10.06.06

êeeeeeeeeee!

A manhã foi dividida entre fila eterna nos correios, escolha dos pontos de luz e tomadas e telefone e cabo da TV no apartamento novo com o eletricista, passeio de bicicleta na volta pra casa, uns capítulos do Mankell. Depois, almoço de macarrão com frutos do mar e secondo de anéis de lula com vagem fresquinha. Depois, soninho e mais Mankell.

E aí saímos pra comprar meu carro.

O Mirco é assim: quando tem um problema pra resolver, resolve logo. Resolve ontem, se possível. Então já tínhamos acionado uma rede de informantes pra achar um carro a diesel pra mim, mas ainda não tinha aparecido nada de decente. Como diesel consome menos, os carros custam mais, então estávamos procurando algo meio velhinho mas com relativamente poucos quilômetros, possivelmente com a lataria estragada (porque depois os marroquinos pintam na oficina), e logicamente mais confortável do que o Objeto Decadente Identificado que é a Uno que eu dirijo. Natale, cunhado do Marco, trabalha num revendedor decadente de carros usados e cantou a pedra: achou um Corsa preto com a mecânica em ótimo estado (ele é um daqueles raros mecânicos natos, e cuida dos carros da família inteira) e soprou o preço pro Mirco, que foi lá fazer as pesquisas dele. Chegamos hoje no revendedor sem tocar no assunto Natale, lógico. O carro está sem uma calota, com uma lanterna traseira quebrada e com vários arranhões na carroceria. Perfeito. Ano 95, mas só 100.000 quilômetros (a Uno está no quilômetro 200.000 e passa, depois de ter já virado o contador não sei quantas vezes). Não tem ar condicionado, mas como é pequeno eu posso parar embaixo dos pinheiros da escola, na sombra. E, coisa mais linda: 1.4 diesel, o que significa que o bichinho anda direito na estrada sem ficar morrinhando e atrapalhando o trânsito, e o diesel eu abasteço na oficina (o Mirco compra diesel pro caminhão e pro forno pra pintura; compra a preço muito mais baixo do que no posto e ainda desconta imposto porque é tudo faturado). Precinho: 2400 euros, mais a passagem de propriedade que é um roubo mas inevitável, mais uma fortuna de seguro, também inevitável. Na verdade eu queria algo mais novo, que me desse mais segurança, mas um diesel de alguns anos a menos custaria MUITOS euros a mais, e não queria me descapitalizar completamente porque afinal de contas temos móveis pra botar dentro de casa, né.

Então estou contente com a compra. Porque o carro é MEU, me-me-re-me-meu. Comprado com o MEU dinheiro sem ajuda de NINGUÉM. É uma bosta, mas é MEU. MEEEEEEEEEU.

Finalmente meu chaveiro de galinha de couro da Furla vai servir pra alguma coisa.

Postado por leticia em 22:37

09.06.06

pelotas

Eu achando que tinha acabado Grissom – porque a programação televisiva de verão é completamente diferente da invernal e vários programas somem por meses – e quando chego em casa e ligo a TV vejo meus amiguinhos CSI na TV. Reprises, lógico, mas tá de bom tamanho.

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Chegaram os computadores novos na escola! Finalmente, pois passei a semana toda roubando o laptop da Simona pra poder traduzir. Computador novo é bom, né? :) Adoro ficar configurando tudo. E já tasquei uma fotona do Leguinho no desktop, lógico. A Jayne tem uma do Sylvester Stallone. Tem gosto pra tudo.

Postado por leticia em 22:22

08.06.06

ufa

Rapaz, 11 horas e meia de trabalho hoje, entre traduções e aulas. Com meia hora de almoço só, pra comer meu franguinho com arroz integral – tudo frio, lógico, porque não tenho saco de esquentar nada na cozinha.

E ando com o sono atrasadíssimo. Por algum motivo desconhecido, não consigo dormir além das seis da manhã. Sempre acordei cedo e gosto disso, porque o dia rende mais e porque funciono muito melhor de manhã, mas não consigo ir dormir cedo porque chego tarde em casa e tem sempre alguma coisa pra fazer, ou conversas com o Mirco pra atualizar. Aí às seis eu acordo, plim!, tão cansada quanto estava na noite anterior. Nem os fins de semana escapam. Bosta.

Postado por leticia em 23:17

07.06.06

il mondiale di calcio

Começou a animação pra Copa. Eu ADORO Copa, Olimpíadas de qualquer tipo, competições internacionais em geral. Mas não adoro esses eventos porque gosto de torcer pelo Brasil; nunca fui fanática por coisa nenhuma a não ser por leitura, e meu patriotismo é só aquele mínimo com o qual todos nascemos. Não tenho aquela ânsia de defender o verde-e-amarelo, não fico desesperada com partidas perdidas. Gosto porque os jogos são sempre interessantes e bonitos, porque as bandeiras são coloridas, porque os nomes dos jogadores são bizarros, porque rola um espírito de competição que deve ter seu lado ambíguo pra quem joga, já que todos os jogadores se conhecem e freqüentemente jogam no mesmo time pela maior parte do ano. Gosto e pronto. Mas na verdade quando assisto a uma partida - e na Copa eu assisto a QUALQUER partida com a mesma emoção - fico sempre triste por quem perde (desde que não seja a Argentina, claro) e feliz por quem ganha.

Não sinto falta de torcer "entre brasileiros". Acho que me divertiria do mesmo jeito entre meus amigos italianos. Sinto falta é daquela maluquice coletiva que rola no Brasil, do asfalto pintado e das bandeirinhas que atravessam as ruas. Aqui futebol é coisa muito, muito séria mesmo, mas eles não são chegados a essas farofadas, vocês sabem. Então nem parece que tá rolando nada. Você sabe que tá rolando TUDO, mas não aparece nada na superfície, sacam. É muito bizarro.

Postado por leticia em 23:14

06.06.06

Hoje foi o último dia de aula com a minha turma em Cascia. Como eles não vão fazer a prova do FCE e não querem nada com a hora do Brasil mesmo, resolvemos fazer um tour de Cascia. Fomos até o jardim do monastério, visitamos o santuário (que fica dentro de uma igreja hedionda), e acabou a cidade. Pelo menos me poupei a chatice de uma aula infinitamente longa com alunos completamente desinteressados.

Mas foi um dia especial porque Bernardo e Sabrina, amigos da faculdade, pararam por aqui em meio à viagem à Europa. Jantamos na Trattoria da Elide, o restaurante do hotel aonde eu mando todo mundo que vem pra cá, porque é de um amigo do Mirco (e o hotel é uma gracinha e o restaurante é ótimo). Eu tava tão contente de encontrar os dois que metralhei mais do que nunca a noite inteira, até o ponto no qual nem eu mesma entendia o que estava dizendo. A noitada foi curta mas muito especial; me senti muito querida e chorei muito quando cheguei em casa. Gosto muito desses meninos, e morro de saudades da minha turma na faculdade, que era nota dez de verdade.

Então aproveito a oportunidade pra agradecer a todos os meus amigos mais queridos, que sabem quem são. Porque eu tô aqui longe, perdi o casamento de todo mundo, mas penso muito em todos vocês e sinto muita, mas muita falta mesmo.

Postado por leticia em 23:16

05.06.06

novità

Esqueci de comentar: desde quinta-feira passada sou a nova Director of Studies da minha escola. O que não quer dizer nada por enquanto, porque só depois de fazer o curso/training, em setembro, vou ser DOS certificada pra poder aplicar e corrigir provas e participar dos “eventos”. Então agora chego às nove na escola, como todo mundo; passo a manhã na agência de tradução, no segundo andar, aprendendo muito com a Jayne, e na hora do almoço desço pra ensinar. Acho que vou conseguir organizar melhor a minha vida, porque não vou conseguir ficar doze horas enfurnada lá dentro trabalhando, então vou ter que sair mais cedo – o que significa jantar antes das dez da noite, uhuu.

O mais importante é que, pela primeira vez na minha vida, tenho um contrato de trabalho decente. De agora em diante tenho direito a ficar doente sem me desesperar (porque até então, se não trabalhasse, não ganhava), tenho férias, tenho décimo-terceiro e décimo-quarto, e não preciso mais pagar meu próprio INPS (embora vá ter que pagar imposto de renda). Quem sabe agora consigo comprar um carro sem ajuda de ninguém.

Postado por leticia em 22:22

04.06.06

Fomos ver Poseidon no cinema hoje. Que bosta de filme! Ótimos efeitos especiais, mas vai ter elenco canastrão assim na China! Os dubladores italianos também não ajudam, já que são canastrões de voz, então já viu. Voltamos cedo pra casa, comemoramos o último dia de festa da primavera com miojo que a Margareth trouxe dos EUA mas não quis levar de volta, e chapamos enquanto a polca morria lá fora.

Postado por leticia em 22:18

03.06.06

mêda

Saímos de casa às quatro da manhã. Deixei minha mãe no aeroporto em Roma e dali fui direto pra Spoleto. Pretendia dormir um pouco no carro, mas não deu porque me perdi e acabei gastando um tempo enorme pra achar a estrada certa. Encontrei com a Jayne, tradutora lá da escola, em frente à estação. Porque o desafio do dia, senhoras e senhores, foi fazer algo que eu sempre quis tentar mas nunca tinha tido a oportunidade de fazer: intérprete.

Era um evento sobre vinhos, e ia rolar uma espécie de debate pra discutir maneiras de aumentar as vendas dos vinhos italianos no exterior, já que a França ganha de lavada. O acordo era que seria uma tradução consecutiva e não simultânea, porque nem eu nem Jayne, que é inglesa, sabemos traduzir simultaneamente. LÓGICO que quando chegou na hora a coisa era simultânea, né. Precisamos nos dividir: Jayne ficou na platéia traduzindo pra quatro pessoas e eu NO PALCO, sentada atrás do suecão alto, importador de vinhos. Eu achei que tinha levado a melhor porque só precisaria traduzir pra uma pessoa, mas qual o quê!!! A RAI filmando, hominhos tirando fotos pro jornal local, todo mundo com microfone embutido e coisa e tal, e eu completamente estressada com tudo aquilo. Pra piorar o moderador era o bonitão charmosão que às vezes apresenta o TG5, Sposini, um pitéu. Também tinha o representante do spumante Ferrari (que fez questão de me deixar o cartão de visitas, embora eu tenha deixado bem claro que não tenho dinheiro nem pra Schweppes, quanto mais pra spumante Ferrari que é caro pra cacete), a presidenta das cantinas Lungarotti, um dos maiores produtores de vinho do país, e outras figuronas. E a monga aqui se escondendo atrás do suecão, que felizmente entende italiano, só não fala. Só que aí fazem uma pergunta pro suecão, ele responde em inglês perfeito de sueco, e eu tenho que pegar o microfone e traduzir em italiano, tentando 1) não correr demais e 2) evitar qualquer inflexão umbra. Caraca, crianças, que nervoso!

Apesar da enxaqueca de cansaço que me deu assim que cheguei em casa, bem depois do almoço, a experiência foi positiva: é mais uma coisa que eu sei fazer ;) Ainda não sei fazer BEM, mas é questão de tempo. Se outras oportunidades assim surgirem, aceitarei todas – até porque paga moooooooito bem.

Postado por leticia em 22:15

02.06.06

pedreiras

Hoje é feriado, dia da República. Mirco foi trabalhar assim mesmo, mas eu e mamãe pulamos o muro da obra e passamos a manhã no apartamento em construção, com metro e planta e lápis na mão, tentando decidir como melhor mobiliar a casa. O esquema de construção aqui é completamente diferente: você não vê ninguém trabalhando nas obras e pensa que é tudo abandonado, mas os prédios sobem rapidinho, apesar da complicada estrutura antisísmica obrigatória por lei. Não sei como fazem, até porque já não entendia nada disso no Brasil, lógico, então não tenho pontos de referência. O bombeiro marca os pontos de água e esgoto na parede de tijolos com uma lata de spray. Quer o bidê aqui ou ali? Posso botar o fogão aqui ou quer mais pra lá? Se você escolher um box de um metro por setenta, vai chegar até aqui, ó (sprayzada), tá bom? Acho muito prático. E realmente gostei desse bombeiro, que é muito baixinho, o que me dá um certo nervoso, mas é um amor: educado, disponível, e sobretudo paciente e cheio de boas idéias. Foi uma manhã bem produtiva, e o dia acabou cedo porque amanhã saio de madrugada pra levar mamãe ao aeroporto.

Postado por leticia em 22:05

01.06.06

Minha mãe pegou o trem errado de novo hoje, voltando de Roma, aonde tinha ido pra encontrar umas amigas de passagem na Europa. Deu uma volta do cacete pra chegar a Bastia, passando pelo lago Trasimeno e o cacete a quatro. Como sempre, fez mil amizades no trem e quando me ligou dizendo que estava em Tarantula (Terontola...) eu quase morri de rir no meio do supermercado. No final deu tudo certo, a não ser pela pizza pronta da Coop, que é ótima mas eu dei mole e não deixei assar direito, e ficou uma bosta.

Postado por leticia em 21:59