hmpf

Ah, quanto ao Stomp: sou mais a bateria da Mangueira, any time. Onde já se viu batuque em caixa de fósforo ser coisa original?

(O número dos tubos de borracha foi lindíssimo, sutil, delicado, engraçado, um primor. E parabéns à simpatia do grupo. Mas que o espetáculo é repetitivo e cansativo, isso é.)

nem igor, nem dara

Ontem uma cigana que vive pedindo esmola no sinal de S. Maria (eu deveria dizer O Sinal, ou Il Semaforo, porque só tem um, então vira uma coisa importantíssima, um super ponto de referência) veio me pedir uns trocados com a eterna criança no colo. Normalmente eu finjo que não vejo, porque odeio essa gente que coça o saco o dia inteiro e de noite vai roubar galinha dos outros (já roubaram da Arianna várias vezes), mas dessa vez olhei bem na cara dela e falei “não, minha filha”. Não é que ela me soltou um vaffanculo e ainda me chamou de escrota (stronza)? Só não abri a porta do carro com força suficiente pra catapultá-la até Foligno porque tava com o filho no colo. Feladaputa. Na próxima vez vou fazer como já fiz na estação Carioca: perguntei se a mulher tinha trabalhado pra mim alguma vez. Já estou imaginando o diálogo com a cigana desdentada:

– Ma Lei [sente a educação] ha mai lavorato per me?
– No, signora.
– ALLORA PERCHE’ CAZZO TI DEVO DARE DEI SOLDI, MIGNOTTA CHE NON SEI ALTRO? MA VA’ A TROVARTI UN LAVORO, BASTARDA INUTILE!

Sou muito fina, mas há coisas que realmente me tiram do sério. Ciganicídio já!

é primaveraaaa… te amuuuu!

O dia hoje foi um esplendor. Céu claro, sol quente e brisa fresca, humor dos melhores. Mesmo tendo feito algumas visitas a clientes chatos o dia foi interessante. Poder andar de carro com a janela aberta, o vento fresco te descabelando loucamente, é uma bênção. Como sou meteorologicamente otimista, hoje vou tentar dormir sem meias.

Menu do jantar Fratellão de hoje:

– salada de feijão branco com alface cortada finiiiiinha e ovo de codorna
– carne assada fria em fatias finas com batata assada recheada com vagem e parmesão
– pudim de chocolate (que ainda tenho que decidir se ficou bom ou não, por isso ainda não dou a receita)

E todos esperamos que saia aquela piranha da Carolina, ou o paraculo do Tommaso.

velhice

Meu primeiro presente de aniversário chegou quinta-feira, vindo do norte da Itália. A Lidia, gentilíssima leitora italiana que testa tudo que é receita que eu boto aqui, me mandou um espetacular par de meias cor creme com vaquinhas, que infelizmente não fotografei porque já foram usadas e estão penduradas na corda pra secar.

Na sexta-feira rolou o balacobaco básico aqui em casa, com FeRnanda e Fabião e Renata e Stefano. O strogonoff ficou bom, o guaraná acabou, o vinho tava ótimo, o bolo ficou uma bosta porque só lembrei de botar o fermento quando o bicho já tava na forma, mas a serata foi ótima. Batemos muito papo, rimos, fofocamos, e acabei ganhando mais dois presentes, além da companhia dessas pessoas maravilhosamente normais e educadas que eu dei a imensa sorte de conhecer aqui no interior do Burundi: uma vela-potpourri da Renata, e uma coleção de meias (claro!) coloridas da FeRnanda.

Sábado passei a manhã dividida entre passar toneladas de roupa, falar com meu pai, minha mãe e minha avó no telefone, e ouvir o último CD do Live (ótimo, mas falarei mais dele aqui quando tiver ouvido mais vezes) que eu me dei de presente quinta-feira passada. Lá pra hora do almoço chega o moço das entregas de uma floricultura tabajara de Torgiano: Mirco tinha me mandado um ficus (eu não gosto de flor cortada pra botar em vaso, prefiro coisas vivas, com raiz, plantáveis), que eu já transplantei pro vasão que comprei ontem. Almoçamos, dormirmos e partimos pra Toscana, visitar a Stefania. O namorado dela veio da Holanda com vários amigos pra comemorar o aniversário dele (dia 16) no agriturismo onde a Stefania trabalha, e não pudemos recusar o convite.

Então lá fomos nós, lemmings, pegar a estrada na direção de Firenze. Saímos em Valdarno e passamos por Montevarchi e Cavriglia antes de entrar na região do Chianti. Pra quem não tá ligando o nome à pessoa, Chianti é um rio, em cujo vale se produz o vinho de mesmo nome, o mais famoso da Toscana. Aquele que o Hannibal Lecter tomou num dos seus jantares canibalísticos, lembram dele contando pra Clarice que comeu o fígado do fulano with a nice Chianti? É um vinho seco, que pode ser muito bom ou muito, muito ruim mesmo – aliás, dada a imensa quantidade de barris que se produz atualmente, a probabilidade de achar um Chianti ruim é bem alta. Todo mundo faz Chianti hoje em dia, e claro que desse oba-oba não pode sair só coisa boa.

Pois então: todas as cidadezinhas microscópicas do vale do Chianti vivem em função da produção desse vinho. As colinas são maravilhosamente regulares, cobertas de videiras que, nessa época do ano, parecem mortas, secas, desfolhadas (a colheita só rola no final do segundo semestre). Algumas casas antigas aqui e ali, a maioria agriturismos ou bed & breakfast, porque são edificios históricos cuja manutenção é cara, mas com os benefícios fiscais que o governo dá pra quem investe numa estrutura hoteleira a coisa fica viável. Como resultado, muitas famílias proprietárias de casarões abandonados impossíveis de vender porque custam uma fortuna entraram nessa pra conseguir reformar a casa.

Lá fomos nós pela estradinha estreita e cheia de curvas, no meio de chuva e neblina: Radda in Chianti, Gaiola in Chianti, Greve in Chianti, até chegar a Panzano in Chianti, onde fica o tal agriturismo, que se chama Fagiolari. O lugar é maravilhoso, uma lebre atravessou a estrada esburacada logo na nossa chegada, e a Stefania já encontrou javalis passeando à noite no bosque, mas não há maravilhosidade que resista a tempo feio + gente esquisita, por isso não posso dizer que nos divertimos muito. No dia seguinte demos um pulo em Panzano pra comprar pão pro almoço, passamos no açougue mais famoso da Itália, onde a bisteca, que por melhor que seja eu considero carne de quinta, custa uma fortuna,

compramos um bom pecorino e molhos de carne de caça (faisão, lebre e javali) e voltamos pra almoçar as sobras do jantar de sábado. Viemos embora no domingo à tarde, e fomos jantar com o Marco e a Michela, amigos de escola do Mirco que casaram no ano passado e foram uma outra ótima descoberta, porque são ótima companhia. Excrusive devem vir jantar aqui amanhã, se eu conseguir achar ingressos pro Stomp pra hoje à noite em vez de quarta-feira.

**

Muitas das pessoas que me escreveram dando os parabéns disseram pra eu não esquentar com a idade. Eu não tenho o menorrrrrrrr problema em envelhecer! Muito pelo contrário, acho a vida do jovem tão ridícula, tão idiota (e olha que eu fui uma jovem espertinha, madura, observadora, mas mesmo assim fui ridícula e idiota), que não vejo a hora do tempo ir passando, deu ir ficando mais interessante, mais segura, com mais histórias pra contar, enfim, melhor – como um bom Brunello.

**

Comprei e plantei petúnias brancas e vermelhas. Lindas!
As dálias estão crescendo bem. Os cravos parece que empacaram.
Comprei manjericão adulto também. A previsão do tempo não é muito animadora e as sementes que plantei tão cedo não vão dar as caras.

**

O presente oficial do Mirco vai ser a minha wishlist da Amazon. Só tenho que ter tempo de comprar…

E fiquem com um pedaço de La Forma dell’Acqua que, como previsto, não está me decepcionando nadinha… Tradução amanhã ou depois. Os negritos são meus.

Il signorino Giacomo è il classico esempio di figlio di papà, aderentissimo al modello, senza uno scarto di fantasia. Il padre è notoriamente un galantuomo, fatta eccezione di una pecca di cui dirò in seguito, l’opposto della bonarma Luparello. Giacomino abita con la seconda moglie, Ingrid Sjostrom, le cui qualità ti ho già a voce illustrate (…). Ti faccio l’elenco delle sue benemerenze, almeno quelle che io ricordo. Ignorante come una cucuzza, non ha mai voluto né studiare né applicarsi ad altro che non fosse la precoce analisi dello sticchio, eppure è sempre stato promosso a pieni voti per intervento del Padreterno (o del padre, più semplicemente). Non ha mai frequentato l’università, pur essendo iscritto a medicina (e meno male per la salute pubblica). A sedici anni, guidando senza patente la potente macchina del padre, travolge e uccide un bambino di otto anni. Praticamente Giacomino non paga, paga invece il padre, e assai profumatamente, alla famiglia del bambino. In età adulta costituisce una società che si occupa di servizi. La società fallisce due anni dopo, Cardamone non ci rimette una lira, il suo socio a momenti si spara e un ufficiale della guardia di Finanza che vuole vederci chiaro si trova di colpo trasferito a Bolzano. Attualmente si occupa di prodotti farmaceutici (figurati! Ha il padre che gli fa da basista!) e spende e spande in misura di gran lunga superiore ai probabili introiti.

Appassionato di macchine da corsa e di cavalli, ha fondato (a Montelusa!) un Polo-club dove non si è mai vista una partita di questo nobile sport, ma in compenso si sniffa che è una meraviglia.

Se dovessi esprimere il mio sincero giudizio sul personaggio, direi che trattasi di uno splendido esemplare di coglione, di quelli che allignano dove ci sia un padre potente e ricco. All’età di anni ventidue contrasse matrimonio (…) con Albamarina (per gli amici, Baba) Collatino, alta borghesia commercializia di Palermo. Due anni dopo Baba presenta istanza di annullamento del vincolo alla Sacra Rota, motivandola con la manifesta impotentia generandi del coniuge. M’ero scordato: a diciotto anni, vale a dire quattro anni prima del matrimonio, Giacomino aveva messa incinta la figlia di una delle cameriere e l’increscioso incidente era stato al solito taciato dall’Onnipotente. Quindi i casi erano due: o mentiva la Baba o aveva mentito la figlia della cameriera. A parere insindacabile degli alti prelati romani, aveva mentito la cameriera (e come ti sbagli?), Giacomo non era in grado di procreare (e di questo si sarebbe dovuto ringraziare l’Altissimo). Ottenuto l’annullamento, Baba si fidanza con un cugino col quale aveva già avuto una relazione, mentre Giacomo si dirige verso i brumosi paesi del nord per dimenticare.

In Svezia gli capita di assistere a una specie di auto-cross massacrante, un percorso tra laghi, dirupi e montagne: la vincitrice è una stanga bionda, di professione meccanico e che di nome fa appunto Ingrid Sjostrom. Che dirti, mio caro, per evitare la telenovela? Colpo di fulmine e matrimonio. Ormai vivono assieme da cinque anni, ogni tanto Ingrid torna in patria e si fa le sue corsettine automobilistiche. Cornifica il marito con svedese semplicità e disinvoltura. (…) Corre voce, assolutamente non controllabile, che magari* l’austero professor Cardamone padre ci abbia inzuppato il pane con la nuora. E questa sarebbe la pecca di cui ti ho accennato all’inizio. Altro non mi viene a mente. Spero d’essere stato pettegolo come desideravi.

Nicola.

*magari em italiano quer dizer “talvez”, ou então, quando está no exclamativo, vira “quem dera!”. Em siciliano quer dizer “também”.

E fiquem com um pedaço de La Forma dell’Acqua que, como previsto, não está me decepcionando nadinha… Tradução amanhã ou depois. Os negritos são meus.

Il signorino Giacomo è il classico esempio di figlio di papà, aderentissimo al modello, senza uno scarto di fantasia. Il padre è notoriamente un galantuomo, fatta eccezione di una pecca di cui dirò in seguito, l’opposto della bonarma Luparello. Giacomino abita con la seconda moglie, Ingrid Sjostrom, le cui qualità ti ho già a voce illustrate (…). Ti faccio l’elenco delle sue benemerenze, almeno quelle che io ricordo. Ignorante come una cucuzza, non ha mai voluto né studiare né applicarsi ad altro che non fosse la precoce analisi dello sticchio, eppure è sempre stato promosso a pieni voti per intervento del Padreterno (o del padre, più semplicemente). Non ha mai frequentato l’università, pur essendo iscritto a medicina (e meno male per la salute pubblica). A sedici anni, guidando senza patente la potente macchina del padre, travolge e uccide un bambino di otto anni. Praticamente Giacomino non paga, paga invece il padre, e assai profumatamente, alla famiglia del bambino. In età adulta costituisce una società che si occupa di servizi. La società fallisce due anni dopo, Cardamone non ci rimette una lira, il suo socio a momenti si spara e un ufficiale della guardia di Finanza che vuole vederci chiaro si trova di colpo trasferito a Bolzano. Attualmente si occupa di prodotti farmaceutici (figurati! Ha il padre che gli fa da basista!) e spende e spande in misura di gran lunga superiore ai probabili introiti.

Appassionato di macchine da corsa e di cavalli, ha fondato (a Montelusa!) un Polo-club dove non si è mai vista una partita di questo nobile sport, ma in compenso si sniffa che è una meraviglia.

Se dovessi esprimere il mio sincero giudizio sul personaggio, direi che trattasi di uno splendido esemplare di coglione, di quelli che allignano dove ci sia un padre potente e ricco. All’età di anni ventidue contrasse matrimonio (…) con Albamarina (per gli amici, Baba) Collatino, alta borghesia commercializia di Palermo. Due anni dopo Baba presenta istanza di annullamento del vincolo alla Sacra Rota, motivandola con la manifesta impotentia generandi del coniuge. M’ero scordato: a diciotto anni, vale a dire quattro anni prima del matrimonio, Giacomino aveva messa incinta la figlia di una delle cameriere e l’increscioso incidente era stato al solito taciato dall’Onnipotente. Quindi i casi erano due: o mentiva la Baba o aveva mentito la figlia della cameriera. A parere insindacabile degli alti prelati romani, aveva mentito la cameriera (e come ti sbagli?), Giacomo non era in grado di procreare (e di questo si sarebbe dovuto ringraziare l’Altissimo). Ottenuto l’annullamento, Baba si fidanza con un cugino col quale aveva già avuto una relazione, mentre Giacomo si dirige verso i brumosi paesi del nord per dimenticare.

In Svezia gli capita di assistere a una specie di auto-cross massacrante, un percorso tra laghi, dirupi e montagne: la vincitrice è una stanga bionda, di professione meccanico e che di nome fa appunto Ingrid Sjostrom. Che dirti, mio caro, per evitare la telenovela? Colpo di fulmine e matrimonio. Ormai vivono assieme da cinque anni, ogni tanto Ingrid torna in patria e si fa le sue corsettine automobilistiche. Cornifica il marito con svedese semplicità e disinvoltura. (…) Corre voce, assolutamente non controllabile, che magari* l’austero professor Cardamone padre ci abbia inzuppato il pane con la nuora. E questa sarebbe la pecca di cui ti ho accennato all’inizio. Altro non mi viene a mente. Spero d’essere stato pettegolo come desideravi.

Nicola.

*magari em italiano quer dizer “talvez”, ou então, quando está no exclamativo, vira “quem dera!”. Em siciliano quer dizer “também”.

De volta ao conforto do lar, inventei de fazer a massa e os molhos da lasanha da sessão Fratellão de amanhã. Ficou linda, e eu, que não sei cozinhar sem provar tudo, já posso adiantar que ficou tudo uma diliça.

A festa de aniversário antecipada vai ser sexta-feira, porque a irmã e o cunhado da FeRnanda acabaram tendo um contratempo e não conseguiram ficar até segunda. Sem grilo: vou ter mais tempo de fazer meu strogonoff, coisa que não teria conseguido anteontem, porque trabalhei na loja daquele doido varrido do Fabrizio. Então amanhã vou visitar o açougueiro do supermercado, que já ficou meu amigo e hoje disse que eu tenho uma pele linda e não pareço ter 27 anos, pra comprar carne pro bendito strogonoff. O único ingrediente que não tenho é o molho inglês pra temperar a carninha, mas na hora a gente inventa…

Em tempo: a lasanha eu fiz seguindo uma receita do Cucchiaio di Argento (Colher de Prata), a bíblia da cozinha italiana, que estou comprando em volumes separados de primi piatti junto com uma revista de fofocas, uma vez por semana. Escolhi a receita clássica alla bolognese: ragù que ficou fervendo por muito tempo, temperado com cebola, alho, bacon, pimenta-do-reino e vinho (usei tinto em vez do branco indicado na receita), molho branco que pela primeira vez na vida não empelotou, e nada de mozzarella, mas só parmesão ralado e queijo tipo caciotta (um parente melhorado do queijo prato) em pedacinhos pequenininhos entre as camadas de massa, só pra dar um tchan.

De volta ao conforto do lar, inventei de fazer a massa e os molhos da lasanha da sessão Fratellão de amanhã. Ficou linda, e eu, que não sei cozinhar sem provar tudo, já posso adiantar que ficou tudo uma diliça.

A festa de aniversário antecipada vai ser sexta-feira, porque a irmã e o cunhado da FeRnanda acabaram tendo um contratempo e não conseguiram ficar até segunda. Sem grilo: vou ter mais tempo de fazer meu strogonoff, coisa que não teria conseguido anteontem, porque trabalhei na loja daquele doido varrido do Fabrizio. Então amanhã vou visitar o açougueiro do supermercado, que já ficou meu amigo e hoje disse que eu tenho uma pele linda e não pareço ter 27 anos, pra comprar carne pro bendito strogonoff. O único ingrediente que não tenho é o molho inglês pra temperar a carninha, mas na hora a gente inventa…

Em tempo: a lasanha eu fiz seguindo uma receita do Cucchiaio di Argento (Colher de Prata), a bíblia da cozinha italiana, que estou comprando em volumes separados de primi piatti junto com uma revista de fofocas, uma vez por semana. Escolhi a receita clássica alla bolognese: ragù que ficou fervendo por muito tempo, temperado com cebola, alho, bacon, pimenta-do-reino e vinho (usei tinto em vez do branco indicado na receita), molho branco que pela primeira vez na vida não empelotou, e nada de mozzarella, mas só parmesão ralado e queijo tipo caciotta (um parente melhorado do queijo prato) em pedacinhos pequenininhos entre as camadas de massa, só pra dar um tchan.