30.11.04

Eu quero um CD da Norah Jones. Nao me bastam mais os mp3.

Postado por leticia em 18:00

uhuuuu

Pega-pra-capar ontem na casa da Suely Maria.

Eram umas quinze pras onze, já tínhamos visto E.R. e eu estava vendo a sátira ao Grande Fratello no canal 6. Levantei pra pegar um copo d'água e escutei uma gritaria lá fora. Pensei que fosse alguém falando no celular no corredor, porque só ouvia uma voz, de homem. Abri um pouco a porta da sala e entendi que os gritos vinham da casa da minha digníssima (cof cof) vizinha brasileira. Era o seu digníssimo (cof cof) companheiro, aquele que fuma no elevador e tem cara de bêbado/cafetão, e que eu não tenho idéia de que trabalho tenha porque seu carro, uma Audi TT ridícula pra um homem da idade dele, está eternamente estacionado aqui na frente do prédio. Enfim, era ele quem gritava, ou melhor, falava muito alto, mas educadamente, sem palavrões, sem baixarias. Dizia que ela era uma mulher como todas as outras, uma pessoa normal, como ele, e por isso tinha que parar de se achar (quase bati palmas nessa hora). Eu também não sei o que ela faz da vida, porque está sempre em casa, ouvindo música italiana chata ou aquela mala da Adriana Calcanhoto. Quando sai, é toda emperiquitada, estilo calça da Gang, obviamente por dentro das botas brancas. Dirige um velho Escort branco conversível, com uma Árvore Mágica tigrada (Perfumes Africanos) pendurada no retrovisor.

Bom, sei que o assunto não saía disso, ela choramingava e dizia alguma coisa que eu não conseguia ouvir e ele continuava na lenga-lenga. Ouvi o escrotão dizendo que ela teria que começar a pagar o aluguel e as contas – lembram que assim que ela se mudou pra cá eu disse que tudo tinha a maior pinta de que ela não pagava nada? Enfim, non sono cavoli miei, mas que fiquei curiosa, fiquei. Só não fiquei com pena dela porque 1) o cara em nenhum momento disse palavrões ou falou que ela era isso ou aquilo; 2) ela é absolutamente nojenta e mais vulgar que uma cubana, e por mim se saísse do prédio, melhor ainda, do continente, me faria um favor.

Fui dormir e sonhei que estava sendo perseguida por suíços nas entranhas do metrô do Rio, que tinha estações que eu nunca ouvi falar, com nomes muito estranhos. Não foi a primeira vez, mas acho que nesse caso tenho uma explicação: Asterix entre os Helvéticos foi a última coisa que eu li antes de dormirl.

Postado por leticia em 08:16

29.11.04

Da série no comments, ou pára o mundo que eu quero descer, ou devo realmente ter picado salsinha na tábua dos dez mandamentos pra merecer uma coisa dessas

Essa eu ouvi, ninguém me contou.

Eu, quando vi o filho bastardo do idiota do tio do Mirco com uma piranha escrota, de cabelo raspado na cozinha da Arianna ontem à noite, descascando avelãs: Ih, F., deu piolho na escola, foi?

Arianna: Pois é... Todo mundo tem aquela veia aqui na nuca, né, aquela dos piolhos...

Eu, depois de um breve intervalo de silêncio pra tentar captar o sentido da frase: Que veia?

Arianna: Aquela veia na nuca, de onde saem os piolhos!

Eu, sentindo a pressão arterial (que aqui se chama arteriosa, hahahahahahahahahaha) subir em alguns milímetros de mercúrio: Arianna... Piolho é bicho infestante, que nem rato, barata, pulga. Mosquitos. Tipo assim, eles vêm, passam de um cabelo pro outro porque as crianças brincam juntas, tocam muito umas nas outras. Piolho não pula, por isso que é mais comum em escolas e creches, adulto se encosta menos, pro piolho não somos bons hospedeiros.

Arianna: Mas e a veia?

Eu, já em ponto de arrancar os cabelos: QUE VEIA, ARIANNA? Eu tenho três anos de idade e estou coberta de piolhos, vou brincar de massinha do seu lado na creche, chego perto de você pra roubar a sua massinha verde que a minha acabou, encosto a minha cabeça na sua, o piolho tá lá nos meus cabelos, não sabe a diferença entre o meu cabelo e o seu, simplesmente vai andando numa boa, e quando vê está na sua cabeça e você está infestada.

Arianna: Tá, mas todo mundo sabe que piolho tem essa história da veia na nuca. Senão de onde vêm os piolhos? Onde eles ficam?

Eu, entrando em colapso nervoso, coma irreversível, animação suspensa: E de onde vêm os mosquitos? E as baratas? E os ratos? E as pulgas? Onde você acha que vão parar os mosquitos e moscas no inverno? Arianna, please, eu estudei Parasitologia por seis meses, é pouco, eu sei, mas eu vi o piolho no microscópio, estudei o ciclo de vida do piolho, eu tinha até uma professora louca de Parasito que imitava o piolho esmagado no microscópio. Pelamordedeus, não me venha falar de piolho em veia na nuca que eu me sinto desmoralizada.

Arianna, resmungando: Pode até ter estudado, mas...

Sorte que o tio idiota mudou de assunto, senão era capaz deu ter caído de joelhos e chorado ali mesmo.

Postado por leticia em 08:26

28.11.04

doh!

Fomos ver Donnie Darko em Foligno. Não entendi nada. Tudo bem que levamos horas pra estacionar e acabamos perdendo o início, mas mesmo assim achamos que nada fez sentido. Alguém me explica?

Postado por leticia em 08:15

27.11.04

festa de arromba

Olha, não é porque fui eu quem cozinhou não, tá, mas sábado a festchinha aqui em casa foi uó. Tudo muito confuso, obviamente, porque o apartamento É pequeno e tinha a maior cabeçada; tudo mais confuso ainda porque tinha gente de tudo quanto é tipo, amigos de escola, outros dos tempos de futebol, outros da escola técnica, vizinhos de casa, coisas desse tipo. Gente muito diferente, quase todos casados, quase todas as esposas meio retardadinhas, fora a Chiara, que é esperta pra caramba. Gosto cada vez mais dela e próximo sábado vamos jantar na casa dela.

O menu foi: belisquetes variados (amendoim, Pringle’s, pistache, azeitonas, Fonzies), salada de arroz que o Mirco encheu minha paciência pra fazer, apesar de ser um prato de verão (resultado: sobrou pra burro. Eu não gosto e Mirco não come comida velha, vai sobrar pros cachorros e frangos da Arianna), piadina de speck e scamorza no forno, bruschetta de paté de fígado de frango comprado na Coop, porque essas nojeiras eu me recuso a fazer, quiche de presunto e queijo. Muito vinho tinto, cerveja, Coca e água mineral com gás. A sobremesa triunfal foi um pratão de profiteroles, que eu recheei com sorvete Gigi. Ficou uma diliça e todo mundo ficou bobo com a minha paciência em fazer tudo from scratch, dos bignis ao sorvete.

Como não consigo ir dormir sem antes deixar tudo arrumado, mandei o Mirco pra cama e lá fui eu lavar umas loucinhas (pratos e talheres eram de plástico, então só tinha uns tabuleiros e formas de quiche pra lavar), arrastar os móveis pro lugar certo e passar pano de chão. Acabei dormindo no sofá, atacada por uma onda de melancolia.

p.s.: Niente foto porque foi o Gianni quem fotografou o evento, e TODAS as fotos saíram horríveis. Gente de boca aberta, gente de olhos fechados, gente abaixando pra pegar guardanapo ou amendoim que caiu, gente estendendo o braço pra pegar mais vinho, gente de costas, gente de olhos vermelhos, enfim, todas as tragédias da fotografia juntas.

Postado por leticia em 23:59

25.11.04

Notícias da Bota

. Essa semana roubaram, provavelmente no sul da Itália, uma Mercedes blindadíssima de 600.000 euros (repito, pro caso de vocês não terem entendido: SEISCENTOS MIL EUROS), do presidente da Mercedes na Itália, se não me engano – perdoem a imprecisão da informação, é que eu fiquei meio atordoada com a imoralidade da existência de um carro com esse valor. O detalhe interessante é que esse carro era considerado inroubável, digamos. Hohoho.

. Finalmente (...) foi aprovada uma lei que permite que as cinzas de entes queridos que foram cremados sejam removidas do cemitério. A cremação ainda é uma coisa estranha por aqui; foi só agora, pela primeira vez, mês passado, que o número de cremações em Milão foi maior do que o número de enterros. Em todo o centro-sul da Itália, só existem outros dois fornos crematórios.

A Igreja, obviamente, é contra a cremação. Branco di bastardi! Cremassero tutti! Vivi, ovviamente.

. Em Bologna, foram registrados oficialmente, com tabelião e tudo, os ingredientes e as medidas exatos das famosas massas bolonhesas. Então: pra dez pessoas, é um quilo de farinha de grão duro, nove ovos, uma pitada de sal e uma colher de sopa de azeite. Uma tagliatella (um talharim) deve ter 8 mm de largura e não sei quantos décimos de milímetro de espessura. O famoso molho à bolognesa tem que ter lombo de porco moído refogado na manteiga, mortadela, presunto cru. O recheio dos tortellini tem que ter carne, noz moscada, ovo e sei lá mais o quê. E os tortellini devem ter um tamanho tal que caibam 11 deles numa colher de sopa. Anotaram tudo? ;)

Postado por leticia em 08:22

24.11.04

cultura na roça

Continuando a série programas deferentes, ontem saímos um pouco da rotina e fomos assistir a um ballet em Foligno, no Politeama, que já foi um teatro e hoje funciona como cinema.

Eu adoro ballet clássico. Fiz aulas durante alguns anos quando era pequena, mas parei porque sempre fui gorda, desastrada e desprovida de graça e elegância, coisas que uma bailarina não pode ser. Mas continuei gostando, e sempre que tinha temporada no Municipal eu ia. A última vez foi o que, há uns três anos, com a Syrléa? Vimos o Lago dos Cisnes, que é um dos meus preferidos.

O de ontem era Don Quixote, que não é lá um dos meus favoritos, mas dá pro gasto. Mirco, obviamente, nunca tinha visto um ballet, e estava curioso. Tínhamos visto o cartaz na saída do cinema na semana passada e nos interessamos. Eu liguei pra bilheteria ontem à tarde e a mulher disse que não precisava comprar antes, porque ainda tinha muito ingresso sobrando e eu poderia perfeitamente comprar na hora. Então pouco antes das nove da noite estávamos lá, numa pseudo-fila confusa, porque eles não só não foram capazes de botar uma bilheteria só pro ballet, então tinha público do ballet e dos cinemas na mesma fila, mas também só tinha uma pessoa atrás do balcão vendendo os malditos ingressos. Pra melhorar a confusão, professores e alunos de dança tinham desconto, e tinham que entrar na fila com um documento pra conseguir pegar os ingressos mais baratos. Acabou que o espetáculo começou com quase 20 minutos de atraso, porque senao não ia nem ter público, já que metade da galera ainda tava lá fora, na fila, passadas as nove horas, horario teórico do início do espetáculo.

A companhia de ballet é de um romeno e de uma milanesa que estudou dez anos na Rússia. O grupo tem a minha idade e eu honestamente esperava um pouco mais de profissionalidade, embora, pensando bem, se eles fossem realmente profissionais e bons de sapatilha não estariam se apresentando num ex-teatro em Foligno, of all places. O lance é que o palco do teatro é minúsculo, ao ponto que a coreografia, que não era a original de Petipas mas do próprio romeno, ficou claramente prejudicada. O bailarino principal chegou a dar um chute numas pedras cenográficas enquanto saltava piruetando; voaram bolinhas de isopor por todos os lados. A iluminação era sofrível, e o cenário parecia coisa desenhada pelos alunos da segunda série na aula de Artes (eu fui aluna da Nêga no Andrews, e vocês?). O figurino poderia perfeitamente ter sido montado todo na Ciganinha, na Saara do Rio, tal o excesso de babados. A menina que fazia o Sancho Pança já estava me irritando, sacudindo os braços sem parar como uma retardada. Os bailarinos eram completamente descoordenados entre si, principalmente os homens, que pulavam e levantavam as pernas sempre com um meio segundo de diferença entre um e outro. E três dos quatro bailarinos homens coadjuvantes eram fortes como estivadores, e não esbeltos como bailarinos costumam ser. A música era terrível, porque obviamente não tinha orquestra, por falta de espaço e por falta da orquestra propriamente dita. O público, não habituado a esse tipo de espetáculo, aplaudia a toda hora, e aplauso invadindo a música da cena seguinte não é a coisa mais legal do mundo.

Mas all in all foi um programa divertido. Fiquei lembrando de quando era criança e tínhamos sempre ingressos pro Municipal; assisti a Copélia, Gisele e o Quebra-Nozes trezentos milhões de vezes, sempre das frisas ou das primeiras filas da platéia. O barulhinho seco toc-toc das pontas de gesso no palco é sempre uma delícia. Fui dormir contente :)

Postado por leticia em 15:28

23.11.04

uhuuuuu

Tivemos uma soirée animaaaaal ontem. Metemos o pé na jaca. Detonamos geral. Abalamos Bangu.

I lie.

A APM, a companhia perugina de transportes, patrocina os jogos de vôlei da liga nacional, e os funcionários têm direito a ingressos pros jogos. Moreno tinha dois sobrando, ofereceu, de graça, né, nóis aceitou e nóis foi.

Foi no Palasport Evangelisti, o mesmo onde rolou o show do Biaggio Antonacci há um tempinho atrás. Conseguimos estacionar tranquilamente e atravessamos o estacionamento tabajara, de terra batida e esburacado, sem maiores problemas. Tava frio, mas nada do outro mundo. Lá de fora ouvíamos alguém berrando algo num alto-falante, e um barulho de torcida fazendo êeeeeeeeee. Na entrada, um estande oferecia cupons dando desconto na compra de produtos de beleza pra homens na cadeia de lojas de cosméticos mais in aqui da zona. Um montinho de gente se amontoava numa pseudo-fila em frente ao estande onde distribuíam-se os ingressos pra convidados – o nosso caso. O nome do Moreno tava na lista, pegamos os bilhetes e entramos.

Não sabíamos quem estava jogando contra o Perugia Volley, dono da casa, e não havia nada escrito nem no ingresso, nem em nenhum lugar do estádio. Sabíamos que era uma partida relativamente importante, série A, transmitida excrusive pela TV a cabo, canal de esportes. O estádio não estava nem remotamente cheio, então sentamos em qualquer lugar mesmo, perto da quadra. E comecei a observar o ambiente, tentando ignorar o cheiro de cachorro molhado no ar (chovia há horas lá fora).

Fora alguns poucos grandes patrocinadores, como TIM, o concessionário Mercedes ali da área, a Nike, chocolates KitKat, chocolates Perugina (que foi comprada pela Nestlé, filhos da puta), a academia de ginástica high-tech de Perugia onde eu malhava quando estudava lá, o resto dos anunciantes era completamente desprovido de glamour. Pizzeria do Fulano! Tendas e Toldos Sei-lá-o-quê! Restaurante do Mario! Fábrica de sacolas plásticas do Riccardo! Manutenção de Empilhadeiras Família Rossi! Desratização O Flautista Mágico! (juro). O patrocinador principal do Perugia, de uniforme vermelho e tênis à escolha do jogador, é Bacchi, concessionário de caminhões Iveco e revendedor autorizado de peças pra caminhões; é fornecedor do Mirco e já fui lá quinhentas vezes buscar peças. O do outro time, de azul marinho e tênis todos iguais, que mais tarde descobrimos ser o Latina (Latina é uma cidade perto de Roma), era a Acqua e Sapone, cadeia de lojas de produtos de higiene e limpeza que tem em tudo quanto é lugar; a de Bastia vive lotada. Os uniformes são tão cobertos de patrocinadores que mal tem lugar pro número do jogador, quanto mais pro seu nome – ou mesmo o nome do time; por isso demoramos tanto pra entender quem era o adversário.

A gigantesca torcida organizada do Perugia era composta de umas 20 pessoas – nerds, adolescentes empolgados, mainly losers. Havia também dois chineses (don't ask) batendo animadamente naqueles tambores verticais deles. Uma gordinha loura entupida de maquiagem e já com uma certa idade tentava animar a galera, se achando a Rainha Pan-Universal das Cheerleaders de Todos os Tempos. O pessoal da torcida estava munido de pedaços de madeira com tiras grampeadas nas laterais; batendo essas tabuinhas uma na outra o barulho é insuportável. Também tinham megafones ridículos que imitavam sirenes da polícia ou de ambulância. Delicioso. O narrador do jogo falava no microfone, mas a acústica do lugar é horrível e não dava pra entender UMA SÓ PALAVRA.

A torcida organizada do Latina era composta de, hm, oito pessoas.

O Perugia tinha até mascote: um grifo, que eu só saquei que era um grifo porque esse é o símbolo da cidade desde a remota Idade Média, porque mais parecia uma vaca com bico e uma coroa na cabeça. Mas desse cara vestido de grifo eu nem fiquei com pena, porque pelo menos ele tava todo coberto e consequentemente não era identificável. Pior era o cara que fazia propaganda do Limmi, suquinho de limão (amarelo, claro) que se vende nos supermercados pra quem tem preguiça de espremer a fruta propriamente dita. O cara tava vestido de garrafa bojuda de Limmi, só com a cara aparecendo na frente, e mal conseguia caminhar. Fiquei horas rindo dele, e ao mesmo tempo morrendo de pena cada vez que o via perambulando pela quadra.

A cada pedido de tempo os limpadores de chão entravam em cena: crianças pequenas, vestindo camisetas pretas escrito MINI em branco, que riam muito e apostavam corrida com o vassourão. Entre os sets o menino-Limmi passeava pela quadra e me fazia ter ataques de riso.

Acabou que o jogo terminou rapidinho; o Perugia ganhou de 3 x 0, e tenho que dizer que jogou muito bem, apesar do negão que a cada bomba matadora que detonava na quadra do Latina, perdia umas duas recepções de bobeira.

E depois desse jogão-ão-ão fomos ao hospital, porque o Mirco distendeu um tendão da mão direita (não lembro qual, meu Sobotta ficou no Rio) e queria ver o que era. Ficamos horas lá mofando, porque um policial tinha sofrido um acidente de carro e o PS inteeeeiro (ou seja, os dois médicos de plantão) parou pra socorrê-lo. Na nossa frente, um cara asqueroso com pinta de cigano e/ou do sul, cabelo oleoso, cara de sujo, calça cor de tijolo com um rasgo na parte interna da coxa esquerda, sapatos de camurça estilo Birkenstok, abertos atrás, suéter de lã rosa por baixo de um colete absurdo. Com ele, uma garota de cabelo até a bunda, de maquiagem borrada, uma daquelas bolsas nonsense de crochê com pompons na alça, piercing de argola no nariz e a maior cara de drogada que eu já vi na minha vida. Reclamaram sem parar, fumaram onde não podia, e eu já tava torcendo pra que caísse um raio na cabeça de cada um dos dois quando finalmente fomos atendidos, o Mirco fez o raio-X, voltou, falou com o médico de novo e fomos pra casa.

Noitada selvagem, né não?

Postado por leticia em 15:01

niver

Quinta-feira é aniversário do Mirco. Ainda não decidimos se vamos sair pra jantar na quinta e dar um balacobaco aqui na sexta ou no sábado, ou se vamos espalhar o pessoal em dias separados, de acordo com o nossos diferentes minicírculos sociais. De qualquer maneira o menu já está decidido:

. pão de queijo (pouco porque só tenho dois pacotes)
. quibe de forno (porque detesto fritar coisas)
. trouxinhas de crepe com recheio de espinafre e ricota (porque comi ontem num restaurante e gostei da idéia)
. mini-quiche de couve-flor e de presunto e queijo (porque eu quero)

. profiteroles feitos em casa (porque o Mirco adora)
. um bolo bem bonito que eu felizmente não irei comer, porque só gosto de bolo branco, sem frescuras, e bolo de festa tem que ser, obrigatoriamente, cheio de nove-horas. Ainda não decidi a receita. Aceito sugestões, mas nada muito exótico, por favor. Cês sabem como é o pessoal aqui; basta ter um abacaxi pra eles acharem que é exótico, tropical, bizarro e, consequentemente, incomível.

Postado por leticia em 14:40

22.11.04

entonces...

Terminei How To Be Good, de Nick Hornby – o mesmo de High Fidelity, aquele que é uma das coisas mais engraçadas que eu já li na vida e me fez gargalhar sozinha em plena Piazza della Cisterna em San Gimignano. Não é uma Brastemp, esse último livro. Tem seus momentos, mas não é lá essas coisas. Agora queria ler About a Boy, sempre dele, do qual já ouvi falar muito bem. Aliás, queria ler várias outras coisas – não sei se vocês repararam, mas clicando ali em cima no "read" de "will read for food" vocês vão parar numa longuíssima wishlist da Amazon inglesa.

Hint hint.

**

Falando em livrinhos, há coisas boas pintando, muito boas. Aguardem e confiem.

**

O trabalho vai bem, obrigada. Dou aulas de Português pra uma bichinha simpática que comprou casa em Natal, e de Inglês pra um endocrinologista em Perugia e pra um médico do trabalho e sua filha pequena que faz bico pra falar Inglês e me faz morrer de rir. A coisa importante é que eu me divirto dando aula. O endocrinologista é meio cri-cri, mas os outros alunos são engraçados e damos muita risada nas aulas. Agora parece que vou ter que fazer ditado (don't ask.) pra uma estudante de Letras Português-Italiano que estudou em Portugal e no começo não queria nada comigo, porque precisava de um lusitano de verdade, mas visto que a oferta de portugueses aqui na área é escassa, pra não dizer ausente, vai acabar me encarando. A tese dela é sobre literatura portuguesa (ou de língua portuguesa, não sei direito porque a outra bichinha simpática, o coordenador pedagógico do curso, não me deu detalhes), não sei exatamente de qual período. Aqui comigo tenho O Cortiço, Casa de Pensão e uns contos do Machado. Vamos ver o que vai rolar.

Postado por leticia em 11:35

21.11.04

hohoho! :)

Dali a dois dias o satélite espião subiu, parou sobre a Amazônia, e, com os cheiros de Edmundo, Bolachão, Berenice, Pituca e Hugo Ciência computados no cérebro eletrônico, começou a cheirar.

O primeiro cheiro que chegou foi o do Redimir, dez dias sem tomar banho e cortando cebola: o satélite vomitou.

O cheiro de um prefeito, gesticulante, fazendo discurso num palanque, em Alagoas, foi descomputado, mas fez o satélite ter engulho.

"Como fede esse Brasil" – pensou o satélite espião.

***

O gordo tirou o tênis do pé direito e colocou na cabeça.

Ninguém queira saber o que é chulé de pé de gordo, entranhado num tênis que levou suor de pé de gordo durante 27 dias, na floresta mais quente do mundo. Edmundo, Berenice, Pituca e Hugo Ciência taparam o nariz, saíram correndo, dois gambás desmaiaram, uma jaguatirica teve um troço. Para o coitado do satélite cheirador, de centros olfativos supra-sensíveis, foi um fuá: a catinga do chulé do pé do gordo queimou os transistores, queimou as resistências, queimou os fusíveis, queimou os sensores, o chulé entrando lá dentro, o chulé chulezando tudo, o chulé esculhambando tudo, o satélite começou a fungar, o satélite começou a tossir, começou a sair uma fumacinha – o satélite explodiu.

***

- Você é muito bonita, minha paulista. Qual destes heróis é teu namorado?
- É o gordo.
- Ah! Este gordo é um corisco – disse o frade. – Explode satélites, conquista mulheres, o único defeito é que demora muito pra tomar banho.

***

O frade chegou na margem, e Tum-Tum, era braçadada de cruz em cada lancha, as lanchas quebravam ao meio, pulavam baços, rins, fígados, olhos, dentes, maxilares, omoplatas, pâncreas, orelhas, joelhos, bexigas, dedos do pé, dedos da mão, pomos de Adão, artelhos, aortas. Michael Pat se atirou n'água, quando fez que ia nadar, reparou que estava sem pulmão, afundou e morreu.


Sangue Fresco, João Carlos Marinho.

Postado por leticia em 11:24

20.11.04

- Eu disse.

- Senhor gerente – interrompeu o Mister. – Mim ser um homem muitíssimo do calmo, mim só perder o meu paciência uma vez no vida com uma bandida espanhol que amarrar mim numa cadeira me dar um tiro no meu barriga e depois jogar um balde de água fervendo no meu cabeça. Mas a senhor estar muito chato, senhor gerente, se a senhor repetir mais uma vez "eu disse" mim dar um tapa no seu cara.

- Estou apenas lembrando que tinha razão quando adverti sobre o perigo de meter crianças com bandidos. O senhor está procurando me intimidar com a violência e eu estou argumentando com a razão. A lógica do meu raciocínio é perfeita, só mesmo um louco não entende a verdade do que eu disse: criança em investigação é perigoso, seu Tomé não tinha o direito de deixar, e tanto estava errado que foi tudo escondido dos pais. E os fatos comprovam meu pensamento; o gordo pode até escapar mas corre perigo e não temos direito de pôr os filhos dos outros em risco. Eu argumento com razão, seu Mister.

- Senhor gerente, a história do mundo mostrar que os chatos ser bichos muito lógicos e ter sempre razon. Mas a problema fundamental do vida non ser ter razon, a problema fundamental do vida ser non ser chata.

O Gênio do Crime, João Carlos Marinho

Postado por leticia em 11:20

19.11.04

la speranza è l'ultima a morire

Novamente tivemos gente pra jantar aqui em casa, ontem à noite. Não sei se deu pra perceber, mas estamos meio de saco cheio do nosso atual círculo de amizades, e estamos tentando partir pra outra, mudar de ares, expandir os horizontes. Eu já meio que perdi a esperança de encontrar vida inteligente aqui no interior da Papua Nova Guiné, mas fazer o quê, né, a gente vai tentando, pra ver que bicho que dá.

Bela surpresa, então: vieram Gianni, amigo de escola do Mirco, e a mulher, Chiara, filha do dono do maior concessionário aqui da zona. Os dois são altíssimos e bonitos, apesar dos hediondos dentes de fumante do Gianni. Chiara é loura, magra mas não excessivamente, sorriso belíssimo (coisa rara por aqui, quem mora fora sabe que brasileiro é que tem mania de cuidar dos dentes, o resto do planeta tá se lixando), chegou vestida de preto, com um foulard colorido no pescoço. Menina simples, engraçada, sem cerimônia, repetiu meu strogonoff com arroz branco e batatas coradas, deixou o vinho de lado, comeu os quadradinhos de laranja e pediu gelo pra botar no copinho de Bailey’s. Ofereceu-se pra secar a louça, trocamos receitas e histórias de viagem, e começamos a discutir a hipótese de irmos todos juntos à Austrália ano que vem. Sentados no sofá da sala, os pescoços esticados e os olhinhos forçando pra ler os nomes no mapa-mundi na parede, fomos traçando roteiros imaginários e contando histórias de viagens a outras paragens. A irmã dela está morando em Dublin (que aqui se diz Dublino) e ela gostou muito da cidade. A avó tem quase 90 anos e também adora viajar, imaginem que figura que deve ser. Gianni é mais bobinho, como todos os camponeses daqui, mas é muito educado e, apesar de não me conhecer, nem sequer pensou em pedir um cinzeiro: foi direto pra varanda fumar, fechando as portas atrás dele. Maravilha. Vimos as 5.975,43 fotos da Austrália que o Mirco tem espalhadas em vários álbuns, e no final das contas ficamos de nos encontrar outra vez, pra ir ao cinema, e pra jantar na casa deles e ver as fotos do casamento e da lua-de-mel. Será que finalmente vou conseguir ter uma amiguinha normal com quem conversar? Ou vou ter que ir periodicamente ao Brasil renovar meus neurônios com Huňka, Newlands, japa e Uni-Rio people, pra não correr o risco de emburrecer e virar camponesa também?

Postado por leticia em 10:06

18.11.04

ora, pois

Vocês já devem ter lido o Alexandre. E, se não leram, não sabem o que estão perdendo. Ele erra um pouco nos porquês, mas é autor de alguns dos textos mais racionais e sensatos que eu já li na minha vida.

Pois esse post aqui é sobre tratar cachorro como gente. Se tem um coisa da qual me orgulho é de tratar meu cachorro como cachorro. Um cachorro espetacular, é claro, que usa gorro, capacete e anda de caminhão, mas um cachorro. Leguinho NUNCA subiu em sofá nem cama, nunca dormiu comigo, não lambe a minha cara, quando lhe dou um olhar 43 ele entende e fica quietinho no canto dele, pára de apitar os brinquedinhos e de encher o saco. Veja bem, em momento nenhum eu disse que ele é SÓ um cachorro. Um animal é um animal, não é SÓ um animal – quem me conhece sabe que eu não pensaria duas vezes antes de salvar uma borboleta em vez de um ser humano que me enche o saco continuamente, por exemplo. Mas o fato é que o bicho continua sendo bicho, e não gente.

Tenho absoluto pavor de quem trata bicho como gente. De gente que se deixa tiranizar pelo bicho de estimação. É como quem se deixa tiranizar pelos filhos pequenos. Quequeísso, minha gente? Cada macaco no seu galho, né. Se eu sou gente grande e, pelo menos teoricamente, já que idade não é necessariamente sinônimo de sapiência, entendo mais da vida do que meus filhos e meu cachorro, é mais do que óbvio que quem manda no galinheiro sou eu. Uma vez tive uma longa discussão com a Carmen, a menina que trabalhava comigo na loja do Fabrizio, o Louco, sobre esse assunto. Ela tem uma fêmea de pastor alemão que fica presa num espaço minúsculo do quintal, mas sai bastante pra passear. É compreensível que a cachorra se assanhe toda quando sai de casa, mas é absolutamente inaceitável que ela arraste os donos pela rua e a única coisa que eles saibam dizer a respeito seja "mas é que ela fica puxando com força...". É a mesma coisa com meus sogros, que são dois amores mas completamente retardadados, e os quatro cachorros. Virgola, a aleijadinha, é gorda feito um boi, e mesmo assim Ettore continua a dar-lhe toucinho, doces, salame. Quando eu digo que ela não deveria estar comendo essas coisas, ele responde: ah, mas ela pede...! Cacetes estrelados, mas se você não tem autoridade* nem com o seu próprio cachorro, a coisa tá feia pro seu lado. Tenho uma profunda falta de respeito por esse tipo de gente. E olha que eu adoro bicho, sofri pra burro durante aquele período em que fiquei aqui sem o Leguinho, gastei uma grana pagando a Carol enquanto ela tomou conta dele e outra grana preta pra trazê-lo pra cá. Fiquei torcendo pra acharem a coitada da Pipoca, gata que eu cansei de ver quando descia a Gastão pra correr na Lagoa quando ainda morava no Rio. Não aguento ver bicho sofrendo nem em filme sem começar a chorar. Mas tudo tem limite nessa vida, né, gente. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Please.

* Quando digo autoridade, não estou falando de gritar REX! como um sargento alemão e ver seu cachorro sentar, rolar, fingir de morto, chupar cana e assobiar, como um robô programado. Estou falando de não permitir que o bicho assuma o controle da sua vida. Ter um animal de estimação muda a sua vida, e como, mas não há que se perder o controle, jamé. Estou falando da autoridade que não é aquela do pai severo, mas a do pai que se faz respeitar pelas atitudes sensatas, racionais, quando possível, equilibradas. Entendem o que eu quero dizer?

Postado por leticia em 08:18

15.11.04

bambini

Eu e Mirco temos, obviamente, muitas coisas em comum, mas uma delas é a criancice em relação a comprar coisas. Adoramos fazer compras, por mais idiota que seja a coisa comprada. E ficamos desesperados pra voltar logo pra casa, abrir o pacote, ficar olhando, lendo o manual de instruções, se houver, ou qualquer coisa que esteja escrita na caixa. Normalmente não sossegamos enquanto não montamos a tal coisa, a testamos e, dependendo do que for, fazemos uma foto.

Pois então: hoje fomos cedo pra oficina e só fomos almoçar às duas e meia da tarde. Enquanto eu cuidava do almoço e ao mesmo tempo recolocava as plantas na varanda, com a esperança de que o vento pare de encher o saco, o Mirco foi cuidar das novas compras. Espalhou as folhinhas do pot-pourri cheiroso pela casa, guardou os apetrechos de cozinha, botou os lençóis novos pra lavar, pendurou os ganchinhos pro secador de cabelo no banheiro. Só ainda não deu pra prender o porta-revistas na parede aqui do escritório, porque esquecemos de trazer a furadeira da oficina. O bicho tá ali me olhando, pedindo pra ser montado. Coitado, mal sabe ele que nessa casa não há revistas, e que ele irá segurar basicamente pastinhas com documentos e coisas pendentes.

**

Ando morrendo de vontade de comprar uns dicionários. Adoro dicionário. Qualquer um, até búlgaro-nepalês. Acho dicionário uma das coisas mais interessantes na face da terra. Meu Zingarelli gigante, que ganhei de prêmio em um concurso idiota no Consulado Italiano há três anos, eu deixei no Rio. Aqui comigo só tenho um Oxford, um de italiano do Mirco MUITO velho, e várias daquelas porcarias Michaelis de bolso. Já fui na Libreria Grande catar, mas eles só têm porcaria. Aí agora estou morrendo de vontade de dar um pulo em NY pra tomar de assalto uma livraria e voltar com uma mala abarrotada de livros e dicionários.

Vocês têm essas compulsões malucas assim também ou sou só eu?

Postado por leticia em 15:23

14.11.04

IKEA day - momento diarinho que só interessa à mamãe

Acordamos cedo, não sem um certo nível de sofrimento visto a hora em que fomos dormir ontem, e fomos pegar Arianna e Lucia em Santa Maria. Lucia é a mãe da Arianna, uma velhinha fofa de 80 e poucos anos que é uma gracinha. Ela não se dá bem com a nora, uma escrota que o filho insistiu em botar dentro de casa, e agora mora com a Arianna. Praticamente só sai de casa pra ir ao cemitério, mas passa um bom tempo na horta, cuidando das galinhas, descascando avelãs e cortando verduras pro minestrone. Pois bem, lá fomos nós carregar a Lucia pra IKEA de Firenze. Almoçamos por lá mesmo e compramos muita tralha, inútil em sua maior parte, mas é impossível pisar na IKEA e não trazer algo pra casa. Deixamos as duas senhoras em casa e fomos jantar com Marco, Michela, Peppe e um casal de amigos deles, com a filha pequena, Asia, que é uma peste. Não voltamos tarde, mas não dava pra ajeitar nada em casa.

Postado por leticia em 22:13

13.11.04

vento, ventania

O dia amanheceu estranhamente limpo. Mirco saiu cedo pro trabalho, eu dei uma ajeitada rápida na casa e resolvi ir a pé a Bastia comprar umas coisas pra oficina, em vez de pegar o carro. Dei uma bela caminhada: 40 minutos a pé, debaixo de um estranho sol de novembro, de moletom e camisa de manga comprida, ouvindo Elvis no mp3 player, fazendo muito esforço pra não sair pulando pela rua. O céu azulziiiiiiiiiiinho, só o Subasio coberto de nuvens, coitado. Mais 40 minutos pra voltar, terminei de ler a última parte de The Belgariad, fiz faxina, deixei o almoço engatilhado e fiquei vendo TV, esperando o Mirco pra almoçar. Ele chegou às quatro da tarde, comemos rapidinho e fomos dar uma volta no GranCasa, em Spello, tipo uma superloja de coisas pra casa, acampamento, escritório, material de limpeza, caixas de correios, essas coisas. Depois fomos pegar Mario Belli e a noiva siciliana, cujo nome descobrimos ser Maria Rita. Jantamos no chinês em Foligno com toda a intenção de ir ver The Manchurian Candidate depois, mas engatamos no papo e quando vimos já tínhamos perdido a última sessão.

Na volta Mirco teve um desejo de tomar sorvete e paramos no bar de um amigo do Mario, em uma fração de Foligno. Quando saímos o vento já soprava forte e a grama dos campos em frente ao estacionamento do bar estava completamente na horizontal, e os galhos das jovens árvores ao redor balançavam loucamente. Na estrada, o vento sacudia o carro e jogava nuvens de folhas secas na nossa frente. Deixamos os dois em casa, em Santa Maria, e voltamos pra casa. Uma quantidade de coisa voando na rua impressionante; folhas, galhos, papel, sacolas plásticas, e, surprise, surprise, uma cadeira de plástico no estacionamento em frente ao nosso prédio, onde deixo o meu carro. Não sei de qual varanda a cadeira voou, mas espero que não tenha sido em cima do meu carro. Estacionamos na garagem e subimos correndo pra ver se tinha voado alguma coisa de nosso lá embaixo também. Meu vaso gigante de ficus estava tombado, o varal da varanda se desmontou e caiu. Começamos a botar tudo dentro de casa, todas as plantas, a mesa de plástico, o varal desmontado. Lembramos da tromba d'aria (o que seria isso? Rajada de vento? Pé-de-vento?) que rolou essa semana numa cidade da Calabria, que chegou a virar ônibus e o escambau. Do ralo do bidê subia um barulho impressionante do vento nos canos.

Mesmo assim, sabe-se lá como, dormi feito uma pedra.

Postado por leticia em 22:06

12.11.04

nham

Apesar da maldita enxaqueca de ontem, tínhamos convidado um casal de amigos pra jantar, então não dava pra desmarcar em cima da hora. Eram o Mario Belli, um dos gêmeos da família proprietária da floricultura mais conhecida de Santa Maria, e a noiva, cujo nome esqueci, uma siciliana bonitinha que já foi cabeleireira e agora é caixa na Metro, tipo o Makro aqui da Europa. Eles são meio devagar quase parando, especialmente o outro gêmeo, o Carlo, que frequenta frades e coisas do gênero, mas são gente muito boa. E a primeira viagem do Mirco à Austrália foi com eles, então motivo pra conversar não falta.

Como passei a manhã de ontem em casa, antes da dor de cabeça atacar com todo o seu esplendor, cozinhei com muita calma, deixando tudo mais ou menos pronto pro jantar. Fiz crepes com recheio de verdura, lombinho no leite, batatas gratinadas tabajara e quadradinhos de laranja.

As crepes nada mais são do que panquecas finiiiiinhas. Fiz duas por pessoa: uma com recheio de brócolis e cebola cozida no molho shoyu, a outra com cenoura, alho-poró e abobrinha ralados e cozidinhos no azeite, com um pouco de ricota pra tirar aquele gosto de grama. O lombinho foi todo furado, e em cada buraco coloquei um pedacinho de alho e umas folhinhas de alecrim; também juntei umas folhas de sálvia, pimenta-do-reino e sal grosso, e cozinhei no leite (receita da cunhada). Ficou até gostoso, mas eu acho moooooooooito melhor quando a carne é cozida no vinho. Oooooutros 500. O líquido que sobrou na panela eu triturei com o mixer e servi como um molhinho bem grosso, pra dar uma molhadinha na carne, porque lombinho é uma carne naturalmente seca, como o peru. As batatas eu cortei em rodelas e assei no forno com pouca água e um tiquinho de leite, e no final joguei um parmesão por cima, mas sem exagerar, porque a noiva do Mario é alérgica a queijo. E os quadradinhos de laranja são aqueles fáceis de fazer e que todo mundo adora.

Eu ganhei uma planta linda, que esqueci de perguntar o que era mas tem toda a pinta de bromélia. Conversamos bastante e nos divertimos, mas não dava pra esquecer as facadas atrás do olho. Eles foram embora depois da meia-noite, quando eu já tava querendo estrangular o Mirco, que usa qualquer coisa, por mais insignificante que seja, entrar no assunto viagens já feitas ou ainda em planejamento, e não pára nunca de falar. A coitada da garota querendo ir embora dormir, eu em vias de botar a cabeça dentro do congelador pra ver se a dor melhorava, e os dois falando daquela multa que levaram sei lá onde, lembra? E o Fulano, que dava em cima daquela francesa em Brisbane? E aquele albergue em Nova York, lembra? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!

Dormi como uma pedra e hoje acordei melhor. Mas como ontem de manhã eu também tava bem e depois piorei, vou é ficar quietinha hoje, vou dar minha aulinha e voltar correndo pra casa antes que escureça, porque eu já sou fotofóbica normalmente, mas com enxaqueca assim não enxergo N-A-D-A na estrada. Que não é iluminada, porque passa entre os campos cultivados de Torgiano, não há quase ninguém morando às margens da estrada. A concentração pra não sair da pista e os faróis dos outros carros não ajudam a enxaqueca a ir embora, muito pelo contrário.

Ai, ai.

Postado por leticia em 15:05

aaaaaaaaaaaaah

Diretamente do site da Receita Federal:

blah blah blah direitos sujeitos à registro público.

CRASE ANTES DE PALAVRA MASCULINA NAOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

Postado por leticia em 14:39

11.11.04

cefaléia retro-orbital pulsatil e insuportavel à esquerda
fotofobia intensa
lacrimejamento à esquerda
batendo a cara na parede sera que passa?

Postado por leticia em 18:16

09.11.04

homens com h

Eu vivo falando que a TV italiana é uma merda, e é mesmo. Mas de vez em quando nos brinda com coisas muito bonitas e interessantes.

Nesse momento estou de olhos semicerrados, destruída pela enxaqueca que parece que virou mesmo coisa crônica, mas mesmo assim estou me esforçando pra assistir ao segundo e último capitulo da microssérie sobre Paolo Borsellino, juiz da comissão anti-máfia que foi assassinado, obviamente pela máfia siciliana, em 92.

A primeira grande cena que eu vi, ontem, foi num tribunal. Um capanga de um mafioso foi solto, mesmo com claras provas de que ele tinha assassinado um policial. Em pé, Borsellino e seu irmão, Falcone e um outro figurão da equipe trocam olhares. Um deles, não lembro qual, diz:

- Ora siamo veramente soli.

Borsellino não foi o primeiro da sua equipe a morrer. Houve vários atentados anteriores, matando policiais, assistentes, o tal irmão, que trabalhava com ele. Depois foi a vez de Falcone, juiz seu amigo, que logo depois de sua secreta nomeação como superprocurador anti-máfia, foi brutalmente explodido numa ponte em Palermo. Junto com ele morreram a esposa e toda a sua escolta – 3 carros, no total, contando com o dele. Misturados às cenas da série foram colocados trechos reais da chegada da polícia ao local do atentado e do enterro. A mulher de um dos policiais mortos falando ao público na igreja durante o funeral é uma das coisas mais tristes que eu já vi na minha vida. Não é a primeira vez que vejo essas cenas; volta e meia, quando a máfia começa a se empolgar e a aparecer muito lá no sul, o assunto Falcone-Borsellino volta à tona e o discurso emocionado, desesperado, angustiado, exausto da viúva do policial sempre aparece. E sempre dá aquele aperto no peito, todas as vezes. Quando o assunto é Falcone ou Borsellino, o pessoal aqui fala com muita reverência. São personagens muito amados na recente história do país. A coragem desses homens, que enfrentaram peixes muito, mas muito grandes na tentativa de pôr fim ao dominio da máfia sicialiana, é de impressionar. O sofrimento de suas famílias, idem. A filha de Borsellino, de tão estressada por ter que andar sempre escoltada e com medo de morrer e/ou perder alguém querido, simplesmente parou de comer.

O ator que faz o papel de Borsellino, cujo nome esqueci, é muito talentoso. A cena dele andando pelas ruas sujas de Palermo, debaixo de chuva forte, depois do enterro de Falcone, é tocante. A cara daquele filho da puta do Andreotti, mais rabo preso impossível e mesmo assim senador vitalício e infelizmente vivo até hoje, sentado na primeira fila no funeral, também.

Borsellino foi assassinado tipo menos de dois meses depois de Falconi. Em um certo sentido, a ousadia dos mafiosos não está muito longe daquela dos traficantes cariocas, que mandam fechar as lojas da Visconde de Pirajá e todo mundo obedece. E são tão inatingíveis que o único que permaneceu vivo de toda a equipe de Falcone e Borsellino declarou publicamente, depois dos dois atentados, que simplesmente desistia desse trabalho porque estava só arriscando a sua vida e a da família, e sabia que nada iria acontecer aos chefões, nunca. E é verdade.

Hoje mais três cadáveres foram encontrados em Nápolis. Claramente há uma guerra séria entre clãs mafiosos na cidade. O triste é que não há mais Borsellinos ou Falcones sequer pra começar a investigar a coisa.

update: A Luciana gentilmente me informou que não é FalconI mas FalconE, que a mulher que fala no funeral é a esposa de um dos policiais mortos e não a viuva do juiz, e que existe uma fundação Falcone, a quem interessar. Brigada, Lu!

Postado por leticia em 22:16

08.11.04

domenica

As bruxas andam soltas aqui na Itália. Bombas explodem em Milão, perto de um presídio. Manifestantes no-global saqueiam um supermercado e a livraria Feltrinelli em Roma. Em Nápolis, na última semana TODO DIA algum jovem morreu em brigas ou vinganças entre clãs/gangues. Alagamentos no sul da Itália. Em Viterbo, perto de Roma, um romeno foi queimado vivo por uma gangue de albaneses.

**

O frio finalmente chegou. Acabou a mamata do calor fora de hora. O outono mais quente dos últimos 150 anos chegou ao fim abruptamente. Semana passada, apesar do tempo nublado, desfilei pelas ruas de blusa decotada e manga 3/4. Sábado teve céu coberto de nuvens brancas, esquisitas, e uma primeira ameaça de frio. Passei a manhã e boa parte da tarde numa tradução bizarra, e jantamos porchetta na casa dos tios do Mirco.

Ontem acordamos num dia de céu limpo e vento forte e absolutamente gelado. Aproveitei o sol pra transferir as plantas mais frágeis da varanda da sala, mais exposta ao vento e menos ao sol, pra do nosso quarto, onde o sol bate do final da manhã até a hora de se pôr. O sol entrando no quarto, com o nosso ridículo edredom vermelho em cima da cama, deixava o quarto transbordando de luz avermelhada. Deitei na cama enrolada num cobertor da KLM, as pernas estendidas no calorzinho gostoso do sol invernal, lendo David Eddings. Felicidade é isso. Lá fora, o manjericão, o cactus, os vasos com os bulbos de tulipas plantados de manhã cedo, os cravos, o peperoncino, o manjericão genovês, a pianta grassa que a Arianna me deu, se divertiam pegando sol, mais ou menos protegidos do vento, debaixo da marquise.

Passamos o dia em casa ajeitando umas coisas pra oficina, botando documentos em ordem, montando tabelas e dando risada. Nem fomos almoçar na Arianna; fizemos pappardelle com molho de lebre mesmo. No final da tarde fomos encontrar o Moreno em Assis, já que ele estava trabalhando. Estacionamos o carro de qualquer jeito numa vaga pra taxi na Piazza Matteotti, a praça mais alta da cidade, e pegamos o microônibus que o Moreno estava dirigindo. Eu nunca tinha pego o pulmino (microônibus) antes; há duas linhas, A e B, que se fundiram numa só, de modo que agora o pulmino faz as rotas alternadas, primeiro a A e depois a B. Eu sempre pegava a linha C, com o ônibus grande que vai de Santa Maria a Assis, quando trabalhava com o Fabrizio o Louco. As linhas A e B passam por zonas de Assis que eu não conheço, mas já tava escuro e pouco deu pra ver.

No ônibus, dois velhinhos e uma velhinha. Um dos velhinhos saltou logo, despedindo-se do Moreno com muita intimidade. A senhora desceu logo depois, encasacada. O outro ficou sentado lá atrás, a gola do pesado casaco de lã levantada, boina cinza na cabeça, bengala na mão. Moreno nos apresenta o senhor: se chama Bruno, é viúvo e sempre pega o ônibus pra dar umas voltas e passar o tempo. Damos voltas e mais voltas, Moreno voando com o ônibus como se estivesse dirigindo o seu Audi A3 superesportivo, passando direto pelos pontos vazios, naquele frio e àquela hora. Acabaram os turistas; o feriado de 1 de Novembro (aqui comemora-se o dia primeiro e não o dia 2 como no Brasil) é o último grande boom turístico de Assis. Depois é calmaria direto até 26 de dezembro, que aqui é feriado, dia de Santo Stefano. Depois calmaria de novo até março do outro ano, quando recomeça a estação turística.

Paramos na Piazza del Comune, bem em frente à loja do Fabrizio, pra comprar castanhas no Massimo. Ele monta a sua barraquinha de castanhas em frente à Pinacoteca Comunale, mas agora que o frio chegou de verdade vai passar a trabalhar só aos domingos, quando ainda há alguns visitantes, a maioria aqui da Itália central mesmo, que vêm fazer one-day-trips por aqui. Massimo é uma figura. Imundo, barba sempre por fazer, sorriso bonito e sempre aberto, dá castanhas de presente a todo mundo que conhece. Quando eu trabalhava na loja ele achava, sabe-se lá por quê, que eu era louca por castanhas e sempre me deixava um saquinho antes de ir embora. Uma vez me deu uma carona até em casa. Seu carro é inacreditávellllllllllllllll, eu não sei nem de que marca é de tão velho, de um azul-turquesa absurdo, e incrivelmente lotado de lixo e coisas inúteis. De copos de vidro a caixinhas de McLanche Feliz, passando por lápis sem ponta, embalagens de bala, velas, cestos. Treme e sacoleja a cada mudança de marcha, mas cumpre sua função de transportar o dono, então tá bom. Na verdade eu não sou louca por castanhas, ao contrário da Syrléa. Quando são boas e estão quentinhas eu até como, mas não acho lá essas coisas. São tão calóricas que eu honestamente prefiro engordar com coisa melhor (leia-se cacau, em qualquer forma). Mas pegamos o saquinho de castanhas de presente do Massimo, subimos no ônibus de novo e partimos outra vez, pra terceira volta. Bruno, quer descer? Não, mais uma voltinha.

Passamos por trás de hotéis, pela zona Viole di Assisi, que é muito bonita e tranquila mas completamente fora de mão. Subimos e descemos ladeiras, passamos pelo cemitério, por trás da Rocca Minore, por baixo da torre de uma inglesa maluca que mora ali sozinha com mil cães e gatos e investe seu dinheiro em vinhos caros que ficam armazenados na garagem do Fabrizio e que ele se encarrega de vender em leilão quando ela precisa de dinheiro líquido. O vento uiva lá fora e Moreno faz a clássica pergunta a Bruno, que lhe dá a clássica resposta:

- Freddo, Bru?
- E’, More', non è caldo.

Moreno liga o aquecimento, até então desligado porque ele é agitado demais pra precisar dessas coisas. O radio grita uma chatíssima música pop italiana que o Moreno canta junto, com castanhas na boca. Mirco está sentado perto dele, dentro do cercadinho do motorista, encostado na janela do lado direito. Os dois se conhecem desde pequenos e são quase que igualmente agitados. Quando estão juntos riem tanto que às vezes têm que sentar no chão pra gargalhar, como duas crianças. Eu acabo me divertindo também, por tabela.

No ponto de Porta Nuova, onde passa também a linha C e onde eu descia sempre pra ir ao centro trabalhar, três garotas bonitas, obviamente turistas, fazem sinal. Nós três falamos ao mesmo tempo: va alla stazione?, a pergunta clássica de turista clueless que não é capaz de entender que quando NÃO há "Stazione" escrito na frente do ônibus, ele NÃO está indo até a estação. Moreno aperta o botão pra abrir a porta, mas mesmo na leve ladeira a porta não abre e o Mirco estende o braço pra abri-la na mão. Uma das meninas enfia a cabeça pela porta aberta: "Stazione?". Começamos a rir, Moreno responde, no inglês mais macarrônico do planeta: Fra ten minutes più o meno. Depois se arrepende, deveria ter mentido, a garota era bonita, hahaha.

Vão chegando as oito da noite, fim do turno do Moreno. FeRnanda mandou um SMS cancelando o Fratellão que foi transmitido excepcionalmente ontem em vez de quinta, e resolvemos pegar uma pizza e ver filme aqui em casa. Moreno deixa Bruno perto de casa e vai até o nosso carro. Ele ainda teria uma volta pra fazer, mas encurta sempre essa última, porque sabe que não há passageiros. Nós pegamos o carro e nos dirigimos a Santa Maria pra passar na pizzaria dos Feios; Moreno ia só descer com o ônibus até a sede da empresa, pegar a bici pra voltar pra casa e trocar de roupa, e nos encontrar aqui em casa. Saiu cantando pneu. Com o microônibus. Numa subida.

A pizza estava ótima, o filme (Out of Time, com Denzel Washington) idem, a companhia também. All in all, foi um domingo muito gostoso.

Postado por leticia em 08:46

07.11.04

os altos, sempre eles

. Rever as meninas do colégio, no casamento da Dani, depois no aniversário da Mari, e depois ainda no Seu Martim, no Leblon: Mari, Patricia, minha prima Erica, Briza, Alessandra, Bebel Lobo, Manu!!! Manu, que eu não via há séculos e é uma das pessoas mais alto-astral que eu conheço! Cada dia mais bonitona, e hoje ainda é G/O e médica do trabalho. As meninas, respectivamente: Mari trabalha com moda, Patricia tem uma produtora de vídeo, a Erica e a Briza são dentistas (a Erica faz canal e a Briza esqueci), a Alessandra canta pacas. Bom, já sabem: precisando de médicos ou dentistas de qualquer especialidade, é só falar comigo que eu tenho mil ótimas indicações pra dar. É uma das maiores vantagens de ser ex-médica.

Eu e a doutora Manu, o alto-astral em pessoa I.


Doutora Manu, Méri-Gu (o alto-astral em pessoa II), eu e o lanterneiro.


Patricia, minha prima Erica, Bebel Lobo, Mari e eu.

Postado por leticia em 12:40

06.11.04

mas quantos altos!

. A escova progressiva. Quéridos, não tenho palavras pra descrever a felicidade de ser lisa, leve e solta. Qualquer que seja a doença que o formol na cabeça possa dar, é dela que eu quero morrer.

. Bater papos filosóficos sobre medicina oriental, acupuntura, ying e yang e outras coisas interessantes mas além da minha compreensão, até altas horas, em frente ao meu prédio, com Huňka e Newlands, depois de chopada + belisquetes (com direito a banana split) no Manuel e Joaquim da Barão com a Farme.

. Ser acordada às seis da manhã por um telefonema da lastminute.com avisando que o vôo do Mirco foi juntado com o meu, e que por isso viajaríamos juntos, ao contrário do que tinha sido inicialmente programado.

. Fazer esteira no play do meu prédio olhando pra vista da Lagoa.

. Comprar calça jeans maravilhosa na Richards e sapatos lindos na Mr Cat pro Mirco a preço de banana pra quem ganha em euro.

. Comer banana de verdade, e não essas porcarias porto-ricanas que se vendem aqui.

. O milkshake de Ovomaltine do Bob’s.

. Shrek 2 no avião de ida, e Mean Girls, aquele com o Pierce Brosnan e Julianne Moore, e 13 Going on 30 no avião de volta.

. Conhecer a dra. Vania, dermatologista, chique e simpática, que deixou o Mirco impressionado como os médicos no Brasil conversam com os pacientes – coisa que na Itália não acontece, nem quando eu digo que sou médica também (o ex nesses casos eu prefiro omitir, claro).

. TODOS os porteiros e amigos e conhecidos pedindo notícias do Legolas.

. Sobremesas decentes nos restaurantes (os doces por aqui são de razoáveis a ruins).

. Já falei da escova progressiva?

Postado por leticia em 17:29

05.11.04

mais altos

. Ver que minha avó está magra, e ótima.

. Receber uma tonelada de amigos da minha mãe lá em casa, e alimentá-los com pasta fatta in casa que eu penei pra fazer com o Mirco, porque nem rolo de macarrão tínhamos e improvisamos com garrafa de vinho mesmo.

A Luciana, de camisa listrada, é uma olftalmologista de primeira. Precisando, é só perguntar.

Postado por leticia em 10:25

librini

Ando lendo muito ultimamente, embora o tempo disponível seja pouco, com todo o trabalho na oficina e coisa e tal.

No Rio comprei váaaaarios livros mas esqueci de ir anotando o que ia lendo, como costumo fazer. Na Primavera dos Livros comprei Três Contos, de Flaubert, por indicação da mãe da Newlands; gostei. Sempre por indicação dela comprei Baú de Ossos, de Pedro Nava, que ainda não comecei. Comprei Bibliofilia, sempre um continho do Flaubert – o primeiro. Gostei. Comprei um outro cujo nome esqueci, de contos sobre a paixão pelos livros, e que inclui uma outra tradução desse Bibliofilia. Na Travessa, comprei Dois Irmãos, de Milton Hotoum, interessante. Comprei O Vendedor de Passados, do badaladíssimo Agualusa, e não achei nada de especial. Li uma compilação de velhos contos do Stephen King que achei embaixo do piano. Uma merda! A tradução não parecia ser muito ruim, mas os contos velhos dele incluem sempre uma criatura estranha, uma coisa meio Lovecraft amadora, não gostei não. Comprei e li A Louca da Casa, de Rosa Montero, muito, muito legal.

Dos muitos livros que eu trouxe pra cá, reli Belgarath the Sorcerer, e estou relendo o segundo livro da série The Belgariad, sempre de David Eddings. Gosto muito dessa série (são 5 livros), mas todas as outras sagas desse autor são exatamente iguais e patéticas, e Polgara the Sorceress é uma cópia chata do Belgarath. Trouxe O Cortiço, que eu amo e já li vinte mil vezes. Trouxe algumas coisas de Tolkien, que esse ano ainda não reli. Trouxe vários Penguin Classics, aqueles de cinco reau, ótimos. Trouxe Sostiene Pereira, de Antonio Tabucchi, um livro ó-te-mo recomendado pelo professor de literatura da Università per Stranieri. Trouxe e já reli compilações de contos de Asimov. Trouxe e quero reler logo The Fionavar Tapestry, trilogia de Guy Gavriel Kay, e How the Irish Saved Civilization, um dos livros mais interessantes que já li. Trouxe vários livros da Sark. Trouxe Negrinha, do Monteiro Lobato, presente sentimental da minha mãe quando eu era adolescente. Trouxe O Gênio do Crime, de João Carlos Marinho, divertidíssimo – até hoje. Trouxe La Vita Quotidiana nel Medioevo, de Delort, interessantíssimo retrato do dia-a-dia na Idade Média. Trouxe Marcovaldo, do Calvino, o livro mais delicioso do mundo. Trouxe uns do Sciascia que quero reler, porque quando li a primeira vez meu italiano era árido e não me permitia entender o siciliano, que aprendi com Camilleri. Trouxe uns contos do Machado. Uns Asterix em italiano. Um livro com fotos de filhotes de cachorros, What Puppies Do. Tem uma foto pra cada verbo, e é uma gostosura.

Trouxe minha amada coleção de marcadores de livros. Eu fico tirando fotos da minha coleção de meias coloridas, mas esqueci o monte de marcadores de livros que eu tenho. Amo! Em todo lugar que eu vou sempre compro cartões-postais, principalmente porque minhas fotos são tão ridículas que vale mais a pena comprá-las prontas, e marcadores de livros. Canetas coloridas também make my day.

Eu sou chata, mas é tão fácil me agradar que às vezes até eu me espanto. Basta uma barrinha de cereais Trio brigadeiro pra eu ficar contente pelo resto do dia.

Postado por leticia em 09:34

04.11.04

só altos

. Bater perna no centro da cidade.

. Fazer uns trabalhinhos pro Flash e descolar uma graninha extra.

. Receber Newlands, Hiro e sra., Duduzão e sra. lá em casa, e alimentá-los com piadina de speck com queijo prato e milho, e sorvete Gigi.

. Ficar sentada batendo papo nas escadas da praia do Leblon, esperando o tempo passar até a hora de ir ao cinema.

Postado por leticia em 17:18

...

Comendo clementine (tangerinas pequenas, sem caroço e deliciosas) enquanto verso coisas chatas de Português de Portugal ao Inglês. Lá fora a neblina é pesadíssima; não se vê nada, só uma nuvem branca gigante blanketing everything. Ótima escolha, os cravos; ao contrário das pobres dálias-anãs, que não conseguem dar flor de jeito nenhum com toda essa água que cai há meses, os cravos são plantas resistentes e que não se abalam nem com o excesso de chuva, nem com a neblina fria, nem com o vento forte. Suas flores estão todas lá, abertas ou abrindo, brancas, rosa-escuro, vermelhas. Ainda é cedo pra plantar os bulbos de tulipa que a cunhada mandou pelo correio; o frio ainda não chegou e a terra dos vasos ainda está encharcada. Minhas plantas de peperoncino continuam dando grandes pimentas, curvas como sabres, que ainda estão verdes demais pra ser colhidas. Ontem Arianna me deu de presente um buquê de peperoncino, lindo – depois tiro uma foto.

A casa inteira cheira a tangerina.

Postado por leticia em 09:10

potocas

Então.

A Itália não vê um outubro tão quente há 150 anos. Trinta graus em Palermo ontem. Em torno dos 20 aqui. Neblina de manhã, mormaço ao meio-dia, abafação à tarde. O único inconveniente são moscas, mosquitos e percevejos suicidas. Quem dera fosse assim o ano todo...

Ontem fui a uma entrevista de emprego. Começo a dar aulas de Inglês e Português semana que vem. Ficaram impressionadíssimos com o meu currículo, com o meu B no Proficiency, com o meu italiano flawless. O aluno de Inglês é um médico de Perugia.

Pra comemorar, fomos jantar no Bistrot. Não íamos lá há muito tempo; mudou tudo, da decoração ao menu. Nossos pratos preferidos sumiram e o menu ficou menos fácil de entender e menos agradável ao olhar, mas há novidades interessantes. Eu aceitei a sugestão do dia do garçom e de antipasto caldo fui de strudel de brócolis com cebola de Cannara caramelizada, numa poça de fondue de parmesão com pimenta-do-reino moída na hora. Mirco foi de tortellini com recheio de hortelã e molho de tomates-cereja frescos e manjericão. Depois atacamos o já nosso velho conhecido filé de Angus (boa carne argentina), acompanhado de uma ma-ra-vi-lho-sa tortinha de batata. Pãezinhos massudos deliciosos. Vinho do Alto Adige anêmico, não valeu os 14 euros. Os garçons de rabo-de-cavalo sumiram. E nós que brincávamos que era pré-requisito ter rabo-de-cavalo pra trabalhar lá. Vi minha ex-professora de step jantando com uma amiga. A dona do restaurante é meio maluca e SEMPRE sugere tartar aos clientes conhecidos porque ela prepara na hora, numa mesinha ao lado da tua, e faz um barulho danado batendo a carne crua com os temperos na tigela de vidro. Vai gostar de aparecer assim na China.

Esse post ficou bem no estilo Marina W. Cujo livro, aliás, eu gostaria muito de ler. Hint hint.

Hoje tem Fratellão aqui em casa. FeRnanda, Fabião e a prima da FeRnanda, Valéria, que é uma gracinha.

Grandes possibilidades de uma viagem à Austrália ano que vem, via Dubai. Sugestões?

Postado por leticia em 06:54

03.11.04

ainda os altos e baixos

. Os mil livros e roupas que eu amo e já tinha esquecido que tinha, e estavam lá, abandonados num canto do armário e num pedaço da estante.

. Ganhar malas novas e lindas da minha avó.

. O espetacular esquema de buzum com ar condicionado que leva até a estação de metrô da Siqueira Campos.

. A comida da minha avó.

. Rever o pessoal do curso de italiano: Riccardo (marido da Valéria), Serginho, Syrléa/Suely, Lulu de Luxemburgo, Valéria.

***

. Carregar malas pesadérrimas no trem de Roma pra Foligno.

. Ver minhas malas novas e lindas vindo pela esteira do Fiumicino completamente imundas e com as rodinhas já meio tortas.

. Não ter espaço na mala pra trazer todos os mil livros e roupas que eu amo e já tinha esquecido que tinha, e estavam lá, abandonados num canto do armário e num pedaço da estante.

Postado por leticia em 17:09

02.11.04

Ainda Altos e Baixos

. Bater perna em Ipanema.

. Fazer compras ótimas e baratas com cheque pré na Animale do Bostafogo Praia Shopping.

. Comer muito pão de queijo, muito mesmo.

. Ver amigos do meu irmão de quem eu gosto muito: Bruno, Werther, Ferdinâncio, Carlos. Conhecer a Carol, espertíssima namorada do Werther, que desenha as capas dos CDs da banda.

(meu irmão, eu, Huňka, Mirco, e esse grande bem no foreground é o Brunão, gente boa bagaray.)

***

. Ter que abaixar a cabeça com medo de tiroteio na volta do aeroporto, por causa de uma blitz muito estranha bem em frente à favela da Maré.

. Constatar que algumas coisas não mudam nunca e por isso minha mãe continua sem internet em casa.

. As pessoas horrorosas nas ruas.

. Andar de ônibus.

Postado por leticia em 17:04

01.11.04

Da série Altos e Baixos do Rio

. Experimentar abacaxi na feira e levá-lo pra casa descascadinho, pingando suco dentro do saco plástico.

. Os feirantes da Nossa Senhora da Paz mexendo com o Mirco: lindo, compra a minha jabuticaba! Lindão, compra manga aqui comigo, ó!


***

. O cheiro de mijo de mendigo na rua.

. Flanelinhas.

Postado por leticia em 16:56