30.04.06

domingão

Queríamos ir à IKEA pra namorar as cozinhas, mas como minha mãe está vindo pra cá e nunca foi à IKEA, resolvemos deixar pra ir com ela. Então levantamos tarde e nem tomamos café.

Chegamos na Arianna pro almoço cheios de amor pra dar, mas em vez da tradicional pasta fatta in casa almoçamos os restos da lasagna que eles jantaram ontem e um prato de minestra (sopa de massinha), porque estavam todos ocupadíssimos preparando o cordeiro pro almoço de amanhã.

Pra compensar, fomos jantar no Terziere, aquele em Trevi, com Marco e Michela. Repetimos o risoto com queijo cremoso e trufas da outra vez, delicioso. Nem pedimos o secondo porque a porção é bem abundante.

E acabou o domingo.

Postado por leticia em 22:39

29.04.06

ainda...

Falando em política: ontem à noite, antes de cair no sono, vimos um pedaço de Matrix, o programa de entrevistas daquele pamonha ex-apresentador do TG5, mostrando o bafafá que foi a votação pra presidente do Senado.

O negócio é o seguinte: a margem de vitória da esquerda sobre a direita nas últimas eleições foi realmente muito, mas MUITO pequena, o que é assustador, mas a direita exagerou sugerindo o nome de Giulio Andreotti, o Corcunda Mafioso, pra presidente do Senado. O cara é envolvido em zilhões de escândalos de tudo que é tipo, TODO MUNDO sabe disso, e mesmo assim o corcundinha, que é senador vitalício (no comment), ainda vira candidato.

Ontem rolaram as famosas eleições. Algumas cédulas que votavam pelo candidato da esquerda tinham o seu nome escrito errado (Francesco em vez de Franco), e como a comissão não sabia o que fazer, porque é óbvio que quem votou queria votar mesmo era no Franco mas errou o nome (olha como eu sou inocente), mas ao mesmo tempo você não pode dar o voto pra um nome que oficialmente não existe, resolveram votar tudo de novo. Aparentemente adiaram a votação pras oito da noite, em meio a protestos e bagunça dentro do Senado, sininho tocando pra neguinho calar a boca e nada, aquelas tosquices italianas. Aparentemente também houve algum problema e só lá pras dez da noite nossos queridos senadores recomeçaram a votar. Acabo de ver no jornal que Marini, o candidato da esquerda, não conseguiu o número mínimo de votos por um voto só. Hoje vão repetir a votação.

Situação semelhante na Câmara dos Deputados: Bertinotti, o comunistão-mor, não atingiu o número mínimo por poucos votos, e a nova votação acabou de começar.

Gente, vocês não têm idéia do quanto é tragicômico acompanhar tudo isso de perto. Juro. Parece final de Copa do Mundo, só que os insultos de ambas as partes são mais elaborados ;) É cômico porque a gente vê que está mesmo no país da pizza, e trágico porque, cacetes estrelados, Andreotti presidente do Senado é como, sei lá, deputado que mata gente com serra elétrica! Ah.

Falando sério, a situação é muito delicada e todo mundo já acha, inclusive eu, que esse governo de esquerda que mal começou não vai durar nada. Porque aqui é assim, ninguém conclui mandato (só o Berlusca...), porque quando as pressões do contra aumentam, o governo cai. O problema é que o governo do tricotransplantado deixou o país na merda, abalou seriamente a economia e tornou a vida de milhões de pessoas incrivelmente mais difícil. Muitos dos votos pela direita nas últimas eleições, tenho certeza, foram dados simplesmente pelo medo de votar nos "comunistas", que ainda são figuras mitológicas por aqui. Sabe aquela coisa do comunista malvado que vai botar albaneses/neguinhos/turcos fedorentos dentro da sua casa? É assim. É triste ou não é?

Postado por leticia em 09:42

28.04.06

tivù

E hoje foi o segundo episódio de Notti sul Ghiaccio (Noites Sobre o Gelo), formato adaptado de Strictly Ice Dancing da BBC. Depois do sucesso de dois anos do Ballando con le Stelle, em que VIPs e professores de dança esportiva formavam casais que competiam entre si, e do altíssimo Ibope das competições de patinação artística durante as Olimpíadas de Inverno, eu imaginei mesmo que um mix das duas coisas acabaria aparecendo. Não sabia que era um format já existente, mas as chamadas do programa não me surpreenderam.

Eu gosto dessas coisas. Gostei de Ballando con le Stelle, porque gosto de ver gente dançando. Gosto também de ver VIPs idiotas fazendo papel de palhaço, mas isso é só um bônus ;) Gosto da Milli Carducci, que apresenta os programas; é uma mulher educada, não-plastificada, que se veste sobriamente, é simpática, não faz comentários idiotas e, sobretudo, NÃO GRITA. Tem cara de mãe de família supernormal, e é por isso que fazia propaganda das cozinhas Scavolini e agora faz publicidade televisiva de uma marca de manteiga. Não conheço nenhum dos VIPs, a não ser aquele traste da Alba Parietti, mulher odiosa que não assume a idade, que usa saia microscópica, que faz bico pseudosexy com os lábios siliconados e sorri com os zigomáticos siliconados e me dá vontade de vo-mi-tar. Ontem ela se fodeu e achei ótimo. Degli altri non mi frega niente, não me interessam porque não os conheço, mas acho interessante notar como uma semana de treinos intensos pode fazer com que um pedaço de pau comece a patinar com um pouco de graça, como quem antes fazia esforço pra ficar em pé nos patins agora já patina até de marcha a ré, e coisa e tal. As roupas são menos cafonas do que as das competições oficiais, estranhamente, e as trilhas sonoras são bem legaizinhas. Acaba sendo um programa legal pra uma noite de sexta em que você não tem forças pra sair e TODOS os outros canais só mostram debates políticos intermináveis.

Postado por leticia em 23:29

27.04.06

automobilmente azarada

O', e não é que a Uno me deixou na mão de novo?

Voltando de uma aula particular, o carro morreu no sinal. O sinal fechou de novo e eu lá, tentando reanimar o bichinho. Ao meu lado parou um carro do Carabinieri; perguntaram se o carro tava morto e eu respondi, defuntíssimo. Pararam atrás de mim e me ajudaram a ligar o menino de novo. Mico total, de parar o trânsito ;)

E na hora de ir embora pra casa, eu cheia de pressa pra chegar logo em casa e ver CSI tomando uma sopinha básica, e quem disse que o carro liga? Na rua da escola não passa ninguém nunca, meus alunos já tinham ido embora, não tinha ninguém nas redondezas às oito e meia da noite – paese di mangioni, às horas das refeições você não vê alma viva nas ruas! Esperei quarenta minutos jogando Tetris no celular, porque a luz interna do carro é muito fraca e não dá pra ler. Chegaram Mirco e Ettore, e acabamos comendo na casa da Arianna. Bosta de vida. Minha tia é que tem razão, pobre tem é que morrer!

Postado por leticia em 23:21

26.04.06

sintonia

Eu normalmente nem me manifesto, pra ver se funciona mesmo. Mas funciona. Quando estou com vontade de comer alguma coisa, lá pelas últimas aulas do dia, o Mirco invariavelmente manda um SMS sugerindo exatamente o que eu tava com vontade de comer. Hoje quase mandei um torpedo sugerindo uma pizza, mas deixei quieto. Cheguei em casa e lá tava um pedaço de pizza branca de alecrim me esperando. Bom :)))))

Postado por leticia em 22:16

25.04.06

festa della liberazione

Adoro feriado no meio da semana, mesmo sem viagem. Terminei La Concessione del Telefono, do Camilleri, enquanto o Mirco roncava no sofá; comecei The Cement Garden, que è bem interessante, e mais tarde fomos pra Arianna. Ainda tava cedo, então fomos dar uma volta com Leguinho e Demo, ainda macios e brilhantes do banho de domingo. Um mormaço chato que cegava a gente, mas pelo menos não tava nem frio nem muito calor. Almoçamos tagliatelle fatte in casa com prosciutto crudo e aspargos, pra variar do molho de tomate, e como o papo com o Ettore tava começando a nos irritar, saímos correndo pra casa. Passamos na locadora pra pegar Ice Age, que não tínhamos visto, Mirco dormiu no meio, terminei de ver o filme, fui ler, lá pras seis ele acordou, terminou de ver o filme, jantamos carne assada com farofa e batata e fomos pro cinema ver Ice Age 2 que é muito engraçado. A dublagem não é ruim, tenho que admitir; a dubladora da mamuta é a mesma da peixinha maluca de Nemo, e a mulher é muito foda. E depois casa e caminha, que amanhã se recomeça.

Postado por leticia em 23:09

24.04.06

o glamour da universidade européia... cof cof

Hoje tinha prova de sociologia na faculdade, às quatro da tarde. Tinha.

Saí de casa logo depois do almoço, porque tinha que passar no contador pra pegar um cheque, aos correios pra depositar, e à Libreria Grande pra pegar o último Mankell que me faltava, e que, ai de mim, veio com a nova capa da Vintage, diferente de todos os outros livros da coleção. Dou de cara com os correios fechados, porque amanhã é feriado e então à tarde os funcionários públicos não trabalham. Lógico que não tinha nenhum cartaz avisando, e havia dúzias de pessoas paradas na porta, tentando olhar lá pra dentro através do vidro, procurando entender se estava fechado porque era hora de almoço (mas a agência de Ponte San Giovanni não fecha pro almoço) ou porque tava fechada mesmo. Quando estava voltando pro carro Ludovica manda um SMS avisando que tinha um cartaz na porta da sala de aula, dizendo que a aula de hoje tinha sido cancelada. Como hoje não era aula mas prova, ela achava melhor o pessoal aparecer no horário combinado, pra evitar perder a prova, se tivesse rolado um erro da secretaria. Lá fui eu com a fubica subindo as ladeiras infinitas pra Perugia, parei o carro no estacionamento caríssimo perto da faculdade (eu tinha que sair correndo pra Foligno depois, senão tinha ido de ônibus) e quando chego na faculdade dou de cara com as meninas putas da vida: a prova tinha mesmo sido cancelada, o cartaz apareceu só de manhã, nada de aviso no site da universidade nem aviso prévio, e assim foi um feriadão perdido pra turma inteira, porque todo mundo voltou mais cedo de casa – de Nápolis, da Calábria, da Puglia, de Ascoli Piceno, de Pordenone – pra fazer o raio da prova. Não sabemos o que aconteceu, o professor não comunicou nada nem pediu desculpas, mas qualquer compromisso cancelado numa segunda-feira véspera de feriado cheira a viagem de última hora e não a emergência, não acham? Fui direto pra Foligno pra três horas de aula e voltei pra casa pra jantar piadina e ver Lost.

Postado por leticia em 23:04

23.04.06

domingão

Domingo bobo. Acordei cedo, fui correr, tomei banho e fui estudar sociologia pra prova escrita de segunda-feira. Mirco só foi acordar depois do meio-dia e fomos pra Arianna almoçar. Primeiro almoço a céu aberto do ano, obá! Lasagna, costeletas de cordeiro na churrasqueira e batatas assadas. Aproveitamos pra lavar os cachorros, que estavam fedendo feito cabritos.

Arianna me deu um vasinho de manjericão e um de aipo. Em casa transplantei o aipo pra um vaso maior, pra ele poder crescer direito, e deixei-o na varanda da sala, que pega o sol da manhã e onde ficam os outros vasos de temperos e os dois vasões de cravos. Botei o manjericão, que precisa de muito sol, na varanda do quarto, pra pegar o sol forte da tarde. Arrumei melhor as outras plantas, todas gordas; são menos carentes e precisam de menos manutenção. Tirei fotos pra ir acompanhando o crescimento. É engraçado, mas eu acho todas tão bonitinhas que toda hora vou lá na varanda ver :)

Postado por leticia em 15:19

22.04.06

casa nova

Então lá fui eu escolher as louças dos banheiros na Marini Edilizia. Optamos pelos sanitários suspensos, que facilitam a limpeza. Brancos. Também escolhi o termostato do chuveiro colocado externamente; é mais eficiente (se alguém resolver lavar louça enquanto eu estou no banho a minha água não perde temperatura) e, em caso de problema, não é necessário quebrar a parede pra consertar. Fiquei sabendo que, como nós não queremos a maldita banheira, que é mais cara do que um box pra chuveiro, temos direito ao maior box possível. As torneiras vão ficar pra depois, assim como os pisos e azulejos; só era preciso escolher agora as louças pro idraulico (o bombeiro) poder fazer as instalações corretas.

Aliás, segunda vou me encontrar com ele na casa nova pra ver direito a disposição dos banheiros e coisa e tal – as louças suspensas precisam de uma parede mais espessa por trás, então não posso instalá-las onde me der na telha – e vou aproveitar pra perguntar se dá pra fazer ralo no chão dos banheiros. Todo mundo acha estranhíssimo, como se eu estivesse falando de, sei lá, caminhar plantando bananeira ou comer rato grelhado. Cacetes estrelados, um ralo é um ralo, será que é tão difícil assim imaginar um ralo não dentro do chuveiro, mas fora? Tão difícil imaginar alguém lavando um banheiro em vez de dar uma limpadinha com paninho e Mastro Lindo? Enfim, vamos ver o que o idraulico diz.

Postado por leticia em 13:02

21.04.06

ensaboa, mulata

Arrumamos uma faxineira.

Mirco se assustou muito com a minha última crise de enxaqueca, porque cheguei a meio que delirar de tanta dor. Ele acha, em parte com razão, que as crises vêm quando estou estressada e/ou cansada demais, então resolveu chamar alguém pra limpar a casa. É uma romena chamada Monica, muito esperta e com um italiano perfeito. Mora aqui perto, com um motorista de caminhão, também romeno, que trabalha com o pai e o irmão do Dejan, aquele menino sérvio que trabalha pro Mirco. A empresa de transporte onde eles todos trabalham é cliente do Mirco, por sinal; aqui é tudo assim, todo mundo conhece todo mundo, e quando aparece cliente novo, antes de aceitar o serviço, o Mirco sai ligando pra cima e pra baixo pra saber quem é fulano, se paga direito, se é picareta e coisa e tal. Enfim, a garota então é de confiança, e já tinha ido fazer faxina na oficina e o Mirco deu o OK. Quando era pequeno, ele vivia na oficina do Ettore, e, enquanto não podia trabalhar direito porque era pequeno demais, fazia a limpeza, então é sempre ele que dá o OK pra eventuais faxineiros, e ser limpo é condição fundamental pra contratação de qualquer operário. Dado o OK pra Monica, lá veio ela. Quando chegou eu tinha acabado de voltar da corrida, estava toda descabelada e com o rosto vermelho (eu praticamente não suo, só vasodilato). Mostrei onde estavam todos os produtos de limpeza e deixei-a cuidando dos banheiros enquanto fui de bici aos correios pegar o pacote que meu pai tinha me mandado (os CDs novos da Marisa Monte). Aproveitei pra ir ao contador também, deixar meus contra-cheques e tirar umas dúvidas, e quando cheguei em casa a Monica já tinha quase terminado a zona notte (quartos e banheiros) e tava passando pra sala e pra cozinha. Ficamos batendo papo, ela limpando a cozinha e eu plantando mais duas piante grasse na varanda, até meio-dia, quando ela foi embora e eu fui tomar banho e almoçar pra ir pro trabalho.

Nem acredito que a casa está um brinco e eu não precisei mover uma palha. Fazer faxina nesse apartamento estúpido, mal dividido e mal decorado está ficando mais difícil a cada dia que passa, não tenho mais paciência mesmo, então é bom ter alguém pra ajudar. Faxina feita hoje significa sábado de manhã livre, o que cai como uma luva, visto que tenho que ir à Marini Edilizia escolher azulejos e piso frio pra casa nova. Também precisaria estudar, porque segunda-feira tem prova de sociologia, mas enfim...

Postado por leticia em 21:34

20.04.06

as lesmas

Que diliça ir correr de manhã cedo, quando o ar é fresco e o sol não queima, ouvindo Sugababes e Elvis e The Pretenders no mp3 player!

Já falei aqui que tem épocas em que a gente vê um porco-espinho morto atropelado a cada metro que faz. Parece que agora estamos no período das lesmas. O asfalto está coberto de manchas escuras, cada uma correspondendo a uma lesma esmagada. Tadinhas; corro olhando pro chão pra não pisar em nenhuma, mas são tantas! Lesmas ou minhocas, não sei direito, porque são meio rosadas mas não têm aquele movimento típico das minhocas, sei lá. Que diferença pode fazer pra uma minhoca estar num campo de trigo aqui ou num campo de trigo do outro lado da estrada, não sei dizer. Mas deve valer muito a pena, a julgar pela quantidade de tentativas...

Postado por leticia em 22:22

19.04.06

bizarrices

E hoje foi dia de passar a manhã em Perugia. Tinha consulta no Centro Cefalee ao meio-dia e meia, então aproveitei pra subir mais cedo e passar na agência da bolsa de estudos pra tentar resolver um pepinão (que, lógico, não consegui resolver). Como sempre, estacionei no estacionamento onde rola a feira de Ponte San Giovanni às quintas, mas quando cheguei no ponto de ônibus vi que o 3 tinha acabado de passar, então me sentei no banco de cimento pra esperar o próximo, que passaria vinte minutos depois. Um casal de meia idade vinha vindo pela calçada da outra direção, debatendo animadamente sobre o que me pareceu ser política (ele falava em metáforas e ela falava ao mesmo tempo que ele). Me perguntaram se o 3 tinha passado, respondi que o tínhamos perdido, e tirei da bolsa Il Cammello e la Corda, já quase no fim, pra ler enquanto esperava. O homem, barbudo e vestindo um terno xadrez fora de moda, esticou os zóio pra ver o que eu estava lendo. Levantei o livro com a capa virada pra ele, e ele, aaaaaaaaaah, a [editora] Sallerio! Como eu gosto da Sallerio! É bom esse aí?

Dali engrenamos num papo maluco porque a cada dois minutos ele desviava o assunto da conversa pra outra coisa. Acabei descobrindo que ele é professor de física na Università degli Studi di Perugia, e ela ensina arqueologia na universidade de Siena. Ele já morou fora, estudou nos EUA, e se comunica com os alunos por e-mail, enquanto que ela, peitudíssima e com os dentes castanhos, disse que a única tecnologia com a qual tem intimidade é a que existia até o século II d.C., e mais não lhe interessa. Conversavam animadíssimos, um corrigindo o outro, um completando a frase do outro, mudando de assunto toda hora mas sem mais deixar cair a peteca. Dei muita risada porque foi um papo completamente sem pé nem cabeça, que continuou no ônibus. Ele queria saber se Falcão, Tostão e seleção se pronunciavam "ón"; corrigi e expliquei, e ele ficou meio sem graça porque acho que passou a vida toda dizendo Falcón como se fosse entendidíssimo de português. E se a mulher não o tivesse arrastado pra fora do ônibus quando chegou no ponto deles, ele teria continuado ali, tentando dizer seleção em vez de seleçón.

Adoro esses encontros malucos tipo Forrest Gump.

Postado por leticia em 22:12

18.04.06

il cammello e la corda

O tal Il Cammello e la Corda é um livro meio estranho, porque faz um vai-e-vem cronológico entre a Sicília romana dos primeiros anos de Cristianismo e a época atual. O autor, Seminerio, não tem o mesmo charme do Camilleri, mas as descrições são interessantes, e os personagens idem. Saldo positivo, mas não é um livro assim ooooooooooh. Pra passar o tempo.

A editora é a Sallerio, de Palermo, que também publica os livros do Camilleri e vários outros autores sicilianos, então a sensação é a de estar em casa, mesmo mudando de autor. Interessante ver que o ponto de vista não muda muito – aparentemente o povo siciliano, independentemente da província que se está levando em consideração, é muito homogêneo como personalidade, e muito consciente disso. É sempre muito interessante ler autores sicilianos, de Sciascia a Camilleri a outros que provavelmente ainda vão cruzar o meu caminho.

Postado por leticia em 22:02

17.04.06

cosa nostra, ainda

O livro do Falcone, que acabei de acabar, é muito interessante. Na verdade é uma coletânea de entrevistas que ele deu a uma jornalista siciliana, correspondente de um jornal francês. Aprendi muitas coisas:

. Que a máfia siciliana está por trás daquela calabresa (a ‘ndrangheta) e que abomina a camorra napolitana, desorganizada, descentralizada e segundo eles, desprezível.
. Que a máfia siciliana deu origem à máfia americana, mas que hoje são completamente independentes e autônomas.
. Que siciliano fala pouco pra não falar demais. Que o comportamento mafioso não é nada além da exacerbação do comportamento siciliano. Que mafioso não mente nunca; quando não pode dizer alguma coisa, fica calado.
. Que não existem diferentes variedades de assassinato, dependendo da ofensa cometida pela vítima: a máfia escolhe simplesmente a modalidade mais rápida, segura e viável.
. Que a Cosa Nostra não administra oficialmente nenhum tráfico de drogas nem de prostituição, apenas fecha os olhos pros seus membros, que podem fazê-lo sem problemas, desde que não envolvam a organização.
. Que não foi o envolvimento com o tráfico de drogas que tornou a organização particularmente violenta; sempre o foi, quando necessário, e quando não é necessário é mais conveniente pra todo mundo ficar só nas ameaças mesmo – mortes devem ser necessariamente explicadas, ainda que o corpo seja dissolvido no ácido e portanto deixe de existir.
. Que hoje a máfia siciliana não é comandada por famílias de Palermo, mas pelos Corleonesi – estamos falando de Provenzano, portanto.
. Que não vai ser o desenvolvimento econômico da Sicília a eliminar a máfia, muito pelo contrário: a máfia se nutre desse desenvolvimento, porque está diretamente envolvida nas licitações pra obras públicas e essa é talvez a maior fonte de renda da Cosa Nostra hoje.
. Que é difícil combater a Cosa Nostra por vários motivos: é centralizada e ritualística e onipresente como uma religião; a Itália é um país jovem e ainda descentralizado e heterogêneo; os italianos têm mania de tratar os sintomas e não as causas, e inventam leis malucas cada vez que a máfia vai longe demais e começa a falar-se demais dos banhos de sangue na Sicília, mas leis que não resolvem a essência do problema e permitem a eliminação dos peixes pequenos e só; a máfia está de tal forma entranhada na política que são indissociáveis; o egocentrismo italiano causa uma personalização dos métodos de combate à máfia, em vez do trabalho em equipe.
. Que o envolvimento da máfia com a política ocorre só quando é inevitável; não é interesse da Cosa Nostra assumir o poder oficial – eles trabalham na ilegalidade, afinal.

E agora dá licença que ainda dá tempo de ler mais um capítulo de Il Cammello e la Corda, que comprei na Libreria Grande sábado de manhã, por sugestão das meninas de lá. Por acaso também se passa na Sicília. Depois digo o que achei.

Postado por leticia em 11:41

viva nós

E hoje é aniversário de um sem-número de mulheres fodas, inclusive euzinha: aquela tresloucada da Daiza, que, please, precisa aparecer no próximo encontro de exiladas na Bota, da lucluc, da Carol, que tomou conta do Leguinho no meu primeiro ano aqui.

Não vamos fazer nada de especial, como sempre: almoço de Pasquetta na tia do Mirco, à tarde festinha de batizado do Alessandro na casa do Marco, depois cinema com Gianni, Chiara e Robertinha (que aliás foi contratada pela Ferrero e continua pois vivendo indefinidamente em Torino). E só. Tá bom assim.


Postado por leticia em 11:28

16.04.06

domenica di pasqua

E hoje foi o dia de morgar.

Eu acordei cedo, como sempre, e terminei Life & Times de Michael K, que é meio angustiante mas é bonito. Comecei Cose di Cosa Nostra, de Giovanni Falcone (aquele juiz famoso que foi morto em um atentado, já falei dele aqui). Mirco levantou ao meio-dia e quarenta, porque eu fui acordá-lo. Perdemos assim o café da manhã de Páscoa na tia do Mirco, que aqui tradicionalmente tem torta de Páscoa (tipo um pão com queijo na massa, delicioso), salames (no caso deles, feito em casa), ovos cozidos e outras coisitas mais. Mas fomos diretamente pro almoço, sempre na casa da tia, e o menu foi aquele de sempre: stracciatella (ovo batido com parmesão e jogado diretamente no caldo de frango pra cozinhar rapidinho, ficam tipo uns gruminhos de ovo com queijo deliciosos), que eu amo, e cordeiro, que normalmente é na brasa mas não sei por que dessa vez resolveram fazer à milanesa. Eram costeletas, e de acompanhamento alcachofras fritas. Eu fiquei só na stracciatella mesmo, porque acho carneiro, sobretudo costeleta, complicado demais pra comer, tem que ficar separando gordura e coisa e tal. Frito, então, tô fora.

Voltamos pra casa e enquanto o Mirco chapou no sofá fui adiante com o livro do Falcone. Me deu dor nas costas, fiz uma hora de step vendo o DVD de X-Men 2, tomei banho, voltei a ler, e às oito acordei o Mirco. Fomos direto pra casa da tia jantar – dessa vez tinha galo castrado cozido, que fica difícil de engolir sem uma batatinha ou um arrozinho, então passei uma certa fome, no problem. Voltamos pra casa cedo e chapamos como se não tivéssemos ido dormir cedíssimo ontem.

Aliás: ontem à noite fomos à missa de Páscoa na Basílica de Santa Maria, porque era o batizado do filho do Marco e da Michela. Só que nem eu nem Mirco entendemos nada dessas coisas e esquecemos que a igreja devia estar entupida e não conseguiríamos nem ver a cara do pimpolho. Dito e feito. Primeiro que chegamos à igreja e estava tudo às escuras. O que diabos estará acontecendo, nos perguntamos. Resolvemos perambular um pouquinho pra ver se alguém nos via – aí estaríamos livres pra escapar – mas os batizáveis provavelmente estavam no altar maior, lá no fundo, e no escuro não dava pra ver nada mesmo. Curiosos pelo escuro, resolvemos esperar pra ver o que acontecia. A igreja já é assustadoramente grande iluminada, mas naquele estado posso imaginar perfeitamente como os fiéis se sentem pequenos e humildes e submissos à potência de deus. Dali a pouco entra uma procissão de diáconos, laicos (a Michela me explicou durante a missa quando morreu o pai do Lello, mês passado), e depois finalmente entraram os frades franciscanos, com uma velona gigante. Acho que o escuro simboliza a vida senza Cristo, e a luz que tudo ilumina é Cristo renascido, sei lá. O frade que acendeu a velona era um pitéu, um perfil grego, um nariz estupendo, cabelos agrisalhando, um pedaço de mau caminho. Cantaram uns negocinhos, todo mundo na platéia acendeu suas velinhas (rigorosamente compradas na igreja, imagino), e começou a missa, que é sempre transmitida também no telão gigante porque senão quem senta lá atrás não vê nada do que rola no altar maior. E aí nossa curiosidade acabou e voltamos pra casa pra dormir.

Postado por leticia em 23:07

15.04.06

a ponte da discórdia

Tendo que sair pro batizado do Alessandro, acabei perdendo uma parte de Gaia, uma das poucas coisas assistíveis na TV de hoje. Quem apresenta é o Tozzi, um cara legal pra caramba, que fala muito bem (a cada dia que passa mais aprecio quem se expressa bem, putz) e sempre traz temas interessantes. Dessa vez falou-se de grandes obras arquitetônicas, um assunto bem amplo, que começou com as pirâmides do Egito e as novas descobertas a respeito, e foi parar no que eu acho que era o que ele realmente queria dizer, ou seja, que a ponte sobre o Estreito de Messina é uma furada daquelas homéricas.

O Estreito de Messina é uma coisa ridiculamente pequena – de barco são 20 minutos, de carro o tempo previsto é cinco minutos – que separa a Calábria da Sicília. Tudo que é político já mostrou intenção de construir a tal ponte, com projetos sempre caríiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissimos e cheios de polêmicas. A maior polêmica é que a ponte ligaria o nada a lugar nenhum, porque o sul não tem produção industrial nem tráfego de gente tão grande que justifique uma coisa desse tipo. Todo mundo que vai e vem entre as duas regiões usa as barcas, atravessando com carros e tudo o mais. Os argumentos contra a ponte são inúmeros: a máfia tá doida pro projeto sair (Berlusconi aprovou, LÓOOOOOOOGICO) porque é uma mamação sem fim), a zona é uma das mais perigosamente sísmicas do Mediterrâneo e difícil de estudar porque a falha não é na superfície, como a de San Andreas na Califórnia, mas embaixo do fundo do mar, a ponte passaria bem no meio da rota de várias espécies de aves migratórias, os impactos ambientais foram analisados feito a cara de quem analisou, como sempre (não esqueçamos que a Itália é talvez o país menos ecology-friendly do mundo), o pedágio vai ser mais caro do que a passagem de barca hoje (mais a gasolina). Se pensamos que o túnel sob a Mancha e o Golden Gate são ambos fiascos econômicos, embora conectando áreas muito mais ricas e produtivas e populosas, não tem realmente por que aprovar a ponte sobre o Estreito. O tempo de travessia com a barca rápida não é imenso, e a estação das barcas fica perto do centro e é facilmente acessível, enquanto que de carro vai ser necessário dar uma certa volta que alonga o tempo total de viagem. Acabei perdendo os argumentos a favor da ponte, porque saímos bem no meio. Bosta.

Mais informações sobre o programa aqui.

Postado por leticia em 23:35

14.04.06

E comecei Life & Times of Michael K, do Coetzee. Já tinha lido o seu Disgrace, que me fez chorar porque tem muitas cenas de sofrimento animal, mas tinham me falado tanto desse que resolvi dar uma outra chance. É estranho, mas estou gostando. Parece com outra coisa que eu já li mas não me lembro direito o que é.

Postado por leticia em 23:53

Que sexta-feira deliciosa, com cara de sábado! Acabei não trabalhando porque meus alunos viajaram, então aproveitei pra ir de bicicleta até Santa Maria, uns cinco quilômetros. Deixei a bici na Arianna, peguei Leguinho e Demo e fui a pé até a barraca da Rita comprar abobrinha e maçã. Na volta pra casa passei no Angelucci pra trocar o pneu traseiro da bici que tava meio assim assim. Fiz uma faxina rápida, almoçamos pappardelle com molho de javali, e à tarde não fiz nada além de usar o Office Planner da IKEA pra ter uma idéia de como vai ficar nosso escritório na casa nova. À noite Gianni e Chiara vieram jantar: fiz risoto de lagostim, salmão e açafrão, e de secondo os canolicchi que trouxemos da Holanda, gratinados no forno. Tinha tempo que eu não os via direito, e aproveitamos pra botar o papo em dia.

Postado por leticia em 23:49

esse assunto dá pano pra manga

Não precisa nem dizer que a direita não aceita ter perdido as eleições, e já começaram a acusar sutilmente a esquerda de ter lalado uns votos aqui e outros ali. Pediram a recontagem dos votos, que até agora não está fazendo muita diferença. Mais: sugeriram um governo assim juntinho, o que é muito engraçado, visto que se a mesma situação tivesse ocorrido com a vitória da direita, Berlusconi era bem capaz de mandar Prodi tomar no cu ao vivo na TV.

As irregularidades, porém, existem, e como: em Taranto e, creio, em outros lugares, foram encontrados caixotes cheios de cédulas eleitorais perfeitamente válidas, mas obviamente não contabilizadas, ao lado de uma caçamba de lixo.

E alguém que viu com mais atenção me corrija se eu estiver errada: o close-up das muitas bíblias encontradas no esconderijo de Provenzano deixou ver uns santinhos de algum político – o logotipo era, creio, da Alleanza Nazionale...

Mas nada disso é novidade, lógico. Mais sobre o estranho relacionamento máfia-política aqui (dica da Ig).

Postado por leticia em 13:55

13.04.06

mas vai ser fodida assim no inferno

Não venham me dizer que sorte não existe.

Comprei a lambreta, caí da lambreta.

Peguei a Punto do Mirco, destruí a Punto.

Pego o Volvo do Mirco, fura o pneu do Volvo NO MEIO DA ESTRADA.

Pego a Uno da oficina, toda recauchutada – freios novos, óleo trocado, amortecedor novo, MOTOR novo porque o velho morreu domingo passado, bateria nova – e a Uno falece NO MEIO DA ESTRADA. Mais precisamente em frente à igreja de Rivotorto, no exato lugar onde o pneu do Volvo estourou há duas semanas.

Melhor arranjar um emprego embaixo de casa, sabe. Movimentar-me está ficando perigosamente azarado.

Postado por leticia em 21:42

12.04.06

mafia, de novo

Hoje de manhã fiquei em casa porque meu aluno salame da fábrica de peças pra avião teve um problema no trabalho e não pôde ter aula. Acabei aprendendo muito sobre a máfia, coisa que não só é interessante mas vai servir pra prova de Linguaggi della Devianza, em junho.

Uno Mattina é um programa de variedades da Rai Uno que ocupa toda a manhã. É apresentado por uma jornalista ruiva que já esteve cobrindo guerras no mundo todo e é muito inteligente, por uma loura ex-participante do Grande Fratello e por um retardado, imbecil, debilóide, jumento, asno, que diz ser jornalista e atende pelo nome de Luca Giurato. É de uma imbecilidade irritante; basta olhar pra cara dele que eu tenho vontade de chorar de nervoso. Mas como quem se ocupa dos assuntos sérios é a ruiva, a longa entrevista dessa manhã com pessoas diretamente relacionadas com a máfia foi muito interessante. Fiquei sabendo, pelo juiz e pelo chefe da polícia especial que comandaram a operação de prisão do Provenzano, que, ao contrário do que eu disse outro dia aqui, não houve nenhum pentito, nenhum arrependido, nenhum alcagüete. Não houve nenhum tipo de interceptação telefônica de ninguém envolvido ou suspeito de envolvimento na história, por um motivo muito simples e que faz todo o sentido do mundo: pra conseguir a autorização da justiça pra plantar uma escuta, o pedido roda na mão de tanta gente que a probabilidade da informação vazar e chegar aos ouvidos dos mafiosos era grande demais. Porque their arm has grown long indeed, e que há peixes grandes com o rabo preso e que a máfia é infiltradíssima no governo é coisa há muito sabida. O objetivo foi então reduzir o número de pessoas envolvidas na investigação, e se concentrar em observar membros da família de Provenzano e seus antigos colaboradores. Foi assim que chegaram à casa muito simples, na periferia de Corleone, onde o chefão se escondia. Por que ele não picou a mula e foi cantar em outro galinheiro? Porque quando se fala de máfia, presença é poder: quem abandona o território acaba perdendo força e sendo substituído por outro mais esperto. É aquela velha história: quem foi à roça perdeu a carroça...

Aliás: imperdível isso aqui.

Postado por leticia em 11:36

11.04.06

cosa nostra

E a outra grande notícia do dia foi que finalmente prenderam Bernardo Provenzano, histórico chefe da Cosa Nostra que era fugitivo há QUARENTA E TRÊS ANOS. Mole? Adivinha onde encontraram a criança? Em Corleone, onde mais. Depois de não sei quantas cirurgias plásticas e de absolutamente ne-nhu-ma pista em todos esses anos, um dos seus ajudantes parece que abriu a boca e contou, tim-tim por tim-tim, como foi possível manter a criatura escondida por tanto tempo. Nada de tecnologia, nem mesmo celulares; toda e qualquer comunicação com o capo era feita só através de bilhetinhos. Como ninguém sabia direito a cara que ele ganhou depois das plásticas, ficava realmente difícil encontrar o homem, apesar das viagens de carro à França pra se operar da próstata. Documentos falsos, nomes falsos, e o sólito paredão de gente que nada vê e nada ouve e torna impossível chegar ao topo das organizações. Agora as opções são duas: ou já existe outro capo no lugar dele, ou vão começar novas guerras entre os clãs mafiosos pra decidir quem vai comandar o batatal.

Morar nesse país é como viver dentro d'Os Intocáveis.

Postado por leticia em 14:10

shoo, fly

Já falei que não entendo nada do sistema eleitoral daqui, que aliás sofreu algumas reformas salva-rabo durante o governo do Cavaliere, mas o fato é que a esquerda ganhou. Ganhou por algo do tipo 0,06%, o que na verdade é muito preocupante, porque quer dizer que ainda tem MUITA gente que acha o Bronzeado-Implantado um cara legal e bom caráter. Muito perigoso. O que decidiu a partida foram, surpreendentemente, os votos dos italianos que moram no exterior. Até as dez da manhã de hoje a direita estava na frente, no Senado, por cerca de 0,02%. Mas mesmo com a esquerda saindo vencedora, vai ser muito difícil governar, porque praticamente a outra metade do Senado e da Câmera dos Deputados foi pra direita. Lógico que a possibilidade de uma coalizão pacífica com fins comuns de desenvolvimento do país, como está rolando na Alemanha, é absolutamente impensável em um país onde as pessoas estacionam ocupando dezoito vagas, onde ninguém ouve o outro, nunca, onde você liga pro cliente que não pagou e ele responde "e daí?". Então quero só ver. O bom é que o Prodi tem o apoio do resto da Europa, que, logicamente, não quer ver Berlusconi nem cravejado de brilhantes. Vamos ver no que vai dar.

Postado por leticia em 14:05

10.04.06

elezioni...

E então as eleições acabaram hoje às três da tarde, e o país está enlouquecido esperando os resultados oficiais. Porque todo mundo tava achando que a esquerda iria ganhar de lavada, mas na verdade tá tudo pau a pau. Um medo danado daquele crápula do Berlusconi voltar a governar. Eu não entendo NADA do sistema político deles, e as pessoas às quais perguntei também não entendem coisa nenhuma, então eu só posso é ficar na torcida e esperar pelo Grande Resultado Final. Acendam velinhas, darlings.

Postado por leticia em 23:14

:))))

Comecei ontem a ler Equador, do Miguel Sousa Tavares. Uma delíiiiiiicia de livro! Trouxe o menino comigo em novembro passado, mas só lembrei que ele existia quando fui à livraria semana passada, comprar um guia de Hong Kong pro Homem Mais Feio do Mundo, e vi o livro na seção "altamente recomendados". A versão italiana tem a mesma capa da Nova Fronteira, que acredito seja a mesma original portuguesa, não sei e não me interessa, mas foi por isso que bati logo o olho e imediatamente me deu coceira de vontade de ler. Não me arrependi: hoje dois alunos faltaram e devorei metade do livro nessas duas horas de folga forçada. Os personagens são deliciosos, vivos, interessantes, as florestas tropicais parece que estão aqui do lado, sinto o cheiro da clorofila, a umidade sufocante, o cecê dos angolanos que trabalham na colheita do cacau, Wagner tocando no gramofone do Luís Bernardo. Estou amando.

Postado por leticia em 22:09

09.04.06

findi

O fim de semana foi o mais light possível. Sábado Mirco chegou pra almoçar em um horário decente, em torno das três, e em vez de chapar na cama, os dois, resolvemos ir fazer compras, nosso programa preferido de sábado. Largamos as compras em casa e fomos pegar os cachorros. O tempo tava ótimo, um solão gostoso, um arzinho fresco; carregamos os meninos na mala da Uno e lá fomos nós. Mas não deu pra ficar muito porque o vento trouxe nuvens que esconderam o sol, e começamos a sentir frio. Acabamos jantando na Arianna mesmo, que fez pizza no forno a lenha do quintal. Diliça.

E domingo não foi muito diferente: de manhã Mirco foi votar, almoçamos na Arianna, visitamos a gatinha que pariu dois gatinhos de manhã cedo (a outra gata na foto é amiga dela, dormem juntas e aparentemente essa outra gata fez as vezes de parteira), voltamos pra casa, vimos TV, falei com minha mãe no Skype, Moreno veio pra cá e fomos juntos pro cinema em Perugia. Comemos um sanduba no Pans & Company e depois vimos Inside Man, que não é nada de especial – né carne né pesce, como se diz aqui. E vamos dormir cedo porque amanhã a labuta nos espera.

Postado por leticia em 22:57

08.04.06

outra

Eu tenho outra mania: a de não deixar, jamais, que as sobrancelhas se descabelem. Penteio as sobrancelhas antes de sair de casa e até antes de dormir. Talk about paranoia.

Postado por leticia em 09:10

07.04.06

pacamania

A IG pediu, eu respondo.

Eu sou chata, mas não tenho muitas manias bizarras. Deixa eu ver...

1) A de balançar os pés quando estou sentada, como a IG. Mania que muito me irrita mas que não consigo abandonar (senão não seria mania, duh!).

2) A de cutucar os cantos das unhas com as outras unhas, sempre da mesma mão. Isso resulta em i) aumento exponencial da quantidade de cutícula a ser removida e ii) um uso excessivo da musculatura do antebraço, causando dores musculares inclusive. A única vantagem é que o antebraço é a única parte do meu corpo que não tem celulite.

3) Falar sozinha. Em tudo que é língua. Quando dirijo, então...

4) Ler tudo o que é letrinha que eu vejo, automaticamente. É absolutamente inevitável, como quem tem dons matemáticos e tem mania de somar os números das placas dos carros que vê. Eu não posso ver nada escrito; tudo o que é letra que eu vejo, eu leio. Mas é realmente automático: quando me dou conta, já li. Isso inclui tudo, tudo, tudo: adesivo de carro, outdoor, manchetes nos jornais pendurados na banca, livro na mão de uma pessoa distante, letreiro de loja atrás do repórter enviado na televisão, post-its colados no monitor da secretária, a marca gravada nos botões da roupa da chefa. Can't help it.

5) Mania horrível de deixar tudo pra amanhã, que é um dos meus piores defeitos. O Mirco é exatamente o contrário e sei que melhorei muito seguindo o exemplo dele, mas os genes paternos são mais fortes e sei que nunca serei totalmente eficiente por causa disso...

Postado por leticia em 07:43

06.04.06

prognóstico sinistro

Depois do debate final de segunda-feira, Berlusconi chamou de coglioni (acho que a melhor tradução é "otários") quem não votar nele. É engraçada a campanha eleitoral por aqui; fala-se de tudo, passa-se a ofensas pessoais com a maior naturalidade (Berlusconi deveria subir num banquinho pra falar, Prodi está ficando gagá, etc), a esquerda só sabe falar mal da direita, a direita só sabe falar mal da esquerda, e, como no Brasil, a discussão do futuro do país nem entra em campo. O importante é falar mal do outro. Nesse quesito acho que a esquerda tá um pouco melhor, porque algumas propostas foram feitas, pelo menos. Mas de modo geral eu acho tudo tão nojento que mudo o canal assim que vejo a cara de qualquer um deles.

A grande tristeza é que Berlusconi é, hoje, a cara da Itália. O arquétipo do italiano - a começar da aparência física. A cara cor de tijolo de quem faz bronzeamento artificial, os cabelos asquerosamente implantados e penteados, o sorriso falso, a testa franzida em desdém. A incrível capacidade de passar os outros pra trás e achar superlegal. A preocupação ZERO com quem está ao redor, coisa facilmente verificável no dia-a-dia aqui na Itália, no trânsito, em qualquer estacionamento, na fila de qualquer lugar, nas menores decisões, que nunca, NUNCA levam em consideração os possíveis efeitos pro resto do mundo. Berlusconi é isso; Berlusconi é a Itália. Esse país tá fodido e eu tenho muito medo que a coisa piore terrivelmente se ele continuar no poder. Não que a esquerda vá fazer milagres, porque político bom é político morto, mas pelo menos é tão contra tudo o que a direita diz que só pode ser um pouco melhor. Só o fato da esquerda querer tirar o crucifixo da escola já seria motivo suficiente pra eu votar pra eles... ;)

Pra quem vive me escrevendo perguntando como é a vida na Itália, sugiro o
post histórico da Daiza. Eu amo essa mulher.

Postado por leticia em 07:34

05.04.06

ela

Lógico que uma terça-feira pós-segunda de onze horas de aula, uma terça-feira que começou com Cascia e terminou com uma hora e meia chatérrima com o Homem Mais Feio do Mundo, não poderia terminar bem. Cheguei em casa com uma das piores crises de enxaqueca que já tive. Tinha tomado o remédio ao meio-dia, quando senti a primeira pontada, e ela ficou dormente o dia inteiro, pra me atacar de surpresa justamente no meio da coisa com o Homem Mais Feio do Mundo. Não sei como cheguei viva em casa, mas voei pra cama chorando de dor. Nessas horas o Mirco fica assustado porque não sabe o que fazer. Consegui me arrastar pra tomar banho e fui direto dormir.

Postado por leticia em 07:44

porradas eleitorais

Mas o que eu queria comentar mesmo foi o golpe baixo final do Berlusconi no debate de segunda. Eu não vi, lógico, primeiro porque cheguei tarde e já tava no final, segundo porque jantar olhando praquele homem me dá vontade de vomitar, mas ontem de manhã os telejornais só falavam da sua última jogada mortal: vou eliminar o ICI (o equivalente ao IPTU) da primeira casa. Vocês ouviram bem, vou eliminar o ICI! Sem comentários. O pessoal do curso de narração (doravante conhecidos como povo do Cantiere – o curso se chamava Cantiere 33) enxurrou a mailing list com comentários do debate, então fiquei meio que sabendo o que aconteceu, e nosso caro Berlusca soltou essa pérola ridícula (porque irrealizável) no último minuto da prorrogação, pra não deixar que o Prodi respondesse. Deve ter sido emocionante. Uau.

Postado por leticia em 07:42

04.04.06

então...

Então acordei cedo mas não fui caminhar porque estou muito cansada ainda. Acordo sempre cedo, com o sol, mesmo se o quarto estiver totalmente escuro. Dou bom dia pras minhas plantinhas, todas devidamente transferidas do Móvel Hediondo da sala pra varanda ensolarada, faço a cama e normalmente depois vou correr, mas hoje não deu, realmente. Então sentei aqui pra atualizar a paca, porque não quero mais acumular semanas de posts mentais que não vão pro papel. Tive que escolher entre responder a mil e-mails acumulados ou atualizar a paca. A paca venceu. Muito provavelmente não vou conseguir escrever nada a ninguém durante a semana por causa das aulas com o Homem Mais Feio do Mundo, mas no fim de semana juro que vou tentar.

Postado por leticia em 08:01

03.04.06

o tronco

Quando eu acho que finalmente vou ter tempo pra estudar, aparece alguém enchendo os poucos buracos do meu horário. Semana passada foi o Engenheiro Legal, que fez só uma semana e a essa altura já deve estar no Texas explicando a montagem das vitrines de sorvete. E hoje outros dois apareceram: o diretor da escola técnica de Foligno, que quer dar uma "refrescada" no inglês pra se comunicar com outras "figuras importantes da cultura mística européia" (medo), e o Homem Mais Feio do Mundo, que precisa também refrescar o inglês por uma semana, porque depois vai pra Hong Kong por quatro dias pra um contrato sei lá do quê – ele é consultor de qualidade, que deve ser o trabalho mais chato do mundooooooooooo. Até aí tudo bem; o diretor da escola foi devidamente colocado no único buraco de hoje, deixado pelo filho do dentista que vai repôr a aula na quarta. Mas o Homem Mais Feio do Mundo só pode fazer aula tarde da noite. Como abril é cheio de feriados e no verão trabalho menos e eu quero porque quero pagar a cozinha nova sozinha, aceitei o ridículo horário das oito e meia às dez da noite. Hoje não agüentei e terminamos às nove e meia porque eu tava caindo pelas tabelas.

Hoje então foi dia de record mundial de horas seguidas de ensinamento de inglês: ONZE. Sem direito a pausa pra comer ou fazer xixi. Tinha ido trabalhar com a Panda da Arianna, porque a Uno tava na revisão, e quando cheguei na casa dela pra deixar o carro eu já nem sabia quem eu era, onde estava, que dia era hoje. Mirco chegou logo depois, falamos rapidinho com os cachorros e fomos pra casa jantar. Mirco tinha aproveitado que eu ia chegar tarde pra ficar na oficina resolvendo pepinos, e tava roxo de fome. Por sorte Arianna tinha mandado a lasagna do domingo, que esquentamos em banho-maria e jantamos às onze da noite. Tipo assim, totalmente errado, mas não tinha outro jeito porque estávamos quase desmaiando de fome. E de sono. Boa noite.

Postado por leticia em 23:53

02.04.06

aria di cultura ;)

Tínhamos um almoço combinado em Gubbio já há quase um mês. Com o pessoal do curso de narração, que se mantém sempre em contato através da mailing list. Então eu acordei cedo, fui caminhar – de camiseta de manga curta! – ouvindo música, tomei meu banhinho, fiz vitamina de banana e laranja pro café da manhã e tocamos pra casa da Arianna. Tivemos que pegar o carro do Ettore, porque o do Mirco tá esperando o pneu novo e a Uno que eu dirijo não chega viva a Gubbio nem rezando. Direto pra estação de Perugia, onde a Laura (a.k.a. Ola’ porque, vocês sabem, apelido aqui é quase sempre a repetição do nome até a sílaba tonica, então o pessoal chama a Laura assim: O La', vieni qua!) já estava esperando. Trinta segundos depois apareceu a outra Laura, a Bortoloni, com o namorado. Os dois têm um estúdio gráfico e ela é a maior fã da Newlands. Muda como um peixe, mas é um amor de menina. Ola' montou no carro com eles e lá fomos nós pra Gubbio.

A estrada é horrível, cheia de curvas e subidas, e fica impraticável quando neva pesado, mas a paisagem é um deslumbre. Aquelas casonas antigas de pedra sentadas sobre as colinas, campos cultivados, bosques de oliveiras, carneirinhos pastando. A Umbria é um desbunde mesmo. E a chegada a Gubbio é sempre triunfal, porque ela fica amontoadinha aos pés do monte cujo nome esqueci, e as torres e construções superantigas são visíveis já de longe; a cidade parece desenhada. Com o céu azul de hoje, então, nem vos digo.

Estacionamos na praça principal e o Matteo veio ao nosso encontro. O resto do pessoal tava esperando à sombra de uma banca de jornais. Matteo é de Veneza, estuda Letras; a namorada, pequeniniiiiiiinha, se chama Virginia e estuda Relações Internacionais em Trento, mas a família é de Terni, aqui na Umbria. Livia é de Riccione, se não me engano, e não me lembro que coisa faz; o namorado tem cara de salame, desses com jaqueta acinturada e colarinho alto, mas não parece ser má pessoa. Arturo é ginecologista, de origem napolitana mas mora em Gubbio há anos e ajudou a parir metade da cidade, então andar com ele pelas ruas é como andar em Ipanema com o Hiro: paradas a cada trinta segundos pra cumprimentar alguém. Sabe O cara legal? É o Arturo. Demos uma volta no centro pra esperar o Maurizio, e fomos batendo papo, falando de livros e filmes (o que mais?) e discutindo menus. O Maurizio trabalha na Coop, o supermercado, e dirige um minicentro cultural de cinema na cidade. Depois de um aperitivo rápido num barzinho quase na praça, fomos pro "restaurante" que o Arturo tinha reservado.

De restaurante não tinha era nada, como muitos bons lugares pra se comer por aqui. Cardápio limitadíssimo, mesas na cantina subterrânea com teto em arcos, salames pendurados no teto no andar térreo. Um lugar típico, em suma. Todos acabamos pedindo a mesma coisa: Piattone del Re (Pratão do Rei), um pratão realmente enorme com as seguintes coisas, a serem comidas nessa ordem, conforme explicou o proprietário quando nos serviu: crostini (pão tostado) de dois tipos, com molho à bolonhesa e com lardo (a parte gorda do porco fatiada. Banha, digamos.), depois feijão manteiga ligeiramente apimentado, comido com um pedaço de torta al testo, que em Gubbio se chama crescia (pronuncia-se crêsha), depois ovos mexidos com lingüiça despedaçada em cima de uma meia fatia de torta, depois lombinho fatiado em uma caminha de rúcola e vinagre balsâmico, depois batata assada e berinjela à milanesa, depois fatias de torta com prosciutto crudo, depois fatias de queijo com trufa negra. Parece um mundo de comida, e é, quando vista toda junta num pratão gigante, mas na verdade cada porção é pequena (MEIA batata assada, UMA fatia de berinjela, UMA fatia de queijo por cabeça) e a gente comeu muito bem, sem se entupir. Mirco até continuou com fome depois (classic...) e ainda comeu uma fatia de torta com lingüiça e verdura. O vinho não era local, e de uma variedade que eu nunca tinha experimentado, mas uma delícia. Estávamos numa ponta da mesa com Maurizio e a mulher, que é enfermeira e chegou depois, direto do turno da noite. Altos papos.

Dali fomos direto a Fossati di Vico, a estação de trem mais próxima a Gubbio, pra deixar a Livia e o namorado. Bortoloti e o namorado também tiveram que ir embora mais cedo. Maurizio e Sonia foram pegar as filhas na sogra e levá-las pra passear no parque. Nós restantes resolvemos ir a Perugia pra Virginia, namorada do Matteo, visitar a avó, e depois fomos ao cinema. Como todo mundo já tinha visto tudo o que tava passando, fomos ver Notte Prima degli Esami, que é MUITO engraçado e nada idiota. Demos muita risada, até eu, que vivi os anos 80 brasileiros e não italianos. Muita coisa em comum, lógico, e muita risada com a moda cafona da época. O elenco é terríiiiiiiiiiiiivel e a atuação da maioria dos jovens e desconhecidos atores é péssima, mas o texto é muito engraçado. Saímos do cinema desopilados e com fome, e fomos ao centro de Perugia comer pizza na Mediterranea, a melhor pizza da cidade. De novo, altos papos. Infelizmente tivemos que nos despedir do Matteo, da Virginia e do Arturo, e fomos levar a Ola' em casa, em Tordandrea, onde mora o tio do Mirco.

Eu tenho muita sorte com esses colegas de turma dos poucos cursos que faço. Esse pessoal é muito legal, muito simpático, aberto, CULTO, divertido. Tipo assim o pessoal do curso de italiano, que são das melhores pessoas que já entraram na minha vida. Lulu, Syrléa, Valéria, Fabiano, Serginho, Leo... Todas pessoas maravilhosas de quem tenho muito orgulho de ser amiga e de quem sinto uma falta imensa. Esse pessoal do curso de narração foi um achado pra mim. São meus primeiros amigos só meus por aqui (a FeRnanda não conta porque já virou irmãzinha), a nossa amizade começou por termos alguma coisa grande em comum e que ainda é o ponto central das nossas conversas, ao vivo ou por mailing list, e a sensação de finalmente ter com quem conversar é absolutamente maravilhosa. Mirco adorou todos e deu muita risada a noite inteira. Ficamos de nos ver de novo em maio, porque no início do mês tem a feira do livro em Torino, e no meio do mês tem a festa dos Ceri em Gubbio, aquela coisa louca que presenciamos no ano passado. Não posso deixar escapar essa gente da minha vida.

Postado por leticia em 23:43

01.04.06

Então fomos ver V for Vendetta. Nem eu nem o Mirco tínhamos lido os quadrinhos, mas achamos o filme MOITO maneiro. O visual é bacana, a história é legal, eu gosto muito da Natalie Portman, e nem a dublagem estragou. Gostamos, gostamos.

Postado por leticia em 22:08

era ora, cazzo!

Primeira saída de lambreta do ano, uhu! Fui a Bastia comprar umas plantinhas e uns fichários bonitos pra organizar a minha papelada da universidade. O dia tava lindo, glorioso, fresco mas com o sol que esquentava a pele, uma diliça. Quase – quase – fiz a faxina com prazer, com as portas das varandas escancaradas. Adoro esse início de primavera. Adoro terminar o dia de trabalho com luz no céu ainda. Me sinto outra.

Postado por leticia em 11:15