31.05.04

Mini-texto inédito.

Postado por leticia em 19:58

Ah, um pedido: a Renata, irmã da FeRnanda, casa no final de julho. Eu me ofereci pra gravar uns CDs de música dançante, já que por aqui o pessoal é desanimado pacas. Ela também gosta de anos 70, música gay etc. Eu tenho muitos mp3 disso aqui, mas queria mais idéias de música anos 70, 80 e 90, inclusive brasileiras. Qualquer sugestão é bem-vinda.

Postado por leticia em 10:23

momento diarinho

Fim de semana mais light, impossível.

Sexta-feira fomos ao cinema com o Moreno, debaixo de MUUUUITA chuva, ver The Day After Tomorrow. Eu adoro o Dennis Quaid e adoro filme catástrofe, bem mentiroso, cheio de clichês e lugares-comuns. Adoro. Mas devo admitir que aquele frio todo me deu um nervoso danado. Só me acalmei quando o mendigo negão conseguiu entrar na biblioteca com seu cachorro lindo – que, aliás, é a cara do Demo.

Sábado Mirco trabalhou de manhã, como sempre, e eu fiz minha faxininha; depois do almoço rolou aquela dormidinha básica que ninguém é de ferro, e depois fomos enfrentar as hordas de peruginos que tiveram a mesma idéia de jerico que nós tivemos – a de fazer compras no Ipercoop. A gente nem tava precisando de nada, porque eu tenho ido ao supermercado praticamente dia sim, dia não, pra ter sempre tudo fresco em casa, mas nós adoramos fazer compras, então fomos. Dali fui deixar meu currículo na Libreria Grande – se tiver que ser emprego de vendedorazinha de merda, que seja numa livraria – e voltamos correndo pra casa pra fugir do trânsito. Jantamos na festa da primavera aqui embaixo, voltamos pra casa, e não conseguimos nos animar pra sair. Às dez e meia estávamos roncando.

E ontem foi outro dia de lerdeza total. O dia amanheceu lindo de morrer, com sol brilhando forte e uma brisa deliciosamente fresca – o tipo de clima que poderia perfeitamente se repetir diariamente por anos inteiros que ninguém iria reclamar. Ficamos em casa de bobeira de manhã, e depois íamos almoçar na Arianna, mas quando chegamos vimos o o carro do tio do Mirco estacionado, sinal que a namorada piranha dele também estava lá. Eu não a conheço mas sei que ela fez umas coisas horríveis, além de ser maluca de carteirinha, com passado de internações psiquiátricas, e deve estar constantemente sob a ação de psicotrópicos. O fato de que a família do Mirco ache super normal botar uma maluca dessas dentro de casa depois de tudo o que ela fez também seria, na minha opinião, suficiente pra requerer internação psiquiátrica pra todo mundo, mas enfim, non sono cazzi miei. Assim que vimos o carro demos meia-volta e picamos a mula. Acabamos indo almoçar no Toscanino, um restaurante famoso lá pros lados de Torgiano, onde fica a oficina do Mirco. Comi bem direitinho: um primo de tagliatelle com molho de tomate com frango e creme de leite (o lanterneiro foi de pappardelle ao javali, ma-ra-vi-lho-so), e depois filezinhos de porco num molhinho de alecrim, alcaparras e pimenta-do-reino. Diliça. Comportamo-nos muito bem e não tomamos refrigerante nem comemos doce, ficamos só no vinho branco seco mesmo.

Depois fomos pra oficina pra ajeitar os latões pra raccolta differenziata do lixo. Acho que finalmente o sistema de reciclagem de lixo aqui na Umbria vai pegar, coisa que me deixa muito feliz. O comune vai dar um incentivinho de 25 euros às famílias que alcançarem os 150 kg de lixo reciclável. A gente vai lá na tal isola ecologica (já falei dela num outro post), pesa as coisas e eles inserem os dados no cartão magnético. Se em fevereiro do ano que vem você tiver chegado aos 150 quilos, eles dão o tal incentivo. Claro que eu faria do mesmo jeito, mesmo sem o incentivo, até porque 25 euros é uma merreca, mas acho que é uma indicação de que a coisa vai funcionar de verdade. Por isso o Mirco lavou quatro latões enormes, originalmente cheios de solvente, e eu escrevi o rótulo pra cada um deles: papel, plástico, vidro e latinhas de aço e alumínio. Botamos tudo na garagem, que é bem grande, e quando estiverem cheios levo a tralha pra pesar.

Bom, acontece que ontem também era dia de Cantine Aperte aqui na Umbria. No ano passado fui com FeRnanda e Fabião, e esse ano resolvemos ir também. Nem estávamos sabendo de nada, porque a publicidade praticamente não existiu; por acaso ouvimos no rádio que a coisa rolava até as seis e resolvemos dar uma zoiada. F & F nos encontraram na oficina e de lá fomos pra Lungarotti, ali pertinho mesmo. Eles fazem vinhos muito bons (mas não excepcionais), e nessas ocasiões também dão sempre alguma coisa pra beliscar com a degustação de vinho. Ontem tinha bruschetta (porque eles também produzem azeite e o melhor modo de degustar azeite é com pão tostado), frios fatiados, cubinhos de pecorino. Enquanto Mirco e Fabião foram fazer a visita guiada das cantinas, eu e FeRnanda ficamos batendo papo. Dali fomos pra uma cantina pequena em Cannara, onde o Fabio já tinha comprado uns vinhos ótimos uma vez. Eles tinham fava e pecorino, e o Mirco deve ter comido tipo uma tonelada de fava.

Degusta aqui, degusta ali, no final das contas terminamos com sete taças de vinho, que, junto com a outra que ficou do ano passado, formam um conjunto de 8 peças. Ano que vem temos que lembrar que o modelo de bolsinha não muda, e se levarmos a bolsinha desse ano economizamos a entrada...

[Pra quem não sabe como funciona o Cantine Aperte (Cantinas Abertas): as cantinas da zona abrem as portas ao público. Você escolhe onde começar; nós começamos da Lungarotti. O ingresso custa 5 euros. Te dão uma bolsinha ridícula com uma taça de vinho dentro, e com essa bolsinha, que você deve pendurar no pescoço, entra-se em todas as cantinas que quiser, tendo pagado só uma vez. Só que cada vez que a gente muda de vinho, pega outra taça, e resolvemos não devolvê-las mas levá-las pra casa. Simples assim.]

Tem um castelo do século X ali perto de Bettona, chamado Rosciano, que o Fabio cismou que a gente tinha que ver. O bicho fica no alto de uma colina e a estrada pra subir até lá é incrivelmente íngreme. A probabilidade de encontrar um javali no bosque adjacente em teoria era grande. Eu adoraria ver um, embora tenha plena consciência do perigo – são bichos agressivos e, pior, pesadíssimos, fortíssimos. A cabeçada de um javali adulto é capaz de destruir a lataria de um carro. Infelizmente não vimos nenhum, até porque tava rolando uma bagunça danada porque tinha uma festa de casamento no castelo. Eu acho tão estranho essas festas assim, tão cedo! Aqui neguinho casa às 4, 5 da tarde e a festa acaba cedinho. Eu particularmente não consigo conceber casar durante o dia. Festa de dia não é festa, é no máximo um get-together desanimado! Não gosto não. Bom, no final das contas não conseguimos entrar no castelo, obviamente, e voltamos pra casa. F & F tinham e-mails pra checar e escrever, e depois que foram embora eu e lanterneiro ficamos vendo Stealing Beauty no vídeo. Pergunta se conseguimos sair depois? É ruim, hein. Dormimos como duas pedras.

E hoje acordei cedo, estendi a roupa no varal, fui dar minha corridinha, e agora no final da manhã vou encontrar a Marcia em Assis. Marcia é a mãe de um amigão do meu irmão, que vem passar uns dias na Itália e gentilmente se ofereceu pra me trazer umas roupas das quais eu tava precisando. Minha mãe preparou uma sacola e lá vem a Marcia trazer meus bagulhos pra mim. Ótima desculpa pra não ir trabalhar.

Postado por leticia em 10:14

28.05.04

Seu Franjinha, torta al testo e altre cose

Pois então, agora começa o período das sagras, as festas de cada cidade. No começo de maio rola o Calendimaggio em Assis, festa na qual o povo se veste com roupas medievais, há representações de cenas da época, desfile, provas físicas, etc. A disputa é entre a Nobilissima Parte di Sopra e a Magnifica Parte di Sotto (a cidade alta contra a cidade baixa). Esse ano ganhou a Parte di Sotto.

Anteontem começou a Festa della Primavera aqui em Cipresso. Armaram um palco e umas barraquinhas no jardim bem aqui atrás de casa – assistimos à festa de camarote! Quarta-feira FeRnanda e Fabião vieram jantar com a gente na festa. Essas festas têm sempre uma cantina de pratos típicos, que funciona quase sempre do mesmo jeito: um grande menu informa o cardápio daquela noite, você pega uma folha pré-impressa com todos os nomes dos pratos, e marca ao lado de cada prato a quantidade que quer. Enquanto isso alguém do seu grupo vai pegar uma mesa no galpão. As mesas são numeradas e, depois de pagar, você vai ao balcão de pedidos pra entregar o seu, com o número da sua mesa escrito bem grande no alto da folha pra neguinho não errar. Depois é só esperar que alguém vem te trazer o jantar. O menu também varia pouco, a não ser quando o tema da festa é alguma comida ou ingrediente em particular (como a festa da cebola em Cannara, ou a sagra do javali em Petrignano). Quarta-feira comemos antipasto primavera (salame, presunto, capocollo, azeitonas, feijão branco frio, flores de abobrinha, berinjela e alcachofra fritas, e outras coisinhas), Mirco comeu penne alla norcina (sempre presente em qualquer menu umbro) e nós mortais fomos direto ao secondo e comemos a igualmente onipresente torta al testo – com linguiça, linguiça e verdura, presunto, presunto e pecorino, etc.

Ontem Marco e Michela vieram, e comemos de novo na festa – dessa vez fui de tagliatelle com molho de ganso. O mais engraçado é ver o pessoal todo arrumado pra essas festinhas bobas. E fica tudo ainda mais hilário quando tem banda tocando. Quarta-feira foi um festival de bandas iniciantes, então rolou muito rock pesado, mas ontem foi o Mario Riccardi (o site não tá no ar ainda, acho) quem cantou música de salão pra fazer a velhacaria sacudir o esqueleto. Os jardins pipocando de gente, como um grande salão de baile ao ar livre; velhos e velhas super emperiquitados dando seus dois passinhos pra cá, dois passinhos pra lá, todos juntos se movendo em sentido anti-horário ao som do Franja Crespa Riccardi. De chorar de rir. Principalmente porque o seu Riccardi é um mito da dança de salão aqui no centro da Itália. Toda hora vejo cartaz anunciando Riccardi cantando em algum lugar. Não tenho mais nada a comentar sobre ele, já basta o fato de que ele tem cabelo crespo E usa franja, mas o figurino do resto da banda é de arrepiar também. Ontem tavam todos de terno bordeaux, e as cantoras (sim, porque Riccardi fez nome e deitou na fama, quase não canta mais, só vai marcar presença), todas gordas de mini-saia, bota de camurça rosa, cabelos amarelos, bem naquele estilo chacrete de ser.

O bom é que tanto eu quanto o Mirco dormimos sem problema mesmo com a orquestra do Riccardi se esgoelando lá embaixo. Só que essa noite eu tive uns sonhos muito esquisitos (minha mãe casava de novo e o Mirco não podia ir à festa comigo porque estava jogando na seleção italiana de futebol), me revirei a noite toda e dormi muito mal. Hoje estou super borocoxô, ainda mais que perdi a manha inteira na agência fazendo bissolutamente nada - e eu cheia de roupa pra passar em casa! E agora à tarde lá vou eu a Cannara, terra da cebola, visitar um cliente novo, com a mala do Pino do meu lado pra ver se eu tô fazendo direito. Ainda por cima o tempo fechou e acabou de cair um aguaceiro danado – bem na hora em que eu tava estendendo as roupas de lã no varal pra secar e poder guardar na garagem com todo o resto da roupa de inverno. Que bosta isso.

Postado por leticia em 14:14

27.05.04

Então hoje fui fazer mais uma sessão de massagem. Angelo constatou aumento do fígado. Segundo ele, a causa é a raiva, a irritação. Jura, catatau?

Postado por leticia em 12:16

24.05.04

Estou vendo o segundo e último capítulo de Nerone (Nero, em italiano), microssérie de produção americana, penso, com alguns atores italianos infiltrados. Sempre vejo essas porcarias porque adoro figurino de época, mas nem sempre é bom negócio. Por exemplo: até onde eu sei, Nero era uma bicha louca, não sei se mais bicha que louca ou mais louca que bicha, e mau que nem pica-pau. Nessa série ele é bonzinho, tem um corte de cabelo super moderno, defende a plebe, salva gladiadores da morte, casa por amor, tem remorsos e escrúpulos. Será que a irritação de ver essas incongruências históricas é compensada por meia dúzia de armaduras legais, tecidos deslumbrantes e brocados fabulosos? Sei não.

Postado por leticia em 21:58

The mind é mesmo a powerful thing.

Ontem passei o dia inteiro torcendo pra hoje acordar com alguma febre estranha que me impedisse de ir trabalhar. Fiz melhor ainda: ontem à noite, depois que levantei do computador e fui fazer o derradeiro xixi antes de ir dormir, dei simplesmente com a cara na porta. Esqueci (Freud explica) que tinha deixado a janela do banheiro aberta pra secar uma toalha de banho, e, pra não criar corrente de ar que bate a porta de vidro do corredor, fechei a porta do banheiro. Dei realmente uma carada na porta, com vontade. Fiquei estatelada no chão de tanta dor uns dez minutos, sem saber o que fazer – era meia-noite e meia, eu sozinha em casa.

Hoje minha cabeça dói um pouco, compreensivelmente, mas fora isso estou bem, só não fui correr porque ontem a chuva molhou meus tênis que eu tinha deixado na varanda pegando um arzinho. Vou ligar pro escritório pra dizer que, além da dor de cabeça, estou tonta e não quero dirigir. Se melhorar, mais tarde eu vou, mas agora não tô podendo. Se eu perder meu tempo trabalhando, nunca vou encontrar um emprego melhor, concordam?

Postado por leticia em 07:46

23.05.04

A criatura mais graciosa da Terra não é o gato, nem a borboleta, nem a garça, nem a cheetah. A criatura mais graciosa do universo é a bailarina clássica.

p.s.: Notaram a frustração?

Postado por leticia em 23:40

sempre livros

Ontem terminei What it means to be 98% chimpanzee. Achei tão arrogante! Tão cheio de lugares-comuns! Mas também tem pontos de vista interessantes, e algumas boas tiradas, que eu, burra que sou, esqueci de marcar pra colocar aqui e agora não consigo mais achar.

E hoje acordei cedo, li metade de Survivor (Chuck Palahniuk), fui fazer faxina enquanto o Mirco foi pra oficina inventar um bebedouro pra adaptar ao garrafão de 5 litros de água mineral que eu descobri na Coop por € 0,60, tomei banho, corri pra varanda pra tirar as flores da chuva fortíssima, e aproveitei que o almoço era ridículo (pappardelle all’uovo com molho pronto de faisão) pra continuar lendo. No final da tarde Mirco partiu pra Milão pra fazer outro curso como o do ano passado, quando eu o acompanhei e aproveitei pra conhecer a Simone. FeRnanda e Fabião passaram aqui pra checar e-mail, já que em Ripa ainda não há ADSL e de qualquer forma o computador deles ainda não foi ligado por falta de espaço. Agora há pouco, lá pras nove, terminei Survivor. Sabe que eu gosto do estilo desse cara? Tudo muito absurdo, meio realismo fantástico, mas nessa ele acaba mandando muito bem. A paginação do livro é toda ao contrário, a numeração dos capítulos idem. Achei o livro muito legal.


The Prayer for a Parking Space

Oh, divine and merciful God,
History is without equal for how much I will adore
You, when You give me today, a place to park.
For You are the provider.
And You are the source.
From You all good is delivered.
Within You all is found.
In Your care will I find respite. With Your
Guidance, I will find peace.
To stop, to rest, to idle, to park.
These are Yours to give me. This is what I ask.
Amen.


You realize there’s no point in doing anything if nobody’s watching.
You wonder, if there had been a low turnout at the crucifixion, would they have rescheduled?
You realize the agent was right. You’ve never seen a crucifix with a Jesus who wasn’t almost naked. You’ve never seen a fat Jesus. Or a Jesus with body hair. Every crucifix you’ve ever seen, the Jesus could be shirtless and modeling designer jeans or men’s cologne.
(...)
Because the only difference between a suicide and a martyrdom really is the amount of press coverage.
If a tree falls in the forest and nobody is there to hear it, doesn’t it just lie there and rot?
And if Christ had died from a barbiturate overdose, alone on the bathroom floor, would He be in Heaven?

Postado por leticia em 21:36

22.05.04

chico bento perde

Eu realmente adoro essa vida na roça. Hoje de manhã fui dar a minha corrida básica em meio aos campos de trigo aqui perto de casa, olhando com muita inveja as gigantescas moitas de sálvia e alecrim, as parreiras, os tratores, as mudinhas de alface enfiadas em buraquinhos de um negócio estranho acoplado ao trator. Voltei, bebi meio litro de água e fui levar o carro do Mirco a S. Maria pra lavar. Depois fui dar um pulo na Arianna, que estava reformando o pombal. Parece que os dois machos tinham caído na porrada no dia anterior e precisavam ser separados. Dali pra ir ajudar a pegar os ovos de pata foi um pulo. Uma das patas tinha botado três ovos num ninho lá nos cafundós do judas, dentro da oca improvisada que a Arianna fez pra proteger os bichos do frio. Dentro da outra oca, que fica numa parte separada do galinheiro, a outra pata tinha chocado quatro patinhos leeeeeeeeeeeeeeendos, microscópicos, foférrimos, que esperneiam quando a gente pega na mão. Segundo a Arianna, os outros 7 ovos que ficaram vão morrer, porque dificilmente a pata vai chocá-los. Não consegui entender o porquê, talvez porque não dava pra ouvir as explicações berradas pela sogra – experimente conversar tendo gansos por perto e você vai entender o que eu estou dizendo.

(Isso tudo rolando e os cachorros todos dentro do galinheiro, passeando calmamente entre perus albinos, os malditos gansos, galos que cantam fora do horário, galinhas que ciscavam restos de alface.)

Dali fomos pra horta. As favas já estão prontas pra colher, ela me avisa. Pego uma cesta de vime e lá vou eu me embrenhar na floresta de favas. Ainda estão novinhas e tenras, por enquanto são boas pra comer cruas. Mais tarde, quando estiverem mais secas e durinhas, ficam mais gostosas cozidas. Então tá. Confesso que não sou grande fã de fava crua, mas aqui é uma iguaria, pra ser degustada com um bom pecorino. O Mirco adora, então enchi o cesto. Colhi umas ervilhas também, mas ainda falta um pouco pra elas ficarem no ponto. Alface ainda tenho, ela me deu dois pés bem folhudos terça-feira. As mudas de tomate que ajudei a plantar domingo passado já estão bem grandinhas. São 54 plantas de tomate pra salada e 54 de tomate pra fazer molho e deixar em conserva pro ano inteiro. Os pés de alho estão enormes, as batatas e cenouras ainda não estão prontas pra colher, as cebolas estão lindas, entremeadas de ervas daninhas que dão lindas florezinhas brancas e lilás. Ficamos batendo papo à toa enquanto ela rega os pés de insalata (já falei aqui mas repito: insalata não é só o nome do prato, mas o nome genérico de qualquer planta que se use pra fazer salada), Legolas sentado num canto prestando atenção, os gansos de vez em quando fazendo um barulho desgraçado quando escutam alguém passando na estrada ao lado. Eu, ignorantérrima nesses assuntos vegetais, vou fazendo perguntas idiotas: e aquilo ali, é funcho? Não, é cenoura. E aquela parte lá, é tomate também? Não, são as batatas. E lá no fundo, o que é? Alcachofra. Putz, não acerto uma! A única planta que eu aprendi a reconhecer é a fava, que tem uma aparência particular, com folhas arredondadas e da mesma cor meio cinza, meio azul das oliveiras. Por enquanto, o resto pra mim parece todo igual...

Voltamos pra velha horta, que agora é um espaço pros cachorros, cheio de vasos de flores espalhados sem ordem nenhuma pra lá e pra cá. Arianna me mostra um arbustão de alecrim que ela achou jogado no campo, coitado, e trouxe pra casa. Vai arrancando mudas e distribuindo pelos cantos, pelos vasos, pelos canteiros. É só dar um pouquinho de água que ele pega, ela diz. Aponta pra uma fileira de vasinhos iguais, cada um com uma mudinha verdinha dentro. Sei que são plantinhas de feijão, mas fico impressionada com a velocidade de crescimento: terça-feira eram só brotinhos ridículos! Eu plantei grão-de-bico numa jardineira que estava sobrando na varanda e em uma semana já estão devidamente brotados. Impressionante.

Encho uma sacola de plástico com as favas, a meia dúzia de vagens de ervilha, meia dúzia de ovos de galinha que ficam num cesto de plástico na cozinha de baixo, dois ovos de pata e quatro mudas de peperoncino – duas plantinhas de pimenta redonda e duas de pimenta compridinha. Já estão dando flor, espero que dêem logo o peperoncino. Fresco, assim, no molho de tomate, é uma coisa de louco.

E agora dá licença que eu já plantei o peperoncino e é hora de preparar o almoço: fettina (filezinho de vitela, pálido e sem gosto de nada, que eles adoram e eu quase nunca como) com salada da horta da Arianna, arroz branco que ainda tenho no congelador, e fava fresca, pro lanterneiro. E tenho que preparar as abobrinhas recheadas pro jantar, senão depois fico com preguiça... Consegui achar aquelas abobrinhas redondas bonitinhas, que são deliciosas. Aquelas normais também são ótimas, mas como são bem finas e não precisa nem jogar fora o miolo, não dá pra rechear.

Mais tarde vamos a Ripa. Longa história, depois eu conto.

Postado por leticia em 13:02

20.05.04

Estou tendo problemas pra enviar e-mail de novo, não fiquem achando que sou negligente. É problema técnico mesmo. Da outra vez resolveu sozinho, vamos ver se agora também vai.

Postado por leticia em 07:44

Há flores em tudo que eu vejo

Pois é, a primavera parece que chegou, mas não conta pra ninguém não, que eu tenho medo do frio voltar.

De qualquer maneira, desde o início da semana que o sol tá lá, firme e forte – forte de verdade, a gente sente a pele queimando, mas não morre de calor porque ainda rola um vento frio. Aqui nos jardins atrás de casa estão preparando tudo pra festa da primavera, que começa semana que vem. Ano passado eu nem reparei – but then, how could I?

Há flores pipocando em tudo que é lugar. Jardineiras nas janelas, mil vasos nas varandas, petúnias, violetas, tulipas, flores cujo nome não sei. Os italianos gostam de jardinagem, mas estão longe da organização dos ingleses, então os jardins são a imagem da ordem no caos: percebe-se a mão de alguém na distribuição das plantas, mas não é possível detectar nenhum padrão de nada. Os jardins das casas italianas são muito visivelmente italianos, e eu acho isso super divertido. Eu adoro essa floração em tudo que é lugar, apesar de ter que admitir que tenho pena das plantas (eu não falei que eu tava brigittebardoziando cada vez mais? Daqui a pouco vou ter pena até de bactéria, espera só pra ver), enfurnadas em pequenos vasos, as raízes doidas pra dar uma expandida e dando de cara com aquela barreira sólida. Pobres florezinhas que não sobreviverão ao próximo inverno! Sinto pena, de verdade. Toda vez que rego minhas flores na varanda fico me martirizando por mantê-las dentro de vasos apertados em vez de livres e serelepes num jardim. Mas não tenho jardim, então tem que ser em vaso mesmo. Tadinhas!

A única coisa que eu não gosto da primavera é essa abundância de rosas em tudo que é lugar. Eu detesto rosa, acho a flor mais cafona do planeta, repolhuda, vulgar, exibida. E ainda por cima tem espinho! Gosto de florzinhas pequenas, espontâneas, alegres e bobinhas – flores do campo, margaridinhas danadas que crescem sem ser convidadas, papoulas vermelho-berrante (sábado colhi várias do chão – novamente a pena de arrancá-las – enquanto passeava com o Legolas e enfiei por dentro da coleira dele. Ficou um cachorro primaveril, papoulento, maravilhoso.) igualmente caras-de-pau que nascem em qualquer lugar; amo as tulipas, elegantes, clean, simples. As miniflores do meu tomilho e da minha sálvia são lindas, apesar de microscópicas – ou então exatamente por serem microscópicas. Minhas petúnias estão divinas. Os cravos foram transplantados ontem a dois vasos maiores, porque achei que as mudinhas não estavam gostando muito da apertação do vasinho onde estavam antes e estavam empacadas na mesma altura há duas semanas. Vamos ver se agora crescem direito. As dálias-anãs estão firmes e fortes; eu dividi um pacotinho de sementes em dois vasos, então eu acho que o espaço é suficiente. Arianna anteontem me deu um vasinho bonitinho com três flores vermelhas estranhas cujo nome nem ela sabia. Perguntei logo se podia passar pra um vaso maior, mas ela falou que não. Tadinhas.

E aqui o ditado diz que uma andorinha não faz primavera. E é verdade. Há andorinhas em tudo que é lugar. De manhã é uma bagunça danada, elas voam feito flechas pra lá e pra cá, indo e vindo dos ninhos construídos embaixo das bordas dos telhados, fazendo o maior escândalo com aquele piu-piu estranho delas. Há outros passarinhos também, mas no meio desse bando de andorinhas a gente nem consegue ver direito.

Acho que seria uma boa idéia arrumar uma andorinha doméstica pra comer as moscas, que já começam a encher o saco. Cada moscona tão grande que parece um helicóptero. Bicho nojento. Insetos malditos, abusados! Ontem à tardinha eu e Mirco fomos correr aqui nas redondezas, em meio aos campos de trigo, e a quantidade de inseto que deu topada na gente foi impressionante. Primavera na roça é assim mesmo, tenho que me conformar...

Postado por leticia em 07:43

17.05.04

procura-se sponsor

Estamos à procura de um patrocinador para um revolucionário produto que com certeza vai mudar, para melhor, a vida de milhões de pessoas em todo o planeta. Trata-se do Super Hiper Mega Decapitador de Fumantes de Elevador, copyright pacamanca Inc. O funcionamento é simples, rápido, e infelizmente indolor: um sensor ultra-eficaz posicionado no teto do elevador* ativa, ao menor sinal de fumaça de cigarro, um jato de água direcionado a laser que apaga o cigarro imediatamente. Mas não é só isso! O sistema também ativa, imediatamente depois da apagação do cigarro, um machado afiadíssimo que cortará, com precisão cirúrgica, a cabeça do idiota. E na versão 2.0 Deluxe a lâmina já vem automaticamente coberta com um potente coagulante, que impede assim quaisquer jorros de sangue e consequentemente elimina o incômodo da limpeza pós-decapitação.

Também estamos tentando um acordo com o cadastro de cidadãos para eliminar possíveis cônjuges do idiota decapitado, para evitar assim a transmissão dos cromossomos da falta de educação às futuras gerações.


*O sensor, naturalmente, é invulnerável a qualquer tipo de agressão, seja ela de natureza química ou física.

Postado por leticia em 13:04

14.05.04

vai uma massaje aí?

Pois é, então, nem contei do maluco-beleza que está fazendo minhas massagens shiatsu. O cara é uma figuraça, todo descabelado, mas competente, pois já estou me sentindo melhor. Ontem foi a primeira sessão, e logo de cara ele sacou qual era o problema: ao sentir a rigidez do músculo, perguntou na cara dura se eu estava contente no meu emprego. Dei uma risada e deixei por isso mesmo. Ele respondeu com outra risada de quem entendeu tudo muito bem.

Hoje, durante a segunda sessão, botei meu bedelho pra funcionar e perguntei há quanto tempo ele faz massagem, e principalmente como foi parar nesse tipo de atividade. Resposta: desde 89. Antes disso ele administrava discotecas e pubs (tuuudo a ver), até que uma amiga a quem ele deve ter administrado uma bela massagenzinha erotico-básica disse que ele tinha "energia nas mãos", coisa que eu considero uma balela ímpar, que seria melhor traduzível em "mãos boas pra massagem". Ele resolveu ir adiante, e, não achando na Itália nenhuma escola séria de shiatsu, foi parar na Suíça, onde estudou por 3 anos (e eu que achava que era uma coisa simples...). Voltou à Itália, continuou sempre os estudos, acompanhou de perto um médico "alternativo" por 15 anos (esse guru dele hoje tem quase 90 anos), e resolveu abrir seu próprio consultoriozinho de massagem.

Perguntei tudo isso não só porque sou irremediavelmente curiosa, mas por um motivo muito down-to-earth: ele cobra 20 euros por cada sessão de 40 minutos. Eu levo 15 horas e meia como estagiária pra juntar 20 euros. Sacaram?

**

A coisa curiosa nessa história toda é que ele pegou, compreensivelmente, o mesmo vício de todas as manicures que já fizeram minhas unhas: o de me dar tapas pra me fazer relaxar. Eu não consigo relaxar. Não tenho nenhum prazer particular com massagem, não me dá sono nem me tranquiliza, e eu fico rígida O TEMPO TODO. Detesto ter gente mexendo no meu corpo sem que eu saiba exatamente o que estão fazendo. Então volta e meia ele pergunta, beliscando meu ombro: "Por que você não está morta? Quero você morta, relaxada". Ao que eu respondo: "Eu estou morta... só que em rigor mortis". Que infame que sou.

**

Segunda-feira, sempre às oito, a terceira e, espero, pro bem do meu bolso, última sessão. Mas sei que enquanto minha vida não se ajeitar por aqui e eu não me divertir mais um pouquinho vou continuar com o ombro duro, e todos os habitantes de Hokkaido podem vir massagear shiatsudamente meu músculo trapézio que o bicho vai continuar emperrado.

Postado por leticia em 14:52

em compensação...

Li Dracula (o original de Bram Stocker) há alguns anos e, honestamente, é um dos melhores livros que eu já li na minha vida. Tem muito pouco a ver com o que estamos acostumados a assistir no cinema – dá muito, MUITO mais medo. Bem escrito pra caramba, tenso, descritivo na medida justa. LEIAM.

Postado por leticia em 07:30

blergh

Quarta-feira é dia de cinema (porque o ingresso custa € 5,50 em vez de € 7). Fomos ver Van Helsing. Antes tivesse ficado em casa passando roupa...

Sabe um filme tão ridículo que dá pena? É esse. O filme inteiro é ridículo, do começo ao fim. Os cenários são vergonhosos, o figurino é de uma cafonice ímpar, os efeitos especiais são sofríveis, o elenco inteiro é canastrão (o Faramir, que já era orelhudo e bobo quando era Faramir, vira um monge retardado; o pobre Wolverine fica ridículo de cabelão e chapelão; as “esposas” do Drácula são tão chatas e forçadoras de barra que da vontade de bater), o roteiro é um samba do crioulo doido (Drácula faz filhos que nascem de CASULOOOOOOOOOS pendurados no tetooooooooo, gosmentos e rabudoooooooos), os diálogos são absurdos, é um horror! A única coisa que se salva é o Drácula. Não sei quem é o ator, mas ele manda bem. O resto, senhores, é tão ruim que chega a dar pena.

Postado por leticia em 07:29

10.05.04

grr.

Estou devendo 300.000 emails, mas hoje estou irritada demais pra escrever. A minha incapacidade total e absoluta de ganhar dinheiro me deixa num estado de ódio tamanho que não consigo nem respirar sem sentir raiva. Esperemos que passe.

Postado por leticia em 20:33

09.05.04

livriiiiinhos!

Então, eu nem falei nada, mas sexta-feira chegaram meus livros da wishlist da Amazon, presente de aniversário do Mirco pra mim. Ontem mesmo comecei Choke, de Chuck Palahniuk (o autor de Fight Club) e já estou quase no fim. Estranho, mas interessante, tem algumas tiradas ó-te-mas. No pacote veio um outro dele, "Survivor", Under the Volcano (Malcolm Lowry), Last Bus to Woodstock (Colin Dexter), What It Means To Be 98% Chimpanzee (Jonathan Marks), e dois básicos do Stephen Hawking que admito nunca ter lido antes: A Brief History of Time e The Universe in a Nutshell.

Postado por leticia em 09:37

tudo na vida

Ontem fui a Roma rapidinho fazer o tal provino, ou prova em frente à telecâmera, pro tal lance de Donnavventura. Me senti ridícula, mas menos do que eu esperava. Nunca tive problemas pra falar em público, e mais público do que ali era impossível – armaram uma tenda na Piazza del Popolo, esquina com a Via del Corso, os japoneses passavam e tiravam fotos, passavam charretes levando os convidados de algum casamento chique, e aquele bando de mulher sentada nas escadarias da igreja esperando a sua vez pra olhar pra câmera e dizer, me chamo fulana, tenho tantos anos, moro no lugar tal, e gostaria de participar de Donnavventura porque blah blah blah. O roteiro desse ano será os EUA e um pedaço do Canadá, chegando até o Alaska. Confesso que talvez tivesse ficado mais empolgada se fosse a Nova Zelândia. Ou a África. Minhas chances: 0. Lembrete pro ano que vem: ir de jaqueta de couro e sapato pesado. Ninguém convidaria uma pobre subdesenvolvida de sapato boneca e suéter Burberry pra dirigir um 4x4 no deserto do Nebraska.

Postado por leticia em 09:35

07.05.04

ripa na chulipa

Mudando de pato pra ganso: a Serena, como esperado, ganhou de lavada a quarta edição do Grande Fratello. É meio biruta mas parece ser boazinha, por isso acho que mereceu. Claro que o Fratellão é só desculpa pra gente fazer um balacobaco às quintas-feiras, só um idiota pode levar aquilo a sério, mas de qualquer maneira nos divertimos muito ontem. A nova casa Chulipense da FeRnanda é um amor, com vista pra praça central (e única, suspeito) de Ripa, os quartos são amplos, as janelas são muitas, os móveis ainda não chegaram mas o sofá-cama da IKEA é super confortável, as piadinas que o Fabio fez estavam ótimas, a minha torta de limão idem, e a companhia, claro, sempre impecável. Estamos felicíssimos por eles; a casa é uma delícia e com o alto-astral da FeRnanda não tem como não virar um lugar muito feliz.

Hoje à noite vem gente jantar em casa, um primo do Moreno que trabalha na polícia federal (bons contatos não fazem mal, claro, mas esse cara tem fama de simpático. Adoro unir o útil ao agradável). Pão de queijo, feijão com arroz, carne assada que já tá no fogo, farofa, torta de limão.

E acabei de terminar uma tradução do Italiano pro Inglês de um assunto que eu a-do-ro: mitologia grega. E há coisas turísticas de alto escalão pintando por aí.

Postado por leticia em 10:30

que droga

Então eu já tô de saco cheio dessa história do Maradona, e quero fazer uma pergunta – aliás, várias: por que é que ainda dão espaço na mídia pra esse idiota? Um cara que é A imagem da decadência, da auto-destruição, da imbecilidade, da fraqueza de espírito? Por que é que ainda se fala dele? Que tipo de exemplo esse idiota pode dar aos outros idiotas que precisam de ídolos? Por que é que há tantos idiotas que precisam de ídolos? Por que esse mundo é tão ridículo?

Quando eu vejo gente embaixo de janela de hotel esperando que o cantor ou ator famoso apareça na janela, quando eu vejo gente na porta do hospital onde essa mula do Maradona está internado, com vela e santinho na mão, rezando por um idiota, quando eu vejo gente que chora quando vê o ídolo na televisão, eu sinto um desconforto tão forte que chega a incomodar fisicamente. Que poço de ignorância uma pessoa tem que ser pra idolatrar gente da qual só se conhece uma faceta! O que se sabe do Maradona, além dele ter sido um estupendo jogador de futebol? O que que esse cara acrescentou ao mundo? O que ele tem que poderia me fazer gostar dele? De maneira geral eu não gosto de artistas nem de esportistas; gosto do que eles fazem, o que é IMENSAMENTE diferente. Não posso gostar deles, porque não os conheço. A não ser que seja uma coisa muito gritante, tipo, eu não gostava nem das músicas da Cassia Eller, nem da sua voz, nem da sua aparência física que sempre considerei esculachada ao ponto de ofender terceiros. Também não gostava dela porque detesto gente vulgar e mal educada. Gostei menos ainda da novela que se criou em torno da morte dela, e gostei ainda menos da idolatria que se criou em torno dela. Porra, a mulher era mal educada pra caramba, morreu drogada e neguinho ainda tem admiração por ela? On the other hand, gosto do Oscar, do basquete. Gosto porque me parece ser um cara sensato, normal, não-estrelinha – leiam bem, PARECE, não sei, não o conheço. Pensando bem, em vez de dizer “gosto do Oscar”, talvez seja mais seguro dizer “tenho simpatia pelo Oscar”. O resto é perfumaria.

Sou eu que estou ficando maluca ?

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E aí, falando no Maradona, entramos no assunto droga. Vocês, leitores espertos que são, devem ter lido a sensatíssima coluna da Cora falando da sua opinião sobre o assunto. Concordo em parte. Tenho certeza de que a predisposição à dependência é uma coisa biológica, genética, e, até o momento, "incurável". Eu também sou viciada em chocolate e eu, como a Cora, não hesitaria em vender o videocassete pra comprá-lo de um traficante, se o chocolate fosse declarado droga ilegal. A diferença, no entanto, é que a droga te destrói muito rapidamente e é bem mais viciante, enquanto que o chocolate só faz engordar mesmo. E, sabendo o que a droga pesada faz com o seu corpo, e a dependência quase imediata que ela te causa, e os problemas que resultam do seu uso, porque é ilegal, só entra nessa quem é muito idiota. Como só quem é muito idiota começa a fumar. Vejam bem, o problema está no primeiro passo. Só dá o primeiro passo na direção do abismo, sabendo que ali está o abismo, quem é muito idiota. A fraqueza está no vício, porque quimicamente a nicotina, assim como a heroína e o chocolate, é viciante, e o cabo-de-guerra entre força de vontade e dependência química é meio complicado. Mas o primeiro passo é burrice mesmo, e é só por esse pequeno detalhe que eu não acho tão boa a idéia de legalizar a droga. Como também não acho legal o fato do cigarro ser considerado legal. Sou completamente contra oficializar a idiotice, e por mim o tabaco seria exterminado da face da terra. Abaixo o fedor e os dentes amarelos.

p.s.: leiam também os argumentos do Tom Taborda sobre o assunto. Interessante.

Postado por leticia em 10:20

06.05.04

a pedidos

Essa amarela ai é a unica da ninhada que saiu amarela, e foi a primeira a ser comprada (na foto ela esta no colo da dona, vizinha da oficina).

Gostou, Julie? :)

Postado por leticia em 12:59

zzzzzz

Ontem fomos ver Kill Bill vol. 2. Quer saber? Gostei não. Não gostei NADA, excrusive cheguei a dormir no final e quando acordei ela já tava dando as dedadas no Bill e eu não entendi nada. As únicas coisas legais do filme são a trilha sonora gostosinha e a B.B. que é leeeeeenda. O resto, crianças, é lenda.

Postado por leticia em 10:41

boh...

Meu tomilho cresce totalmente descontrol, descabeladíssimo. Está dando florzinhas minúsculas de um pálido lilás. A sálvia também deu flor. O único que se recusa terminantemente é o alecrim, que continua com a mesma cara, sem crescer nem morrer (non cresce né crepa), sem flor, sem mudar de cor, totalmente estátua. As petúnias estão lindas. Aliás, estavam, porque não pára de chover desde o início da semana e o vento forte levou embora as flores vermelhas. As brancas, que aliás são muito mais bonitas, aparentemente são mais fortes e estão OK. Os cravos estão crescendo que é uma maravilha. As dálias já ultrapassaram a borda da jardineira, estou doida pra ver se vão dar flor ou vão ficar só empatando. Do manjericão já desisti, já vi que não brota mesmo. E o que eu comprei bello e fatto e plantei na jardineira está todo manchado. Diz a Arianna que é o excesso de chuva. Ainda bem que não é culpa minha. O ficus está lá, estável.

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Hoje tem super final do Fratellão em Ripa na Chulipa! Inauguração da nova casa de F&F! Não sei o que vai rolar porque Fabião vai pilotar o fogão, mas eu vou levar a minha Torta Ridícula de Limão (rimou toda essa frase, credo!). E que vença Serena!

p.s.: Tão pintando outros lances de turismo por aí. De repente eu até consigo largar essa BOSTAAAAA de vida entre seguros e investimentos...

Postado por leticia em 10:34

03.05.04

e depois dizem que eu que sou gorda...

A noitada de sábado teve seu preço: ontem estávamos completamente morgados e não tivemos forças pra ir ao cinema. Acabamos ficando em casa comendo pizza de alecrim com sal grosso e de cebola com sálvia (a de speck e scamorza ficou pra hoje) que fizemos juntos, e vendo Some Like it Hot no vídeo. As conclusões:

. A minha pizza é boa BAGARAI.
. A Marilyn era linda de rosto, mas absolutamente baranga de corpo. E que cabelo duro é aquele, minha querida? Quem inventou o platinum blonde contribuiu pra enfeiar a humanidade, e só.
. Não gosto de clássicos do cinema. Inocentes demais, bobos demais. Não gosto.

Postado por leticia em 20:26

a coisa tá ficando boa (era hora!)

Então o lance é o seguinte: aquele cara de Todi, que aluga carro pra turista americano endinheirado, pra quem eu traduzo os e-mails de negociação com os gringos, me convidou pra ser intérprete de um grupo cheíssimo da grana que vem pra Toscana no final de junho. Se eles aceitarem os meus selviços, que obviamente não se limitam a traduzir do Inglês pro Italiano e vice-versa mas incluem explicações gastronômicas e enológicas (claro), históricas e linguísticas, curiosidades locais, além da minha infinita simpatia e capacidade de entretenimento, vou faturar uma graninha boazinha que vai dar pra quase pagar minha passagem pro Rio em julho – se eles deixarem gorjeta, melhor ainda, claro. E ainda por cima daria pra conhecer vários lugares interessantes da Toscana que eu nunca vi, com hospedagem e refeições pagas – essa parte das refeições é muito importante, vocês sabem. Pra isso vou ter que dar uma chorada na agência pra poder me ausentar durante esses dias. Como a coisa com a gringaiada não tá confirmada ainda, por enquanto boca de siri. Quando eu souber direitinho como vai a coisa e decidir quando vou dar a chorada, aviso, pra vocês acenderem velinhas.

E aí hoje outra coisa legal pintou, embora seja uma parada muuuuito mais remota. No final do ano passado vi na TV um programa chamado Donnavventura (o nome é cafonérrimo, mas o programa é legal). É uma equipe de mulheres que vão dirigindo por aí em lugares bizarros – tipo um Camel Trophy, lembram? O que eu vi foi na América do Sul, que não me interessa, muito pelo contrário. Não sei se eles foram ao Brasil, só vi os lugares mais podreira que eu não tenho a menorrrrrrrrr vontade de visitar – Peru, Bolívia, Colômbia, essas merdas. Fui lá no site ver onde seria o próximo e quando seria televisionado, e acabei me inscrevendo pra participar. Hoje recebi um e-mail dizendo que as entrevistas tête-a-tête serão em Roma no próximo sábado (o que infelizmente destrói meu esquema da feira de livros em Torino), na Piazza del Popolo. Eles fazem o mesmo esquema de recrutamento dos reality shows: vão com um furgão equipado de cidade em cidade, e a galera vai fazendo os testes, tudo filmado, claro. Já pensou, viajar dirigindo jipões em lugares surreais que eu nunca vou ter dinheiro pra visitar? Um dos requisitos é ter boa redação, já que o diário de bordo é obrigatório. Dos requisitos que eu acho mais importantes (pra eles) o único que eu reeeeealmente não tenho é ser fotogênica. O resto a gente dá um jeitinho... Velinhas, por favor.

Postado por leticia em 19:37

02.05.04

hm

Empatado em primeiro lugar com fotógrafo da National Geographic, na minha lista de melhores empregos do planeta, está o de cenógrafo/figurinista do Cirque du Soleil. Quequeísso, minha gente.

Alinhás, o Cirque está na Itália pela primeira vez esse ano. No momento estão em Milão (Simone, franjuda linda do meu coração, que que cê tá esperando pra ir lá ver?), ou seja, completamente fora de mão, mas li numa entrevista com o italo-belga que comanda o batatal que em setembro chegam a Roma. Jacaré vai? O jacaré não sei, mas eu vou.

Vou também a Torino no próximo fim de semana, pra feira do livro lá deles. Pelo menos é o que estamos programando, mas como o futuro ao acaso pertence... ;)

Postado por leticia em 17:20

primo maggio

Primeiro de maio aqui é coisa séria. Todo mundo almoça fora, e quem tem uma empresa paga o almoço pros funcionários. No ano retrasado eu fui ao almoço da oficina, e esse ano foi num restaurante onde a gente já tinha comido uma vez, há muito tempo, e não era lá essas coisas. Mas como foi a mula do Ettore que escolheu sem consultar ninguém, não tivemos muita escolha.

Acabou que comemos mal (era peixe, mas tudo em pequenas quantidades e de pouca qualidade), mas demos muita risada. No nosso canto da mesa tinha o Yavo, da Costa do Marfim, um negão educadíssimo que apesar dos 4 anos de Itália fala super mal italiano mas é muito inteligente e divertido; Dejan, da Sérvia; Mustafa, vulgo Musty, marroquino, uma das pessoas mais feias que eu já vi na minha vida, e que, como todos os marroquinos aqui, bebe álcool e come porco quando não há outros marroquinos por perto; David, maconheiro siciliano (ou seja, é quase como se não fosse italiano) que sempre nos ajuda quando mudamos de computador e tem que instalar tudo de novo; Marco, um esquisitinho de Bastia mesmo; e Katerina, uma polaca da minha idade e com a malícia de uma uva sem caroço, que o Yavo conheceu na igreja mas ninguém sabe por que veio almoçar com a gente, já que ninguém mais a conhecia. Falou-se de tudo, das causas da guerra civil e da pobreza na Costa do Marfim até a relação dos poloneses com o papa. Ri muito mesmo, e ainda troquei várias idéias culinárias com o Yavo, que obviamente adora inhame, farinha de mandioca, manga e banana de verdade em vez dessas porcarias que tem aqui, e por aí vai. Eu adoro inhame e morro de saudade, mas aqui não tem mesmo e ninguém nunca ouviu falar, eu não consigo nem explicar o que é porque neguinho não tem a menor idéia do que seja. Ontem trocamos várias receitas de inhame. E rimos muito da Katerina, que não está acostumada a beber e depois de uns três copinhos de vinho ruim já dava risada sem parar, e COMEU OS CAMARÕES COM CASCA, CABEÇA E TUDO MAIS, porque ela nunca tinha visto um camarão na vida e ninguém avisou a ela que essas coisas não se comem!

Acabamos dormindo depois do almoço e acordando super tarde. Saímos de casa à meia-noite pra encontrar Marco e Michela num bar, e de lá eles tiveram a brilhante idéia de ir dançar. Eu não tenho mais paciência pra esse tipo de programa, honestamente, e a coisa piora porque ninguém nas discotecas italianas sabe fazer uma caipirinha que preste, e ainda por cima usam açúcar de cana não refinado, marrom e que não dissolve nunca. E chegar em casa às quatro e meia da manhã FEDENDO HORRIVELMENTE A CIGARRO acaba com o meu humor. O único divertimento da noite foi ficar rindo das cubistas. Toda boate italiana tem uma ou mais cubistas, que são garotas gostosonas que ficam dançando seminuas em cima de cubos, que na verdade são mini-palcos colocados em pontos estratégicos. As de ontem eram duas, uma louraça belzebu com cara de quem tem o Q.I. de um caramujo e uma morena lindíssima com jeito de entediada que só mexia os quadris e os braços, fazendo biquinho. As duas de meia-calça cortada no joelho, cintos metálicos (meia-calça sem saia ou short, hein!), LUVINHAS SEM DEDOOOOO, bustier de renda e scarpins altíssimos. Todas elas dançam mais ou menos da mesma maneira, sempre muito sérias, como se o seu trabalho fosse importantíssimo pra manutenção do eixo de inclinação da Terra em relação ao sol. Quando eu chegar aí no Rio faço a imitação pra vocês verem.

Hoje quero ir ao cinema de qualquer jeito, tem muito filme que eu quero ver.

Postado por leticia em 11:20