encantos, tinha, para que negar?... os espinhos, porém, eram em maior número; se eram!..."

E citava os casos.

Amâncio retirou-se da varanda, sufocado de raiva. Preferia esperar no quarto.

Deram onze horas. Amelinha pediu licença e também se recolheu. Mme. Brizard, à cabeceira da mesa, já bocejava, entretendo os dedos a fazer pílulas das migalhas de pão que ficaram do chá; o marido, ao lado dela, estudava mecânica racional.

Veio finalmente o copeiro levantar a mesa e buscar o César para a cama. O guarda-livros apertou as mãos de todos e sumiu-se; o sujeito dos partido liberá, a despeito das insistências do amigo, despediu-se igualmente e, quando o advogado, que o fora acompanhar até o portão da chácara voltou à varanda, já não encontrou ninguém.

Em pouco a casa era toda silêncio e trevas. Então, Amelinha, deixou o quarto sorrateiramente, tirou as botinas, apanhou as saias e galgou a escada do sótão.

Amâncio, que a esperava na porta, logo que a teve ao alcance da mão, puxou-a para dentro, e deu uma volta à fechadura.


Casa de Pensão, Aluísio Azevedo
Editora Ática, 2a edição

Postado por leticia em 11:59

17.12.04

olha os otomanos aí, gente

Ih, rapaz. Deram à Turquia a chance de negociar sua entrada na União Européia! O que faltava era que a Turquia aceitasse a existência de Chipre, e hoje parece que rolou esse reconhecimento. Fala-se do início das negociações de entrada no final do ano que vem. Se a Turquia entrar mesmo na CE, vai ser um evento de bombásticas repercussões. Um Estado muçulmano encravado na CE! Um país que já deu trabalho pra todo mundo do Mediterrâneo em outros carnavais, e com o qual toda essa parte do planeta tem pinimbas históricas! Uma nação pobre que já manda imigrantes pra Alemanha a torto e a direito agora, imaginem se vierem a fazer parte da comunidade! Imaginem o samba do crioulo doido que isso não vai dar. Estou curiosíssima.

Postado por leticia em 20:14

16.12.04

pedro, o escamoso

O escândalo da semana é uma enfermeira que matou não sei quantos pacientes com injeção de ar, "pra se sentir importante". A mulher é deprimida há anos e toma vários psicotrópicos, e a questão agora é quem diabos deixou uma pessoa tão psicologicamente instável trabalhar com pacientes terminais. Claro que a criatura não dava nenhum sinal de instabilidade e por isso ninguém é culpado de não ter percebido; ela que não é boba de preencher formulário pedindo emprego respondendo "sim" a perguntas do tipo "Você é deprimida? Sofre de instabilidade emocional grave? Faz uso de psicotrópicos? Foi você quem fez a sua mala? Já fez parte de grupos terroristas?".

Toda hora rola uma história estranha desse tipo por aqui. Mãe que mata filho, marido que mata a mulher, neto que mata a avó, primo que mata a namorada, noivos que pulam juntos da janela e morrem abraçados. A criminalidade dita "normal", aquela que conhecemos bem no Brasil, fica quase sempre por conta dos imigrantes. Os assassinatos entre clãs mafiosos no sul praticamente não são problema de ninguém, só da máfia mesmo, a não ser que você dê muito azar de estar no lugar errado na hora errada, ou então de se parecer com alguém que está com os dias contados. Mas essas maluquices, esses crimes passionais, esses suicídios de adolescentes, são coisas de italiano dramático mesmo. E a mídia adora, e o público adora, e fica remoendo essas histórias hediondas por meses a fio. Ô gente pra gostar de um dramalhão mexicano!

Postado por leticia em 20:25

15.12.04

Decidi não comentar o episódio das agências de viagens de Turim e Palermo que levavam turistas italianos ridículos pra comer menininhas pobres e feias, aprendizes de caça-gringo, em Fortaleza. Realmente não há o que dizer. Prefiro ficar quieta.

Postado por leticia em 20:35

uia

A neblina pesada não vai embora há 48 horas. O dia INTEIROOOO perdidos no meio da névoa.

Já falei aqui que o único fenômeno meteorológico que eu abomino é o vento. A neblina não me incomoda; fora um pouquinho de melancolia, não me irrita nem me dá medo. As roupas secam numa boa – é só botar o varal pra dentro à noite, quando ligamos o aquecimento. Também não sou sensível à umidade, por isso não reclamo. Mas esses últimos dias realmente têm sido de matar. Não dá pra ver NADA lá fora! Nem os pinheiros imensos que crescem nos jardins aqui atrás, nada. Só os globos de luz dos postes, que parecem flutuar num mar de gotículas de água gelada.

Pra dirigir à noite é um parto. De dia ainda dou um jeito, porque bem ou mal dá pra ver pelo menos um pouco pra que lado a estrada curva, e além disso todo mundo está com a mesma deficiência visual que eu. À noite a coisa muda de figura: eu já sou naturalmente fotofóbica, e odeio dirigir à noite porque não vejo bulhufas. Com névoa, então, fico mais cega que uma toupeira, e sou obrigada a dirigir em velocidade velhinho-em-calhambeque porque realmente não sou capaz de distinguir nem mesmo se estou na pista certa. A sinalização horizontal nessas estradas di campagna recebe pouca manutenção e a maior parte já se apagou com o tempo. Sem as faixas no asfalto, não sei se estou indo na direção certa, ou na pista certa, ou se estou pra cair no barranco ou se estou entrando no quintal de alguém em vez de estar virando na rua onde eu tenho que virar. Cada carro que passa com os faróis acesos me cega momentaneamente, e reduzo a marcha, com medo de ir parar sei lá onde. Levei meia hora pra voltar pra casa da escola hoje – o dobro do tempo regulamentar. Vim em terceira marcha, como uma velha gagá cuja carteira de habilitação não poderá mais ser renovada porque os reflexos já perderam a validade. Mesmo o percurso mais conhecido, que já virou instintivo, torna-se difícil nessas condições. Os faróis dos carros que passam na superstrada, paralela a essa estrada por onde passo sempre, não ajudam. Não sei onde estou nem quanto falta pra chegar em casa. Depois da Metro, última grande construção iluminada antes de chegar aqui, é escuridão total. Que parto!

Cheguei em casa com o coração batendo forte e a testa franzida de tanto me concentrar pra não voar pra fora da estrada.

E agora é sopinha de legumes e toca pra estrada de novo, pro cinema em Perugia, ver Closer (já me disseram que é uma merda, mas o Moreno cismou que quer ver, e ele está de tornozelo torcido, coitado, vamos fazer a vontade do menino).

Postado por leticia em 20:31

Meu e-mail anda estranho e nao deixa eu enviar mensagens.

Postado por leticia em 16:29

14.12.04

cabeça-de-porco

A escola de línguas onde eu dou aula fica em Ponte San Giovanni, que seria basicamente um subúrbio afastado da parte baixa de Perugia. É uma merda de cidade, feia, nova, sem centro histórico, e principalmente cheia de imigrantes feios, pobres e mal vestidos que não têm grana pra morar em Perugia, que é uma cidade cara, ou em outras cidadezinhas históricas ali em torno (como Bastia, Ospedalicchio, Santo Egidio, que são bonitinhas, tranqüilas e caras – pouco atraentes pro imigrante) e se amontoam em apartamentos pequenos em cidades periféricas como Ponte San Giovanni. O prédio onde fica a escola é um pardieiro. Sabe aquele minhocão sobre o túnel Lagoa-Barra? É mais ou menos aquilo. No térreo há bares, lojas cafonas de roupas pra crianças, lojas de informática, papelarias, barbeiros. O complexo de prédios é imenso, espalhando-se por uma área considerável ao longo da centralíssima via della Scuola, e o número de apartamentos e salas por edifício é imenso. A escola de línguas fica no segundo andar do prédio mais badalado, porque embaixo fica o Roxy bar, ponto de referência básico em Ponte San Giovanni. No mesmo andar há escritórios de engenharia, de sindicatos, de administração de condomínios e de outras coisas estranhas, e muitos apartamentos residenciais. Não havendo espaço dentro pra colocar o varal, no verão a mulherada (marroquina, tunisiana, russa, colombiana, equatoriana, albanesa, romena) bota os varais no corredor externo mesmo, já que o prédio é um quadrado aberto no meio, onde deveria haver um jardim mas só tem mesmo um pedaço de gramado mal tratado e queimado pelo frio, e uns arbustos de plantas vira-latas. A gente sobe as escadas pra, sei lá, entregar um projeto pro engenheiro que aluga a sala onde damos aula e vê aqueles varais cheios de calcinhas coloridas penduradas. Lindo.

Há algumas semanas, quando cheguei pra dar aula de Português pra bichinha simpática (que cada vez fica menos simpática, a meu ver), vi uma motocicleta queimada, ainda fumegante, no corredor que leva a esse pseudojardim interno, por onde eu tenho que passar pra subir as escadas dos fundos. No chão, lajotas explodidas por causa do calor. O teto preto de fuligem até lá atrás, nas escadas. As janelas do bar, ao lado, e de um consultório médico, do outro lado do corredor, todas manchadas de preto. Elena, a secretária do curso, conta que iiiiih, vandalismo ali é coisa do dia-a-dia, volta e meia os Carabinieri tão lá na porta prendendo gente que fez coisa que não devia. Imagino que, à noite, quando os escritórios e lojas sérios fecham, o giro de prostituição e drogas por ali deve ser impressionante.

Não sei por quê, mas de repente me deu vontade de reler O Cortiço.

Postado por leticia em 20:18

13.12.04

run, paca, run

Ontem, estranhamente, acordei com disposição e vontade de ir correr. Talvez porque o dia tenha amanhecido lindo, de céu azul, ar frio mas suportável (dez graus), seco. Eram nove e pouco quando desci, de calça de moletom, camisa de manga comprida e um moletom verde-escuro do Mickey. Virei à direita, passando em frente ao bar onde o Fabrizio o Louco vai passar o tempo depois do jantar, pra não ter que aturar a mulher insuportável e tão graciosa quanto um tanque de guerra. A minha rua, depois do bar, acaba na via Sofia (em Bastia, como em muitas outras cidades da Itália, muitas ruas têm nome de cidades ou países). Virando à esquerda caio na via Cipresso, que depois vira via Torgianese, porque vai a Torgiano. Virando à direita, vamos parar numa das muitas estradas di campagna que há por aqui – estradinhas de roça mesmo, que passam por entre os campos, não são iluminadas nem têm acostamento e só exibem umas poucas casas, aqui e ali. Virando à direita vou na direção da fábrica de biscoitos Colussi, em Petrignano; à esquerda eventualmente vou parar numa paralela à superstrada que leva a Perugia. Faço sempre esse caminho pra ir trabalhar, porque essa paralela nunca tem engarrafamento, ao contrário da superstrada. Quando vou correr, em vez de pegar o pedaço de estrada que vai cair nessa paralela, vou pro outro lado, e quando a rua termina, em vez de virar à direita e ir subindo a colina onde fica Brufa, viro à esquerda, basicamente dando a volta no aglomerado de prédios baixos e casas onde moro e chegando em casa pelo lado oposto de onde eu parti.

Qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar na via Sofia, dei de cara com uma cabeçada que corria na direção da via Cipresso. Eu tinha visto as faixas anunciando a competição de podistica non competitiva (leia-se corrida) nas ruas de Bastia, mas não tinha ligado o nome à pessoa, por assim dizer. Pois então; em frente a uma casa onde mora um yorkshire pentelho que sempre late quando eu passo foi montada uma mesa, onde três aposentados enchiam copinhos de plástico com água mineral ou chá gelado, e cortavam laranjas em fatias finas pra distribuir aos corredores que passavam. O chão estava cheio de copinhos vazios, o que dava um ar levemente sério à corrida, tipo, o corredor está disputando uma prova séria, por isso não pode parar pra jogar o copo vazio na lata de lixo. Ha ha ha. Tinha de tudo nessa corrida: gente velha, adolescente, gente com roupa coladinha, gente de touca de lã, gente de bermuda, gente que corre quase andando, gente que acha que tá correndo a maratona de NY. No final de toda essa gente, um barrigudo com um labrador amarelo, com dezoito metros de língua de fora. Passam dois caras de faixa na testa (existe coisa mais anos 80 do que faixa na testa?) e óculos escuros, e brincam comigo, dizendo que a corrida é na outra direção. Eu dou uma risada, boto os headphones nos zovidos e vou em frente.

Meu fôlego, não é de surpreender, foi pras cucuias. O percurso que antes eu fazia com o pé nas costas agora peno pra fazer até a metade. O ar gelado queimando as vias aéreas não ajuda, devo admitir. Acho que não tenho pêlos suficientes no nariz pra aquecer o ar, então sinto dor mesmo, de verdade, quando o ar gelado entra com força na traquéia e desce pros pulmões. Sinto os alvéolos gritando, mamãe, mamãe, que porra de ar gelado é esse que você tá mandando pra cá? Tá de sacanagem, né? Os olhos lacrimejam, o nariz escorre. Lembro-me de que ODEIO correr no frio.

Outro problema é que deixei meu par de tênis mais novos no Rio. Anta. Esses que ficaram já estão velhos, as solas estão praticamente lisas, e pegaram tanto a forma do pés que esses afundam, as laterais ficam altas demais, e machucam os maléolos, principalmente o direito, onde ganhei um quelóide depois do tombo com o scooter.

Outro problema é que, recém-saída de uma crise enxaquecal, resolvi não sentir frio na cabeça e taquei um gorro horripilante do Mirco, cor de diarréia. Só que com o volume do gorro de lã os headphones não páram na cabeça, e toda hora desciam, indo parar em volta do meu pescoço.

Mas no final das contas vale sempre a pena; chego em casa com esperança de um dia deixar de ser gorda, e me sentindo cheia de energia.

Postado por leticia em 20:00

12.12.04

hmpf

Fomos ver National Treasure, aquele com Nicholas Cage. Cara, na boa, há anos eu não via um filme tão idiota. O filme chato! Fora os cliches interminaveis, a história é idiota, o roteiro trata o espectador como retardado mental, e o elenco é uma bela bosta. Odiei.

Já tava tarde pra jantar fora quando voltamos de Foligno, então pegamos Spiderman 2 pra ver em casa. Gostei, mas não achei isso tudo que falavam não. Achei meio assim... Meio mais ou menos, sei lá. Faltou alguma coisa que não sei o que é.

Postado por leticia em 08:36

11.12.04

ai, ai...

E como o assunto é Berlusca e esse país estranho onde eu moro, dêem uma lida nisso aqui.

Postado por leticia em 14:40

uhuuu

Tem outra: a grande expectativa do fim de semana é sobre a saída do número 53 na loteria. O diabo do número não sai há um ano e meio e de repente deu esse tremelique no pessoal e todo mundo anda torcendo pro 53 sair. Até eu, que ganho sempre porque não jogo nunca, estou curiosa. Vai sair ou não vai?

Postado por leticia em 13:53

news

UPDATE: Condenaram um senador a 7 anos de prisão. A acusação era de conchavo com a máfia (entre outras coisas, com o objetivo de botar o Berlusca no poder. Lalala...), e o Buscetta, lembram dele?, também está metido nessa história.

Aliás, a máfia anda deitando e rolando abaixo da batata da perna da bota. Em Nápolis mataram o irmão de um chefão arrependido que colabora com a Justiça há dez anos e já tinha escapado de n atentados; a família dele já foi toda assassinada. O número de mortos em guerras mafiosas por pontos de tráfico de drogas já deve ter ultrapassado 40, entre Nápolis e Sicília.

Postado por leticia em 13:43

Ah, um recado pra você, menina que me plagia muito sutilmente – mesmos assuntos, mesmas opiniões, vocabulário semelhante, mas nunca um copy & paste descarado: eu sei, tá? Eu sei o que você tá fazendo. Pára.

Postado por leticia em 10:15

enquanto isso, na sala da justiça...

Semana movimentadíssima aqui na bota.

Berlusconi foi absolvido ontem – não tenho palavras, honestamente. Perdeu-se a chance de mostrar que esse é um país decente, onde a Justiça funciona. Mas não. Ficou-se com o gosto amargo na boca de ser governado por um homem que é dono das três redes de TV privadas do país e controla as outras três, que são do governo; que é dono das maiores redes de lojas de departamentos; que tem não sei quantas cadeias de supermercado; que é dono da maior distribuidora de filmes do país; um homem pro qual tinham sido pedidos OITO ANOS de prisão por crimes de corrupção e desvio de dinheiro, mas que foi absolvido do segundo e o primeiro caso prescreveu. COMO ASSIM, PRESCREVEU? Imaginem que lindo seria se ele tivesse sido preso? Imaginem como a Itália passaria a ser vista com outros olhos, como teria virado um país sério?

Nada. O oba-oba continua.

O outro oba-oba da semana foi a greve dos florestais da Calábria. São 11.000. Asseguro-lhes que a Calábria não tem tanta floresta assim a ponto de precisar de 11.000 deles. Acontece que o sul da Itália é muito pobre e carente de empregos. Na Calábria e na Sicília, onde a máfia é particularmente forte e influente, essa distribuição de cargos públicos rola solta. É um instrumento de política social, de conquista de votos e de favores. E agora seu Berlusca, com a desculpa de que é necessário abaixar os custos pra poder reduzir os impostos (é CA-LÁ-RO que nenhum imposto vai ser reduzido, mas enfim), resolveu mandar essa cabeçada coçadora de saco embora. Aí neguinho fica pau da vida e fecha as estradas, principalmente a Salerno – Reggio Calabria, uma artéria viária importantíssima da Itália meridional. Dois dias de greve, tudo parado, brigas, confusão. Não sei como vai acabar essa história. Sei que esse povo tem mais é que ser mandado embora mesmo, mas se não forem criados empregos pra essa gente, o que é que eles vão fazer da vida?

E o último bafafá foi o caso das duas escolas que chegaram a considerar seriamente a hipótese de tirar o presépio e de substituir, em uma musiquinha da peça de Natal, a palavra Gesù (Jesus) por virtù (virtude), em respeito às crianças muçulmanas. Notem que a iniciativa partiu das próprias escolas; a comunidade muçulmana não teve nada a ver com a história. Criou-se uma confusão ao redor disso que demonstra claramente o amor que os italianos têm pelo drama. Tudo é motivo pra virar um dramalhão, é impressionante! E divertido :)

Particularmente a única coisa que eu tenho a dizer sobre o assunto é o que vocês já sabem: ESCOLA NÃO É LUGAR DE RELIGIÃO, NÃO IMPORTA QUAL. O resto está sendo comentado vivamente no blog da Cora.


Postado por leticia em 08:11

10.12.04

vida inteligente

Bato palmas, tiro o chapéu.

Postado por leticia em 07:41

09.12.04

Eccolo!

E, pra não perder o hábito, fotos tiradas ontem, na Arianna. Observem o estado de intensa sonolência e total exaustão do meu cachorro, causada predominantemente pelos longos dias de amor com a namorada dos meninos, uma peludinha preta e branca que vem toda manhã paquerá-los de longe.

Postado por leticia em 21:43

ui

Enxaqueca braba hoje.

A essa altura do campeonato, já entendi o mecanismo. Só pode ser de origem hormonal, porque só se manifestou fora do período pré-menstrual uma vez. Acordo de manhã com uma leve dor de cabeça que vai piorando ao longo da manhã. Lá pra hora do almoço já não sei mais nem como me chamo. Dirigir é perigoso, os olhos não se mantêm abertos, não posso mexer a cabeça porque a dor é insuportável. A esse ponto só me resta me enfurnar debaixo das cobertas, no quarto completamente escuro e silencioso; não consigo comer nada porque a náusea é bem intensa. Durmo a tarde inteira e quando acordo, à noitinha, estou um pouco melhor: já sei quem sou e onde estou, e já sou capaz de suportar a TV ligada e de sentar um pouquinho ao computador. Como alguma coisa e vou dormir de novo. No dia seguinte o ciclo se repete, igualzinho; à noite já estou melhor e posso até sair de casa, preferivelmente sem pegar vento frio na cabeça, e depois disso não tenho mais nada, é como se a enxaqueca nunca tivesse existido.

Postado por leticia em 21:08

08.12.04

otto dicembre

Feriado nacional hoje; é la festa della Madonna – pelo que eu entendi, já que não me interesso nem remotamente por esses assuntos religiosos, é o equivalente ao nosso 12 de outubro. Na praça em frente à basílica de Santa Maria degli Angeli, já há um certo tempo foi colocado um negócio imenso de ferro que eu não me interessei em saber o que é, mas parece um cálice; é bonito, o ferro é todo trabalhado e há sempre flores frescas como decoração (não vou nem comentar que nada disso sai dos bolsos da igreja, porque seria redundante). Não sei quando foi colocado lá; não presto atenção a essas coisas, mas sei que o período entre a colocação desse troço na praça e o dia 8 de dezembro é chamado de "mese Mariano", ou mês de Maria. Ou pelo menos acho que é assim que funciona.

Enfim, esse foi o único feriado desse ano que não caiu no fim de semana, e quem pôde aproveitou pra enforcar (ou fazer o chamado "ponte") e foi esquiar nas montanhas. Nós obviamente ficamos por aqui mesmo, levantamos tarde e fomos pra oficina porque o Mirco tinha que pintar umas peças que eram urgentes, pra hoje de manhã cedo. Eu varri o chão da oficina, manobrei a empilhadeira, e com o ancinho dei uma ajeitada no cascalho do pátio dos fundos, que com as chuvas intermináveis acabou ficando todo irregular. Almoçamos na Arianna, e depois passamos a tarde inteira cortando a maldita forma de parmesão e embalando os pedaços a vácuo. Voltamos pra casa pra tomar banho e tirar o cheiro de queijo e dali fomos pra casa do R., amigo do Mirco que tem, entre outras coisas, uma colina em Mora, uma fração de Assis. Era aniversário da namorada dele, a fadinha C., magra como um grissino, dona das sobrancelhas mais artificiais que eu já vi na minha vida e que tem os olhos quase um de cada lado da cabeça, como uma coruja. É psicóloga e muito, mas muito cri-cri, mas o R. é um grande amigo e fomos lá marcar presença. Quem cozinhou foi a estranhíssima irmã do R., que é cozinheira e fotógrafa e já trabalhou em hotéis e restaurantes em lugares bizarros como Teneriffe e fotografa freqüentemente na África. Essa casa em Mora é uma villa maravilhosa, com piscina coberta e aquecida com teto que se abre no verão, um bosque delicioso e várias casinhas espalhadas pela colina. A mais usada é a casa del maiale (casa do porco), que tem esse nome porque uma metade da casa é reservada aos porcos que o pai, industrial milionário mas filho de açougueiro, compra ainda leitões, engorda, abate e faz lingüiça, salame, presunto e todas as outras mil coisas que se fazem com todas as partes do porco. Na outra metade há uma lareira elooooooooorme, pia, armários, mesas e um sofá; há porcos de cerâmica, plástico, vidro, pintados em pratos, nos panos de prato, no pegador de panela. No andar de cima há um terraço com uma vista linda do vale lá embaixo, e é onde o R. faz as suas famosas festas de aniversário, todo ano.

Quando chegamos R. estava acendendo as velinhas da IKEA na mesona que ficou depois que quatro mesas quadradas foram juntadas. A irmã tava botando pedaços de pão pra bronzear na brasa, pra fazer bruschetta; a outra irmã, caladona mas com olhos e ouvidos que não perdem na-da, brincava com os dois cachorros, Ercole e Scotti. Uma gatinha bebê miava lá fora, na janela, e dava patadas no vidro, mas quando abri ela não quis entrar, com medo do banana do Ercole, que abanava o rabo feito um louco, doido pra brincar com a bichinha. Mais tarde foram chegando os outros convidados, que nós não conhecíamos; eu sentei perto do fogo porque sou friorenta, e acabei batendo papo a noite toda com um casal muito simpático e esperto. Francesca é de Foligno e tem aquele sotaque engraçado deles, que tem um quê de romano; é formada em Filosofia e estudou um ano em Londres. O namorado, Stefano, é advogado, como o pai, famoso aqui na área, e morou em NY e em Madrid. Nunca conheci gente tão cosmopolita aqui no vale, fiquei pasma! Batemos um papo ótimo, troquei receitas com a irmã do R., expliquei que o que ela comeu num restaurante brasileiro em Rimini não foi farofa mas farinha de mandioca crua com feijão, e que essa farinha ela acha em Perugia, numa loja de queijos e produtos gastronômicos esquisitos na escadaria de S. Ercolano. Todo mundo deu livro de presente pra chatinha; eu dei Alta Fedeltà (ui), do Nick Hornby, já que não tenho a menor intimidade com ela e não conheço seus gostos. Digamos que vai ser um termômetro: se ela não vier depois comentar que achou graça, já vai cair mais ainda no meu conceito.

Enfim, detonamos juntos (éramos 12) cinco garrafas de um excelente Brunello de 1998 (pena, a melhor safra do último século foi a de 97), brincamos com os cachorros, e a festa terminou com a gatinha passeando sobre a mesa e comendo restos de bolo dos pratos. All in all, foi ótimo; agora infelizmente vai ser necessário aturar a chatinha outra vez se quisermos convidar Francesca e Stefano pra jantar, já que são amigos do R. e por isso temos que convidar todos juntos. Mas vai valer a pena; a chatinha é chatinha porque é boring, e não porque incomoda. Afinal de contas, no pain, no gain, né não?

Postado por leticia em 23:34

07.12.04

tipo assim...

Alguém explica pra titia aqui o que leva um ser humano a comprar flores de plástico? Hein?

Postado por leticia em 21:48

06.12.04

viu?

Depois neguinho vem me chamar de preconceituosa quando eu toco no assunto caça-gringo, Suely Maria, etc.

Estatística, amores, estatística. Sejamos realistas, né.

Postado por leticia em 14:35

:(

Não pára de chover na Itália central. Chove há dias, e quando não chove, o sol não dá o ar da graça. Minhas plantas estão em um estado lastimável. O ficus que o Mirco me deu de aniversário tá todo manchado e as folhas caem com a mínima brisa. Mudei-o pra varanda do quarto hoje, quando vi que tinha um fiapo de luz do sol batendo, mas agora o tempo já fechou horrivelmente outra vez e acho que o ficus vai mais é subir no telhado mesmo. A pianta grassa, presente da Arianna, também tá amarelada e manchada, os pés de manjericão já secaram há muito, os pés de peperoncino estão amarelados e a única pimenta de cada um não fica vermelha de jeito nenhum. As tulipas da cunhada também ainda não apareceram, porque a umidade é excessiva e o frio ainda é pouco pra elas. As plantas estão morrendo por incapacidade de fazer uma fotossíntese comme il faut e também, suspeito eu, por saudades do sol.

Postado por leticia em 13:58

05.12.04

:)

Ontem à noite jantamos na casa do Gianni e da Chiara. Foi ótimo, eles são realmente muito simpáticos. A Chiara é o tipo de pessoa que você acaba de conhecer e já considera a sua melhor amiga – não por forçação de barra, mas porque ela é muito engraçada e bobona, e não tem como não gostar dela. Conversamos principalmente de viagens, porque eles também adoram viajar, e vamos com eles a Heindover no fim de janeiro. Fiquei encantada com as fotos que eles tiraram no sul da Espanha; morro de vontade de conhecer a Espanha moura.

O menu não tava lá essas coisas, mas o importante foi que batemos altos papos até uma da manhã e demos muita risada também. Bom, isso.

Gianni, Chiara, Bruno e a namorada Roberta (irmã do Gianni), eu e Mirco

Postado por leticia em 14:18

04.12.04

eita queijão

Tiramos a tarde pra fazer compras, como quase sempre fazemos nos fins de semana – é a nossa terapia de casal, digamos. Fomos à Metro, que é como o Makro no Brasil, ou seja, vende no atacado pra quem tem partita IVA (o equivalente ao velho CGC). Claro que só quem tem partita IVA de hotelaria, restaurantes etc é que pode comprar por lá, mas em novembro e dezembro qualquer um que tenha uma empresa pode entrar, pra fazer as compras de Natal, cestos pros funcionários e clientes, etc. Nós sempre morremos de curiosidade de ver como era a Metro por dentro, ver latonas gigantes de molho de tomate, pacotes imensos de macarrão, lagostas congeladas inteiras. Fomos, e gastamos uma grana considerável, mas todos os preços foram muito pesquisados antes e por isso economizamos bastante, em relação ao que teríamos gasto comprando as mesmas coisas em outros supermercados. Compramos, entre outras coisas, uma forma inteira de parmesão – TRINTA E DOIS QUILOS. Eles não tinham o equipamento de fio de aço que corta o queijo, mas um dos funcionários cortou a forma a mão em quatro imensos pedaços, e a Arianna vai se encarregar de cortar esses quatro monstros em pedaços mais, digamos, manuseáveis, e embalá-los a vácuo (sim, ela tem a maquinha de embalar a vácuo). Uma parte vai pros cestos de Natal, mas a maioria do queijo vai é parar nos nossos estômagos mesmo.


Postado por leticia em 14:11

Tutto il mondo è un paese, e assim é se lhe parece

Saíram ontem os resultados da última grande pesquisa de opinião sobre a Itália, vista pelos próprios italianos. Ouvi os primeiros comentários pelo giornale radio, enquanto dirigia a Ponte San Giovanni pra dar aula. Os números não mentem: a coisa que mais dá medinho aos italianos é o carovita, ou seja, o preço alto das coisas mais básicas, contas, seguros, comida, impostos obrigatórios. A percentual de italianos preocupados com esse negócio é muito inferior à média européia, que tem mais medo do desemprego do que de qualquer outra coisa. Depois vêm, compreensivelmente, a situação econômica do país, a criminalidade, a imigração, os impostos, o terrorismo e as pensões.

Primeiro que é engraçado ver como as preocupações são completamente diferentes das do povo tupiniquim. Mas o mais engraçado mesmo é ver como cada partido puxou a brasa pra sua sardinha, como cada jornal, dependendo da sua posição política, interpretou os resultados de um modo diferente.

Os partidos e jornais da situação apressaram-se em afirmar que, surprise, surprise, a Itália não é pobre, e os de oposição dizem que o italiano tem medo de ficar pobre. O governo insiste que o italiano prefere impostos mais baixos a uma melhoria no welfare (que eles usam assim mesmo, sem traduzir), a oposição menciona a greve geral de segunda-feira.

Mas o mais triste mesmo foi ver os dados sobre o uso da internet e do computador. Três italianos em quatro nunca se conectam à internet; 74% não sabem usar o computador. Coisa que eu já tive oportunidade de confirmar n vezes durante esses 3 anos aqui. Entre a minoria que usa a internet, 60% a usa pra correspondência eletrônica, 34% usa ferramentas de busca, e um terço do total aproveita pra ler notícias online. Pelo que eu ouvi no rádio outro dia, o detalhe interessante é que neguinho lê só e exclusivamente notícias italianas – por falta de interesse sobre o que ocorre fora da bota, e por incapacidade de falar Inglês mesmo.

O Mirco é que tem razão. O Terceiro Mundo é aqui.

L'articolo sul Corriere.

Postado por leticia em 10:32

03.12.04

oh vida, oh céus

Estranhamente, nao me sinto melhor em saber que nao é so' o casal Inho que anda de quatro e relincha (creationists are dumb, oh yes they are).

Postado por leticia em 12:57

greve macarrônica

Eu até esqueci de comentar, mas segunda-feira passada foi dia de sciopero generale (pron. chópero generale), greve geral, aqui no interior do Butão. Claro que, sendo uma greve geral italiana, não foi exatamente uma greve geral no sentido clássico da expressão, até porque senão não teria sido uma greve italiana, não sei se vocês estão acompanhando o meu raciocínio.

Começamos pela motivação da greve: Berlusconi prometeu abaixar os impostos. Não, vocês não leram errado nem eu estou ficando maluca: Berlusca prometeu ABAIXAR os impostos, e o povo foi pra rua reclamar. Porque obviamente isso é tudo uma palhaçada pra aumentar a popularidade do governo e, por mais que a situação diga e repita que não vai haver nenhuma redução de investimentos nas áreas básicas (saúde, educação etc), só acredita nisso quem ainda espera o coelhinho da Páscoa todo ano. Por favor, né. Se ainda fosse outro falando, mas o Cavaliere Berlusconi! Please. Fora que é ca-la-ro que isso só iria beneficiar quem paga muito imposto, leia-se quem ganha muita grana, porque a ralé mesmo, o peppe popolone (minha versão italiana de zé povão), iria economizar algo em torno dos 30 euros por ano. Faz-me rir.

Mas então. Eu já falei que italiano adora uma greve. Em termos de greve, reclamação, resmungos, os italianos estão ali, cabeça a cabeça com os franceses, juro. Tudo é motivo pra greve. A coisa engraçada (porque a Itália é um pais tão surreal que chega a ser engraçado) é que a greve tem hora certa pra começar e acabar – hora certa que nem sempre é respeitada, obviamente. Cada cidade tem a sua hora certa pra começar e acabar a greve, mas dentro da mesma cidade diferentes categorias têm diferentes horários de greve. Então em Roma os ônibus pararam das dez às duas, digamos; os trens das nove à uma, os bancos só de manhã, os correios quase todos pararam – mas não todos. Em Turim e em Milão os horários já foram diferentes, claro. Os técnicos de rádio e TV aderiram à greve, então os telejornais e os GR (giornale radio) foram ao ar em versão reduzida. Aqui na roça os correios fecharam, porque tudo é motivo pra fechar quando se trata dos correios; dois dos três bancos que eu freqüento pro Mirco tinham colocado avisos na semana anterior dizendo que não asseguravam o funcionamento normal na segunda de manhã, mas ambos abriram normalmente. Vai entender. Algumas lojas fecharam, outras não. Alguns restaurantes fecharam, outros funcionaram normalmente. Os turistas não devem ter entendido nada, tadinhos.

Postado por leticia em 10:29

02.12.04

uhuuuuu

Acabamos de comprar bilhetes por € 0,62 (que na verdade, com todos os impostos e coisa e tal, acaba custando uns € 40 por cabeça) pra Eindhoven. Gianni tem um congresso sei lá do que por aquelas bandas e aproveitamos pra ir junto. Não tenho a menor idéia do que exista por lá pra ver, se é que existe. Vamos dia 29 de janeiro e voltamos dia 31, só o fim de semana mesmo.

Se alguém souber de algo interessante pra se ver por ali, por favor me avise!

Postado por leticia em 23:05

A merda do Alexandre é que ele fica falando desses livros malditos e eu fico com vontade de não fazer mais coisa nenhuma da vida a não ser ler. Miserável.

Postado por leticia em 07:37

01.12.04

Cada um tem o Caixa-D’água que merece...

Semana passada, depois de dois anos de investigações, finalmente saiu o veredicto do escândalo da Juventus. Não sei quantos casos de doping (com hemopoietina) foram investigados, e adivinha o resultado do julgamento? O médico do time foi considerado culpado e condenado à prisão, mas o cartola foi liberado. Não sabia de nada, coitadinho. O médico teve a idéia sem cabimento de dopar os jogadores e fez tudo sozinho, sem contar pra ninguém.

Aham.

Postado por leticia em 10:12