31.05.06

Quarta-feira está rapidamente se tornando o pior dia da semana, à medida em que se aproxima o fim da temporada de Cascia. A tarde é completamente cheia, sem tempo nem pra fazer xixi, e ainda por cima à noite não tem NADA pra ver na televisão.

E a festa da primavera continua.

Postado por leticia em 22:01

30.05.06

ciliegie

Margareth foi embora de manhã cedo, então fui até o hotel tomar café da manhã com mamãe e botar as malas dela no carro pra ela voltar a se instalar aqui em casa. Normalmente adoro café da manhã de hotel, mas aqui é tudo sempre doce, e eu detesto doce, sobretudo no café. Tive que me contentar com pedaços de pão sem sal com manteiga sem sal, mas me deleitei com o café com leite.

E comi cerejas pela primeira vez esse ano! As da cerejeira lá da escola ainda estão terrivelmente azedas, mas elas que me aguardem quando amadurecerem. Não vou deixar pedra sobre pedra. Sempre gostei de cereja, e desconfio que não seja só por causa do sabor, mas porque é uma fruta prática. Tenho horror a comida complicada, que requer logística e paciência. A cereja você joga na boca, come o que tem que comer e cospe fora o caroço. Uma praticidade impressionante, acho o máximo.

Postado por leticia em 21:54

29.05.06

ela

Enxaquequinha básica, só pra constar.

Postado por leticia em 23:50

28.05.06

ufa

Fazer turismo na Itália é coisa pra entendido. Porque nada funciona, ninguém sabe dar informações, tudo é confuso e impreciso. A minha dica é: NÃO FALE COM PESSOAS. Lidar com gente aqui é uma coisa muito complexa, sujeita a variáveis infinitas. Muito mais seguro se relacionar com máquinas. Eu já havia dito isso à Margareth, que veio do aeroporto pra Assis sozinha de trem, mas elas compraram a passagem Roma-Assis na mesma agência que vendeu as passagens pra Paris. E a idiota da mulher não explicou que um dos trens da tarde não era direto, precisava mudar em Foligno. A maquininha que vende passagem avisa logo: tem conexão em Foligno, quer encarar? Lógico que as duas não foram capazes de ler o tabelão dos trens (não é difícil de entender, juro, mas você tem que ter a inspiração de ir lá olhar pra ele) e perderam a estação. Foram parar em Nocera Umbra, que não é tão longe assim mas é um buraco. Mamãe me ligou rindo de nervoso dizendo que não tinha la-da ali perto, nem um bar, um orelhão, uma banca de jornal, nada. Então lá fomos nós pegar as duas na estação de Nocera Umbra.

A cidade é uma gracinha, mas foi o epicentro do terremoto de 97 e ainda está completamente destruída (as igrejas não, lógico, foram as primeiras a ser reformadas). Fica no alto de um platô e é bem visível já de longe. Mas realmente não tem NADA, e a estação, microscópica e só com duas plataformas, fica no fundo de uma espécie de beco sem saída. Visão mais bizarra do que aquelas duas sentadas ali no banquinho, rodeadas de sacolas da Galeria Lafayette, ainda está pra ser criada.

Acabamos jantando na festa aqui embaixo de casa mesmo, por falta de vontade de cozinhar. E como custei a dormir por causa da música alta, comecei Sidetracked, mais um do Mankell.

Postado por leticia em 22:48

27.05.06

x-men 3

É oficial: perdi mesmo o ano escolástico na faculdade por problemas burocráticos. Mirco me trouxe um sorvete na hora do almoço pra levantar a moral, mas não teve jeito, tive um ataque. Dormi a tarde inteira porque tristeza cansa, mas à noite já estava um pouco melhor e fomos ver X-Men 3 em Perugia.

Achei de longe o pior dos três. Os efeitos especiais são foda, mas o roteiro é esburacadíssimo e corrido, e além disso aconteceu uma coisa que me irrita profundamente: o sumiço inexplicável de personagens e o inserimento de outros com a maior naturalidade. De onde veio a Kitty Pride, que por sinal eu adorava nos quadrinhos mas achei boboca no filme? Que fim levou o Nightcrawler? Por que a Fênix foi tão pouco valorizada? Por que não foi mais explorada a história da Mística depois da perda dos poderes? Mas a pergunta de um milhão de dólares é: o que é que eles tão esperando pra botar o Gambit nos filmes, hein? :)

Postado por leticia em 22:39

26.05.06

Ontem li rapidinho o último Camiller, Vampa d'Agosto. Os meninos do curso de narração tinham avisado que o final era decepcionante, mas eles não tinham gostado muito do livro propriamente dito. Eu gostei. Achei engraçado e bem amarradinho. Como sempre, o que menos me interessa é a história; os personagens e sobretudo o ambiente siciliano são tão surreais e hilários que nem me importa o que está acontecendo, e me perco em meio aos nomes e sobrenomes dos personagens com prazer. Ótima leitura.

E então voltei a ler Mankell, que eu tinha parado porque faltava o quarto livro. Finalmente chegou, então comecei de onde tinha interrompido: The Man Who Smiled. A impressão que eu tenho é que o sueco é uma língua simples, com poucas frases subordinadas, períodos curtos e poucas metáforas. Foi a mesma impressão que tive lendo The Bookseller of Kabul. Alguém me corrija se eu estiver errada.

E durma-se com essa merda de festa...

Postado por leticia em 23:10

25.05.06

ai meus sais

Começou a maldita festa da primavera aqui embaixo de casa. Aquela cafonice de sempre, cantoras louras-Blondor com saias assimétricas e botinhas brancas, músicos com terno cor de vinho com paetês na lapela, gente de cabelo crespo e franja, the usual. Mas o que enche o saco realmente é que a música é MUITO alta. O palco fica pertinho da varanda, e a música é tão alta que parece que estão tocando num estádio pra 200.000 pessoas, em vez dos quatro gatos pingados que dançam mazurca e polca no chão de cimento vermelho. Parece que neguinho tá cantando dentro da minha orelha. Porreeeeeeee!

Postado por leticia em 23:03

24.05.06

:)

Mamãe e Margareth saíram cedo de Santa Maria hoje, pra passar o dia em Roma e de lá pegar o trem pra Paris. O sonho da Margareth era conhecer Roma e Paris, e mamãe não vai à França desde a lua-de-mel, então pareciam duas crianças contando os detalhes da viagem pra gente e explicando os planos enquanto eu separava mapas e bilhetes do metrô que sobraram do ano passado. Sabe criança quando vai em excursão da escola pela primeira vez, sem os pais? Muito engraçado :)

Postado por leticia em 23:53

23.05.06

maratonista

Assisti à minha última aula de sociologia hoje de manhã, e depois encontrei mamãe e Margareth em frente à faculdade. Conseguimos dar uma boa voltinha em Perugia, que eu adoro, vocês sabem, antes de voltar pra almoçar correndo e sair correndo de novo pra trabalhar.

Minha mãe está preocupada porque me vê correndo pra cima e pra baixo o dia todo, correndo sempre, sempre, sempre. Acha que vou acabar tendo um treco. Enquanto eu agüentar o ritmo, vou continuar correndo, porque chegar aos 30 anos tendo como patrimônio total um cachorro e um celular é ridículo, então infelizmente tenho que correr atrás do tempo perdido. Sei que estou quase ficando maluca de tão cansada, e mais impaciente do que o normal (não com meus alunos, claro), e ando dormindo mal e enxaquecosa e chorona, mas daqui a pouco passa.

O que eu queria é que esse estresse todo pelo menos me fizesse emagrecer, mas é querer demais, né...

Postado por leticia em 21:50

22.05.06

a escolha de sofia

Fui com mamãe e Margareth escolher lajotas, azulejos e sinteco hoje de manhã. Achei que fosse enlouquecer de tanto pular de uma língua pra outra, ouvindo as duas matracas conversando e tentando ao mesmo tempo entender o que o sobrancelhudo me explicava. Acabei não decidindo coisa nenhuma, e ele ficou de fazer umas contas pra eu saber se podemos ou não bancar algumas alterações no que a empresa construtora nos oferece por contrato.

Porque a dúvida cruel é a seguinte: sinteco ou piso frio? Não temos tempo pra manutenção de sinteco, absolutamente, mas é lógico que é mais valorizado, mais elegante e, coisa muito importante, mais quentinho. Mas como estamos no segundo andar, sanduichados entre dois apartamentos aquecidos, vamos ter o apartamento mais quente do prédio e o piso frio provavelmente não vai ficar tãaaaaaao frio. Enquanto não escolhermos o chão não dá pra escolher mais nada, nem cor de parede, nem cor de móveis. Então vai ficando tudo no stand-by. Estou aberta a sugestões.

Postado por leticia em 20:45

21.05.06

firenze

Nenhum de nós tinha visto o verdadeiro David do Michelangelo, então lá fomos nós cedinho pra Florença. Perdemos a manhã inteira na fila, eu e Mirco, enquanto mamãe e Margareth iam às compras. Margareth comprou apartamento no Rio e está num furor de decoração que dá até medo e saía comprando tudo o que era estatuinha que via pela frente. Mas quando finalmente conseguimos entrar e ver o homem, rapaz... Dá até arrepio. O resto do museo vimos meio correndo porque já passava da hora do almoço; o vendedor de uma loja de estatuinhas onde Margareth dizimou o estoque nos recomendou um restaurante honesto e freqüentado pelos locais, e encaramos. Não nos decepcionamos: pão delicioso feito em casa, azeite verdinho maravilhoso, um antipasto com cada salame divino, e massas gostosíssimas. Demos mais um giro rápido na cidade pra não voltar pra casa muito tarde, e ainda conseguimos jantar na sagra de Castelnuovo, com Marco e Michela. Assim que der boto fotos de Florença aqui.

Postado por leticia em 23:40

20.05.06

mais uma

E aí hoje chegou a Margareth, amiga de infância da minha mãe, que mora há mais de 30 anos nos Estados Unidos. Nunca tinha vindo à Europa; quando soube que minha mãe vinha deu a louca e resolveu vir também. Chegou à tarde, descarregamos as coisas no hotel em Santa Maria de um amigo do Mirco aonde sempre mandamos todo mundo porque é uma gracinha, e fomos, adivinha, ver móveis. Acabamos jantando em casa, fiz penne alla Norcina que ficou bem gostoso apesar de improvisado e sem cogumelo, e depois ainda fomos tomar sorvete na praça em Santa Maria. Ô sábado gostosinho!

Postado por leticia em 22:44

19.05.06

superpescheria

Descobrimos uma peixaria em Bastiola que é um show. Tudo congelado, mas congelado de um jeito esquisito, tipo supercongelado: como em A Lamb to the Slaughter do Roald Dahl, uma paulada na cabeça com um pedaço de bacalhau congelado é trauma craniano letal na certa, porque os bichos ficam mais duros que pedra. Os camarõezinhos todos congelados um a um, parecendo balinhas de jujuba que você pega com a pazinha de plástico e bota no saco. Uma variedade de coisas impressionante! Dá vontade de sair comprando tudo, desde as combinações de frutos do mar pra fazer macarrão, risoto e antipasto até os peixes em filé pra fazer no forno com batata e alecrim. Acabamos comprando camarão e mexilhões com aspargos e umas lulas pra rechear. Diliça!

E jantamos na casa da FeRnanda, pra mamãe conhecer Ripa na chulipa. Ficou encantada, porque Ripa é uma fofura mesmo.

Postado por leticia em 22:39

18.05.06

sparafucile

Quando recebemos visitas é lógico que saímos pra comer, que é só o que há pra se fazer aqui. Então levamos mamãe, Stefania e Rob pra jantar no Sparafucile, em Foligno, aquele restaurante que não tem menu e onde você tem que comer o que te botam na mesa. Hoje foi o primeiro jantar com mesas outdoors do ano, já que só agora começou a esquentar, então o serviço estava péssimo (ele só tem uma garçonete e meia) e acabamos de comer tardíssimo. Mas vale a pena, sempre. Principalmente pelo petit gateau de chocolate feito em casa com sorvete de creme idem.

Postado por leticia em 23:34

17.05.06

babel

E depois de uma manhã rodando em lojas de móveis e uma tarde trabalhando feito doida, fomos jantar na casa da Arianna. Só que a Stefania tinha chegado da Holanda com o Rob, o pai do Rob e a namorada do pai do Rob. Vocês não podem imaginar a quantidade de risadas que demos, e a dor de cabeça que nos ficou depois de uma soirée falada em 4 línguas diferentes – cinco, se contarmos o dialeto incompreensível do Ettore. Os pais do Rob são fofinhos, branquinhos, holandesinhos, cheirosinhos, arrumadinhos, e falam aquela língua estranha que ninguém entende. Gostaram de tudo, e olha que a comida nem tava essas coisas. Até fava crua com queijo pecorino eles comeram, porque o tio do Mirco insistiu. Nada de cachorros na sala porque a namorada tem medo; Leguinho e Demo ficaram lá fora chamando a gente de vez em quando. Mas foi um jantar muito divertido :)

Postado por leticia em 23:30

16.05.06

bosta

Fiz uma boa prova de sociologia hoje. Pena que provavelmente não vou aproveitar pra nada, visto que provavelmente vou ter que desistir de tudo e recomeçar ano que vem por causa dos problemas burocráticos de sempre. À tarde dei a aula mais chata do mundo, pro aluno mais chato e burro do mundo. Pra comemorar o dia legal, jantamos na nossa pizzaria preferida, que pela primeira vez nos decepcionou. Simplesmente esqueceram de pôr topping na metade da minha pizza. Legal.

Postado por leticia em 22:26

15.05.06

gubbio, de novo

E hoje mamãe encarou o cansaço pós-viagem e fomos a Gubbio ver a Festa dei Ceri. Já falei dela ano passado, quando fui com Mirco e Robertinha. Esse ano fomos mais cedo e acompanhamos a festa desde a Alzata ("levantada"), de manhã. Vimos desfile, cavalos, trombetas, estandartes e tudo o mais. E estávamos em ótima companhia: passamos o dia com o pessoal do curso de narração. Almoçamos na casa do Arturo e no meio da tarde saímos pras ruas pra pegar lugar e ver os Ceri passar. Dessa vez vimos de pertiiiiiiiiinho, aquele bicho enorme de madeira vindo todo torto voando pela rua, os hominhos carregando aquele troço com o rosto vermelho, as mãos cheias de bolhas, suor no suvaco, cabelo molhado de suor colado na testa, gritando, gemendo, grunhindo, e o pessoal aplaudindo e pulando uhuuuuuuuuuuu! É MUITO maneiro. Mas passa assim, ó, voando, e quando você vê, já passou, foi-se. Depois dessa primeira passada saímos correndo ladeira acima pra ver os Ceri antes da segunda e última pausa, no alto da ladeira antes da praça. A troca de carregadores na subida da ladeira é emocionante pacas. Arturo contou que no ano passado um dos carregadores do primeiro Cero, o de Santo Ubaldo, tava bêbado (porque a festa começa no dia anterior) e caiu; caiu todo mundo do Cero e os outros dois Ceri que estavam vindo se embolaram na muvuca e caíram também. Mas aí é só levantar e tirar a poeira e dar a volta por cima e correr pra praça, pra dar as três voltinhas e continuar subindo até a igreja. Se Santo Ubaldo chega muito antes dos outros, fecha a porta, dá mais três voltinhas lá dentro, reza um pouquinho e deixa os outros dois pamonhas lá fora, esperando a sua boa vontade. Esse ano parece que chegaram todos juntos, e assim entraram juntos na igreja.

Tipo assim, um evento cultural suuuuuuuuuupercompreensível e normal.

Recomendo altamente.

Postado por leticia em 23:22

14.05.06

mamãe chegou!

Então almoçamos cedo e fomos buscar minha mãe no aeroporto em Roma. De lá fomos diretamente à IKEA, que ela não conhecia, pra dar uma namorada nas cozinhas. Sabe como é, pagar 10.000 euros por uma cozinha é o fim da picada, e temos uma boa referência: a irmã do Mirco trabalha com cozinha (restaurante em casa, catering, take-away, cursos de cozinha, you name it – se você mora em Rotterdam, é uma ótima pedida porque a comida é Ó-TE-MA) e se dá muito bem com a sua IKEA, obrigada. Foi tudo meio corrido porque depois fomos jantar na Arianna, mas já deu pra ter uma idéia legal.

Agora, é um porre morar no fim do mundo porque essa viagem até o aeroporto é um pé no sacoooooooooooooooooooooooooo!

Postado por leticia em 22:00

13.05.06

truffe abbondanti

E a Bota tá pegando fogo essa semana.

Primeiro foi a condenação a dez anos de prisão pra Vanna Marchi e a hedionda filha, Stefania Nobile, duas "magas" que fizeram fortuna e construíram um império da picaretagem vendendo números de loteria e amuletos falsos na televisão – juntamente com um brasileiro, "Mago do Nascimento", diga-se de passagem. As duas são absolutamente horrorosas, estranhas, com "PICARETA" escrito na testa, e foram denunciadas, nesse processo, por centenas de pessoas que gastaram fortunas, perderam casa, carro, patrimônio, comprando amuletos pra salvar a vida de parentes doentes. A coisa toda começou com o Striscia la Notizia, meu programa preferido, desmascarador de picaretões. Gravaram a conversa telefônica entre uma senhora, que já tinha torrado uma fortuna em sal mágico do Mar Morto (...), e a tal Stefania Nobile. A senhora dizia que não tinha mais um tostão, que não podia dar mais dinheiro, e a Stefania: a senhora merece todo o mal do mundo. A partir de hoje a senhora não dormirá nunca mais.

Muitos outros relatos parecidos foram mostrados na televisão, e os repórteres de Striscia envolvidos na investigação foram chamados ao tribunal. O processo está rolando desde 2002 – o Mago do Nascimento fugiu em tempo pra Bahia e foi inclusive achado pelo Striscia outro dia – e finalmente as duas foram condenadas essa semana. As histórias paralelas são muitas, e as declarações das telefonistas são de arrepiar os cabelos, porque eram obrigadas a fazer terrorismo psicológico com os clientes, em sua maioria gente desesperada. Ter que dizer à mãe de um menino com leucemia que se ela não vender o carro e usar o dinheiro pra comprar um amuleto mágico o filho vai morrer não deve ser muito legal. Enfim, a coisa toda é muito nojenta e complicada, e a fortuna que essas duas fizeram é uma coisa impressionante, impressionante mesmo. Lógico que a condenação de dez anos de prisão, mais a proibição de vender qualquer coisa na televisão e o dever de devolver o dinheiro às vítimas mais lesadas, foram bem vistos pelo público, e a pena foi mais pesada do que a maioria do povão estava imaginando que seria, visto que aqui tudo acaba em pizza. Lógico que a TV está faturando horrores em cima do caso, com entrevistas exclusivas, cobertura ao vivo, debates, talk shows animadíssimos. Pessoalmente acho tudo de um mau gosto tão interplanetário, sobretudo por causa da infinita arrogância das duas (sempre de óculos escuros no tribunal, aaaaaaaah seu eu fosse juíza!), que não assisto a nada e mudo de canal assim que ouço alguma palavra sobre o assunto. Sabe nojo? Nojo.

A outra notícia, não menos nojenta, foi a descoberta de uma Picaretagem de Proporções Avassaladoras no mundo do futebol. Parece que a Juventus andou comprando partidas nos dois últimos anos, e o número de pessoas envolvidas cresce a cada dia. No meio desse bololô todo estão inclusive alguns árbitros italianos que iriam participar da Copa, e agora também parece que o goleiro Buffon anda metido num giro de apostas milionárias, e provavelmente não vai jogar no Mundial. Não preciso nem dizer que o Milan, aquele do Cavaliere Berlusca, também está no meio, né. Onde tem lama, olha o tricotransplantado ali chafurdando. O fato é que o futebol aqui é uma coisa muito séria, como no Brasil. Há pouquíssimas partidas transmitidas na TV aberta, e o dinheiro que rola com o pay-per-view das partidas (e no meio temos, além da Sky, a Mediaset; adivinha a quem pertence...) é colossal. Um mundo inteiro sendo sacudido pelas acusações mais sórdidas que o esporte pode oferecer. Pessoalmente estou cagando; sempre achei o fanatismo futebolístico uma idiotice ímpar e esse império construído em torno do marketing do esporte me enoja, então de uma certa maneira é bom ver essa merda toda no ventilador. Quem sabe neguinho acorda pra vida e passa a levar um pouco menos a sério coisas como esportes e entretenimento e coisa e tal. Esporte é esporte, caramba, não pode virar religião.

Postado por leticia em 09:05

12.05.06

il carciofo (a alcachofra), ou o salame-mor

Poucas vezes na minha vida me senti tão mentalmente cansada quanto hoje.

Passei a manhã no concessionário Volvo em Perugia, estudando sociologia enquanto faziam o tagliando (tipo uma revisão) dos 60.000 quilômetros no carro do Mirco. Saí de lá às onze e vinte e voei pra chegar em Foligno pra aula do meio-dia com a Boquinha, a malona que lê Paulo Coelho. Mas o grande choque do dia foi a aula de duas horas logo depois da Boquinha.

O primeiro impacto não foi dos melhores. Tanto eu quanto Simona achamos o cara meio nojentão, com aquela cara de indiano, os lábios pretos, a barriga proeminente, os cabelos ensebados penteados pra trás, a voz baixa e profunda. Maior pinta de picareta. Ao telefone tinham dito à Simona que ele conhecia um pouco de inglês, e ele confirmou, dizendo que nunca tinha tido problemas quando viajava. Então lá fomos nós.

Crianças, em DUAS HORAS SEGUIDAS DE AULA nós só conseguimos fazer um terço de página do livro. E nessas duas horas ele NÃO:

. conseguiu memorizar as fórmulas de saudação "Nice to meet you" ou "How do you do"
. conseguiu entender que "Hi" e "Hello" são praticamente a mesma coisa – nunca tinha ouvido a palavra Hi, que ele pronuncia rigorosamente "í"
. conseguiu entender a diferença entre "How are you?" e "Nice to meet you"
. conseguiu entender que o pronome "it" não se usa só em substituição ao "è" italiano mas também se refere a objetos sem gênero
. conseguiu entender que "be" corresponde tanto a "ser" como a "estar"

entre outras coisas. Saí das duas horas exausta, como se tivesse acabado de fazer o vestibular pra Medicina da Unicamp. Cacetes estrelados! O melhor do episódio foi a pérola de sapiência e conhecimento dos processos de aprendizado lingüístico: ele tem uma reunião na quinta com o chefe que o mandará pra trabalhar em Bangladesh, e quer mostrar que melhorou o inexistente inglês. Então disse que é crucial fazer mais duas horas de aula na quarta, sabe, pra fazer bella figura no dia seguinte.

Já disse à Simona que o dê pra outro professor. Estou velha demais e sou foda demais pra agüentar essas coisas, sinceramente.

Postado por leticia em 22:23

11.05.06

bom!

Pra compensar a malona, hoje aconteceu uma coisa legal: falei no telefone com a mãe da Chiara, uma das minhas alunas preferidas. Tem uns 15 anos e é uma espoleta; fala pra caramba e conhece a cidade inteira. Tem as suas teorias malucas em relação às incongruências do inglês (que eu sempre rebato com as maluquices do italiano) e nossas aulas são muito divertidas. Ela começou a fazer aulas particulares de inglês porque estava com um débito formativo na escola – não me perguntem como isso funciona, mas você pode passar de ano mesmo ficando pendurada em algumas matérias. Sua média era 4,5 e no primeiro dia de aula a mãe veio falar comigo, dizendo que era uma missão impossível porque a filha não era boa aluna e coisa e tal. Veremos, respondi. Fizemos duas aulas de uma hora por semana por duas semanas antes da primeira prova na escola. Tirou 5,5 e ficou toda contente; eu achei uma merda de nota. Continuamos normalmente com nossas aulas, fazendo os deveres de casa juntas, tirando dúvidas, eu dando exercícios extras. Mais uma prova, e um 6. Na última prova tirou 7, e por isso a mãe quis falar comigo no telefone. Agradeceu um milhão de vezes, disse que a professora da Chiara na escola anda sorrindo de orelha a orelha, que nunca viu uma recuperação tão rápida (e eu achando tudo lento e insuficiente...), e que eu fiz um milagre. Aí eu me irritei porque a Chiara é uma garota inteligente e que faz aquela lenga-lenga toda mas na verdade gosta de inglês, me faz as perguntas certas, suas dúvidas nunca são idiotas, tem boa memória pra vocabulário. A mãe insistiu dizendo que o mérito era meu porque só um bom professor consegue botar algo na cabeça de aluninho ralé. Achei um modo terrível de falar da filha, mas fiquei quieta. De qualquer maneira, é muito bom ouvir essas coisas :)

Postado por leticia em 22:09

10.05.06

malona

Eu tenho tido uns alunos meio estranhos ultimamente. A última figura que me apareceu hoje foi uma mala sem alça filha de uma outra mala sem alça que fez algumas aulas comigo e outras com a Liese, e foi odiada por nós duas. A filha já fez aula com todo mundo ali na escola, e sempre foi odiada por todo mundo; era uma espécie de lenda metropolitana que eu ainda não tinha conhecido.

Começamos mal: ela é o tipo de pessoa que acha realmente que uma aula a cada três meses, sem livro, só "conversação" (como odeio esse termo!), é suficiente pra manter o seu parco inglês funcionando. E quando vi a figura a coisa só piorou: clássica balzaquiana que pensa que tem 18 anos (tudo bem se você tem um corpo de 18, mas isso não significa que você tenha que se vestir como se tivesse 18, pelamordedeus), dois quilos de pó-de-arroz e base na cara, boca inchada de silicone, um nariz com cara de plastificado mas que não é porque o da mãe é idêntico, sorriso forçadérrimo de Katie Holmes, cabelos chapinhados até o bulbo, decote vertiginoso mostrando os peitos siliconados e a lingerie de florzinha, cinto com brilhantes na fivela, pulseira com o seu nome escrito em brilhantinhos, e, cerejinha no chantilly, um crucifixo imenso formado por duas vezes a palavra amore ao contrário, também de brilhantes. O perfume não podia ser mais óbvio: doce e fortíssimo.

Aí ela abre a boca e começa a falar. Tem duas lojas de roupas pra homens, uma no shopping de Trevi e a outra no centro de Foligno; de manhã ela não trabalha porque tem vendedoras nas duas lojas, e só começa no "batente" depois do almoço; é formada em Belas-Artes e desenha as camisas das lojas, mas já imagino o que não deve sair dos seus sketch books; nos fins de semana sai com os amigos pra discoteca. A conversation foi indo, horror dos horrores, aquela pronúncia italiana hedionda, palavras em italiano misturadas na conversa, ela disse que confundia inglês com francês (...) porque falava francês muito bem, embora tenha soltado um "Tulúse-Lautréc-a" em um certo momento; falou que viaja muito, ah, sim, porque viajar abre a mente (...), mas viaja sempre de excursão (..........). Quando fiz a pergunta fatal – o que você lê? – a resposta foi a única possível: "aaaah amo molto Paulo Coelho, Dan Brown, Sidney Sheldon..."

Juro, passei sessenta minutos me segurando pra não encher a garota de tapas na cara. Quando finalmente saímos da clausura, vi Simona sentada na secretaria, segurando o riso. Quando a mala foi embora, ela começa: por que demorou tanto? Tava doida pra ver a tua cara depois de uma hora com essa insuportável! Imita, imita! Você também sentiu vontade de encher a cara dela de porrada?

Simona e eu somos almas gêmeas em certas coisas.

Postado por leticia em 23:08

09.05.06

desejos

Sabe quando você fratura alguma coisa e de repente começa a ver gente engessada em tudo que é lugar? Ou mulher grávida, que tem a impressão que todo mundo tá grávida também? Eu estou assim com duas coisas hoje em dia: carros e móveis.

A gente vai ao cinema ver um filme cheio de ação, o mocinho com uma pistola apontada na cabeça, um corte sangüinante na testa, o bandido falando cuspindo bem pertinho dele, uma mulher berrando no background, e eu cutucando o Mirco: adorei a cozinha. O pior é que ele responde: eu tava pensando exatamente a mesma coisa...

O carro que eu dirijo hoje é do Ettore. Na verdade é do Ettore mas era usado inicialmente como carro de cortesia pra clientes que eventualmente devessem deixar seus veículos na oficina. Como na oficina eles fazem caminhões e pouquíssimos carros, a Uno acabava sendo usada pelos marroquinos quando ficavam sem gasolina (eles vivem sem gasolina e sem crédito no celular, uma coisa impressionante). O carro custou 100 euros, então imaginem o número de quilômetros e o estado em que o coitado se encontra. Detesto dirigi-lo, detesto. Detesto porque é duro, porque treme todo quando chega aos 100 por hora, porque não tem rádio, porque o cinto de segurança corta o meu pescoço, porque já me deixou a pé no meio da rua duas vezes, porque fede a marroquino. Mas detesto sobretudo porque não é meu.

Se eu tivesse dinheiro hoje pra comprar o carro que quisesse, seria muito frugal: escolheria um city car, porque carros esportivos me dão um certo nojinho e SUVs são incompatíveis com a vida na Europa, embora estejam muito na moda aqui na Bota ultimamente. Quero um carro econômico, nesses tempos de carência de petróleo; quero um carro relativamente pequeno e fácil de estacionar, mas não tão pequeno ao ponto de balançar todo quando passa uma rajada de vento; quero um carro que tenha rádio, please; quero um carro que não cheire a marroquino mas, sobretudo, quero um carro que seja MEU, porque usar as coisas dos outros anda me irritando sobremaneira.

Escolheria algum desses: o Peugeot 1007, com a porta deslizante, que é uma fofura; ou um Renault Scénic, que diriji na França e é uma delícia; um Renault Modus, que é muito simpático e tem cores lindas; um Citroën Xsara Picasso porque sempre gostei, embora o modelo já esteja meio ultrapassado; um Nissan Note, que não é tão grande quanto parece e é bem bonitinho; uma Lancia Ypsilon ou uma Musa.

Como não posso comprar o que quero, estou à procura de uma Punto velha mas bem tratada. É um carro que dura e de mecânica fácil, e gostosinha de dirigir. Tínhamos achado uma no ponto, mas por motivos de falta de sorte generalizada não rolou. O lance é procurar, e torcer pra um negócio da China aparecer pela primeira vez na minha vida.

Postado por leticia em 22:57

08.05.06

sociologia

Esonero de Sociologia hoje. Esonero é uma prova que não é prova; é como um teste parcial, que resulta em uma nota que não vai direto pro "boletim", mas vai ser usada pra fazer a média com as outras notas dos outros esoneri. Entenderam? Nem eu, não importa.

Eu tinha estudado pra esse esonero na semana passada, porque deveria ter sido feito no dia 24, véspera de feriado, mas o professor não deu as caras, lembram? Se já não gosto de estudar sozinha em casa, imaginem re-estudar. Então dei só uma repassada rápida e lá fui eu fazer a prova.

A sala era pequena, a turma enorme (porque tinha gente de outros períodos fazendo também) e todo mundo sentado grudado nos vizinhos, com livros e anotações embaixo da carteira. A mesma casa da mãe Joana que foi a prova de Linguistica... O maluco do professor semi-hippie chegou e escreveu com sua letra tremida as três perguntas no quadro-negro. Perguntas chatíssimas e que eu iria levar séculos pra pensar na minha cabeça até achar todas as informações necessárias. E tempo eu não tinha, porque depois tinha que ir correndo pra Foligno trabalhar. Então resolvi dar um golpe baixo e fazer a prova de múltipla escolha feita especialmente pros pobres estrangeiros que têm pouca intimidade com a língua italiana. Horrível, eu sei, mas fiz assim mesmo. A prova tava ridícula e só precisei olhar no livro uma vez, pra procurar um nome de um sociólogo que eu não lembrava se tinha escrito a teoria A ou a B. Acho sinceramente que tirei 30/30. O próximo esonero é terça que vem; são mais dois capítulos longos e chatos. Mas minha mãe é socióloga e o que eu não entender, estudo com ela. E vamos que vamos.

Postado por leticia em 22:44

07.05.06

terremoto, de novo

Então o que rolou essa madrugada foi o seguinte.

Pouco antes de uma da manhã. Acordo com o quarto tremendo e chacoalhando. Cato a mão do Mirco no escuro; não entendo o que está acontecendo. Ainda retardada de sono, pergunto "tremeu ou estou sonhando?" e Mirco responde "tremeu e como, levanta e se veste, vamos pra Arianna ver se tá tudo bem". Demorei séculos pra entender a ordem, porque ainda jurava que tava sonhando. Como o outro miniterremoto que presenciei, aquele em Foligno, fiquei com aquela impressão estranha que foi tudo coisa da minha cabeça, e sem saber o que fazer. Ir pra Arianna fazer o quê? E se o prédio cair (olha o retardamento...) e a gente perder todas as fotos das viagens e os meus livros? Será que o Leguinho sentiu alguma coisa? Porque dizem que os animais são sensíveis a esses negócios e dão o alarme antes mesmo que aconteça. Mas não ouvimos os cachorros aqui das redondezas; ninguém latiu, nem a Luna, a histérica do andar de baixo, nem o Romeo, o labrador da casa ao lado, nem o Jimmyyyyyyyyyyyy, o Yorkshire da Foca Monaca aqui em frente. Descemos as escadas correndo, e quando chegamos lá embaixo encontramos o bairro inteiro na rua, conversando. Todo mundo de moletom jogado às pressas por cima do pijama ;) Nos prédios novos em frente à casa da Arianna, todas as janelas acesas. Muita gente na rua batendo papo e discutindo o acontecido. Quantos graus? Não sei, mas não deve ter sido muito forte porque não ouvi louça chacoalhando. Onde será que foi o epicentro? Em Nocera de novo? Coitados, tomara que não, a cidade ainda nem foi reconstruída ainda, desde 97... Aliás, no terremoto de 97...

Fomos ver os cachorros. Demo nem se dignou a sair da cama pra nos saudar. Leguinho veio com os olhos vermelhos e as orelhas caídas; obviamente não tomou conhecimento de nada. Cachorro banana é isso aí.

Encontramos a avó do Mirco sentada na cama dos pais do Mirco, de pijaminha e touca na cabeça. Estava fazendo xixi quando a terra tremeu e levou um susto danado. Todo mundo comentando o terremoto de 97, aquele que destruiu a basílica de São Francisco em Assis e matou dois engenheiros que os frades cismaram que tinham que ir lá avaliar os danos, antes mesmo que passassem as últimas ondas de tremor, aquelas de acomodação das placas. A casa da avó do Mirco, em Tordandrea, foi o avô dele que construiu depois que voltou a pé da Etiópia, onde foi prisioneiro por alguns anos, até Assis. Ele mesmo construiu, sozinho. SOZINHO. Então quando teve o terremoto a galera foi toda dormir em tendas no jardim, por semanas, até que passassem os tremores da acomodação. Ele, que confiava no seu taco, dormiu sempre em casa. Fui eu quem construiu, não cai nem que a vaca tussa. Acho ótima essa história.

Hoje no jornal vimos que o tremor foi de 3.3. Não se sabe nada do epicentro; a notícia falava de "leve terremoto na província de Perugia" e de um outro tremor mais leve na ilha de Stromboli, na Sicília. Parece que aqui foram dois tremores, um de 3.1 e o outro alguns minutos depois, de 3.3. Não sabemos qual dos dois nós sentimos. Mas, cara, a sensação é MUITO bizarra.

Postado por leticia em 09:01

06.05.06

sabadão lento

Passei o dia inteeeeeeiro em casa mofando. Adoro sábados assim. Não saí nem pra correr porque ontem acho que não me aqueci direito e algum músculo interno da bacia tava doendo. Fiquei me divertindo montando cozinhas com o Kitchen Planner da IKEA, estudei um pouco de Teorie e Tecniche di Comunicazione di Massa, vi algumas porcarias na televisão. Nem precisei me preocupar com o almoço, porque ainda tinha molho de ganso congelado do almoço de primeiro de maio. Dormimos a tarde inteira, jantamos piadina em casa mesmo e fomos dormir vendo X-Men 2 no DVD. Ócio total. Amo.

Postado por leticia em 23:48

05.05.06

MI:III

Fomos ver Mission Impossible: 3 com Gianni e Chiara hoje. Quer saber? Fora a atuação emocionante estilo caixa eletrônico do Tom Cruise, o filme é muito maneiro. Bem feito PRA CACETE, eu achei. E você fica com os dedos apertando o braço da poltrona do início ao fim. Adoramos.

O problema é que semana que vem sai o Da Vinci Code e Gianni e Chiara, grandes admiradores do livro, querem ver, e querem ver com a gente. Se eu tomar uma Maracujina antes e dormir durante o filme, talvez a coisa não seja tão ruim...

Postado por leticia em 23:45

04.05.06

macalão

Inventei um macarrão estranho hoje. Fiz fusilli (parafuso) especial da Barilla – a massa é de 5 cereais, e eu amo tudo o que tem cereal na receita – com feijão branco enlatado e cogumelo. Com preguiça de cortar alho pra fazer refogado, refoguei com dado – caldo Knorr – de alho e salsinha e outro de ervas aromáticas mediterrâneas. Sabe que ficou uma diliça?

O bom do macarrão é que combina com absolutamente qualquer coisa. Tudo o que você joga por cima do macarrão fica uma delícia, é impressionante. Eu gosto de macarrão com feijão, com verduras tipo abobrinha, aspargos, alcachofras, ervilhas, berinjela; gosto de macarrão com atum, com moluscos, com crustáceos; massa com carne de ganso, de javali, de vitela, de lebre, de faisão, com lingüiça, com presunto, com bacon; macarrão sem nada, só com alho torradinho e azeite – minha versão do spaghetti all'aglio e olio, porque aqui eles não comem muito alho, jogam o dente inteiro, com casca, no azeite, e depois tiram, mas eu amo alho então esmago bem esmagadinho e deixo dourar devagarzinho no azeite. Macarrão é uma comida muito foda. Valeu, Marco Polo.

Postado por leticia em 22:41

03.05.06

aaaaaaah diliça!

Como é bom andar de bicicleta quando o tempo está legal! O sol já queima a pele, mas um bom filtro solar resolve; de qualquer modo, o ar ainda é fresco o suficiente pra permitir que você chegue ao destino sem estar toda suada. Tudo bem que eu não suo quase nada, mas com a temperatura mais amena eu não fico nem vermelhona.

Escolhi a estrada mais longa pra chegar aos correios. Toda a cidade cheira a jasmim. Os choupos já estão soprando no ar suas bolinhas de paina, e parece que está nevando. O riacho que corta Bastia está verdinho e calmo, e as patinhas e as cisnas ficam dando voltas com seus filhotinhos na água calma como piscina, ali onde os velhinhos vão pescar. As andorinhas passeiam pelos céus fazendo escândalo (aqui diz-se que uma andorinha não faz primavera...).

Ainda consegui a proeza de almoçar em casa. Fiz filé de merluzo cozido no vinho branco com alho e alecrim, acompanhado de pirê de batata e salada. Cosa vuoi più dalla vita? Un amaro Lucanoooooooooo…

Postado por leticia em 14:32

02.05.06

ufa

Graças aos céus hoje só tinham 5 alunos em Cascia. Nada de gente jogando bolinhas de papel no cabelo dos outros, gritando, sussurrando, enchendo a paciência.

A má notícia é que a prova deles foi adiada de junho pra setembro. Se eu tiver que ir praquele fim de mundo no calor do verão dar aula praquelas malas eu me mato.

Postado por leticia em 22:11

01.05.06

pranzo primo maggio

O almoço de primeiro de maio normalmente se faz em restaurante. O patrão paga e come junto com os funcionários. No ano passado resolvemos fazer na casa da Arianna, porque dinheiro não dá em árvores, e esse ano repetimos a experiência.

Quem se ocupou da cozinha foi o tio Guerriero, claro, o Homem dos Dedos Gigantescos, porque quando o assunto é cozinha é ele quem manda e fim de papo.

Ótimo, porque vai cozinhar bem assim na casa do chapéu. O menu:

Coratella di agnello con torta al testo – uma espécie de ensopadinho medonho com os órgãos internos do cordeiro. Tradicionalmente servido com a famosa torta al testo, que compramos no Leo, um velho que só faz isso na vida há anos, em Tordandrea.

Fischioni al sugo d'ocafischioni è um outro nome pra tortiglioni, uma massa curta que eu nunca compro porque detesto, e acho que só combina com o molho de ganso mesmo. Apesar de menos temperado do que eu normalmente gosto, estava MUITO bom. Mas a morte do molho de ganso é, pra mim, o gnocco. Gnocchetti al sugo d'oca è assim qualquer coisa.

Agnello arrosto e cappone arrosto – cordeiro e galo castrado, assados no forno a lenha. Nunca cozinham porco pro almoço de primeiro de maio porque tem sempre algum muçulmano na "equipe".

Patate arrosto e insalata – batatas no forno e salada fresca, da horta.

E, de sobremesa, o tiramisù, que o Guerriero levou horas batendo pra não ficar com gosto de ovo.

Os cachorros fizeram a festa com o tanto de ossos que ganharam e aquele monte de gente andando pra lá e pra cá. Brincaram tanto que às sete da noite estavam todos estendidos pelo chão, destruídos, massa falida total. Gatos idem.

Da esquerda pra direita: Maurizio, o Hominho, de Brufa; Stefano, gigantesco, de Cannara, com a mão apoiada no Mustafa, o Marroquino dos Dentes Marrons; Marco, de Bastia; Yavo, maluco da Costa do Marfim, que trabalha só ocasionalmente na oficina porque não sabe fazer nada (não sabe nem de que planeta veio... Mas é uma figuraça e é sempre a alegria da festa, apesar de ninguém entender o que ele diz); Ettore, Mika (irmão do Dejan, o sérvio que está em pé) e Mirco. E, claro, Leguinho e Demo. Faltou o Hussei, que apesar do nome é da Croácia, e o Rinat, que é do Usbequistão. E Jorge, equatoriano, que está de licença médica e ninguém sabe por quê.

Postado por leticia em 22:04