31.08.05

fotas

Algumas das fotos da viagem, aqui (e tem umas vacas normandas aqui também). O relato da Epopéia Normanda, assim que eu tiver mais tempo.

Postado por leticia em 01:38

30.08.05

aiai

Gianni está furibundo.

Em março, no caminho pra Roma pra pegar o avião pra Buenos Aires, levamos uma multa. Quem dirigia era a Chiara, a pior motorista que eu já vi ;) Lembro que quando vimos o pardal era tarde demais, e imaginamos que viria uma multinha básica.

Só que aqui a multa chega quase três meses depois da infração, quando você nem lembra direito do que aconteceu, onde, quando, por quê. E em letras nanominimicroscópicas, no pé da página, está escrito que se alguém não se apresentar no DETRAN local dentro de um mês pra declarar quem estava dirigindo naquele momento, ou seja, se alguém não se oferecer pra perder os pontos na carteira de motorista, chega uma nova multa, de mais de trezentos euros.

Olha aí por que eu digo que é importante fazer as coisas pelo motivo justo.

O governo não aplica multas nem muda as leis de trânsito porque quer educar a galera e evitar acidentes. Quer multar o máximo de otários possível, pra arrecadar uma graninha. E aí fode quem não tem nada a ver com o pato, ou quem até tem, mas tem boa vontade e coisa e tal. E a Dri ainda acha estranho que italiano adore sonegar um impostinho... ;)

E Berlusconi ainda por cima passa o fim de semana com o Putin e a coisa mais interessante que consegue dizer é "Mesmo fazendo um sacrifício, e olha que é um sacrifício eloooorme, eu vou me candidatar de novo. Porque é necessário, já que não há ninguém que possa assumir o cargo de Presidente do Conselho, ninguém como eu." A sorte de certas pessoas é que eu não ando armadaaaaaaaaa... lalalalaaaaaaaa...

A coisa mais interessante desse encontro ridículo é o labrador preto maravilhosamente rebolativo que caminhava entre os presidentes e suas primeiras-damas num deck sobre o Báltico. Lindo :)

Postado por leticia em 08:48

29.08.05

demorou, hein, nega?

Era inevitável, não? Acho que demoraram até demais...

Postado por leticia em 15:25

28.08.05

família buscapé

Ontem, que aliás foi aniversário da minha mãe, fomos a Roma buscar Ettore & cia. no aeroporto. Vocês lembram, eles foram à Holanda visitar a irmã do Mirco, que agora mora lá com o namorado.

A coisa linda é que também foi a avó do Mirco, a Lucia, de 84 anos. Nunca tinha sequer ido a Roma. A Perugia, só duas vezes, a pé (são 25 km), quando era jovem, pra entregar peles de coelho a um comprador. Não se sabe como, conseguiram convencer a menina a subir num avião e a ir a um outro país que ela nem sabe onde está. E o mais legal: não só ela gostou da viagem, achou tudo curiosíssimo, e contou todos os detalhes, mas também disse muito blasée que achava que o vôo seria mais assustador, mas acabou que não deu nem um medinho sequer. Viemos no carro ouvindo os relatos da viagem e morrendo de rir com as impressões que eles tiveram. Interessante ver como os pontos de vista mudam dependendo do background que você tem. Eles não têm nenhuma referência da vida no exterior, e acham o fim do mundo, por exemplo, não ter tempo de voltar pra casa pra almoçar e ter que se virar com um lanchinho. Acham engraçado que as casas em Amsterdam não tenham cortinas e ninguém fique olhando lá pra dentro pra curiosar - se fosse aqui na Itália, ia ter gente colado nas janelas o dia inteiro só pra assistir à vida dos outros. Acharam genial a arrumação das flores no mercado, as combinações de cores, etc. Acharam os holandeses muito gentis e simpáticos, opinião com a qual eu não posso discordar porque todos os que eu conheci eram muito legais. Enfim, disseram que valeu a pena e fiquei muito contente por eles por finalmente terem saído da toca e visto não só onde a filha tá morando, mas um outro mundo totalmente diferente do quintal da casa deles.

Postado por leticia em 10:54

27.08.05

o amor é lindo

Hoje a gatinha, que se chama Giulietta, trouxe um camundongo morto pra casa. Devidamente devorado, da cabeça aos pés. E depois, pra complementar o café da manhã, foi comer a ração do Leguinho. Na mesma tigela, com ele.

Postado por leticia em 10:47

26.08.05

érre agá

O menino que tinha vindo aqui por umas semanas pra ver se dava conta do recado de ser secretário da oficina acabou se mandando. Foi contratado full-time pela empresa onde já tinha trabalhado ilegalmente antes, e resolveu ficar por lá mesmo, vendendo televisão e DVD. E com isso novamente mandamos pedido de secretários pro centro do emprego de Bastia. Por incrível que pareça, a senhora que comanda o batatal por lá trabalha muito bem. É sempre disponível, segue de perto os donos dos CVs que recebe, liga pras empresas que botaram anúncio pra saber como andam as coisas.

O problema é que só chegam salames.

Segunda-feira chegou um de Santa Maria, mas vestido como um bastiolo, todo gostosão, cinto Dolce & Gabbana, sapatos Prada, jeans Moschino (tudo com etiquetas e logomarcas enormes, claro), quilos de gel no cabelo, sobrancelhas feitas e um jeito de caminhar que ele deve ter levado algumas boas semanas pra desenvolver em frente ao espelho. Vinte anos e nada na cabeça. Parecia muito imaturo mas não necessariamente retardado, e combinamos que ele viria no dia seguinte às oito pra fazer uns dias de prova. Na tua oficina, ele veio? Nem na nossa.

Depois veio uma balzaca daquelas que ainda pensa que tem 20 anos. Cabelo repicado anos 80, batom rosa Paquita, blusa vermelha de elastex daquelas 150% sintéticas. Te olha com os olhinhos meio fechados, a cabeça de ladinho, estilo já saquei qual é a tua. Odiamos.

Depois veio um meio afeminado, de brinquinho e mechas no cabelo. Por mim e pelo Mirco, nenhum problema, ainda que sejamos meio antiquados com certas coisas, mas lugar de perua definitivamente não é em oficina. Imaginem o quanto o coitado não iria sofrer nas mãos dos operários, atualmente todos estrangeiros (incluindo dois muçulmanos). Mas mesmo assim seria um problema dele; o lance é que ele chegou com o zíper aberto, coitado, e mesmo tendo estudado escola técnica de contabilidade (são 5 anos), não sabia coisas muito básicas, e a manhã que passou comigo no escritório foi desastrosa. Salame, salame, salame. Salame com mechas.

Hoje de manhã veio uma sem queixo. A cara dela é muito engraçada, efeito intensificado pelo batom que ultrapassa os confins dos lábios. Louraça belzebu, barriga de fora, blusa ciganinha, uma bolsa Gucci pavorosa, voz de taquara rachada. Péssimo sinal, mas essa tem várias vantagens em relação aos outros salames: apesar de ter 32 anos, o que a desqualifica como aprendiz (o aprendiz ganha menos e há descontos fiscais pro empregador), está desempregada há três anos, o que imediatamente nos daria outros tipos de ajudas em termos de impostos e contribuições INPS. Além disso está fazendo um curso de administração de empresas daqueles financiados pela Regione Umbria, o que dá direito a 400 horas de estágio, pagas pela Regione e não pelo empregador. Ou seja, teríamos 400 horas de secretária grátis, suficientes pra fase de treinamento. E muito provavelmente o ente público que organiza o curso dá algum tipo de ajuda financeira, sempre tendo a Regione por trás, pra quem emprega os alunos – lógico, já que o objetivo final e concreto de todos esses cursos é enfiar essa gente no mercado de trabalho. Nosso contador está investigando melhor essas coisas pra ver o que rola. Ela teve uma malharia por sete anos, ou seja, sabe tocar pra frente uma empresa, e cuidava pessoalmente da contabilidade. Como experiência, é perfeita. Mas se tudo der certo, ainda vamos ter que convencer o Ettore, que não quer outra mulher aqui dentro. Não posso não concordar com ele; nem eu nem o Mirco escolheríamos uma mulher, se fosse possível. Uma oficina de lanternagem de caminhões e de pintura de máquinas industriais não é, definitivamente, lugar pra mulher. Primeiro porque, por mais que o Ettore e o Mirco sejam organizados e limpos, é impossível manter o ambiente impecável como o box da Ferrari. Os caminhões carregam tudo que é tipo de mercadoria, e sempre cai alguma coisa no chão – o que eu já varri de ração de coelho aqui do chão não tá no gibi. A poeira é onipresente, já que há sempre alguem lixando alguma coisa. A barulheira é tremenda, porque tem sempre alguém martelando, batendo, furando, limando, esmerilhando alguma coisa, cortando lâminas de metal, usando a prensa, soldando coisas. Pra se fazer ouvir nesse furdúncio, os meninos têm que berrar. Imaginem o bordel. Além de tudo isso, os caminhoneiros são absolutamente selvagens; ninguém dá bom dia ao telefone, entram no escritório com o cigarro aceso, entram com o caminhão a toda na oficina se calhar de encontrar o portão aberto, gritam, cumprimentam-se com tapões nas costas, trocam palavrões e imprecações. Os marroquinos fedem horrores e falam uma língua que não é nada, entendemos algumas palavras de italiano aqui e ali mas o resto é uma bagunça incompreensível. O menino do Congo, único educado e limpinho, ainda tem um italiano muito precário. Os dois equatorianos são praticamente mudos e ainda por cima falam com a boca quase fechada. Tudo é tão complicado que tem que ser muito macho pra aturar. Mas se todos os machos que chegam aqui são salames, então vai ter que ser uma Maria mesmo, e o Ettore que agüente a barra.

É uma experiência engraçada, essa de RH. É inevitável reparar em coisas que normalmente passam despercebidas (ou são ignoradas) em contatos mais rápidos e menos importantes: detalhes da roupa, do modo em que penteiam o cabelo, a intensidade e o tipo de perfume, se fuma ou não, se tem voz e jeito firmes de falar ou se está mais pro estilo gato miando, se os gestos são econômicos ou inúteis, os sinais que o rosto dá quando o interlocutor está realmente ententendo e processando o que você está falando. Estou me divertindo. Perco um tempo danado repetindo as mesmas coisas, mas me divirto.


Postado por leticia em 14:30

25.08.05

as cores de plástico não morrem

A gente vai vivendo e aprendendo, né.

Hoje eu e Mirco ficamos até quase duas da tarde tentando ajustar a cor de uma tinta pra porta de um caminhão. A cabine é branca, e aí vocês vão se perguntar, mas quanto pode ser difícil arrumar um branco? Quem trabalha com cores até vai dizer que existem muitos tipos de branco. Mas vocês sabiam que existem catalogados quase TRINTA MIL TIPOS DE BRANCO, só no ramo das tintas industriais?

O Mirco usa um tintômetro, cortesia do fornecedor de tintas, pra poder ele mesmo fazer as tintas de que precisa. O cliente dá o ano, a marca e o número do chassis do caminhão ou do carro, você insere esses dados no tintômetro, diz quanta tinta quer fazer, e ele te diz as quantidades, mantidas as justas proporções: 303,2 gramas de branco, 0,25 gramas de verde, e por aí vai. Esse branco do tal caminhão levava na fórmula original só preto e verde. Só que o caminhão é velho, já foi muito exposto ao sol e à chuva, já foi repintado outras vezes, de modo que o branco já não é mais aquele. E aí começou o sofrimento. A gente dava uma dedada de branco na porta, olhava, hm, tá cinza demais, vamos botar mais branco. Outra dedada: falta verde (eu não sou capaz de dizer se falta verde num branco, isso é coisa pro Mirco que trabalha com isso há anos). Outra dedada: falta vermelho.

As latas de tinta têm uma tampa com um misturador, sabe sorveteira elétrica, que fica com as pás girando dentro enquanto congela, pra não endurecer? Aqui é a mesma coisa; as latas de tinta, com suas tampas com misturador acoplado, ficam em uma estante com um motorzinho que faz girar umas borboletas, uma pra cada lata, que por sua vez movimentam os misturadores internos. Todas as latas têm a mesma capacidade volumétrica, mas há tintas mais ou menos densas, de modo que um litro de vermelho é muito mais pesado do que um litro de branco, por exemplo. Eu não sei direito o que é leve e o que é pesado, e quando o Mirco finalmente se rendeu e resolveu tascar umas gotas de amarelo no tal branco, mesmo não estando presente na fórmula original, lá fui eu pegar a lata. Me preparei mentalmente pra levantar no máximo 3 quilos (as latas são de 3 litros), mas esqueci do detalhe da densidade e quase quebrei o punho com o maldito amarelo, pesadíssimo.

É lindo ver as cores se misturando na lata. A tal tampa com o misturador acoplado tem um mecanismo que regula o quanto de tinta sai pelo bico – existem alguns dosadores de mel iguaizinhos no mercado; você aumenta ou diminui a boca do bico (cruzes) e assim aumenta ou diminui o fluxo de saída do que está dentro do pote/vidro/lata. Uma gotinha do amarelo cai no branco, fica ali um segundo e tchuuuuuum, afunda, some. A gente começa a misturar e lá vai ela, não mais gota mas agora uma linha, logo logo uma espiral, e depois sumiu, e eu continuo achando que não mudou nada da cor mas quando damos mais uma dedada na porta vemos que está, sim, mais puxado pro marfim.

Nessa brincadeira, muitas dedadas depois e a cabeça já girando de tanto procurar verde em branco, fomos almoçar quase às três da tarde.

Postado por leticia em 14:31

24.08.05

uia

O jantar na festa de Rivotorto, melhor sagra da Umbria, teria sido muito melhor se, entre os cannelloni de carne de caça e a torta al testo com lingüiça na brasa a enxaqueca não tivesse atacado.

As crises estão ficando mais freqüentes e o remédio não está mais adiantando tanto. Em Paris acordei uma vez de madrugada com dor. E o último sintoma que faltava, a artéria pulsante na testa, agora não falta mais. O autodiagnóstico é claro: enxaqueca em salvas. A pior, claro. Aquela que dá vontade de dar um tiro na cabeça, porque qualquer coisa, QUALQUER COISA, é melhor do que aquela dor.

p.s.: Não preciso nem dizer que o post não foi escrito no dia da enxaqueca, porque teria sido impossível. É retroativo mesmo.

Postado por leticia em 14:40

23.08.05

cats and dogs

Eu não canso de observar bichos. Nesses dias dormindo na Arianna, tentamos ficar o máximo de tempo possível com os meninos, já que ficam o dia inteiro sozinhos em casa, coitados. Então saímos da oficina, passamos em casa pra jantar e tomar banho, e corremos pra Arianna. Levamos todos pra passear ali em torno mesmo, até a estação and back. Leo e Demo são desobedientes e por isso vão de coleira. Só que não foram acostumados e ficam o tempo todo tropeçando, se enrolando e empacando. Leguinho, o único obediente, vai solto, porque depois das nove não há ninguém ali na rua, só na praça, tomando sorvete. Virgola vai no carrinho de bebê que o Ettore achou inteirinho fora de uma caçamba de lixo há muitos anos, e desde então virou o Virgolamóvel. Imagino que quem nos vê deve achar que somos malucos: uma cachorra loura num carrinho de bebê, um preto imenso solto, com a língua de fora e a bunda rebolativa, e dois cachorros retardados, com coleiras improvisadas, com cara de quem comeu e não gostou.

De manhã acordo sempre muito cedo, com os malditos galos se esgoelando lá fora, e aproveito pra dar uma volta com os meninos. Solto todos, porque às seis da manhã não incomodam ninguém. Todos os dias o Leguinho vai fazer o cocô dele láaaaaaa longe no campo, comemora, volta, rouba um toco do depósito de lenha do quintal, deita no gramado na minha frente e começa a roer o toco e comer a casca (cada louco com sua mania, after all). Os mongos do Leo e do Demo desaparecem e só voltam pra casa quando já estamos saindo, as línguas de fora, as patas cheias de lama. Perdemos uns cinco minutos pra arrebanhar os dois pra dentro e fechar o portão.

E ainda tem as gatas.

Eu sou uma dog person inconversível, vocês sabem. Tenho pouca paciência com bichos arrogantes como gatos, mas alguns me conquistam. A Priscilla, dengosa como era, passava os domingos inteiros no meu colo. Mas a Priscilla, única gata suja do mundo, que fazia cocô pelo quintal inteiro, menos onde havia terra pra enterrar, foi convenientemente despachada com três filhotas pra casa de uma prima da Arianna, que estava precisando se livrar de uns ratos asquerosos. A filhota preta ficou com a tia do Mirco, que é quem está cuidando das galinhas, dos patos, dos gansos, dos pombos e dos coelhos enquanto o povo está na Holanda. E em casa ficou uma das filhotas tigradas, que por sorte é dengosa que nem a Priscilla. Literalmente escala o seu corpo até chegar no seu colo, arranha a sua perna pedindo carinho, deita de barriga pra cima, suspira, ronrona, morde o rabo do Legolas. Um amor! :)

Postado por leticia em 14:36

22.08.05

:)

August was the month when flies started to become a problem, buzzing round the dung heaps in the corner of every farmyard and hovering over the open cesspits of human refuse that were located outside every house. If the late twentieth century is scented with gasolene vapour and exhaust fumes, the year 1000 was perfumed with shit. Cow dung, horse manure, pig and sheep droppings, chicken shit - each variety of excrement had its own characteristic bouquet, from the sweet smell of the vegetable eater to the acrid edge of gut-processed meat, requiring the human nose of the year 1000 to function as a considerably less prissy organ than ours today.

There are modern archaeological experts who study excreta intensively, rummaging through the latrine pits of ancient settlements to discover such fundamental details as the fact that the toilet paper of the year 1000 was moss.

(...)

The modern remedy for fleas and grubbiness - a good scrub of the body crevices - did not accord with the medieval mentality. The regulations of one tenth-century European monastery prescribed five baths for every month per year, but that was fanaticism by Anglo-Saxon standards of personal hygiene. One later commentator derided the Danish practice of bathing and combing the hair every Saturday, but did admit that this seemed to improve Danish chances with the womenfolk.

The Year 1000 - What Life Was Like at the Turn of the First Millennium (An Englishman's World), de Robert Lacey & Danny Danziger

Postado por leticia em 14:32

21.08.05

jê suizarrivê

Cheguei.

A semana vai ser complicada porque Ettore, Arianna e a avó do Mirco foram pra Holanda visitar a Stefania, de modo que eu e Mirco vamos ter que ficar meio aqui e meio na casa deles, pra tomar conta da bicharada. Aos poucos vou escrevendo e subindo fotos, mas vai demorar. Aguardem e confiem.

Postado por leticia em 18:20

12.08.05

arrivederci!

Ci vediamo quando torniamo.

Se precisarem de mim, estou em leticiadaquer arroba gmail ponto com.

Postado por leticia em 13:09

11.08.05

de gentileza e picaretagem na bota

Corroborando o assunto que a Lu comentou, conto um causo parecido: hoje dois funcionários do Comune de Torgiano deram um pulo na oficina pra deixar uma garrafa de vinho pro Ettore. É que volta e meia eles precisam de uma empilhadeira, e emprestamos uma das nossas. Agradecidos, trouxeram uma garrafa de Colli Perugini rosso. Gentileza gera gentileza, mesmo.

Por outro lado... A Dri me mandou um e-mail dizendo quanto é difícil trabalhar com italianos, benza deus, porque eles erram tudo, se enganam, esquecem coisas, atrasam, se enrolam, não falam inglês, fazem de tudo pra não pagar impostos. Dri, aqui é assim mesmo, a picaretagem rola solta de norte ao sul da bota – mais no sul do que no norte, mas ainda assim... Eu particularmente acho que os motivos principais são três: primeiro, os impostos são altíssimos e o retorno não é absolutamente proporcional, já que a qualidade dos serviços –TODOS – é sofrível. Segundo, lembre-se de que até meia hora atrás a Itália ainda capinava batatas na dureza do pós-guerra, ninguém tinha dinheiro e o escambo comia solto, ou seja, imposto é uma coisa relativamente recente por aqui. Terceiro, é que eles são indisciplinados mesmo, revoltados contra toda e qualquer autoridade, e sendo assim driblar o Fisco tem um gostinho particular de vitória e rebelião contra o sistema. Ainda mais quando quem comanda o sistema é o tricoimplantado Berlusca, que só não rouba e mente mais por falta de espaço. Então é assim mesmo, tudo é complicado, pro cliente pagar você só falta ter que chorar aos pés dele, os bancos fazem o que querem e aumentam as tarifas na surdina o tempo todo, manter uma empresa totalmente regular é um objetivo absolutamente inatingível tal a quantidade de burocracia (e de desinformação dos burocratas envolvidos) com a qual temos que lidar. Manter um funcionário com carteira assinada custa uma fortuna, e tomamos na bunda o tempo todo. Essa semana temos QUATRO operários doentes. Quatro. O galpão cheio de caminhões desesperados pra ir embora, porque só têm até sexta-feira pra rodar (o trânsito fica proibido pra caminhões nos fins de semana, a não ser os que carregam perecíveis), e quatro pimpolhos em casa. O pior é que sabemos que não estão doentes. Funciona assim: eu só preciso ir ao meu médico de família e pedir um atestado pra vinte dias que ele me dá – basta eu pagar uns 30 euros, dependendo da região. Eu cansei de pegar atestado pro Mirco quando ele tinha acabado de fazer a operação no joelho e não podia dirigir. Ficava lá no escritório botando as contas em ordem, doido pra levantar e ir pintar alguma coisa mas sem poder caminhar direito, e enquanto isso eu ia ao médico dele pra pegar mais um atestado de doença. O cara nem via a cara do Mirco; perguntava pra mim como ele estava, eu era sincera (ele já nos conhece, é o médico de toda a família do Mirco há uns quinze anos), ele tchum, canetava um atestado de 15 dias de repouso. Mas e se eu estivesse mentindo? Afinal, dor no joelho depois de um intervento cirúrgico é uma coisa subjetiva. Posso ficar reclamando de uma dor inventada até o fim dos dias; quem é que vai provar o contrário? Então, nessa palhaçada toda, o empregador toma na bunda, toma na bunda, toma na bunda. Quando aparece a oportunidade de fazer algum serviço sem fatura, ninguém pensa duas vezes. Ninguém. Conhecemos diretores de empresas grandes, mas grandes MESMO, com fábricas em várias regiões da Itália, que sempre tentam trabalhar sem fatura. A mentalidade geral é, com o governo que temos aqui, quanto mais a gente passar a perna nele, melhor. Não é exatamente o modo em que eu vejo as coisas, mas enfim, em Roma como os romanos. Mesmo.

Hoje aconteceu um exemplo maravilhoso de picaretagem. Chegou pelo correio uma fatura de uma empresa de Ascoli Piceno (leia-se litoral do Zaire), cujos cornos nunca vimos, no valor de dois mil e tantos euros. Chegou com o nome da empresa parcialmente correto, mas o CGC antigo, quando era no nome do Ettore. Os produtos descritos são indecifráveis – Kimberly Diamond seguido de um longo código em números e cifras, por exemplo. Não temos a menor idéia do que se trate. Eles se deram mal porque a oficina é pequena, os fornecedores são todos os mesmos há anos, e todo mundo ali dentro, até os bananas dos marroquinos, seriam capazes de dizer que não temos nenhum tipo de contato com a tal empresa. E também porque o Mirco é osso duro de roer. Ligou logo pro número de telefone indicado na fatura e tascou logo um "mas quem são vocês, o que diabos vocês vendem, e quem foi o desgraçado que se propôs a passar meus dados a vocês?". A mulher ficou toda nervosinha (eu ouvi pelo viva-voz) e jurou que tudo seria resolvido, depois de inventar uma história pra boi dormir. Coitada, não conhece o lanterneiro. Já escrevemos uma carta registrada, a arma mais poderosa do Mirco, avisando que se eles não mandarem uma comunicação igualmente registrada declarando que a fatura era tão real quanto uma nota de um euro, vamos entrar com ação na justiça e acionar a imprensa também. Uhuuuuuuuuu olha o barraco!!!

Mas cês entenderam o mecanismo? Imagina que essa fatura chega em uma empresa grande, com zilhões de funcionários, que lida com centenas de fornecedores diferentes de categorias diferentes de produtos. A secretária da contabilidade vai estranhar o preço do Kimberly Diamond? Vai estranhar o nome da empresa de Ascoli Piceno? Provavelmente não. Vai mandar um cheque pelo correio, saldando a tal fatura. E assim o picaretão vai fazendo seu pé-de-meia. Legal, né.

Postado por leticia em 16:13

10.08.05

chata de galocha, capa e guarda-chuva

Olha que nem é falta de assunto não. Ando com mil coisas na cabeça; enquanto dirijo, limpo a casa, passo roupa, durmo, escuto a fita do livro de inglês enquanto os alunos tentam decifrar o que os personagens dizem, enquanto faço tudo isso escrevo inteiros posts, artigos, crônicas, contos, capítulos na minha cabeça. Mas não ando com vontade de escrever. Preguiça, talvez. Cansaço, provavelmente. Falta de vontade mesmo, daquelas que batem e, felizmente, depois vão embora.

Estou relendo Harry Potter and the Order of the Phoenix mas não estou curtindo; na verdade leio querendo acabar logo pra entrar logo de uma vez no Half-Blood Prince e depois nos outros que estão me esperando e nos que a Amazon ainda não entregou. Sei lá, estou esquisita. Quando estou assim, melhor nem escrever pra não me irritar - e nem irritar vocês também.

Mas ontem fiz um cheesecake pro churrasco à americana na casa da Robertinha hoje. Acho que ficou bom. Roubei lá do site da Nigella (London Cheesecake é o nome da receita). Preguiça de linkar.

E, embora não pareça, estou muito animada com a viagem. Pena que não deu tempo de estudar francês tanto quanto eu queria. Fa niente.

Postado por leticia em 19:00

04.08.05

diliça :)))

Que preguiça que esse tempo dá! Cadê a vontade de sair de casa, com a chuva caindo lá fora, alternando-se com o vento leve e fresco?

Terminei meus Roald Dahl pra crianças, terminei o chato do Valerio Evangelisti, terminei mais um do Camilleri (acho que não sobrou nada do Commissario Montalbano pra eu ler) e engatei um Machado porque, acreditem se quiserem, nunca tinha lido Dom Casmurro. De Machadão, na escola, lemos outras coisas. Aqui ainda tenho O Cortiço, do Azevedo, que é um dos meus livros preferidos EVER, e, sempre do Machadão, Negrinha, que minha mãe me deu há anos com uma dedicatória bonita mas alguns contos eram muito tristes e nunca mais reli.

Na verdade estou cheia de coisas pra ler, e pretendo dar uma parada nas compras literárias, pelo menos em euros (pelo Submarino ainda dá), porque tá feia a $ituation. Mas tenho algumas coisas pra comprar em francês, além das ótimas dicas da Mary. Depois da viagem prometo que vou passar alg... vou tentar passar alguns meses sem visitar a Libreria Grande. Pra saúde da minha conta corrente botense.

Postado por leticia em 13:28

03.08.05

ah, essa bota...

As notícias da semana são predominantemente três: o fim, pelo menos temporário, do calor avassalador da semana passada; o rebaixamento do Genoa pra série C por causa do escândalo de jogos comprados; uma família de VINTE – VINTE, DEZ MAIS DEZ, DEZ VEIZ DOIS – pessoas que recebiam pensão por invalidez, sendo que nenhuma delas tinha absolutamente nenhum problema de saúde. Cês têm noção da hilaridade dessa notícia? Vinte falsos doentes, da mesma família, recebendo pensão sem ter direito? Onde, onde, onde, vocês me perguntam? E eu respondo: em Nápolis, onde mais?

O único nortista mais picareta que toda o sul da Itália junto é, claro, o Cavaliere Berlusconi.

Postado por leticia em 13:19

02.08.05

pioggia che arriva

Já tá chovendo em algum lugar aqui perto. Tô sentindo o cheirinho. Já era hora.

Postado por leticia em 17:19

01.08.05

cose della moda

Toda hora minha mãe pede pra eu fotografar vitrines ou mandar revistas pra ela ficar sabendo, com antecipação, qual vai ser a moda pra próxima estação. Na verdade nem precisa, porque ela tem um olho clínico pra essas coisas que é realmente invejável.

Ano passado o grande lance foi o rosa. E também as jaquetinhas cinturadas, de preferência brancas, e as microssaias pregueadas. Esse ano custou a aparecer algo de mais sólido nas vitrines, e só agora a coisa pareceu se definir. A cor do ano, parece, é o verde-limão. E o estilo do ano, parece, é o hippie (ou íppi, como se diz aqui), que eu a-bo-mi-no. Vejo túnicas com calças (não gosto, mas é bom pra gordas), batas tipo ciganinha, com elástico abaixo do peito (socorro), saionas disformes, combinações cromáticas escalafobéticas. Mal posso esperar pra festa de Bastia em setembro, quando as bastiolas fashion victims exibem suas figuras na mesquita, os cabelos preto graúna, os óculos de sol que cobrem metade da testa, os saltos que vira e mexe entalam entre os paralelepípidos do centro histórico. Diversão garantida.

Enquanto isso, levo dois minutos pra passar a bata indiana (a nacionalidade, não só o estilo) linda que minha mãe mandou, de algodão finiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinho, bordado branco sobre tecido branco. Chique e fresca. E sem o maldito elástico embaixo do peito, nem o decote canoa elasticizado, que toda hora escorrega pelos ombros. Viva mâmi.

Postado por leticia em 17:24