quinoa

Quem foi que comentou outro dia que quinoa não tem gosto de nada? Acho que foi a Ana, no Facebook, porque aqui nos comentários não achei nada.

Mas quem quer que tenha sido, tem razão: quinoa não tem gosto de bissolutamente nada. O que na verdade pode ser uma bênção, pra quem tem que dar preferência a ela (e ao milhete e ao amaranto, que são alkaline-forming, lembram?) em vez de outros grãos e cereais, e é chata pra comer (eu). Como não tem gosto de nada, também não incomoda. E tem uma grande vantagem: a little goes a long way. A bichinha rende que é uma beleza! Normalmente faço em torno de 30 gramas, e dá uma porção eLorme.

Hoje era dia de peixe: escolhi salmão, que fiz na churrasqueira elétrica na varanda pra não feder a minha casinha. Como já comi arroz ontem e vou comer hoje no jantar também, e também não tava no clima de macarrão, fui de quinoa. Pra coitada não ficar totalmente insossa, fiz assim: primeiro refoguei uma cebolona gigante em pouquíssimo azeite, fogo bem brando, até ficar tudo molinho e dourado. Separei a cebola e na mesma panela dei uma refogada na quinoa, joguei vinho branco e esperei evaporar (como se fosse um risoto), depois juntei a água, cúrcuma, gengibre em pó e curry*. Quando já tava quase cozida joguei uma abobrinha inteira em cubinhos, pra não ficar cozida demais que dá pena de tão ruinzinha. Depois de tudo pronto, joguei a cebola refogada.

O salmão foi na churrasqueira sem nada; temperei com azeite, sal e mix de pimentas raladas na hora, já no prato. E ainda rolou uma cenoura inteira ralada crua e um brócolis inteiro no vapor, sauté em vinte mil dentes de alho porque eu sou uma pessoa alhófila.

Ficou uma delícia. O curry dá o tcham que a pobre quinoa não tem, e como qualquer coisa fica boa na companhia de salmão, não tem como errar.

Outra coisa que faço às vezes é jogar um pouquinho de mix de sementes. Você pode comprar pronta (pelo menos isso aqui agora tem) ou então fazer a sua. Eu uso uma mistura que tem semente de girassol, gergelim e linhaça. Às vezes também uso semente de papoula ou de abóbora. Não dá pra se empolgar muito porque todas têm alto percentual de gordura, mas dão aquele crunch legal a qualquer comida. As panquecas de farinha de grão-de-bico ficam uma delícia com as sementes; saladas idem.

Ainda não tentei cozinhar nem milhete nem amaranto, mas me mandaram botar na sopa de legumes pro jantar, porque eu tendo a não sentir muita fome à noite, acabo não comendo carboidrato e acordo de manhã querendo comer até as paredes. Também quero testar esses outros dois grãos no lugar da quinoa nessa receita de hoje. Marquei a experiência com o milhete pra sexta-feira, depois digo que bicho que deu.

E estou há tempos pra fazer esse pão de quinoa germinada, mas e a preguiça de fazer o leite de castanha de caju? (OK, por favor ignorem a biografia da autora, que fala de espíritos e fadas e sei lá mais o quê; estou interessada é no pão, belê?)

food journal

E já que aparentemente neguinho aqui só gosta mesmo de falar de comida, voltemos ao assunto.

Um dos instrumentos mais importantes pra quem tem distúrbio alimentar e pra quem quer emagrecer, engordar, ficar sarado etc é o diário alimentar. A gente só encontra padrões de comportamento quando consegue ter uma visão geral muito clara do que está fazendo, e isso só é possível escrevendo.

Eu faço diário alimentar há anos; comecei quando fui ao Centro de Cefaleias de Perugia pela primeira vez, há trocentos anos, e me aconselharam porque em alguns casos a causa da enxaqueca é alimentar, mas pra saber se era esse realmente o problema eles tinham que ver o que eu estava comendo. Ao contrário da minha mãe, que tem alguns alimentos que desencadeiam a enxaqueca, eu não tenho; a minha aparentemente era mais relacionada ao sono irregular e ao stress. Mas o hábito ficou. Nunca mais parei de anotar o que como.

Quando perdi peso com o bodybugg, depois da Carol nascer, esse hábito ficou ainda mais sério, porque você marca no site deles tudo o que comeu, faz o upload dos dados do bodybugg e o site faz as contas, pra você saber se está com crédito ou débito de calorias. E como eles faziam um resumo do dia, com a divisão do total das comidas em carboidratos, proteínas e gorduras mostrada em uma pie chart, dava pra ter uma visão bem legal do que exatamente você está comendo, e a partir daí ajustar esses percentuais em função do andamento da perda de peso, de como você está se sentindo, dos seus objetivos. Logicamente aprendi muito sobre o meu metabolismo também, porque saber marromenos quantas calorias você queima por dia é útil pra saber o quanto você pode comer. Claro que entrei numa paranoia de pesar absolutamente tudo e fica muito cansativo, mas depois que você desenvolve uma série de pratos que tendem a se repetir, a quantificação da comida fica visual (que aliás é o método do Vigilantes: uma porção de macarrão é do tamanho de uma bola de tênis, uma de carne é do tamanho da palma da mão sem os dedos, peixe é a palma da mão com os dedos etc), até porque fica impossível pesar comida quando você come fora. Graças a esse período com o bodybugg, por exemplo, eu sei o que é pra mim um café da manhã equilibrado, quais são meus lanches ideais, quais são os quatro ou cinco pratos perfeitamente balanceados pra usar como almoço, e coisa e tal. Muito interessante.

Atualmente eu não conto mais calorias, e só peso carboidratos. Mas continuo anotando tudo. Estou usando as minhas agendinhas mensais da Moleskine, deliciosamente lindas e pequenininhas, leves o suficiente pra levar na bolsa. Prefiro escrever em papel do que salvar no celular, onde tudo fica sujeito à disponibilidade ou não de uma conexão à internet, mas pra quem conta calorias existem várias ótimas apps com bancos de dados gigantes que têm praticamente tudo que é comida (e o que não tiver você adiciona usando as informações nutricionais da embalagem, supersimples). Uma legal é a My Fitness Pal, muito bem feitinha. Quem quiser mais dicas desse tipo me avisa que eu faço uma pesquisa rápida.

Um ótimo food journal é o que vem com o Turbo Fire, e pode ser comprado separadamente. Tem a imensa desvantagem de ser caro, pesado e de não cobrir o ano todo, só as semanas do programa, mas é muito bem feito.

Cada semana (porque progresso, de qualquer tipo, é idealmente medido de semana em semana) começa com uma página pra você anotar o peso inicial, os objetivos e coisa e tal. Cada dia tem bastante espaço pra cada refeição, pra anotar as calorias, se quiser, pra marcar os copos de água que você tomou (pra mim é MUITO útil porque eu sempre esqueço de beber água e vivo desidratada), que programa de malhação você fez, com qual nível de empolgação, como está se sentindo naquele dia, quais suplementos e vitaminas tomou. E ainda tem uma dica diária da Chalene, todas muito bobinhas, lógico, mas algumas divertidas. A minha preferida é a que diz que o melhor exercício pra perder barriga é caminhar. Caminhar pra longe da cozinha… ;-)

Enfim, ajuda. Outra coisa que estou fazendo é a programação semanal da comida, ou seja, planejar antecipadamente quais vão ser os cardápios da semana. Isso tem várias vantagens: você pode fazer as compras se baseando no que sabe que vai precisar, se estiver tudo anotado fica mais difícil pular a cerca (eu, pelo menos, que tenho horror a rabiscar, prefiro seguir à risca o que já está escrito do que encher minha agendinha linda de setinhas, asteriscos e anotações tortas), você consegue enxergar padrões de alteração de peso relacionados ao que você comeu durante a semana. Por exemplo, eu já como queijo todo dia no café da manhã; nas semanas em que uso algum queijo como fonte de proteína no almoço ou no jantar, não emagreço. Mas você só enxerga isso quando está cara a cara com a planificação da semana, e pra isso é importante estabelecer também as frequências semanais. X vezes laticínios, Y vezes ovos, Z vezes carne vermelha, B vezes peixe – tudo isso por semana. Sabendo quantas vezes por semana você pode comer, sei lá, leguminosas, é só distribuir ao longo dos dias e pronto. Fica até mais fácil planejar o prato, sabendo antecipadamente qual vai ser o ingrediente de base. Essa semana eu marquei peixe seis vezes (a dieta da psoríase é cheia de peixe); o almoço de hoje é uma das refeições de peixe dentre essas seis, então fico entre macarrão com brócolis, cenoura e atum ou salmão com arroz preto, salada e abobrinha (meus dois pratos preferidos com peixe).

Parece um trabalhão danado, e é, mas depois de um certo tempo fica tão automático que você faz rapidinho e sem perceber. Ultimamente tenho anotado inclusive o nível de fome antes e de satisfação depois de comer, em uma escala de zero a três. É muito útil pra estabelecer as quantidades ideais; se eu invento um almoço que me deixa satisfeita só no nível 1 e uma hora depois estou com fome de novo, é lógico que preciso mudar alguma coisa nesse almoço, mudar as proporções ou aumentar as quantidades ou adicionar alguma coisa. Se eu chego na hora do almoço sempre morrendo de fome, provavelmente preciso fazer um lanchinho da manhã mais consistente ou aumentar o café da manhã. Se acabo de jantar e me sinto empanturrada, posso diminuir alguma coisa, ou trocar ingredientes. E por aí vai.

Tô falando que vida de gordo é um inferno…

bento

Oi.

Não foi outro Pe-que-no Sumiço não; é que juntou gastroenterite do Mirco, neve (leia-se escolas fechadas e Carol enfurnada em casa), gripe (de todos), trabalho (chato) e mais outras coisas e acabei não tendo tempo de escrever.

Meio OT com relação ao trend de posts nutricionais recentes mas não tanto, hoje vamos falar de bentos.

Pra quem não sabe, bento boxes são aquelas caixinhas japonesas lyndas que neguinho usa pra levar comida pro trabalho. Descobri por acaso, nem lembro mais como, e fui parar aqui. As coisas são tão lindas que quando estou irritada vou lá no site passear pra ver coisas bonitas e me acalmar. Acabei comprando algumas, embora na época fosse só porque eram lindas mesmo; não tinha intenção de levar comida pra lugar nenhum.

Depois que comecei a dieta contra a psoríase, que como eu já disse é super restritiva, passei a usar meus bentos. Os modelos que eu tenho não fecham hermeticamente nem podem ir no microondas (tudo isso é especificado no site quando você lê os detalhes do produto), mas pra mim isso não é um problema porque eu só uso no domingo, quando almoçamos na Arianna e jantamos fora. Preparo almoço, lanchinho e jantar de manhã, enquanto o Mirco leva a Carol pra dar uma volta. Boto tudo numa bolsa térmica, que também comprei no mesmo site, e quando chego lá meu almoço ainda está quente. Normalmente vamos ao cinema à tarde, levo meu lanchinho (invariavelmente 5 amêndoas e um iogurte desnatado com uma colher de mel), voltamos, esquento meu jantar (invariavelmente sopa e uma panqueca de farinha de aveia, grão-de-bico ou grão sarraceno) no prato na casa da Arianna e assim já vou comida pro restaurante. Existem modelos que fecham hermeticamente, que vão no microondas, que podem ser lavados na lava-louças, que esquentam usando a porta USB do computador, enfim, tem pra todos os gostos. Eu AMO as minhas bento boxes e todo mundo que vê fica enlouquecido (todo mundo normal, lógico; não falo dos zumbis acéfalos que infelizmente são o grupo demograficamente dominante por essas bandas).

O meu único problema é que a bolsa térmica tem o fundo estreito, e a burra aqui comprou só bentos largos, de modo que nem sempre o zíper fecha porque a bolsa fica meio inchada. Então pedi pra minha cunhada, que está nos EUA a trabalho até o final da semana, pra trazer essa bolsa aqui pra mim.

Sendo de neoprene, ela se ajusta às dimensões do conteúdo, e pelo menos teoricamente estica pra acomodar caixas mais largas. Vamos ver se vai funcionar com o meu maior bento, que uso frequentemente assim: no andar de baixo vai uma salada, no de cima a proteína, o carboidrato e as verduras e legumes.

Nos últimos dois domingos postei fotos dos meus bentos do dia no Facebook. Quem quiser vá dá uma olhada.

morte à farinha

Já tem um tempo que ando procurando um substituto pra farinha de trigo. Não sou alérgica nem intolerante ao glúten, mas a farinha de trigo, mesmo a integral, desencadeia a minha compulsão alimentar. Como é um alimento que não tem NADA de positivo – tem índice glicêmico alto, quase nada de proteína, quase nada de vitaminas, fibras só na versão integral – resolvi banir a bichinha da minha vida. Isso dentro do contexto da dieta do Dr. Pagano que estou fazendo (assunto pra outro post).

Há alguns meses caí numa página de receitas pra bento boxes (não me perguntem como eu fui parar lá; adoro bento boxes e tenho algumas, mas só porque são lindas, já que trabalho de casa e não preciso levar comida pra lugar nenhum) e achei uma receita de panquecas de grão-de-bico. A autora do blog que dava a receita elogiava a versatilidade da panqueca e a boa “congelabilidade” da receita, e mostrava como ela podia ser feita naquela frigideira retangular japonesa pra panqueca (ou a omolete, o uso original da panelinha) ficar bonitinha no bento. Achei genial e saí catando farinha de grão-de-bico. Acabei achando no meu supermercado de sempre, embora só haja uma marca disponível. É uma empresa de Spello, aqui pertinho, então ainda tem a vantagem de ser comida a quilômetro zero, com menor carbon footprint etc. Só que larguei o pacote no armário e esqueci solenemente dela.

Hoje, vendo que a psoríase dos cotovelos está chegando nos punhos e a do couro cabeludo coça feito uma desgraça, resolvi dar uma apertada no Pagano-Cayce regimen. Ele aconselha reduzir os farináceos em geral e usar só pão, massa e biscoitos de farinha integral, mas sugere o uso de alimentos feitos com farinha de tupinambo, que obviamente aqui no Zaire não existe. Então decidi finalmente testar as benditas panquecas de grão-de-bico.

Menina, ficaram ó-te-mas! Parece que é uma receita indiana. Fiz uma, comi pura pra ver que gosto tinha, adorei e saí fazendo várias, inventando um pouquinho em cada uma: semente de gergelim, cebolinha picada, alho desidratado, curry (opá, curry não posso, tem páprika, depois explico), semente de linhaça… Ficaram uma dilissa. E foi assim que encontrei o meu substituto pro pão. Em vez de uma fatia de pão torrado com queijo e peito de peru no café da manhã, vai uma panqueca. Como substrato, dá no mesmo, mas dá muito mais saciedade porque tem alto conteúdo proteico, não tem índice glicêmico alto, não liga o comedor desenfreado na velocidade máxima… Só vantagens.

A receita não poderia ser mais chulé: misture a farinha de grão-de-bico com água até atingir a consistência de massa de panqueca (dããã). Sal a gosto, um tiquinho de pimenta-do-reino pra dar um tcham (eu usei pimenta branca) e voilà! Fica pronta rapidinho. Tem gente que faz na hora mesmo, uma colher de sopa de farinha com uma de água e pronto.

A próxima vai ser a panqueca de lentilha com arroz, receita também indiana, que inclusive acho que já postei aqui mas nunca fiz. E amanhã explico melhor esse negócio da psoríase que agora tenho que trabalhar.

menu de verão

Eu sinceramente nunca entendi essa coisa do apetite das pessoas seguir as estações, mas aqui isso é levado muito a sério. A minha vontade de tomar sorvete não diminui nada no inverno, e tampouco no verão tenho menos vontade de comer massa ou outras coisas que como sempre. Mas aqui é só falar de carne no verão e todo mundo começa “aaaaaaaaaaah, tá calor demais pra comer carne… Eu no verão só como mozzarella, melão com presunto etc”. Meu estômago deve ser temperature-insensitive or something.

A coisa boa do verão é poder comer fora – fora no sentido de do lado de fora de casa. Aqui em casa comemos na varanda sempre que vem gente pra jantar. Na Arianna o verão inteiro é almoço e jantar na mesa do quintal, inclusive nos dias tórridos nos quais eu daria um dedo mindinho por um ar condicionado. Pra Carolina é uma bênção, porque ela fica perambulando pra lá e pra cá enchendo o saco dos cachorros e jogando restos de alface dentro da casinha dos gansos, doida pra destruir as plantas confusas da Arianna mas sabendo que não pode, então apontando e fazendo “ahn? ahn?” e depois fazendo “não não não não não” com o indicador, às vezes vindo até a gente na mesa pra filar um pedaço de qualquer coisa. Ela continua comendo pouco, e entrou naquela fase pentelha de gostar de uma coisa num dia e nem querer olhar pra ela no dia seguinte, mas algumas constantes existem, como a mozzarella, azeitonas, tomate e um cream cracker dos Vigilantes que encontrei estranhamente por aqui (o Weight Watchers italiano fechou há anos por má administração) e que prefiro aos crackers normais porque tem menos sal e gordura e é de farinha integral. Essas coisas ela nunca recusa. Todas as outras coisas dependem do humor do dia. Sacoooo.

Enquanto isso, todo mundo continua me perguntando por que é que ela nunca tomou sorvete nem comeu doce nem batata frita. Hello? A garota já não come quase nada, vou ficar enchendo a barriga dela de coisas de valor nutricional zero? Pra que acostumá-la com essas coisas? Tudo o que nunca aparecia lá em casa quando eu era pequena eu não como até hoje – bala, chiclete, fritura, cachorro-quente. Refrigerante quando eu era pequena chegava a estragar; hoje eu tomo Coca de vez em quando, e admito que tomaria mais frequentemente se a coisa não fosse praticamente venenosa, mas corto sem sacrifícios nas minhas fases de contagem hardcore de calorias. Todos os outros refrigerantes do mundo por mim poderiam perfeitamente nunca ter sido inventados. Detesto doce de padaria. Não como nem brigadeiro. Por que vou ficar dando essas coisas pra minha filha? Não entendo. Na porchetta de aniversário do Ettore uma senhora que eu nunca tinha visto, uma daquelas parentas que aparecem uma vez na vida e outra na morte, trouxe uma barra de Galak pra Carolina. Prestem atenção, a velha trouxe 400 g DE CHOCOLATE BRANCO, que nem chocolate de verdade é, pra uma criança de nem um ano e meio!!! Sou eu que sou louca ou pára o mundo que eu quero descer? Isso em um país onde as pessoas vivem pra comer e o fazem muito bem, obrigada; em um país de pessoas que não morrem nunca provavelmente graças à dieta mediterrânea; em um país onde ainda é normal voltar pra casa pra almoçar e onde as avós fazem macarrão em casa nos fins de semana e onde as pessoas só comem carne vermelha muito de vez em quando porque “faz mal”, onde não se frita praticamente nada, onde a comida que encontramos nos supermercados é super-hipermega controlada e vem cheia de selos e carimbos e autenticações pra gente ter certeza do que está comendo. Juro que não entendo.

panqueca de arroz com lentilha

Mirco tem mania de comprar. Ontem ele saiu rapidinho pra comprar vassoura pra oficina com a Carolina pra eu poder malhar e voltou uma hora e meia depois com um caixote de cerveja, quatro livrinhos pra Carolina e quatro livros de receitas pra mim. Livros tabajara, daqueles vagaba de supermercado, mas fuçando sempre dá pra achar alguma coisa interessante. Um é sobre risotos, outro sobre tapas, um é uma enciclopédia de azeites e vinagres (tenho HORROR a vinagre, só um whiff é suficiente pra me fazer vomitar) e o último sobre comida indiana. Peguei esse pra folhear enquanto ele dava banho na Carolina e achei uma receita que me chamou a atenção, que é essa do título do post. Porque eu não posso ver uma lentilha que me assanho toda, e o mesmo vale pra palavra panqueca (ou crêpe). O detalhe é que a lentilha e o arroz não são o recheio, senhores, mas os ingredientes da massa!

Achei sensacional. Estou de saco cheio de trigo e tenho a impressão de que ele é o culpado de todos os problemas ponderais da minha vida, porque tudo o que leva farinha é gatilho de compulsão pra mim (e não só pra mim). Ultimamente ando com o comedor aberto, um desespero alimentar só experimentado quando eu estava grávida (não estou, tá) e que está difícil de segurar. Como estou com outros sintomas de descontrol hormonal, essa semana marquei endócrino pra ver o que pode ser exatamente, e enquanto isso vou tentando eliminar o trigo da minha vida. Felizmente a Barilla tem uma linha de massas feitas com outros grãos, inclusive lentilha, e são deliciosas. Também felizmente eu não tenho um apego gustativo particular a carboidratos brancos e realmente prefiro as coisas integrais, o que prepara a minha linguinha pra esses sabores “alternativos” sem trigo. Quem sabe assim eu consigo desligar o comedor. Porque entre batata, arroz e macarrão, sou fã incondicional do macarrão, que por sinal é muito mais prático também.

De qualquer maneira, fiquei doida pra fazer as tais panquecas. Vou dar a receita, mas atenção: não testei ainda, portanto não garanto.

200 g de lentilhas
15 g de fermento em pó
50 g de arroz (o livro diz pra usar basmati, mas acho que o nosso branco vai bem também)
páprica doce em pó
óleo

Deixe a lentilha de molho por pelo menos 4 horas e o arroz por pelo menos 30 minutos, separados.
Bata os dois ingredientes no liquidificador ou triturador até obter uma massa homogênea. Junte o fermento e uma pitada de páprica e deixe a massa descansar por 30 minutos.
Cozinhar como crepes normais na panela com pouco óleo, só pra não grudar, e depois enrole-as em uma colher de pau para que formem tubos.

Pela foto não dá pra saber direito que textura que fica, mas esse conselho final de formar tubos me leva a pensar que elas ficam mais pra durinhas, e portanto não exatamente recheáveis. O livro diz que são ótimos acompanhamentos pra pratos de peixe e carne, coisa mais ambígua impossível, mas vai depender muito da textura final. Quando testar a receita eu aviso aqui como ficou.

alimentação e bodybugg

Em três semanas de bodybugg perdi 3 quilos. Ótimo, exatamente dentro do meu objetivo, até porque mais de um quilo por semana não é saudável.

Como eu já disse antes, acaba-se aprendendo muito sobre alimentação. Eu, por exemplo, aprendi que termino o dia SEMPRE com déficit de carboidratos e excesso de proteína. Isso porque, como também já comentei, meu lanche é sempre uma barrinha de cereais ou um iogurte, já que fujo de fruta feito o diabo da cruz. Mas isso não tá dando certo; às vezes me sinto sem energia e também não quero desmanchar o meu café da manhã (leite, pão com presunto e queijo; proteína pura) que eu adoro pra poder entrar na percentagem certa de proteínas.

A solução inicial foi roubar a papinha de maçã com banana da Carolina (não a papinha tradicional que tem amido de milho pra transformar a coisa num creminho, mas uma variedade que só tem a fruta mesmo, além do ácido ascórbico pro negócio não escurecer). Agora descobri que a Valfrutta lançou uma linha do que eles chamam de “mousse”, e que logicamente mousse não é, de 100% de fruta. Fora a combinação maçã-damasco, que acho meio bizarra (além de não gostar de damasco, lógico), o resto eu encaro numa boa. Vou experimentar, mas tenho a impressão que vai salvar a minha vida.

Olha, eu sou chata pra comer, admito. Mas melhorei muito desde que me mudei pra Itália e como trocentas coisas hoje que eu jamais sequer cogitaria há alguns anos. Mas não tem jeito, fruta não rola. Simplesmente não rola. A única fruta que eu como feliz da vida é banana, no Rio vão-se umas três por dia, mas a banana d’água amadurecida no porão do navio que vendem aqui não merece nem ser chamada de banana; só o cheiro me dá enjoo. Até as frutas das quais eu gosto, tipo morango, cereja, uva sem caroço, ficam mofando na geladeira porque o meu gostar delas é uma coisa assim muito distante, sabe, se deixassem de existir eu com certeza não ficaria de luto. Maçã, pera, tangerina, eu só como uma vez na vida outra na morte, e tenho que fazer um esforço eLorme pra terminar. E não é só preguiça – porque, convenhamos, não existe coisa menos prática do que algo que você tem que lavar, descascar E descaroçar pra comer, e que ainda por cima suja as suas mãos. Não gosto mesmo, ponto. Infelizmente não gosto. I’ll have a power bar any day. Então vou ter que enganar o meu céLebro com essas moussezinhas de frutas, pra ele pensar que eu estou comendo uma coisa industrializada superprática e deliciosa e que não deixa as minhas mãos meladas. Saco.

Oquei, estou me torturando nos sites do Bob’s e do Outback e da Casa do Pao de Queijo enquanto espero o download do proximo arquivo que tenho que traduzir pra amanha. Sim, eu sou uma daquelas pessoas doentes que faz lista das coisas que quer comer no lugar pra onde esta’ pra viajar e so’ fica pensando nisso por semanas a fio.

hm

Tem uma propaganda passando agora na qual um cara aproveita a tarifa noturna com desconto pra ligar pra todo mundo, e no caso ele liga pra um restaurante e pede ovos de codorna pro café da manhã. Pronto! Não faço outra coisa além de pensar nos malditos ovos de codorna, que eu adoro e que aqui são difíceis de encontrar, e carésimos. À medida em que a viagem pro Rio vai chegando eu começo a ter essas desesperações nonsense – outro dia perdi horas estudando o menu do Outback – e a fazer listas. Cheguei ao cúmulo de já ter preparado uma das malas, a que vai cheia de roupas que não quero mais que depois a minha mãe se encarrega de doar por aí. Está lá, pesadona, num canto da garagem.

Dessa vez o Gianni e a Chiara vão com a gente! Tem anos que eles tão programando uma viagem ao Rio mas acaba sempre aparecendo um problema qualquer. Dessa vez a passagem tá comprada e outro dia estudamos o guia juntos. É muito engraçado ler publicações turísticas sobre a sua cidade, de um ponto de vista totalmente alienígena. Além de ser engraçado dá fome, sabe como é, Gula Gula, Bar Lagoa, Mil Frutas, pão de queijo, etc. Tem dias em que eu daria um dedo por um pão careca com queijo Minas. Bom, falta pouco mais de um mês, tenho que ter paciência.

(Pra vocês não acharem que eu sou louca e que só penso em comida, não é bem assim. Claro que a prioridade é rever família e amigos, mas como essas coisas não interessam a ninguém eu prefiro falar de comida, que todo mundo gosta).

aaaaaaaaaaaaah

Ontem à noite fomos com Gianni e Chiara tomar sorvete em Perugia. Aqui é bem normal encarar estrada e muitos quilômetros pra comer fora, e pra quem já veio pra cá é perfeitamente compreensível, visto o número infinito de lugares com comida maravilhosa. Essa sorveteria é especial; quem deu a dica foi a Roberta, irmã do Gianni que tá morando em Turim. Vale todos os quilômetros pra chegar até Perugia e o perrengue pra estacionar. Confiram vocês mesmos (e pra quem estiver em Paris ou NY, vá dar uma olhada).