26.02.04

Espalha não!

Não conta pra ninguém não, mas eu sou contrabandista gastronomico-cinematográfica. Simplesmente me recuso a gastar algo em torno aos 6 euros em pipoca e água mineral no cinema. Como aqui rola aquela proibição totalmente anti-democrática de entrar nas salas de projeção com qualquer coisa comestível comprada fora do bar do cinema, aos poucos fomos desenvolvendo técnicas de contrabando alimentar que estão ficando cada vez mais sofisticadas.

No início eu simplesmente escolhia uma bolsa grande quando íamos ao cinema. Grande o suficiente pra acomodar uma latinha de amendoim e duas garrafinhas de suco de fruta. Normalmente ia com uma bolsona tipo carteiro da Animale, que me acompanhou na minha primeira viagem à Itália e tem bastante espaço, com o incômodo único de ser MUITO pesada, mesmo vazia. Uma vez fomos ao cinema com a Stefania, irmã do Mirco, e aproveitamos o espaço bolsal feminino duplicado pra levar tremoços (lupini), pipoca feita em casa, suco e água mineral.

O último upgrade da técnica resulta em levar guloseimas de casa dentro de uma sacola da Sisley (que, pra quem não sabe, pertence ao grupo Benetton, tem roupas bonitas e quando entra em liquidação alguém tem que me amarrar em casa pra eu não sair comprando tudo com 70% de desconto). Poderia ser uma sacola da Benetton, que assim como a Sisley está presente no shopping onde fica o cinema (onde tem uma Benetton tem uma Sisley e vice-versa). Mas a sacola da Sisley é preta e discreta, ao contrário da verde transparente da casa-madre, que é reveladora demais.

Ontem levamos de casa Pringle’s, coca-cola e suco de maçã e banana quando fomos ver L’Amore è Eterno Finché Dura (filme muito fraquinho).

Eu me sinto poderosíssima boicotando a pipoca murcha e superfaturada do Warner Village Cinema :)

Postado por leticia em 08:52

25.02.04

As fotos que fizemos no caminho entre Nocera Umbra e Colfiorito, na vã esperança de chegar a Sellano. A primeira foto é a tal “estrada branca” que o carteiro nos mandou seguir. A segunda é uma panorâmica da paisagem ao redor dessa estrada. Pena que o céu tava fechado; definitivamente vou dar um pulo lá na primavera, pra correr e brincar com o Legolas, e tirar mais fotos!


Postado por leticia em 12:04

24.02.04

Os Lemmings Atacam Novamente

Onze e meia da manhã de ontem. O telefone celular interrompe meu aprazível momento de limpar carne pro Ensopadinho Show de Bola. Mirco me diz só pra descer em 5 minutos que vamos dar uma voltinha em Sellano pra fazer um preventivo (orçamento). Onde fica Sellano? Não sei, ele responde. Lavo minhas mãos e desço, ainda cheirando a alho e carne. Ele começa a repetir as instruções que o tal cliente deu: pegar a estrada na direção de Foligno (que fica no caminho pra Roma), tem uma bifurcação, a direita leva a Spoleto, a esquerda a Fano, eu perguntei a ele se era pra pegar a direção de Spoleto e ele disse que não, que era pra ir na direção de Macerata, então é pra virar à esquerda. Claro que uma orientação dada assim com tão poucos detalhes e envolvendo dois lemmings desorientados como eu e Mirco, a coisa não tinha nenhuma probabilidade de ser fácil. Dito e feito.

Chegamos à tal bifurcação e pegamos a esquerda, que levava a Nocera Umbra, Fano, Macerata. Rodamos, rodamos, e nada de placa indicando Sellano. Aliás, nenhuma placa indicando nada conhecido; essa parte da Umbria é completamente desconhecida pra nós, e até a paisagem é um pouco diferente, mais toscana, embora na verdade esteja na direção oposta à Toscana. Passamos por trás do Subasio, por trás de Spello; ville belissimas entre as colinas, tudo já meio verdejante ma non troppo. O tempo muito estranho, céu nublado, carregadíssimo. Eu só pensando nas minhas calcinhas e lençóis que deixei pendurados no varal na varanda... Se a chuva que cai hoje é a mesma de dois dias atrás, aquela que veio com o Scirocco, vento do Marrocos, e trouxe a areia do Saara com ela e deixou meia Itália debaixo dessa poeira avermelhada (na Liguria, região onde fica Genova, nevou e ventou Scirocco no mesmo dia. Resultado: neve rosa nas ruas!), eu tô ferrada!

Rodamos, rodamos, e nada. Passamos por Nocera, cidadezinha de poucas belas e velhas casas de pedra acocoradas sobre as colinas. Foi um dos epicentros do grande terremoto de 97. Dá pra ver que quase tudo caiu, foi destruído, e quase nada foi reconstruído ainda, porque, obviamente, as porcarias das igrejas têm prioridade. Enquanto isso, MUITAS famílias continuam morando em containers precários. No frio que faz ali nas montanhas, não deve ser muito agradável. Pra vocês terem uma idéia das temperaturas invernais ali, a partir de um certo ponto da subida o Mirco aponta pra uns paus muito altos, pintados de amarelo e preto, fincados a pouca distância um do outro, ao longo da estrada. Estão ali pra marcar os limites da estrada, diz ele, porque no inverno a neve cai com tanta intensidade que não dá tempo de limpar a estrada, que assim fica com um nível de neve igual ao dos campos que a rodeiam. Sem uma indicação colorida como esses paus listrados, você simplesmente não vê a estrada. Delícia, hein? Imaginou você morando num container mal aquecido, numa cidadezinha com mais ou menos cem famílias, a estrada bloqueada pela neve por dias e dias... Enquanto isso, a igreja da cidade, e as das cidades turí$tica$ em torno, estão todas sendo reformadas desde 97, comendo dinheiro público com uma vontade impressionante. Mas deixa eu mudar de assunto, senão me vem aquela vontade que eu tenho de vez em quando, de sair chutando frades na rua.

No final das contas demos a volta na colina onde fica Nocera. Chegamos ao miolo de uma minicidade (paesino, em italiano). Hora do almoço, ninguém na rua. Vimos um carteiro parado num stop (cruzamento), olhando pra fora da janela do carro pra ver se vinha alguém da outra direção. Encostamos e perguntamos onde fica Sellano. Iiiiiih! Vocês erraram MUITO a estrada! Sellano fica logo atrás de Foligno, agora o jeito é voltar (tinha sido mais de meia hora de estrada desde a primeira saída pra Foligno) ou então continuar e terminar de dar a volta, mas vai levar mais de meia hora... Vocês pegam a estrada branca (hein?), depois vão ver as placas pra Colfiorito (encurtamento de Colle Fiorito, ou Colina Florida, região famosa pela boa qualidade de seus produtos laticínios), a estrada vira asfaltada, depois vem Casenove, logo depois vem Sellano.

E lá vamos nós pela tal estrada branca, que nada mais é do que uma estrada de mão única, de pedrinhas que deixaram o carro branco de poeira, serpenteando entre colinas verdes, plantadas, LINDAS, mas sem NENHUMAAAAA casa ao redor, nem uma vaca, um carneiro, uma pessoa, um cachorro, nada. Um vento forte soprando, as nuvens negras passeando lá em cima, aquela paisagem deslumbrante, o momento inoportuno – hora do almoço é sempre inoportuna pra qualquer coisa que não seja almoçar. Não resisti e desci do carro pra tirar umas fotos (que agora não tô com saco de editar). E, claro, fiquei com as botas todas brancas de lama... ;)

Circundamos um cemitério, e logo atrás dele começou o asfalto. Chegamos a um outro cruzamento, e nada de placa. Decidimos virar à direita, e fortunadamente chegamos a um outro paesino onde vimos placas indicando Colfiorito. Assim só pra constar, pedimos informação a uma camponesa maltratada pelas intempéries, que passava na rua. Iiiiiiih, não vai por Colfiorito não, é muito mais longe! Mais fácil descer tudo de novo e seguir até atrás de Foligno.

Tá.

Descemos tudo de novo, mudamos a direção no cruzamento, vamos na direção de Foligno. Continuamos nessa maluquice, estradas desertas e cheias de curvas absurdas, em meio a colinas cor de laranja. A essa altura já estávamos morrendo de fome; eu não tinha tomado café e já estava me sentindo verde. O cliente liga pro Mirco; mas onde é que vocês foram parar, meudeus? Mirco diz onde estamos (passando em frente a Ascolano, paesino com 6 casas – eu contei), ele diz que estamos na direção certa. Desconfiamos, mas seguimos em frente.

Depois de MUITO rodar, chegamos. Descemos uma ladeira atrás do açougue e damos de cara com o reboque de um caminhão, todo meio enferrujado, que é o tal negócio que o Mirco vai ter que dar jato de areia e pintar (ele não, o pai, já falei que o Mirco odeia caminhão e só pinta máquinas industriais). Vinte minutos analisando o bicho, tirando fotografias, explicando coisas. O orçamento final vai ser dado por telefone hoje à noite. E a nós resta arrumar um lugar pra comer.

Esse é um mapa meio pobrinho da Umbria que arrumei não lembro onde e já usei aqui antes. O trajeto em vermelho é o que deveríamos ter feito. O outro, em cor teal, é o que nós, bestas quadradas, fizemos.


Vinte minutos depois, estamos na altura de Foligno, e ainda de estômago vazio, porque em cidadezinhas de 6 casas não há restaurantes. Resolvemos continuar até Collestrada e parar pra comer no Autogrill do Ipercoop. A essa altura do campeonato eu já tava tonta mesmo, com as pernas tremendo de fome – pombas, já eram três da tarde! Comi um risoto de linguiça e ervilha, e depois uma bisteca de vitela e batatas no forno. Ainda ganhamos de brinde uma mini-garrafa de Valpolicella, que é um vinho do qual não gosto muito, mas de graça...

Continuamos até Perugia, pra pegar a haste de um limpador de farol de um caminhão Scania que há dias está só ocupando espaço na oficina. Voltamos tudo de novo até S. Maria pra pegar o tripé da máquina fotográfica da irmã de um amigo do Mirco; caiu um parafuso e ninguém consegue consertar. Última parada: Petrignano, pra pegar a lista de códigos de peças que o Mirco pinta pra Umbrapackaging. Estou eu sentadinha no carro, no sol, quando o Mirco bate no vidro. Dá pra você vir dar uma olhada aqui num funcionário que cortou o dedo? Lá vou eu olhar. Entro no banheiro onde ele está sem nem perceber que era o banheiro masculino (e mesmo que tivesse percebido, não teria feito a menor diferença, acho). O cara tá lá com um discreto corte em V no indicador esquerdo. Meio fundinho; se a mão estivesse limpa eu até daria um pontinho, se houvesse material de sutura na caixa de primeiros-socorros, mas num dedo cheio de graxa daquele jeito deixei quieto. Bota o dedo pro alto, meu senhor, mais alto que o coração, até parar de sangrar. Depois a gente bota um band-aid e pronto.

Depois que o Mirco me deixou em casa fiquei pensando: putz, não lembro mais NADA de medicina de emergência! Apaguei tudo da minha cabeça, não ficou nada!

Não sei se fico triste ou contente.

p.s.: Minhas calcinhas não saíram voando, apesar do vento forte, nem tomaram chuva vermelha.

Postado por leticia em 18:41

22.02.04

Complete as lacunas: Roma é T_D_ na V_D_

A jornada romana de ontem tinha dois objetivos: um era pegar uns sapatos que uma tia da FeRnanda trouxe do Brasil porque na mala dela não tinha mais espaço, e comprar ingredientes brasileiros na Castroni. O outro era fazer uma social básica com essa tia. Então.

Acordei cedo ontem pra lavar meu cabelo e dar tempo da juba secar antes de sair de casa (coisa que, obviamente, não se realizou. Meno male que a temperatura estava ótima e em certos momentos cheguei a morrer de calor). Encontrei FeRnanda e Fabião na movimentadérrima (cof cof) estação de trem de Bastia e pegamos o trem de pobre* das 8:44, com longa troca de trens em Foligno. Chegamos a Roma, que aliás é tudo na vida, quase meio-dia e fomos direto almoçar no McDonald’s da estação. Eu e Fabião encaramos um novo sanduíche de dimensões avantajadas. O meu está em processo de digestão até agora.

Metrô até Laurentina, uma viagem curta de ônibus e chegamos à casa dessa tia da FeRnanda que mora há 28 anos em Roma. Ficamos lá de bobeira batendo papo, meio em italiano, meio em português, com o simpático marido romano dessa tia; depois descemos ao apartamento de baixo, onde mora a filha mais velha deles com o marido, vimos a casa, vimos fotos da lua-de-mel nas Maldivas, vimos alguns mapas e posters de Tolkien na parede (quem disse que TODO italiano é Tolkien-clueless?), missão cumprida, fomos embora.

Aí começou a segunda parte da epopéia. Porque o Mirco não pôde vir com a gente de manhã por causa do trabalho, mas cismou que queria ir lá ver a Castroni e nos buscar. Só que o Mirco, além de ser caipira pouco acostumado a cidades grandes (caipira cidadão do mundo, mas caipira), tem um senso de orientação tão bom quanto o de um lemming. Eu e os outros dois ficamos rodando na estação uma meia hora e de vez em quando o lanterneiro ligava pra dar sua localização. “Não tenho a menor idéia de onde estou, só sei que o trânsito tá todo parado”. Como ele não sabia onde estava e nem se estava indo na direção certa, ou seja, não sabíamos quando ou se ele chegaria até nós, nós três resolvemos nos adiantar e pegar o metrô até a Ottaviano e ir andando até a Castroni. Começamos a fazer nossas comprinhas, começo a ligar pro Mirco pra saber onde ele estava, e o telefone desligado ou “inachável”. Deve estar no metrô, pensei. Dito e feito: terminadas nossas compras, já andando na direção do metrô pra voltar, já que o menino não dava notícias, liga ele: eu tô em frente à Castroni... Eu: mas na Via Cola di Rienzo? Ele: na Via Ottaviano. Eu: então pede pra alguém te explicar onde é a filial da Cola di Rienzo, a gente te espera lá na frente. Voltamos tudo de novo, carregando nossas sacolas cheias de guaraná Antarctica, pão de queijo, leite condensado e goiabada. Daqui a pouco chega ele, ligeiramente estressado por ter pego o caminho errado assim umas 296 vezes e ter levado mais de uma hora do Grande Raccordo Anulare, anel estradal que circunda Roma e que é meio difícil de entender, até o centro da cidade. Claro que chegou morrendo de fome; ele está sempre com fome. Resolvemos parar na primeira pizzaria no caminho pro metrô. Nossos homens saciados, continuamos até o metrô, descemos em Vittorio Emanuele, achamos o carro e partimos. Achamos o carro não é uma frase inocente: pra achar o carro foi preciso que o Mirco tivesse tirado fotografias da estação de metrô e do exato lugar onde o deixou, porque eu e ele somos mestres em perder o carro em estacionamentos.

Olha eu e os pombinhos na saída do metrô:

(e não reparem nos meus olhos fechados; eu sou a pessoa menos fotogênica do mundo e SEMPRE saio com essa cara de peixe morto)


Felizmente não pegamos trânsito, embora até agora não saibamos por quê. A viagem foi light, a estrada tava vazia, Mirco e Fabião trocando histórias de escolas e professores às gargalhadas (eles não têm a mesma idade mas estudaram na mesma escola técnica), eu e FeRnanda morgadas de cansaço. Foi chegar em casa, tomar banho pra tirar aquele fedor de trem, comer o resto requentado de linguine com frutos do mar de sexta, e mimir.

A única coisa chata foi não ter dado pra encontrar a Ane, que tava enrolada e não conseguiu se liberar... Bom, fica pra próxima. Significa fazer o sacrifício de voltar à cidade que é tudo na vida.

*Os trens italianos são divididos em diversas categorias. Há os trens de rico, que custam mais, param em menos estações, são mais limpos, têm lugares numerados e sempre atrasam. São o Eurostar e o Intercity. E há os trens de pobre, que custam menos, param em tudo que é cidadezinha, fedem, se a linha for muito movimentada você corre o risco de viajar sentado na sua mala no corredor, e sempre atrasam. Esses de pobre são vários: o Diretto, que como o próprio nome diz, NÃO vai direto a lugar nenhum, mas pára em qualquer mini-micro-estação; tem os Regionali e os Interregionali, cuja diferença não sei explicar. Algumas regiões têm, além dessa enorme variedade da Trenitalia (Ferrovie dello Stato), umas linhas internas estranhas. Aqui na Umbria temos a Ferrovia Centrale Umbria, com trens caindo aos pedaços, que liga Ponte San Giovanni a buracos como Città della Pieve, Umbertide, algumas cidadezinhas na zona do Lago Trasimeno, quase na Toscana.

Postado por leticia em 10:07

20.02.04

Querem receita fácil e gostosa? Então toma.

Postado por leticia em 12:34

19.02.04

Fomos ver Cold Mountain ontem. A paisagem é linda (parece que o filme foi rodado na Romênia, corrijam-me se estiver errada), a Nicole Kidman é linda, o Jude Ló é um pão-de-law, as cenas de guerra são bem feitas, embora eu só goste mesmo de cenas de guerra se forem pré-pólvera... Eu achei só dois problemas no filme:

1) Muitas coisas não fazem sentido, muitos diálogos parecem incompletos ou dão a impressão de serem continuações de outras conversas que nós, espectadores, não ouvimos. Deve ser um caso clássico de adaptação tabajara pro cinema de um ótimo livro. Ou vai ver que o livro era uma bosta mesmo e não havia muito o que fazer pra remediar.
2) Tem a Renée Zellweger no filme. ALGUÉM MANDA ESSA MULHER PARAR DE FAZER BICO, PELAMORDEDEUSSSSSSSSSSSSS E estou pensando em criar uma campanha internetal: doe 1 dólar pra financiar a bochechotomia da Renée Zellweger!

Postado por leticia em 10:08

Eu não sei vocês, mas eu tenho uma idéia bem precisa de quais frutas são sucáveis e quais não são. Lembro da primeira vez que vi um “tijolinho” de suco de pêra aqui na Itália. Fiquei pensando, putz grila, tanta fruta boa pra fazer suco e esse povo faz suco de PÊRA?

Com o tempo, a coisa foi piorando: fui vendo suco de maçã, de frutinhas silvestres, de DAMASCO... Damasco? Como assim, suco de damasco? Ah, a falta que faz um maracujá... Eu não gosto de suco de uva, mas pelo menos é uma coisa que eu considero normal. Aqui não tem suco de uva. Mas tem suco de kiwi com maçã verde. (...)

O pior é que muitas vezes me encontro em situações onde só há esses suquinhos estranhos. Depois da doação de sangue fiz o lanchinho clássico: pão com presunto, chocolate quente. Tava doida por um suquinho, mas pergunta se tinha uma coisa simples, tipo suco de laranja ou abacaxi? Não. Só damasco, pêssego e pêra. Pra mim são frutas pra comer, não pra beber.

Bom, pelo menos eles não tomam limonada. Porque limão amarelo já me dá nos nervos só de sentir o cheiro, mas numa limonada eu não aguentaria.

Em compensação, me habituei a algumas combinações frutíferas muito felizes: o já aqui citado maçã com banana, e o famoso ACE (pronuncia atche; tem vitaminas A, C e E), de laranja, cenoura e limão. Mais tarde chegou o ACE rosso, com suco de laranjas vermelhas da Sicilia. O suco tem uma cor linda, além de ser delicioso.

E ultimamente ando vendo algumas coisas gostosas combinando maracujá e pêssego: bebida láctea, mousse diet... O maracujá passa beeeeem longe, é verdade, mas só de ver o desenhinho dele no rótulo eu já fico feliz, mesmo que o sabor seja mais imaginado do que real.

**

Tô falando isso porque ontem comprei umas uvas chilenas sem caroço e lembrei das uvas vermelhas que eu comia espremendo a bichinha na boca e engolindo todo o interior, com semente e tudo. E lembrei do suco de uva que minha avó fazia pras minhas primas, porque eu gosto da uva mas não do suco (mas do vinho sim hehehe). Eu não sou muito frutofílica. Como praticamente uma banana por dia, embora a banana daqui seja uma merda (boto mel por cima pra disfarçar). Muito raramente uma clementina, mini-tangerina sem caroço. De vez em quando, uns morangos. Mais do que isso, não rola, não gosto mesmo, até porque não gosto de doce que não seja chocolate, e como frutas são doces...

Eu não sei quem inventou a uva sem caroço, mas gostaria de dar-lhe meus parabéns. Acho que um dos motivos que me levam a desprezar as frutas é sua complicação pra comer. Não me importo de cozinhar uma coisa complicadíssima, cheia de etapas e truques. Mas não me venham dar coisas complicadas pra comer, que eu não tenho saco. Prefiro um sanduíche.

Peixe com espinha? Tô fora. Bicho assado? Como o peito, que não precisa desossar. Fruta tem que descascar, tirar semente... Um saco! Eu gosto de sentar e começar a comer; se tiver que ficar catando espinhinha eu já perco todo o tesão pela coisa. Por isso as uvas sem semente estão entre as coisas mais lindas já inventadas no mundo. Ontem comi dúzias. E hoje fiz uma limonada verdadeira, de limão verde azedo cheiroso gostoso, depois do café da manhã. Sinto que há uma patrulha virótica rondando aqui em casa, só esperando um momento de stress pra atacar, e nada como uma limonada pra contra-atacar. Porque, vocês sabem, eu ODEIO ficar doente.

**

Falando em limão...

Postado por leticia em 09:46

18.02.04

Piccole cosette...

Um dos grandes prazeres da vida é dirigir comendo o pão careca fresquinho que você acabou de comprar na padaria, deveria levar pra casa mas não resistiu e vai papando aos pouquinhos, pedaço por pedaço...

Postado por leticia em 12:02

giornata IKEA

E acabei não comentando nossa incursão à IKEA, um dos nossos programas preferidos. Claro que nos perdemos no caminho e viramos à direita quando era pra virar à esquerda, mas considerando o nosso senso de orientação (menor ou igual a zero), até que a volta que tivemos que dar foi pequena.

Chegando lá, a cabeçada de sempre. Um mundo de gente que não tinha coisa melhor a fazer com o sábado à tarde e foi bater perna na IKEA. Aquele sotaque toscano delicioso vindo de todos os lados, o T com a língua pra fora típico do pessoal de Prato (que eles pronunciam Pratho), alguns peruginos comedores de vogais. Não vimos grandes diferenças em relação ao que estava exposto na primeira vez que fomos lá, ano passado. Notamos que nosso espetacular mix de cachorro de parede e gancho pra roupas não estava mais à venda. Em compensação havia minibichos de pelucia foférrimos a 1 euro, porta-lápis bonitinhos, belas coisas pra cozinha, formas pra muffin (que vou usar pra fazer petit gateaux), cadeiras de plástico pra oficina a € 9,90, tapetinhos pro quarto por € 1,90, entre outras coisitchas. Não tem jeito; você pode estar super bem-intencionado, pegar uma sacola crente que todas as suas compras vão caber felizes nela, mas no final das contas você acaba comprando um mucchio de coisas e tem que ceder aos encantos do carrinho. No final da tarde, tínhamos um carrinho por pessoa (a Arianna e a tia do Mirco foram com a gente). Sorte que a mala do carro é gigante, senão um dos quatro teria que voltar pra casa de trem... ;)

**

E segunda-feira jantamos chinês com FeRnanda e Fabião. O aniversário da FeRnanda é agora dia 2 de março, e combinamos de fazer uma mini-festa aqui em casa, já que nosso apartamento é maior e eu tenho uma cozinha mais equipada (a FeRnanda não cozinha). O cardápio: coxinha de galinha, pão de queijo, guaraná, quiche de couve-flor ou empadão de frango ou torta de cebola (não decidimos ainda), bolo Prestígio. De qualquer maneira estamos organizando uma excursão à Castroni, em Roma, pra abastecer as nossas dispensas tupiniquins. A FeRnanda tem mesmo que ir à capital pra pegar uns sapatos que deixou com os primos que moram lá, então vamos matar dois coelhos com uma porrada só.

Mãe, pede a receita do bolo Prestígio pra vovó, por favor, que eu não tenho! E a do quiche também, que ela já me deu 300 vezes mas eu perco SEMPRE...

Postado por leticia em 09:12

Há um ditado italiano que diz que “il mondo è bello perché è diverso”. Realmente são as diferenças entre as pessoas que fazem a vida ser tão interessante. Mas tem vezes que isso tudo enche o saco e eu me pego suspirando, sonhando com vidas padronizadas como descrito em 1984 ou em Brave New World, que ainda estou terminando. Quando vejo a imbecilidade e a cegueira das pessoas tenho que admitir que um mundo onde todo mundo pensasse igual e vivesse anestesiado crente que está feliz seria muito mais fácil de se lidar.

Tô falando isso por conta desse bafafá do Blogger Brasil. Foi uma sacanagem sim o que eles fizeram, cortando acessos sem avisar nada. E a justificativa ridícula que deram não colou, nem por um minuto. Mas putz grila, gente, um blog é só um blog! Ninguém vai morrer se ficar sem blogar, ou se ficar sem ler um blog! Aliás, vendo a quantidade de besteira que neguinho bota na rede sem nem se dar ao trabalho de corrigir gramaticalmente antes de publicar, eu acho que foi é ótimo ter sumido esse bando de blog mesmo. Quem gostava mesmo da coisa e escrevia bem, ou pelo menos escrevia coisas interessantes, vai acabar simplesmente mudando de endereço mas continuando a escrever. Quanto aos blogs cheios de coisas piscantes, palavras despropositadamente em itálico e negrito no meio das frases, erros de Português lamentáveis, espero realmente que desapareçam no limbo internético e nunca mais voltem.

Solidária com o problema, que não me afetava diretamente porque, além de ter meu blog no blogspot, não sou boba e tenho backup de tudo, desde o primeiro post, traduzi o texto do manifesto que iríamos publicar em Inglês e Italiano. E inscrevi-me na lista que a Luciana Misura organizou pra manter o movimento organizado. Mas, caralho, exclamou a princesinha. Como neguinho é desprovido de objetividade! Como neguinho é tapado! Como neguinho tem prioridades erradas! Como neguinho pega o bonde andando E NÃO PERCEBE!!! E' impressionante a absoluta incapacidade que a maioria do rebanho tem de ler nas entrelinhas, de associar idéias, de extrapolar. Putz grila!

Tenho paciência pra isso não. Saí da lista. Não posso continuar participando de uma lista através da qual recebo 60 emails por dia, a maioria do tipo “é mesmo!!!!! Bjos!!!!!!”, outros super agressivos e mal-educados, atacando gente que não tem pissurucas a ver com a história. Ora, façam-me o favor. Depois o tráfico na rede fica lento e neguinho reclama. Se as pessoas usassem os benefícios da vida moderna pra se divertir, pra coisas úteis, pra aprender e/ou ensinar, em vez de encher o saco dos outros ou passar certificado de bocó, o mundo seria um lugar muito melhor pra se viver.

Coitada da Luciana, que criou o raio da lista e agora vai ter que embalar o Mateus que pariu.

Postado por leticia em 08:55

17.02.04

Vejam que cachorro ativo e dinamico que eu tenho...

Postado por leticia em 13:32

16.02.04

Srbija

Há muito tempo eu vejo rituais com olhos distantes, antropológicos. Vejo velhas tradições com um interesse curioso, e não sem uma certa compaixão. Entendo a necessidade de marcar a importância de certas coisas com rituais, festinhas, símbolos, palavras especiais. Mas não consigo fazer parte disso, não consigo me imaginar participando ativamente de uma coisa dessas. Consigo entender a importância de uma coisa, de um ato, de uma data, sem necessidade desses “bookmarks” culturais. Não preciso de um padre fingindo que bebe o sangue de Cristo pra me lembrar que a gente tem que tentar ser legal com os vizinhos. Nem de usar calcinha vermelha no Ano-Novo, como se faz aqui na Itália, pra atrair boa sorte. Vejam que não tô falando só dos rituais religiosos. E olha que pra mim religião é uma das coisas mais idiotas que existem no mundo, embora eu entenda seu valor como educador, no passado (hoje virou manipulador de massas, mas deixemos pra lá). Não sei, talvez eu esteja ficando mentalmente velha, mas cada vez mais acho esse tipo de coisa típico de gente ignorante e portadora daquele célebre problema já citado aqui no paca: olhar e não ver.

Isso tudo como preâmbulo pro Natal na Sérvia. Eles são ortodoxos, religião da qual eu nunca soube nada (e continuo sabendo muito pouco, e honestamente querendo saber menos ainda).

O Natal deles é comemorado no dia 7 de janeiro. Na véspera os homens vão ao bosque cortar galhos de carvalho. Diz-se que quem acha o galho mais “folhudo” terá mais riqueza, abundância e filhos em casa. Curioso, interessante, né? Mas não dá pra deixar de ter pena desses homens que vão pro bosque coberto de neve, num frio do cacete, armados (porque eles derrubam os galhos com tiros de espingarda), bêbados, e voltam pra casa exaustos, comem carne de porco até morrer e vão dormir. No final das contas acaba sendo somente uma tradição besta, patética e sem sentido.

Esses da foto ai em cima são o Mika, irmão do garoto que trabalha na oficina do Mirco, e o Ivan, cunhado dele.

Estão vendo s lápide preta à esquerda do Mika? Há um cemitério muito antigo no meio do bosque. Segundo o Mika, é completamente abandonado, e volta e meia um cachorro de caça ou um javali esfomeado desenterra a mão ou o pé de um cadáver. Não há cercas nem muros, nem ninguém tomando conta, assim como o pequeno cemitério de Majilovac. As lápides negras são bonitas, mas dão um ar incrivelmente lúgubre ao lugar, ainda mais assim, brotando do meio da neve. Na manhã de Natal fomos levar velinhas ao cemitério.

Mika e Jelena, antes de acendê-las, beijam as fotos dos antepassados enterrados ali. As fotos são todas iguais: as mulheres de lenço na cabeça e os homens de bigodão. Todos sérios, austeros. Jelena beija inclusive as fotos dos antepassados do Mika, gente que ela não chegou a conhecer (aliás, nem ele), mas que através do matrimônio passou a ser sua família também.


Outra tradição deles é fazer a ceia de Natal sobre uma camada de palha no chão, pra relembrar a origem humilde de Jesus. À parte o fato de que eu não acredito em Jesus, qual é o sentido disso? Você relembra a Sua origem humilde, e depois? Se no resto do ano você não come em cima da palha, isso significa que nos outros 364 dias do ano você nem pensa nele e não se comporta como cristão? O fato de você comer sobre a palha no Natal te transforma numa pessoa melhor? Eu acho que não. Acho que comer sobre a palha dá só coceira na bunda, e basta.

Na casa onde nos hospedamos eles não comem sobre a palha, mas o homem da família sai pra buscar sacos de palha que depois serão depositados sob a mesa de jantar. Antes de entrar em casa com a palha ele bate na porta três vezes. A esposa abre, ele entra, recita umas coisas às quais a mulher responde:
- Jesus nasceu.
- Sim, Jesus nasceu.
- Todo o mundo está sereno, e chove. [não esquecer o simbolismo camponês dessa frase: se não chove, não há colheita.]

Pronto: palha debaixo da mesa, a mulher-escrava bota a mesa e começa o jantar.

Durante o dia as mulheres-escravas, nesse caso a famosa avó que não descobrimos onde dormia, assam vários tipos de pão. Na verdade é uma massa única, mas os pães têm formatos diversos: de bichos, de plantas, de coração, etc. Antes de começar a comer beija-se e acende-se uma vela, que fica num castiçal cafona no meio da mesa. O patriarca da família, nesse caso o pai do Momo, diz uma prece, corta um pedaço de cada pão e o molha no vinho. Cada um da mesa come um pedaço de pão com vinho (horrível). O patriarca acente uma velha lanterna com umas pedrinhas de incenso, reza de novo, benediz a família, estende o braço, sua mulher-escrava vem correndo recolher o queimador de incenso, e antes mesmo que ela volte à mesa ele dá ordem de começar a comer.

Assim como na tradição clássica cristã (eu acho), não se come carne no Natal, mas peixe. O jantar começa com uma deliciosa sopa de frutos do mar muito bem temperada. Depois vem o arroz com aipo (unidos venceremos mas gostoso), salada de feijão branco com cebola e salsinha, peixe frito (horrívellllllllll... peixe de lago, todo escamoso e ossudo parecendo um fóssil) e os famosos e odiosos pepinos/pimentões/cenouras em conserva.

Depois do jantar, os pratos devem ficar na mesa até o dia seguinte, esperando o nascimento de Cristo. Resisti à tentaçao de perguntar como assim, Bial?.

Dorme-se cedo porque no dia seguinte o almoço tem que ser antes do meio-dia, sabe-se lá por quê. Antes do almoço rola o mesmo ritual da ceia, com o incenso, as preces, etc.

Tem um detalhe a mais: assa-se (leia-se a mulher-escrava assa) uma polenta redonda, já marcada em pedaços pra cortar, como uma pizza. Os pedaços são distribuidos a partir do mais jovem sentado à mesa, e cada pedaço tem uma coisa dentro, simbolizando coisas diferentes: o Mirco e o Mika acharam moedas, simbolizando dinheiro, é claro; eu, um pedacinho de madeira, simbolizando casa; Jelena um raminho de planta, simbolizando uma boa colheita; Zorika uma semente de abóbora, que segundo ela não significa nada.

Vem a sopa de legumes, sempre deliciosa. Depois o patriarca pega um pãozão com formato de panetone, com um raminho de flores secas espetado no alto.

Ele corta o pão pela metade, mas sem separar as partes. Rega o pão com vinho.

Depois ele e o outro homem da casa, o Momo, separam as metades; diz-se que comandará a família durante o ano aquele cuja metade ficar com as folhas secas. Unem-se as metades de novo e gira-se o pão três vezes; a cada giro faz-se o sinal da cruz e cada um dos homems beija as duas metades.

Continua a comilança: trouxinhas de repolho com carne moída defumada e arroz (de-li-ci-o-sas, comi até morrer), carne de porco e carneiro (claro), peru defumado com molho de cogumelos (delícia!), pickles, beterraba (eca eca eca eca), a salada de feijão da noite anterior. Milhões de brindes, um a cada cinco minutos e meio, em média. E o tempo todo aquela maldita música de festa junina tocando no rádio.

Mas então: eu acho tudo isso incrivelmente primitivo. Não tive vontade de rir, e mesmo que tivesse não teria rido porque seria falta de respeito, e apesar de achar tudo muito ridículo, respeito a seriedade com a qual eles participam de tudo isso. Mas acho primitivo mesmo, coisa de homem das cavernas que pinta o boi na parede achando que isso vai ajudá-lo a caçar o boi na pradaria. Sei lá, acho muito mais válido ficar quieto, não ficar girando e beijando pão, e tentar se comportar bem durante o ano inteiro do que fazer toda essa papagaiada só nas ocasiões especiais e ser desonesto ou chato de galochas, como foi nosso anfitrião-empurrador-de-comidas nessa viagem.

Claro que o fato de alguém participar de rituais ou ser religioso não significa automaticamente que ele não é boa pessoa no resto do ano. Mas sabe aquela história do cão que ladra e não morde? Sempre achei que quem anuncia demais, prega demais, catequisa demais, no final das contas fica cego pras próprias chatices. Fora o tempo que se perde com esses simbolismos, tempo esse que poderia ser melhor empregado em coisas mais úteis. Repito que não há um só livro nessa casa, e nem no apartamento deles aqui na Itália. A meu ver, isso é MUITO assustador.

Postado por leticia em 08:59

Vem cá... Somos só eu e o Mirco que achamos a Angelina Jolie FEIA? Com aquela boca deformada?

**

O que merece um arquiteto que planeja o banheiro feminino de um multi-sala num movimentado centro commerciale sem UM ÚNICO gancho pra bolsas, casacos, cachecóis e eventuais sacolas de compras? Acertou quem disse um dedo no olho.

Postado por leticia em 08:39

13.02.04

Minha maquininha de fazer macarrão fez sua estréia triunfal ontem à noite. Convidamos FeRnanda e Fabiao pra jantar; fizemos pão de queijo e tagliatelle com molho de aspargos.

Não é difícil fazer a massa do macarrão. A minha pasta ficou ótima, mas senti que ficou faltando alguma coisa que não consigo descobrir o que é. Assim que remediar esse pequeno detalhe boto receita, dicas e fotos online.

**

Mirco está planejando dar um pulo à IKEA de Firenze nesse fim de semana. Êeeee! :)

Postado por leticia em 07:50

12.02.04

Última manhã de arrumação na loja do Fabrizio o Louco. Não fizemos nada além de botar Baygon em pó nos cantos e remarcar preços. Tudo aumentou, porque no ano passado a chuva foi pouca e caiu a produção de azeite, tartufos, cogumelos, vinhos. Fabrizio desesperado porque alguns produtos tiveram aumentos de até 5 euros! Né nada, né nada, 20 euros por um vidrinho minúsculo de tartufo em fatias finas é coisa de doido. Até o macarrão “artesanal” (cof cof) que ele vende subiu pra caramba, por causa da queda na produção de trigo. Um pacote de meio quilo de pappardelle all’uovo, que no supermercado compro rigorosamente igual por menos de um euro, ele vende por € 3,90. Quero ver arrumar cliente pra comprar.

**

Nas ruas, praticamente ninguém, apesar do dia lindíssimo. As ruas pertencem aos japoneses. Só eles têm vontade e saco de fazer turismo nessa época do ano, quando hotéis e lojas estão fechados. Desfilam em imensos grupos pra lá e pra cá, as mulheres de meia-calça colorida cobrindo pernas invariavelmente tortas e se equilibrando (mal) em saltos completamente inadequados a longas jornadas de passeios a pé, caminhando com os famosos micropassinhos saltitantes japoneses, algumas de maria-chiquinha, outras com cabelos de cores muito estranhas; todas com bolsas Burberry ou de alguma grife italiana, que só elas têm dinheiro pra comprar. Os homens de cabelo estilo capacete, muitos de cabelos tingidos de louro ou ruivo, a maioria com ralos bigodinhos adolescentes cultivados com cuidado. Todos, homens e mulheres, sempre rindo muito, entendendo pouco e tirando fotografias com o celular. Olhando pra eles, coloridíssimos contra o céu azul, parece até que estamos no verão, no auge da estação turística – a única diferença é que agora eles não desfilam carregados de sacolas de compras, porque as lojas só abrem lá pra março.

Voltamos pra casa na velha Twingo vermelha do Fabrizio, que ele dirige sempre em terceira marcha e a 50 por hora, mesmo nas estradonas vazias ladeadas de agriturismos que comunicam Assis a outras cidadezinhas como a nossa. Repete trinta vezes a mesma coisa, e me diz constantemente que tenho que rezar a Deus pra nos mandar turistas porque senão a loja fecha. Ahan...

Acho engraçado essa mania de catequese que só os religiosos têm. Acho religião um assunto quase tão pessoal quanto sua vida sexual ou convicções políticas. Se ninguém te perguntou, não tem por que tocar no assunto – ainda mais quando você sabe que o seu interlocutor tem idéias COMPLETAMENTE diferentes da sua. Mas não! Normalmente o que sobra em fé falta em bom senso, e eu sou obrigada a ficar ouvindo essas coisas, e sou tratada como aborígene porque não creio em nada. Vai ver que vencer pelo cansaço é uma técnica de caça dos católicos praticantes, quem sabe...

**

Mirco não vem almoçar hoje. Aproveito pra comer feijão com arroz. Já resolvi que hoje à tarde não saio de casa nem por um decreto. Vou só ali no Fabrizio, do outro lado da estrada, pegar meu dinheiro por esses 4 dias de trabalho, e basta. Vou ficar em casa, fazer faxina, ler meu livrinho e o jornal, terminar de botar em ordem essas bostas de faturas. Amanhã é dia de rodar por aí resolvendo coisas, então hoje compenso não saindo da toca.

Postado por leticia em 13:40

11.02.04

wishlist

Quero o Raoul Bova de presente de aniversario...

Postado por leticia em 17:24

assassina, mas limpinha

Sim, eu sou o tipo que extermina insetos por afogamento em DDT. Incapaz de chineladas, eu sou.

Postado por leticia em 17:23

Ah, a viagem ao Rio

Ah, a viagem ao Rio em abril não vai rolar. Culpa da burocracia. Nem vou contar os detalhes. Já estou suficientemente irritada, e tocar nesse assunto de novo vai me dar vontade de sair batendo em pessoas na rua. Não bom.

Postado por leticia em 16:58

Desde segunda-feira eu e as meninas (Carmen e Claudia) passamos as manhãs na loja do Fabrizio o Louco, limpando e arrumando a loja pra reabertura no dia 26 de fevereiro. Só que, além do maluco do Fabrizio, a furiosa mulher dele, Rossella, também vem trabalhar. Eles são duas das pessoas mais grezze – toscas – que eu já conheci na minha vida. Gritam o tempo todo, brigam sem parar, xingam, maledizem, bestemmiano. Rossella é a cara da irmã malvada de um dos personagens de South Park que agora não lembro quem é – aquela garota feia de aparelho fixo, toda atarracada. Ela fuma feito uma chaminé, tem um sotaque perugino hor-ro-ro-so, e passa metade do seu tempo falando mal do Fabrizio e da sogra, e a outra metada enaltecendo o monstruoso filho Saverio, que aliás é um capítulo à parte em termos de falta de educação.

Se o Fabrizio já é chato, estressado e estressante nas CNTP, imaginem com uma mulher dominadora feito a Rossella. Tudo o que ele faz a irrita, e vice-versa. As paranóias dele deixam qualquer um maluco, mas ela já o atura há tantos anos que o saco já encheu, e ao primeiro sinal de maluquice ela liga o berrador e não pára mais. Hoje, depois que o Fabrizio pediu a nós pra varrer a loja pela enésima vez – coisa inútil, já que ainda estávamos tirando a poeira das prateleiras e jogando papel absorvente empoeirado no chão – a Rossella simplesmente começou a bestemmiare feito um marinheiro:
- Mavvafanculo tu e quella troia della tu’ mamma che ti ha parturito! Porca puttana della maiala, sacro imperatore Giustiniano, ma che pugnetta che sei! (vão tomar no cu você e aquela piranha da tua mãe que te pariu! – o resto são xingamentos sem sentido, inventados na hora, uma coisa que sempre me faz rir muito aqui na Itália. E quanto a pugnetta, que aliás nem sei se tem dois tês, só preciso dizer que gn se pronuncia como nh, como em gnocchi, e que “sei” é a segunda pessoa do singular do verbo ser.).

Além dessas chaturas, ainda há dois agravantes: UM - tanto o Fabrizio como a mulher são ignorantões e grosseiros clássicos, e adoram discutir sua vida sexual e ginecológica com quem quiser ouvir (e com quem não quer também), o que, considerando o charme e a elegância do casal, é de dar náuseas no pobre ouvinte. DOIS - como todo bom italiano, são dois hipocondríacos. Quem me conhece, e quem lê esse blog há algum tempo, sabe que eu sou completamente fria e calculista em relação a doenças. Tenho plena consciência de que se você acreditar muito firmemente que alguma parte do seu corpo está doendo, ela vai doer de verdade. Achei que tivesse me livrado dessa maluquice curtidora de doenças quando parei de trabalhar com a Martinha, que é um amor mas todo dia tinha uma dor nova (incluindo dor no olho.), mas hoje ouvi um festival de queixas doloríficas, tanto da parte da Rossella quanto da Carmen. Uma tem dor nas costas, a outra rebate dizendo que tem vertigem. Uma diz que se não segura na prateleira cai da escada (porra, então por que não me deixou subir quando me ofereci pra ficar lá em cima passando garrafas de Barolo pra quem ficou embaixo?), a outra contra-ataca dizendo que tem “predisposição à dor óssea”. Uma reclama que não dorme bem, a outra dá um direto de esquerda afirmando que tem “ataques de afã” quando deita na cama. Caralho, exclamou a princesinha! Acabei perguntando por que as duas donzelas não tinham ido ao médico ainda, se essas coisas incomodavam tanto. Ficaram quietas e mudaram de assunto, as duas.

Têm sido manhãs cansativas. Subir e descer da escada carregando caríssimas garrafas de vinho cobertas de poeira definitivamente não é legal. Fazer isso ouvindo a Rossella dizer o quanto o filho dela é mais inteligente até do que os professores da escola é menos legal ainda – ainda mais quando eu conheço o monstrinho e sei que não só ele é ignorante como os pais, mas também é incrivelmente, mas INCRIVELMENTE mimado e mal-educado. Hoje terminamos de tirar o pó de TODAS as prateleiras, TODOS os potes de molho e garrafas de vinho e pacotes de cogumelos secos e ervas pra risoto. Amanhã só precisamos colocar no lugar os queijos e salames, e limpar o chão. Mas vou estar sozinha com o Fabrizio, que já sei que vai começar a pregação catequista pra cima de mim. Pelo menos não vai ter ninguém fumando do meu lado.

**

Ontem fui a Perugia com a Carmen buscar o laudo da ressonância magnética do joelho do Mirco. Houve ruptura de um pedacinho posterior do menisco lateral esquerdo, o que significa que terá de ser feita uma artroscopia pra remover o pedacinho, que o incomoda muito. Sexta-feira vou falar com o ortopedista dele pra marcar essa cirurgia e tentar convencê-lo a me deixar assistir.

**

Estou lendo “Sob o Sol da Toscana”, de Frances Mayes, que a FeRnanda me emprestou sexta-feira passada. Tive que começá-lo logo, antes de Huxley, porque a FeRnanda é que nem eu, ciumenta dos livros, e quer que eu o devolva logo. Aliás, tem um da Sark que eu deixei com ela pra ela treinar Inglês, e esqueci de pegar...

O livro é delicioso. A autora é americana e mora em Cortona, última cidade toscana na zona de fronteira com a Umbria, não muito longe daqui. Conta suas desventuras na casa que ela e o marido compraram ali em Cortona: as reformas, as maluquices italianas, a dificuldade de ter horários cumpridos aqui, descrições de jardins, dicas de botânica, receitas gostosas. Realmente uma delícia de livro. Pena que é traduzido, porque o Inglês da FeRnanda não é lá essas coisas. Não tem jeito: livro traduzido é uma merda até quando foi traduzido bem.

Postado por leticia em 16:53

09.02.04

Na última sexta-feira, às quatro

Na última sexta-feira, às quatro da manhã, dois rapazes perderam a vida num acidente gravíssimo a 300 metros daqui de casa, na curva sem-vergonha antes do retão onde eu moro. Um deles, o mais novo, voltava de uma noitada na discoteca, provavelmente o Country, no centro de Bastia, que às quintas-feiras promove um chatíssimo festival de música latino-americana (*vômitos incontroláveis*). Não sei se estava bêbado ou pelo menos “alegrinho”, mas estava em alta velocidade. Acabou saindo da pista e batendo de frente no carro do outro rapaz, três anos mais velho, que estava indo trabalhar – fazia o primeiro turno na fundição de Santa Maria degli Angeli, aquela em frente à casa dos pais do Mirco.

Ainda bem que o da discoteca morreu também, porque senão o pai do outro o teria matado, com certeza. E eu teria achado ótimo. Poucas coisas me deixam mais irritada do que gente que fode com a vida dos outros e sai ileso.

Postado por leticia em 14:46

08.02.04

A serata de sexta na casa da FeRnanda e do Fabio foi ótima. Rimos, vimos os zilhões de fotos do casamento, bebemos vinho, ouvimos o CD da Arca de Noé (!!!!!!). Claro que não deu tempo de botar todas as fofocas em dia; afinal, ela ficou fora 2 meses, e aconteceu muita coisa tanto na vida dela quanto na minha. Mas devagar, devagarinho a gente vai tricotando...

**

Em compensação, ontem fomos jantar na casa da família sérvia. E foi um saco. E foi toda aquela empurração de comida outra vez – pelo menos tinha as trouxinhas de repolho com carne e arroz, que eu amo, e massa folhada de queijo – e o papo chatérrimo sobre linguiça e sobre a vida na estrada (tanto o tio do Mirco quanto o chefe da família sérvia são caminhoneiros). Aproveitamos que o Mirco já tava meio bebinho depois de 2 copos de vinho e que eu tava com uma dor de cabeça lancinante e fomos embora rapidinho. Eu, hein.

**

E amanhã termino a epopéia sérvia. Tô sem saco de ajeitar as fotos...

Postado por leticia em 07:12

06.02.04

Repararam que eu mudei de

Repararam que eu mudei de e-mail? O webmail do libero não tava mais dando conta.

(não preciso dizer que basta tirar o hohoho! anti-spam que eu botei ali no endereço pra ter o e-mail certo. Dica da Newlands, porque esse não é o tipo de idéia simples e brilhante que me vem espontaneamente à cabeça.)

E agradeço ao Duduzão por ter me ajudado na escolha de um programa de e-mail, senão o email do interludio não serviria pra nada.

E agora dêem-me licença que a FeRnanda voltou do Brasil, casada e de cabelo curto, e daqui a pouco vamos à casa dela ver as fotos e tomar um vinho básico!

Postado por leticia em 19:38

Città di Dio

Vi Cidade de Deus em DVD ontem. Dublado. Mas mesmo assim, A-DO-REI! Adorei tudo, roteiro, fotografia, edição, trilha sonora. Claro que é, digamos, extremamente parecido com Traffic, das cores à instabilidade da câmera, mas não tem problema: tecnicamente o filme é bárbaro. Adorei, e fiquei muito orgulhosa. Se não tivesse toda aquela gente incrivelmente feia e suada na tela, pareceria coisa de Hollywood (ou Ólivud, como pronunciam aqui na Itália.)

Postado por leticia em 12:01

05.02.04

Maria Irrita

Então chegam os resultados dos exames de sangue que fazem quando a gente doa. E adivinhem: estou com o colesterol... baixo! Ulalá!

**

Sei que vai ter gente querendo me encher de porrada, mas eu juro que é sério: de tanto ler Maria Rita pra lá, Maria Rita pra cá, Maria Rita isso, Maria Rita aquilo, acabei baixando um monte de músicas dela. Caraca... ODIEI!!!! Não só odiei a voz dela, porque sempre achei a voz da Elis uma das coisas mais chatas já ouvidas sobre a Terra, mas também detestei a escolha das músicas, os arranjos, tudo, tudo, tudo. Apaguei todos os .mp3 correndo pra não ficar traumatizada. E voltei pro meu Offspring (Smash).

Postado por leticia em 14:08

Tenho verdadeiro horror a poesia.

Tenho verdadeiro horror a poesia. E a MPB.

**

Eu tenho os melhores leitores do mundo. Além de educados, cultos, inteligentes, engraçados, bons de Português e de garfo e amantes de cachorro, ainda me mandam presentes! Ontem chegou a caixinha da Manoela, Brasileira Legal Pacas que Mora na Alemanha e Nãaaaao Se Acha AAAA Alemã, contendo 1 Brave New World de Aldous Huxley, 1 par de meias coloridas estilo luvas para pés, 1 Bilbo de plástico originário de um ovo Kinder, sentadinho lendo um livro, e 1 carta de-li-ci-o-sa. Não é o máximo? :)

Realmente não me imagino fazendo nada profissionalmente, no futuro, além de ler, escrever e traduzir. Imaginar-me num hospital, ou, pior, num escritório, é o horror, o horror.

**

E o tempo virou de novo. A névoa de ontem parece que gostou da Umbria, e não vai mais embora. Tá um frio do cacete – frio úmido, que dói.

**

Depois de um momento de auto-irritação* ontem à noite, comi chocolate e biscoito, e hoje estou com dor de barriga. Ontem enviei currículos a escolas de línguas e escritórios de tradução aqui da área. Também faxei currículos a dois hotéis de Assis. Daqui a meia hora ligo pra saber se receberam. Fabrizio o Louco precisa de ajuda pra limpar a loja semana que vem, antes de reabrir no final do mês. Hoje tenho mil faturas chatas da oficina pra inserir no computador e um CD de música latina (AAAAAAAAAAAAAAAAH SOCORROOOOOO) pra queimar pra Garota da Calça Dourada, que aliás virou titia semana passada. Amanhã de manhã vou à Questura pegar meu permesso di soggiorno alterado com o novo endereço e o novo número de passaporte. Também tenho que fazer algumas perguntas burocráticas sobre o permesso antes de comprar minha passagem pro Rio. Tenho cartas pra botar no correio e um casaco pra buscar na lavanderia, mas hoje estou sem carro. Tô sem saco.

*Fui levar o carro na oficina, pra ajeitar o lance do embaçamento, que é causado por um vazamento de líquido do radiador pra dentro do ventilador, ou seja, o ventilador-aquecedor sopra vapor oleoso no pára-brisas, que assim fica sempre sujo. Lindo. Então; ontem passei o dia na rua com o Mirco, resolvendo coisas. Lá pras seis passamos em casa, peguei o meu carro e fomos pra fisioterapia do joelho dele. De lá partimos direto pra oficina. Só que o trânsito tava horrível; o Mirco saiu logo da vaga e foi indo na frente, mas meu carro tava mais longe, e quando liguei a seta pra sair começou a vir um rio de carros que, dirigidos por motoristas italianos, não me deixavam passar de jeito nenhum. Quando finalmente consegui sair, o Mirco já tava na oficina. Muito bem, sem problemas, a não ser o fato de que só fui a essa oficina sozinha uma vez, e obviamente de dia, e com os vidros não embaçados, e sem neblina pesada. Eu não via NADA, não sabia onde virar, os faróis dos carros em sentido contrario refletiam contra o embaçamento e me cegavam (sou fotofóbica), gente atrás de mim piscando o farol porque eu andava a 20 por hora, eu botando a cabeça pra fora do carro pra ver se via alguma coisa, mas não via nada por causa da neblina. Saí do centro da cidade e me vi na saída pra auto-estrada, na Zona Industriale, àquele momento sem movimento nenhum. Leia-se sem luz nenhuma. Sabe o que é dirigir no escuro total, fazendo um percurso com o qual você não tem nenhuma intimidade? Então. Comecei a gritar de ódio dentro do carro, PUTA QUE PARIUUUUUUUUUUUU QUE MERDA DE VIDAAAAAAAAAAAAAAAAAA QUE SENSO DE DIREÇÃO DE MERDA QUE EU TENHOOOOOOOOOOOOO BURRA NÃO SABE NEM ONDE FICA A BOSTA DA OFICINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA AAAAAAAAAAAAARGH!!!

Cheguei na oficina, depois de muita labuta e muitos gritos, num estado de irritação tão intenso que deveria ter sido estudado pela ciência. Odeio a impotência, odeio me sentir burra, odeio não saber o que fazer. Então abri o pacote de chocolatinhos alemães que tinha comprado no supermercado de pobre onde o Mirco compra luvas de borracha vagabundas pro trabalho, e comi tudo. Hoje estou morrendo de dor de barriga.

Mas vou fazer macarrão com salmão e abobrinha pro almoço, aaaah vou. Sem queijo ralado, é claro. Peixe e queijo ralado não combinam.

Postado por leticia em 10:18

04.02.04

Mais um “veranico”. Depois de uma semana gelada, o último weekend foi super light em termos de temperatura, e por enquanto o clima ainda é de inverno carioca, super tabajara. Anteontem de manhã fui aos correios, só de pullover de lã sobre a malha, e senti calor. De tarde fui correr (na verdade correr um pouco e caminhar muito, porque estou super fora de forma), de camiseta de manga curta. Como é bom poder ir à varanda pendurar as roupas no varal e voltar com as mãos inteiras, em vez de duras, congeladas e insensíveis!

Mas acho que a coisa não dura. Olhando pela janela agora cedinho só vejo um paredão branco de neblina. Merda.

Essas são as fotos do tombo do Mirco domingo, no quintal da Arianna. Foi querer brincar de cabo-de-guerra com meu cachorro e se estabacou de costas no chão. Não consegui tirar nenhuma foto dele já no chão. Estava ocupada me sbudellando (algo como “eviscerando”) de rir.


**

Anteontem fomos ao Ipercoop, o supermercadão aqui da área, pra nos distrair, e acabei comprando uma maquininha de fazer pasta, igual à da Franzoca. Comprei também o famoso rolo de macarrão, e uma tábua de madeira pra preparar a massa, já que a minha mesa hedionda é porosa demais pra fazer qualquer coisa com farinha, vai ficar tudo imundo. Ainda essa semana pretendo fazer um macarrão qualquer. Depois digo como ficou e dou a receita.

**

Aquela planta comprida que no Brasil se chama Espada de São Jorge aqui na Itália se chama Lingua di Suocera (língua de sogra). Vivendo e aprendendo.

**

E a penúltima parte da epopéia sérvia: o mercado de Majilovac. Sabe feiras medievais, ao aberto, com lama no chão e as coisas mais estapafúrdias expostas ao público? É assim. Vendem porcos, sapatos, chapéus, colheres de pau, trenós, galinhas, peças de carro, gasolina, chocolate, binóculos, cigarro, roupas de couro, roupas de couro falso, bandejas em inox, meias (comprei várias), facões, relíquias de guerra, brinquedos tabajara, vestidos de gala, cestos de vime, móveis, carneiros, ferramentas, temperos, água mineral de origem duvidosa, bebidas alcoólicas de tudo que é tipo, pneus, maquiagem, canetas coloridas, perfumes falsos, malas e bolsas, enfeites de Natal. Entre outras coisas. Só não vendem livros.

Que depressão esse mercado! Aquela lama no chão, os carros estacionados de qualquer jeito, gente feia e encasacada caminhando carrancuda pra lá e pra cá, gesticulando com os vendedores; as roupas incrivelmente cafonas penduradas nas araras; todo mundo fumando sem parar; os vendedores botando a mercadoria em amassadíssimos sacos plásticos de supermercado antes de dar aos clientes; gente vindo fazer compras de TRATOR; gente com casaco de pele falsa; gente experimentando sapato ali mesmo, em pé na lama; senhoras comprando brocas pra furadeira e correia pro motor do carro; crianças querendo brincar com os porcos e galinhas... Caramba, é outro planeta mesmo. Chegamos em casa cansados de tanto ver coisa estranha e feia. E as únicas coisas que eu comprei em todo esse tempo na Sérvia foram nesse mercado: alguns pares de meias coloridas (listradas de vermelho e branco, listradas de amarelo, branco, preto e verde, preta com bolinhas azuis, listrada de lilás, verde, amarelo, azul e laranja, e uma listrada em tons de cinza e azul com o desenho do Tigrão), um batom fedorento mas bonitinho, e uma bolsa horrível em couro fake pra Carmen, que é de uma cafonice ímpar. Só.

Sei que em Belgrado com certeza teríamos visto coisas bonitas, e não falo só de coisas pra comprar. Dizem que a cidade é bonita, e vimos algumas pontes interessantes no caminho até lá na volta pra casa, mas infelizmente o tempo e o clima não permitiram. Não posso nem dizer que ficará pra próxima, porque espero veementemente que não haja uma próxima. Programa de índio assim de novo, nunca mais.

**

No começo de março vamos a Rotterdam visitar a irmã do Mirco que tá morando lá. Ela quem vai pagar as passagens, porque eu não tenho dinheiro pra ir nem na esquina...

**

E pra não perder o hábito, fotos cachorrais. Esse é um vizinho da Arianna que tem vários microcães. No domingo passou lá pra visitar, e levou toda a trupe.


Mister Legolas fazendo pose blasé:


E todo feliz com seu galho no meio do mato:

Postado por leticia em 09:08