30.09.05

êeeeeeeeee!!!

No final de um dia muito, muito difícil e cheio de pequenas frustrações, inclusive a de não conseguir, mais uma vez, falar com a médica pra finalmente pegar os pedidos da ressonância e dos outros exames pra enxaqueca, finalmente uma boa notícia:

A bolsa de estudos saiu! :))))

Claro que já meio que me arrependi de ter escolhido Comunicazione Internazionale. Apesar da maioria das matérias ser muito interessante, meu negócio mesmo é literatura e línguas, e a burra aqui poderia perfeitamente ter escolhido Lingue e Culture Straniere, que tem um monte de coisas maneiras no programa – tipo literatura eslava, língua russa, literatura portuguesa e brasileira e outras coisas legais. Mas vou me contentar.

Só que não vou conseguir acompanhar praticamente matéria nenhuma. Um horário mais ridiculamente pouco prático não poderia existir, e praticamente todas as aulas da universidade batem com as minhas aulas de inglês. Então vou ter que fazer tudo como não-freqüentante, o que é um porre, porque eu nunca fui C.D.F. nem tenho a força de vontade da Ane, e sempre passei de ano na escola e na faculdade porque nunca faltei aula nem um round na enfermaria e sempre prestei muita atenção no que as pessoas dizem ao meu redor, e sempre fui muito perguntadeira também. Agora fodeu, vamos ser eu e os livros, sozinhos. Vai ser duro.

Minhas matérias vão ser: marketing, informática geral, lingüística italiana, política econômica, comunicação política, estudos culturais e organização política européia. Inglês e espanhol só vão começar em novembro, mas se minha mãe achar meu certificado do Proficiency, que sumiu no vácuo, pelo menos inglês vou conseguir pular, já que o objetivo do curso é fazer com que os alunos consigam um diploma de nível C2, de acordo com o European Framework de línguas, e o CPE é exatamente isso. Aliás, só a título informativo, o CELI 5, de italiano, que tirei em junho, é o equivalente italiano e mais bobinho do CPE. A má notícia é que não só vou ter que estudar espanhol, que todo mundo sabe que eu abomino, mas vou ter que tirar o diploma também – o DSE, Diploma Superior de Español.

Aliás, esse negócio de European Framework me deixou me coçando toda de vontade de aprender línguas bizarras e sair me diplomando toda. Já pensaram, um diploma de Gaélico? Até o nome é lindo: Réamhtheastas Gaeilge, no nível mais baixo, e Bunteastas Gaeilge, no nível menos mais baixo (tá bom, Bunteastas não é lindo). E Suomi? Eu não sei que língua é, mas adoraria ter um diploma chamado Suomen kieli, ylin taso 7-8. Tem exames de luxemburguês também, acreditem se quiserem. Tem grego moderno, tem euskara, tem catalão, dinamarquês, holandês, norueguês, sueco, e, lógico, entre as mais difusas línguas ocidentais tem também espaço pro português. Cada vez que eu olho pra essa tabelinha me coço toda de curiosidade de aprender coisas.

Já arrumei meu material escolar todo: uma bolsa de juta escrito "Mi piacciono i libri, ma mi piace di più la gente che li legge" (gosto de livros, mas gosto mais ainda da gente que os lê), caderno novo, bloquinhos veeeeeelhos da época em que eu ainda freqüentava congressos de Medicina, post-it, liquid-paper em caneta e em fita, canetas coloridas (mil), borracha novinha imaculada, carimbos bubus de bichos que compramos em Honfleur em agosto (Newlands, minha filha, tu ia morrer várias vezes naquela loja foférrima) e que não servem pra nada a não ser me deixar contente, minha fiel lapiseira preta da Paper Mate que nunca me deu um desprazer na vida, apesar do uso contínuo por anos a fio, pastinhas com e sem elástico, minigrampeador, enfim, todas essas coisas absolutamente necessárias pro bem-estar de uma pobre paca manca. Estou feliz da vida, e só não estou mais feliz da vida ainda porque não vou conseguir assistir a todas as aulas.

O pepino que vou ter que descascar no ano que vem (esqueci o futuro do verbo dever, alguém me ajuda?) vai ser a provável impossibilidade de renovar a bolsa. Porque fiz um contrato melhor com a escola, sou a professora com mais turmas (e teoricamente com mais renda...), o que vai provavelmente me tirar da camada mais pobre da população. Como já sou formada, não tenho direito a bolsa por mérito, mesmo que conseguir vencer minha tendência à preguiça intelectual e tirar boas notas sem assistir às aulas. Mas como o interesse por cursos universitários anda baixo (nem teve prova de admissão esse ano, apesar da turma com número fechado – normalmente é a maior casa da mãe Joana e qualquer um entra, mas poucos saem...), pode ser que mesmo não sendo mais paupérrima eu consiga alguma coisa. Mas é cedo demais pra me preocupar com esse abacaxi. Segunda-feira acordo cedo pra não pegar trânsito excessivo indo pra Perugia, estaciono perto da casa do Aluno Endocrinologista, ando uns três quilômetros a pé até a faculdade, e se tudo der certo consigo até lugar pra sentar razoavelmente within hearing distance na Aula Magna. Quando estudei italiano na Stranieri nunca tínhamos aula lá, porque éramos poucos, mas entrei uma vez durante um concerto de alunos músicos. O teto é todo pintado com horrendos motivos mussolinescos, que ficaram ali como recordação daquele tenebroso período – que, cá pra nós, muitos não acham tão tenebroso assim. São horrendos por causa da história que têm por trás, não exatamente por motivos estéticos. Achei tudo muito parecido com Portinari, aqueles pezões, a força do peão de obra italiano, essas coisas.

Falei demais, vou dormir.

Postado por leticia em 23:40

29.09.05

Da série coisas que a paca odeia

Na sala de aula

. Gente que simplesmente não consegue escrever pequeno
. Gente que prefere rabiscar em vez de apagar
. Gente que escreve de caneta em livro
. Gente que não anota nada nunca e depois fica repetindo as mesmas perguntas idiotas
. Gente que usa lápis sem apontar nunca, nem mesmo quando nem a própria pessoa consegue ler o que escreveu com aquela ponta de lápis totalmente trolha
. Gente que não consegue copiar mais de uma palavra do quadro-negro de uma vez, tendo que levantar os olhos praticamente a cada sílaba

Postado por leticia em 19:00

28.09.05

novos bárbaros

Rodei mais quilômetros hoje que um caixeiro viajante.

De manhã dei uma ajeitada em casa e fui direto pra escola, pegar o celular que eu deixei lá ontem à noite. Depois diretamente pra Marsciano, a 26 quilômetros de distância, dar aula pros meus dois queridos – ele, o chefe, muito esperto e esforçado, ela, a secretária part-time, mais bobinha, do tipo que sai correndo da aula pra que a filha, que estuda em outra cidade e sai muito cedo de manhã, não precise botar a mesa. Porque botar a mesa é um esforço elooorme, vocês sabem.

De Marsciano (pronúncia Marshano), pra Foligno, pra um bate-papo naquela outra escola que anda me sondando há tempos. Só que a mula aqui, em vez de pegar a superstrada, pegou uma estrada interna. Pronto! Paisagem linda, casas maravilhosas no meio do nada, campos já colhidos e iniciando o repouso do inverno, várias placas com nomes estranhos, cidadezinhas de quatro casas – mas basta um caminhão na sua frente pra você perder meia hora de tempo, porque não dá pra ultrapassar com facilidade. Resultado: cheguei tardão em Foligno, com somente meia hora pra discutir um monte de coisas importantes. Claro que a pessoa com quem eu deveria falar estava ocupada com outra garota, e levou séculos pra se desenrolar. Conclusão: saí de Foligno na hora em que deveria estar começando a aula com o SuperSimpatia. Saí voando pela superstrada, nos limites dos limites de velocidade.

E foi aí que eu quase morri, porque falar latim nunca esteve tão longe de significar civilização do que nos últimos tempos, e os italianos são definitivamente as pessoas mais mal educadas do planeta Terra.

Eu vinha pela esquerda na superstrada porque 1) não tinha ninguém atrás de mim, 2) eu estava indo bem rapidinho, e 3) a cem metros de onde eu me encontrava, a estrada bifurcava: à esquerda pra Perugia, à direita pra Cesena, e depois Ravenna etc. Já havia inclusive a sinalização horizontal, com a estrada pintada com setas elormes indicando Perugia e Ravenna. Nisso surge atrás de mim um idiota piscando o farol. Pra onde ele queria que eu fosse, eu não sei, porque se eu me deslocasse pra direita, seus amigos de má educação não me deixariam voltar pra esquerda em tempo de pegar a estrada pra Perugia, e eu iria acabar parando em Cesena. Como eu não estava morrinhando, muito pelo contrário, fiquei onde estava. Alcancei um caminhão, já no viaduto onde não é possível ultrapassar, e o chato continuava piscando o farol. O viaduto desemboca na outra parte da superstrada; o caminhão deu a seta, entrou e ficou na direita; eu dei a seta, entrei e ultrapassei o caminhão. Não tive tempo de voltar pra direita, porque o chato lampejante me ultrapassou PELA DIREITA, e METEU O PÉ NO FREIO na minha frente – íamos a 120 quilômetros por hora. Meteu o pé no freio por puro despeito. Não sei como a Uno, que não só está caindo aos pedaços mas também é levinha, com pneus estreitos e por isso pouco estável, não saiu rodando pela pista matando não só a mim mas mais um monte de gente. Sambou bastante e segurei o volante com força pra não perder o controle, mas sinceramente foi muita, muita sorte. O cara ainda teve o topete de me dar the finger, acreditam?

Vou te dizer, a cada dia que passa mais eu tenho nojo desse país. Ou melhor, da gente que vive nele.

Postado por leticia em 23:56

27.09.05

piante

O tempo já está estranho, neblina de manhã, noites frias, mas um sol que ainda racha a cabeça se você der mole. O manjericão, plantinha mais sensível, não está entendendo nada e já anda amarelando. As outras são guerreiras e não estão nem aí. Os cravos dão flores feito doidos, as plantas suculentas já viraram praticamente moitas há muito tempo, e as plantas aromáticas estão cada vez mais lindas, depois que eu tomei coragem de podar a galera. Estou secando várias delas pra fazer um mix de temperos que depois vou mandar por aí, pra muita gente a quem eu quero muito bem e está espalhada pelo mundo. Por enquanto a produção ainda é em baixa escala por pura falta de tempo, mas eu chego lá.

Postado por leticia em 16:27

26.09.05

putz

Não sei como vou fazer pra agüentar até sexta-feira, quando finalmente sai o resultado das bolsas de estudos.

O mais ridículo é que as aulas começam logo na segunda-feira seguinte, e que não tem NENHUM material informativo pronto pros alunos. Ninguém sabe qual nem onde vai ser a aula inaugural, quais livros vão entrar no programa, quem vai dar aula do quê. Muito organizado. Se eu conseguir mesmo voltar a estudar, nem vou ter tempo de descansar, porque vou engatar essa última semana na oficina treinando o Stefano e a Elena diretamente com a faculdade – if, if. Ô país miseravelmente desorganizado!!!

Postado por leticia em 22:23

25.09.05

findi

Nada de cinema nesse fim de semana. Finalmente saiu o Charlie and the Chocolate Factory, cuja versão antiga aliás passou na TV hoje à tarde, mas não tivemos paciência. Exaustos, teríamos certamente dormido no cinema, coisa que pelo menos pra mim não tem sentido nenhum (o Mirco capota mesmo, com direito a ronco e tudo, e não tá nem aí). Então nem dormimos depois do almoço porque senão iríamos toda vida, até a hora do jantar, e fomos direto fazer compras em Santa Maria ontem. Hoje lavamos os cachorros, que estavam horrendamente fedorentos, consegui bater papo com a minha mãe no Skype, e fomos jantar com Marco e Michela na festa em Bastia.

O rione, ou parte da cidade, mais famoso pela boa comida é o Sant'Angelo, que seria o rione ao qual pertencemos, morando em Cipresso. É o mais democrático, porque pega as partes periféricas da cidade. Só que essa fama já rola há tanto tempo que a taverna do Sant'Angelo vive entupida. A fila estava gigantesca, e com a Michela grávida e cheia de fome e de dores e de chatices não dava pra perder horas esperando pra comer. Então fomos pra taverna do Moncioveta, o rione que pega a parte do Borgo Primo Maggio, onde vivem os napolitanos todos. Não tinha fila nenhuma (também, a comida não tava lá essas coisas) e depois fomos dar um pulo na praça. Fiquei com muita pena do grupo que estava tocando, muito bem por sinal, Joe Cocker, Commitments e Creedence Clearwater. NINGUÉM assistindo, até porque ninguém aqui sabe o que são isso. Tipo KaRla que nunca tinha ouvido falar do Queen, saca, Huňka? O vocalista tinha cara de tudo, menos de vocalista: camisa e calça social, careca, cintinho, sapato social, óculos, barriga precoce. Mas cantava bem direitinho. Arrastados pelo Marco, que só gosta de música italiana e é fanático pelo Vasco Rossi, não tivemos outra escolha. Joguei um sorrisão e um joinha pros meninos no palco, senti vergonha por eles e fiquei com vontade de chorar, e fomos embora.

E só fui dormir às três da manhã, porque queria me livrar do Paul Burke de qualquer jeito. Mula.

Postado por leticia em 16:19

24.09.05

the man who fell in love with his wife

Pois então. Grande decepção, o Paul Burke. Muito assim mais ou menos. Não sei bem o que eu esperava, talvez um livro que realmente me fizesse gargalhar, mas longe disso. Tá mais praquele horror do Hitchhiker's etc. Tô gostando não, mas agora já comecei e vou teimar até acabar.

Postado por leticia em 16:11

23.09.05

cansadéeeeerrima.

Postado por leticia em 16:09

22.09.05

será?

Parece – PARECE – que finalmente arrumamos um secretário. É o Stefano, um menino gigantesco de 19 anos que acabou de terminar a escola técnica de contabilidade. Quem mandou a criança pra nós foi uma das meninas da contabilidade do nosso maior cliente na oficina. A garota é esperta e por isso achamos que seu primão tem boas chances de funcionar bem com a gente.

Além de ser imenso, ele é engraçado, e quando começa a rir a gente acaba rindo junto mesmo sem saber do que se trata. Coisa mais engraçada é vê-lo junto da Elena, que é miudiiiiinha.

Eu não agüento mais pisar naquela oficina. Todas as manhãs bato ponto por lá, e não agüento maaaaaaaais. Odeio caminhões, odeio caminhonistas, odeio ferramentas, odeio prensas, odeio furadeiras, odeio gente mal educada. A coisa tá ficando tão chata que eu já tô até vendo o dia em que vou acordar com o pescoço duro, que nem no ano passado, durante aquele abominável estágio na agência de seguros. Só Stefano pode me salvar. Torçamos, torçamos.

Postado por leticia em 23:02

21.09.05

hm

Então eu li Oracle Night, do Paul Auster, e achei que ficou faltando alguma coisa.

A história é interessante mas há alguns elementos que se perdem no caminho e ficam sem muita função. Mas o problema nem é esse, o problema é a falta de estilo, a graça, os jogos de palavras, a invenção. Todos os escritores americanos da atualidade que eu já li soam exatamente iguais. TO-DOS. Pular de Hemingway (mesmo sendo A Moveable Feast, que não é um romance) pra qualquer outro pode ser altamente traumatizante.

Vamos ver se o outro Paul, o Burke, se sai melhor.

Postado por leticia em 23:52

20.09.05

portuguêish

A minha turma de português é muito legal. É um casal jovem, ela grávida de três meses, que tem família em São Paulo, e uma menina muito legal, formada em línguas (alemão e inglês), com um namorado que adora o Brasil e uma grande curiosidade por línguas ocidentais.

É muito engraçado porque a Elisa, formada em línguas, tem obviamente mais facilidade, mas os outros dois, que já foram várias vezes ao Brasil, sabem um monte de palavras soltas (para com isso, vem cá, que saco, olha lá, hein, ih, alá!) e têm mais intimidade com a pronúncia. Que é, aliás, o fator mais desencorajante pro estrangeiro que aprende português. Até neguinho acostumar que Ronaldinho se diz Rronaudjinhu, menina do céu, que sofrimento. Passam a aula toda suspirando, um corrigindo o outro, é antchigo e não antigo, é mininu e não menino, é carro e não carru, e por aí vai. Quando eu li em voz alta um trecho que dizia "eu gosto de dirigir" eles quase infartaram. Djidjirigí? Que raio de verbo é esse?

Mas eu me divirto. E me emociono também, porque escutar alguém se esforçando pra falar a sua língua tão difícil, fazendo força pra pronúncia sair direito, e no final acabar falando igualzinho à Huňka, não é mole. Tem horas que morro de vontade de chorar.

Postado por leticia em 22:48

19.09.05

uia

No fim de semana fomos ver O Quarteto Fantástico. Gente, quequeísso! Que troféu framboesa o quê! Troféu melão pra maquiagem mais patética que eu já vi na minha vida!

A começar pela Susan Storm, com aquele cabelo amarelo-canário. Com menos cara de loura do que ela, só a Yoko Ono. Ou o Micheal Jordan. Socorro! Mas os penteados são legais, e provavelmente impossíveis de se reproduzir em ambiente doméstico, infelizmente. Mas voltando à maquiagem, em certas cenas, com uma iluminação horrenda, a menina ficava parecendo um zumbi. Coisa horrorosa.

Falando em coisa. Aqui chamaram O Coisa de La Cosa, assim no feminino mesmo. Achei mal feitíssimo. Mas gosto do ator. Também gosto do cara que fez o playboyzão chatão do Tocha.

Mas o Doutor Destino... Socorro!!! Que sobrancelhas são aquelas? E as caras e bocas? Se pro nível de Charmed o cara já era um horror, e não se salva nem em Nip & Tuck, imagina como supervilão. Qualquer ator canastrão que conhecemos estaria melhor no papel. Pode falar qualquer um: Tarcísio, Taumaturgo, aquela mala do Lima Duarte. Qualquer um faria um Doutor Destino menos afetado do que aquela criatura.

O filme é completamente idiota, e eu nunca fui muito fã do Quarteto. Mas esses filmes porcaria são tão legais :)))))

Postado por leticia em 15:38

18.09.05

ô gente lerda

E falando em faculdade, os resultados das bolsas de estudos só saem dia 30. Haja paciência.

Postado por leticia em 15:33

17.09.05

batendo perna

O dia ontem foi longuíssimo. Saí cedo de casa pra não pegar trânsito pra Perugia, e fui direto ao Centro de Triagem dos correios. O que aconteceu foi o seguinte: minha mãe tinha mandado uma caixa do Rio com os livros de português pro curso que começou ontem, e a caixa chegou ontem mesmo, só que eu não estava na oficina quando o courier passou. Nem o Mirco. E a mente brilhante do Ettore não conseguiu chegar sozinha à conclusão de que uma caixa do Brasil com um remetente com o mesmo sobrenome que eu MUITO PROVAVELMENTE era pra mim. Mandou embora o pacote. E nessa eu me fodi. Comecei o curso de português sem livro mesmo, mas antes liguei pros correios de Perugia e quase chorei no telefone pedindo pra alguém quebrar o meu galho. Por sorte moro em um país onde regras foram feitas pra ser quebradas, e com um pouco de sorte e de choro a gente sempre encontra alguém disposto a dar uma mãozinha. Quem me atendeu foi um cara muito simpático que me levou lá pras entranhas do depósito e me ajudou a catar o pacote, que de outro modo só chegaria à agência dos correios de Torgiano na semana seguinte.

Resolvido esse pepino, fui relaxar e cortar os cabelos. Os cachos voltaram e estou achando ótimo. Enchi desse negócio de escova. Não tenho cara de lisa mesmo, então foda-se. Quem ficou contente foi a Giuliana, que não me via desde abril, e que cortou fora um mar de cabelos.

E dali a começou a epopéia do Centro de Cefaléia. Porque eu não sei dirigir em Perugia, vivo me perdendo, não entendo o trânsito, não acho os estacionamentos que eu quero, e levei séculos pra chegar ao Policlinico Monteluce. A doutora estava vindo do outro hospital, o Silvestrini, que fica lá na casa do chapéu, e estava empacada no trânsito. A consulta, que era pra meio-dia, só foi rolar à uma e meia. Muito simpática e gentil, coisa rara quando falamos de médicos italianos, a doutora me fez milhões de perguntas, mas uma das mais importantes, que trabalho eu faço, foi completamente esquecida. Minha pressão estava alta, coisa totalmente anormal, já que normalmente só me deixam doar sangue depois de me entupir de líquidos por causa da pressão baixa. Mas dado o nível de stress na minha vida ultimamente, é bem compreensível. Pediu um monte de exames, entre eles dos hormônios tireoideanos e uma ressonância do cabeção, que não sei quando vou ter tempo de fazer.

Comprei uma carteira na Furla, em um resto de promoção, e na rua ali do Arco Etrusco, que vai dar na Stranieri, pela primeira vez entrei em uma padaria que sempre me chamou a atenção. É uma porta minúscula, e lá dentro tem sempre um monte de gente, por isso nunca tinha entrado. Dessa vez eu tinha um pouco de tempo e resolvi arriscar. Acabei descobrindo um tal do Pane Panda, que nada mais é do que um pão feito em nome da WWF. Uma parte da renda da venda do tal pão vai diretamente pra eles, ou pelo menos espero. O bicho (o pão, não o panda) é uma delícia, com grãos de aveia, trigo e semente de girassol, conserva-se muito bem, sem perder nada de consistência ou umidade de um dia pro outro (mais que isso não pude avaliar, porque matei o pouco que restava no dia seguinte) e na parte de cima tem uma espécie de hóstia comestível bonitinha, com o panda símbolo da WWF. Acabei comendo quase tudo puro mesmo, no carro, fazendo hora enquanto a próxima aula não começava. O dia terminou às dez e meia da noite, com os Salames. É muita pedra na cruz mesmo... ;)

Postado por leticia em 15:32

16.09.05

:))))))))))))))

Tabucchi foi uma das melhores coisas que já me indicaram pra ler.

Se vocês não lembram, foi o professor de literatura italiana na Stranieri (aquele que a Polacca Pazza acusou de ser chato pra caramba e de ser péssimo professor). No último dia de aula, depois de entender que só eu e o Silvio compreendíamos alguma coisa da aula dele, porque só nós conseguíamos ler direito em italiano, me chamou num canto e perguntou se, visto que eu entrava com um livro diferente na mão a cada dia, eu não estaria interessada em sugestões de leitura. Só se for agora, exclamei, e ganhei uma lista de livros. Li todos, e adorei todos.

Um desses foi Sostiene Pereira, que depois a Sabine, canadense-francesa que estudou comigo na Stranieri e ainda é uma boa amiga, me deu de presente de despedida. O livro é uma delícia, de verdade. Tudo é tenro, delicado, doce, faz sorrir. Até o que é triste, amargo, sério, politicamente engajado disfarçado de boa literatura. Esse ano li de novo e gostei mais ainda. E acabei comprando outro dele: La Testa Perduta di Damasceno Monteiro. A delícia já começa do título, pelo menos pra expatriados, com esse tão familiar Monteiro no título. A história é simples, e não é exatamente a trama que é envolvente, mas os personagens. Fiquei amiga de todos. E com mais vontade ainda de conhecer o Porto (que em italiano, não chorem, se chama Oporto. Giustamente.).

E esse mês saiu o último Camilleri com o Commissario Montalbano. Lógico que já comprei e já estou na metade. Comprei outras coisas também porque sabem como é, um livro chama outro, é que nem sequilho. Comprei The Mistress of Spices, de Chitra Banerjee Divakaruni, um Hemingway (Moveable Feast, porque afinal Paris é Paris), um Paul Auster (Oracle Night), um Paul Burke (the Man Who Fell in Love With His Wife), e Nicholas, de Goscinny e Sempé, infelizmente só disponível em inglês, e que acabei comprando assim mesmo porque a edição é de-li-ci-o-sa. A Amazon me mandou o terceiro livro da série The Hinges of History do Thomas Cahill (o primeiro é How The Irish Saved Civilization, um dos meus preferidos ever), Desire of the Everlasting Hills – The World Before and After Jesus. Ainda não comecei porque estou esperando o segundo volume, que deve chegar mês que vem: The Gifts of the Jews, que estou doida pra ler. Pena que a edição que me mandaram é feinha e diferente da dos irlandeses, que é linda. Mas enfim, não se pode querer tudo.

Também estou com um monte de coisas pra ler em francês e espanhol, mas não estou com tempo pra ler com dicionário. Também tem Il Gattopardo me esperando – só li uma vez, há muito tempo, em português.

The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy é uma das coisas mais chatas que eu já li em toda a minha vida.

Postado por leticia em 22:11

15.09.05

il terzo mondo è qui...

Outro dia assistimos a um debate na TV sobre uma das maiores pragas da sociedade italiana: a raccomandazione, ou o famoso pistolão.

NADA aqui funciona sem pistolão. Desde a coisa mais simples, como uma caixa de limão verde que a verdureira só te arruma porque ficou sua amiga, até coisas sérias como conseguir emprego nas estatais. O assunto surgiu por causa do escândalo das listas de raccomandazioni pra entrar nos Correios. A coisa era organizada: descobriram um CD com um banco de dados com o nome do raccomandato, o nome do raccomandante, que tipo de cargo poderia ocupar, e coisa e tal. E o pau comeu mais ainda porque os correios italianos são mundialmente famosos pela sua incompetência, lerdeza, mania de perder coisas, gente retardada trabalhando nas agências. Já falei mal dos correios aqui um milhão de vezes, e toda vez que tenho que ir lá me irrito. E olha que eu conheço agências dos correios do país inteiro – quando viemos aqui pela primeira vez, eu e Valéria trocávamos dólares sempre nos correios e vimos muita gente na fila reclamando e mandando chamar o gerente porque a fila era enorme e ninguém lá dentro se mexia pra agilizar o serviço.

As três agências que mais freqüento são a de Santa Maria, a de Bastia, onde tenho conta, e a de Ponte San Giovanni, a dois minutos da escola. O nível de retardamento mental e despreparo das pessoas que trabalham ali dá vontade de chorar. Imaginem que uma vez fui a Bastia depositar um cheque dos correios – veja bem, nem pedi pra trocar, só pra depositar mesmo – e a energúmena atrás do vidro me disse que uma das regras dos correios é só lidar com cheques da mesma agência. Minha senhora, eu disse, a senhora compreende que se fosse assim os cheques não teriam razão de existir? Se um cliente de Bari me paga com cheque, segundo a senhora eu vou ter que ir a Bari pra depositá-lo? Tem sentido isso? Não teve jeito, a mulher cismou, bateu o pé, e não quis depositar. Então fui a Torgiano, agência minúscula mas com uma gerente espertíssima, e contei a história (só não vou mais a Torgiano, onde fica a oficina, porque eles fecham à tarde, enquanto que as outras agências funcionam em horário integral, inclusive sem fechar na hora do almoço, olha só que avanço.). A mulher ficou furibunda! Volta lá e me faz o favor de dizer praquela múmia que ela é uma imbecil e não sabe nada! Que gente retardada! Onde foi, em Bastia? Ah, eu sabia, só tem imbecil naquela agência! Tirou uma xerox do contrato entre o correntista (no caso, eu) e o banco, explicando os prazos de pagamento dos cheques, da praça, fora da praça, do BancoPosta, de outros bancos, sublinhou tudo o que interessava, e me implorou pra ir lá esfregar tudo na casa da energúmena de Bastia.

Mas enfim, o assunto era pistolão. O debate foi interessantíssimo. Havia alguns peixes grandes da política – um fascistão do Veneto, um senador vitalício filho da puta de Nápolis – e mais uns gatos pingados: uma cirurgiã espertíssima, que mesmo sendo docente de quatro universidades estrangeiras jamais conseguiu trabalhar na Itália porque não pertence a nenhuma família de tradição médica; um professor da Bocconi, famosíssima faculdade de Economia de Milão; Emilio Fede, um puxa-saco do Berlusconi que me dá nojo só de ver, e mais uns fulanos que telefonavam e faziam participações especiais ao vivo. Entre esses últimos, o prefeito de Roma, que ligou pra esclarecer uma história confusa que saiu nos jornais sobre possíveis raccomandazioni da parte sua. A sua explicação foi, na minha opinião, pior que o soneto: disse que só deu uma ajuda pra arrumar emprego pro filho de um bombeiro que morreu em serviço. Ora, faça-me o favor, eu entendo que é chato o cara morrer em serviço e que o Estado lhe deve alguma coisa, mas daí a arrumar emprego pro filho do cara, que não era absolutamente preparado pro cargo, temos léguas de distância.

A cirurgiã foi a nossa preferida da noite. As caras que ela fazia a cada comentário absurdo, a cada conversa filmada escondido, eram de matar de rir e refletiam exatamente o que estávamos pensando. Na verdade todas as pessoas entrevistadas na rua e todos os envolvidos nas tais conversas gravadas admitiam que o pistolão faz parte da cultura italiana, que sempre foi assim e sempre será, que em alguns casos nem é tão grave assim. A última coisa que eu vi antes de cair no sono foi que os únicos profissionais italianos respeitados no exterior são os que efetivamente estudaram no exterior, porque nas faculdades italianas o planeta inteiro sabe que o esquema é o pagou-passou, ou o conhece-alguém-lá-dentro, tá feito. Um outro professor de universidade contou que já recebeu listas de nomes que lhe foram passadas por baixo da porta de casa - nomes de alunos que ele deveria aprovar, porque raccomandati por gente importante.

Algo me diz que não vou conseguir voltar a estudar.

Postado por leticia em 21:49

tucomel

Recebi o e-mail mais bonito do mundo hoje, do meu irmão.

Mas é só meu.

Postado por leticia em 21:32

14.09.05

e durma-se com um barulho desses

A bomba não estourou, mas quando cheguei na escola hoje o envelope com meu chequinho dentro estava nas mãos da secretária. Coisa inédita desde que eu comecei a trabalhar com eles.

Tem gente que só funciona na base da sacudida mesmo...

Postado por leticia em 21:31

13.09.05

ah, tá...

Os assuntos da semana aqui na bota são dois.

O primeiro, e por favor não riam, é o caso dos carrapatos no trem. Pois é. Um monte de passageiros andou reclamando de carrapatos no trem, inclusive na linha Milão-Florença, muito freqüentada. A história deu direito a fotos dos carrapatos nos jornais e tudo. Mas, principalmente, descobriu os podres das licitações pra limpeza dos trens e estações da Ferrovia dello Stato.

O segundo, e por favor não chorem, é que Berlusconi e seus capangas acabaram de aprovar uma lei que determina punições severas pra quem se mete a besta escutando conversa telefônica e interceptando correspondência de gente envolvida em qualquer tipo de crime (leia-se Berlusconi & gang com os rabos presos com a máfia, e com coisa pior). Então tipo assim, o jornalista que escrever artigos que incluam trechos de conversas interceptadas paga uma multa fenomenal. E o jornal que os publicar, mais ainda. Sacaram?

Postado por leticia em 21:29

12.09.05

reclamona

Tanta coisa acontecendo essa semana...

Lá pra sexta-feira deve sair o resultado das bolsas de estudos. Se acreditarem na minha pobreza, que é muito verdadeira, sim senhor, e me derem a bolsa, em outubro volto a estudar. Mas estou tentando não pensar muito no assunto, porque se não rolar eu vou ficar MUITO decepcionada.

Sexta-feira também é o dia da minha consulta no Centro de Cefaléia de Perugia.

Amanhã começamos a testar a talvez nova secretária. Quem passou a bola foi o Fabião, que trabalha com jovens excepcionais (ou simplesmente complicados) e nos mandou a Elena, uma menina de 23 anos, baixinha e magrinha, com uma doença degenerativa que eu não lembro qual é. Semana passada ela esteve na oficina com a Federica, simpática e grávida mulher do primo do Moreno (o Paoletto, o que trabalha na Questura e me deu uma mão com o permesso di soggiorno em maio), que trabalha com o Fabião. A Elena tem alguma dificuldade pra falar, e os movimentos são um pouco lentos e menos precisos do que a média, mas é muito esperta, nos deu a impressão de ser muito cheia de boa vontade, e ainda por cima é engraçada e nos fez dar muita risada. As vantagens fiscais são inúmeras por causa do grau de invalidez dela. Mas o motivo principal é o seguinte: de todos os salames que já passaram ali no escritório até agora, a mais normal, mais simpática e mais séria foi ela. Vamo todo mundo acender velinha pra coisa funcionar, porque todos nós gostamos muito dela e queremos muito que dê certo.

E amanhã também vai estourar uma bomba na escola, porque hoje, antes de vir embora pra casa, deixei na escrivaninha do Chefe Siciliano uma cartinha muito, mas muito irritada mesmo, que ele só vai ler amanhã de manhã. Acontece que todo mês é a mesma lenga-lenga: em vez de deixar meu cheque com a secretária no dia 15, que é o dia de pagamento, ele fica empurrando com a barriga. Quer entregar o cheque pessoalmente, mas esquece que nem todo professor vai todo dia à escola, e que muito freqüentemente ele mesmo não está lá, ou então está ocupado. Já vi VÁRIOS outros professores se irritarem porque vieram lá dos cafundós pegar a grana e ele tinha ido sei lá onde sem deixar nada, nem dinheiro, nem recado com a secretária. Ou seja, acabamos recebendo sempre em torno do dia 20. Uma professora muito timidinha ficou TRÊS MESES sem receber, porque tinha vergonha de ir lá pedir o dinheiro pra ele, e ele obviamente não lembrava que tinha que pagar.

Além disso tudo, quando vou trocar o cheque a garota do banco, que a essa altura do campeonato já me conhece, tem que ligar pra agência da escola pra pedir pra liberar os fundos. Papelão. Mas o fiasco maior foi no mês passado. A escola fechou pra férias dia 5 e só reabriu dia 29. Eu ainda consegui falar com ele antes disso, e recebi um cheque pré-datado (aqui se diz pós-datado) pro dia 16 (dia 15 foi feriado). Ora bolas, eu viajei dia 12 (e ele sabia); poderia ter feito a gentileza de antecipar, só esse mês, o salário pro dia 12, né? Até porque, pelo meu tipo de contrato, não tenho direito a férias. Não, jacaré, fez pro dia 16. Resultado: dei pro Ettore trocar e depositar, só que o cheque era non trasferibile, o que significa que ninguém pode trocar em meu nome. Então ele depositou diretamente o cheque na minha conta. Só que tem um pequeno detalhe bancário neanderthalense botense: um cheque de banco diferente do meu leva SETE DIAS ÚTEIS pra cair na conta. Resultado: viajei sem um tostão sequer. Ainda bem que em Paris as lojas estavam todas fechadas, senão teria cortado os pulsos. Mas não é só isso!!! O cheque não tinha fundos!!! Bateu, voltou, bateu, voltou, e finalmente foi dado como estornado (existe isso em português?). Ou seja, fiquei no negativo. Como meu chefe é muito avançadinho, como todo italiano (cof cof), não tem online banking, e não tinha como saber que não tinha dinheiro na conta e que o cheque tinha batido e voltado. No lugar dele, um chefe decente teria feito um DOC e cancelado o cheque, ou, se não fosse possível o cancelamento, depois eu devolveria o valor do cheque, quando finalmente caísse muito depois do DOC. Não, jacaré, simples e correto demais. EU é que perdi manhãs inteiras no telefone com ele, com a secretária, com a gerente dos correios (minha conta é no banco dos correios), pra tentar descobrir se o dinheiro ia cair na conta ou não – EU, porque da escola ninguém me ligou pra dizer nada, ninguém correu atrás, e acabou que quem resolveu o problema fui eu. Resultado: o dinheiro só foi entrar dia TRÊS. Ora, faça-me o favor! Como se diz aqui, signori si nasce. Quê que adianta usar terno, colete e gravata se você não paga os seus funcionários em dia? Vá tomar banho!

Sei é que essa história me irritou tanto – não tanto pela falta da grana, que nem era tanta, mas por princípio mesmo – que fiquei até com dor de estômago. Coisa rara, porque eu normalmente não somatizo nada. Que ódio! Passei uma semana batendo porta e rosnando. E ele ainda se despede no telefone dizendo ciao, bella. Mas vá catar coquinho!

Então foi isso. Deixei uma carta desaforada na escrivaninha dele e quero só ver qual vai ser a reação. Não gostaria de sair de lá, porque gosto do meu trabalho, faço bem, gosto dos meus companheiros da escola e estou cheia de turmas, além do que é muito cômodo pra mim trabalhar em Ponte San Giovanni e Perugia – ainda mais se eu começar a estudar de novo, praqueles lados. Mas também não seria o fim do mundo se eu saísse: tem a escola de Foligno e uma nova de Santa Maria com quem já falei e estou esperando só a confirmação de uma turma de português, e já mandei meu currículo pra uma de Assis também. Fora que eu sou esperta e versátil e morrer de fome eu sei que não morro. Estou de saco cheio de ser passada pra trás por causa dessa gente que não paga. Na oficina é a mesma coisa: todo mundo tem sempre uma desculpa pra atrasar o pagamento. Não tem tempo de vir trazer o cheque pessoalmente? Manda pelo correio, pombas! Faz um doc, nem precisa de internet, manda um fax pro banco, fala com o gerente, sei lá! Eu acho tão nojento deixar fornecedor e funcionário sem pagamento que não consigo conceber como alguém pode sequer ter essa idéia. Mas o mundo é cheio de gente estranha. E eu já estou por aqui com esse culto à desonestidade dos italianos.

Postado por leticia em 19:23

11.09.05

por favor, leiam! i beg ye!

Besides justifying the transfer of wealth to kleptocrats, institutionalized religion brings two other important benefits to centralized societies. First, shared ideology or religion helps solve the problem of how unrelated individuals are to live together withoug killing each other - by providing them with a bond not based on kinship. Second, it gives people a motive, other than genetic self-interest, for sacrificing their lives on behalf of others. At the cost of a few society members who die in battle as soldiers, the whole society becomes much more effective at conquering other societies or resisting attacks.

Guns, Germs and Steel - a Short History of Everybody For The Last 13,000 Years (Jared Diamond)

Postado por leticia em 19:27

10.09.05

o nosso deus é mais malvado que os outros

"The prudence, fortitude, military discipline, labors, perilous navigations, and battles of the Spaniards - vassals of the most invincible Emperor of the Romam Catholic Empire, our natural King and Lord - will cause joy to the faithful and terror to the infidels. For this reason, and for the glory of God our Lord and for the service of the Catholic Imperial Majesty, it has seemed good to me to write this narrative, and to send it to Your Majesty, that all may have a knowledge of what is here related. It will be to the glory of God, because they have conquered and brought to our holy Catholic Faith so vast a number of heathens, aided by his Holy guidance. It will be to the honor of our Emperor because, by reason of his great power and good fortune, such events happened in his time. It will give joy to the faithful that such battles have been won, such provinces discovered and conquered, such riches brought home for the King and for themselves; and that such terror has been spread among the infidels, such admiration excited in all mankind."

Trecho dos relatos dos companheiros de Pizarro, que com meia dúzia de gatos-pingados (168 soldados, nem todos a cavalo) capturaram (e mataram) Atahuallpa, imperador inca, protegido por 80.000 soldados.

Guns, Germs and Steel (Jared Diamond)

Postado por leticia em 19:34

09.09.05

Foi mal aê

Tempo, vontade, assunto, tá tudo em falta.

Postado por leticia em 14:11

02.09.05

cardialgia

Caramba, que facada no peito abrir um Tabucchi, que escreve em italiano mas sempre histórias que se passam em Portugal, e ler logo na primeira página:

Science fiction

O marciano encontrou-me na rua e teve mêdo de minha impossibilidade humana. Como pode existir, pensou consigo, um ser que no existir põe tamanha anulação de existência?

Carlos Drummond de Andrade


Por favor, autores estrangeiros, avisem com antecedência quando puserem trechos em português no meio de seus livros. Expatriado não lida bem com essas coisas não.

E olha que eu nem gosto tanto de Drummond.

Tem horas que não é fácil, viu. Eu nunca fui particularmente grudadíssima na minha família e sempre imaginei que um dia fosse morar fora. Tenho meus momentos de reclusão e intolerância à raça humana, inclusive meus parentes, e gosto da minha própria companhia. Do mesmo modo, apesar de ter um orgulho danado do Rio, que realmente é A cidade (não digo agora, nesse momento, porque agora o Rio é O QUE HÁ DE PIOR NO MUNDO, ao que parece; digo o Rio onde eu nasci e cresci, o astral, as pessoas, a paisagem, a floresta, a Lagoa, quequeísso, gente, a Lagoa, cês sabem do que eu tô falando), nunca fui carioca "da gema", freqüentadora de praia e curtidora da night. O meu Rio sempre foi diferente dos clichês, mas não por isso menos interessante. Sinto falta não fisicamente da cidade, mas da vida cultural e intelectual que eu tinha - e olha que não era láaaaaaaa essas coisas, mais por falta de grana que por qualquer outro motivo.

Mas experimenta abrir um guia turístico do Brasil em uma livraria no exterior. Experimenta catar o Rio, catar um mapa do teu bairro e achar a tua rua. Quero ver se você não cair no choro e se todo mundo não vai achar que você é maluco. Duvide-o-dó.

Postado por leticia em 19:04