30.04.04

Notícias da Bota

. Pela primeira vez desde a União da Itália um carabiniere assume o comando dos Carabinieri. Explico: até 2000 os carabinieri eram uma força especial do Exército, e sendo assim seu chefe-mor sempre foi alguém do Exército. Em junho o atual chefe da Força se aposenta e no seu lugar entra um marechalzão carabiniere. Aqui eles são ridicularizados como, sei lá, os portugueses no Brasil: o que tem de piada sobre os carabinieri não tá no gibi. E não sei exatamente por que, visto que é uma força especial mesmo, muito difícil de entrar, e eles são bem eficientes – aliás, na hora do aperto, é a eles que a galera recorre. Fora que a farda deles é linda. Mais informações aqui. E o site da fiction televisiva sobre os Carabinieri, que eu adoro e vejo toda terça-feira porque é um dos únicos programas “de família” atualmente em programação (o resto é lixo total), está aqui.

. A Alitalia tá indo mal das pernas, de verdade. O pessoal tá em greve desde ontem, mas lendo o jornal ontem de manhã vi que às vezes é melhor ficar quieto: a empresa é a segunda menos pontual, só perdendo pra Tap. Então de repente é melhor parar de reclamar e trabalhar um pouco melhor, cês não acham?

. Uma onda de tempo ruim está interessando a nossa península. Justo hoje que eu vou a Roma, que é tu-do na vida, encontrar uns amigos da minha mãe...

. Saiu a mala do Tommaso do Grande Fratello. Agora é entre aquela louca da Katia, a louca da Serena e o louco do Patrick. Loucos tempos, esses.

. Finalmente foi aprovado o projeto, com financiamento da União Européia e de empresas privadas, da ponte entre a Sicilia e o continente. As obras devem começar no ano que vem. Considerando que os antigos romanos já pensavam seriamente na idéia de construir essa ponte, até que levaram pouco tempo pra começar os trabalhos... NOT!

. A Ferrovie dello Stato está fazendo propagandas na TV anunciando a construção das novas linhas pros trens de alta velocidade. Tipo, duzentos anos depois de outros países. Isso é que é pais moderno e atualizado... ;)

Postado por leticia em 07:41

28.04.04

momento albanesa

Hoje perdi a manhã inteira no Commissariato de Assis pra renovar a bosta do permesso di soggiorno. Eu, albaneses, marroquinos, E A SUELY MARIA, que obviamente fiz questão de fingir que não vi/não entendi quem era. Cheguei pouco depois das nove, quando abre, e a fila já era grande. Pelo menos agora na primavera a fila fica do lado de fora, no meio de um jardim lindo e com vista pras velhíssimas casas de pedra rosa de Assis, em vez de todo mundo enfiado no corredor estreito, aquele cheiro de gente fedorenta no ar, como acontece no inverno.

Pois então. As duas policiais que trabalham ali são muito diferentes em termos de personalidade. A de cabelo comprido é um amor, tranquila, simpática, fala devagar quando percebe que o estrangeiro não está entendendo a língua. Foi ela quem tirou minhas digitais meses atrás, batemos o maior papo, é uma simpatia. A de cabelo curto tem seus momentos megera, de gritar, chamar neguinho de burrinho, mandar você voltar pra casa se ficar faltando um documento que às vezes nem é importante e você poderia perfeitamente trazer mais tarde, quando fosse pegar o documento definitivo. Hoje peguei a de cabelo curto, que felizmente estava bem humorada e não criou problemas. Os documentos que faltavam eram realmente importantes, e lá fui eu fazer a estrada de volta a Bastia pra ir ao Comune pegar um papel e passar em casa pra pegar outro papel.*

Meno male que passear de carro nessa época do ano é uma maravilha: o sol que bate esquenta e deixa aquele cheiro de sol na pele, e o vento fresco refresca. As árvores de fruta estão todas em flor, há pessegueiros cor-de-rosa por todos os lados, margaridinhas selvagens amarelas e papoulas vermelhonas crescem em qualquer pedacinho de terra, o capim é verde claro, os campos são de um verde quase radioativo, há turistas na rua, crianças em excursão da escola, velhos passeiam com cachorros, as lojas estão cheias de fregueses, todo mundo tomando sorvete na rua. Nem mesmo os mil ônibus de turistas e os carros que vêm de fora e atravancam a estrada por não saber direito aonde ir estragam o passeio cheio de curvas, com vista privilegiada pro vale.

O único grandíssimo perrengue do momento é a mattonata, estrada de tijolinhos que vai do centro de Assis até a estação de S. Maria. As pessoas mandam dinheiro pra igreja, que bota seus nomes nos tijolos (mattoni) vermelhos que pavimentam essa calçada. Só que, como tudo que vem da igreja, essa coisa já sugou mais dinheiro que... que, bom, que obra de igreja. Já houve vários processos por fraude e desaparecimento do dinheiro desses otários, a obra ficou interrompida por anos, e agora recomeçou, interrompendo o trânsito. Tudo isso só pra você passar por uma calçada vermelha, com os nomes dos otários marcados nos tijolos: Famiglia Rossi, Roma. Famiglia Proietti, Milano.

Meu nojo pelas instituições religiosas é tão gigante que não tem nem como medir.


*O detalhe é que o prazo pro permesso definitivo ficar pronto é de 3 meses. Ou seja, se o meu tutor-ator não conseguir ativar o amigo dele que trabalha na Questura em Perugia, nada de Brasil esse ano, já que com o provisório eu não posso sair da Itália, senão perco o direito ao permesso. Bom, né.

Postado por leticia em 12:22

tolinha

Diálogo surreal na padaria ontem:

Cliente: ...então eu acho que vou deixar esse sonho com chantilly e pegar o Diplomata. Tem menos calorias.
[O tal Diplomata é um doce de massa folhada com crema pasticcera e, last but not least, açúcar de confeiteiro por cima. Só pra ilustrar.]
Eu (que tenho o péssimo habito de meter o nariz onde não sou chamada): Senhora... No final das contas é capaz do Diplomata ter mais calorias do que o chantilly...
Cliente: Não, não, a crema pasticcera é mais leve, a massa folhada da Maria é muito leve...
Eu: Imagino que seja leve, não posso dizer com certeza porque não gosto de doces desse tipo, mas sei que de qualquer forma a massa folhada leva manteiga, assim como a crema pasticcera.
Cliente: Não, não, engorda menos. Olha que eu entendo um pouco de cozinha, sabe...
Eu: Bom, se é por isso, eu, além de cozinhar, sou formada em Medicina, ou seja, entendo um pouco também do valor nutricional dos alimentos...
Cliente, com cara de cu: Ah, a senhora é médica? Trabalha em Assis?
Eu: Não trabalho como médica.
Cliente: A senhora deveria experimentar o Diplomata, vai ver como é leve.
Eu: Não gosto de doce desse tipo, senhora.

A cliente sai. A padeira, que há anos serve a família do Mirco e já me conhece, olha pra mim com cara de coitada:
- Mas se a massa folhada leva manteiga, como é que pode engordar menos...?
- Exatamente.
- Bom, mas ela tava tão convencida... Melhor deixar quieto, né?
- É que eu tô cansada de ouvir besteira na boca do povo por aí, sabe...

Ela deu uma risada, embrulhou meu pão sem sal e eu fui embora.

Postado por leticia em 12:20

o tempo que o tempo tem

E já que o assunto sempre acaba caindo nas condições climáticas, falemos da forte dependência que o resto do mundo tem da previsão meteorológica. Nós tupiniquins, que até o ciclone de Curitiba (ou foi o tornado de Florianópolis? Não sei) sempre tínhamos passado longe dos extremos das intempéries, temos uma certa dificuldade em entender as maluquices climáticas dos outros países. Eu só comecei a notar isso nas últimas vezes em que estive nos EUA, quando via repetidas previsões meteo na TV. Aqui, e creio que em toda a Europa, não é diferente, por um simples motivo: o frio é um porre e muda mesmo a vida da gente. No Brasil, e no Rio em particular, só temos dois climas, o quente e o muito quente, ou seja, nada de muito bizarro acontece, meteorologicamente falando, e nada que requeira mudanças de hábito que vão além de andar seminu pela rua quando esquenta pra valer.

Aqui, a cada meia hora há um telegiornale, e depois de cada TG vem a previsão meteo, que, ao contrário do que acontece no Brasil, não se resume à garota bonita que estende a mãozinha e diz aqui chove, aqui não, e mostra as temperaturas. Aqui fala-se de coisas estranhas como pressão, ventos (todos os ventos têm nome), há previsão do tempo pra toda a Europa, contam-se causos e curiosidades sobre essa imprecisa ciência que é a meteorologia.

O mais engraçado é que em muitos canais quem faz a previsão é um coronel ou marechal das Forças Armadas. No início eu achava estranhíssimo ver aqueles homens fardados, engomados e limpinhos explicando que vai chover no feriadão, que há neblina na Pianura Padana, que por causa do mar muito mexido a conexão marítima da Itália continental às Ilhas Maiores (Sicilia e Sardegna) foi interrompida, que por causa da neve intensa é obrigatório dirigir com correntes no Friuli, no Alto Adige, no Piemonte. Hoje já me acostumei, e até já tenho um preferido: o capitão Guido Guidi, um baixinho com MUITA cara de italiano que é uma simpatia.

Mas o melhor de tudo é o tipo de informação que eles dão. Porque acabam falando, como eu já disse, de ventos, de pressão, de massas de ar de formação complicada, e usam uns termos esquisitos que já viraram piada. Por exemplo: nos últimos dias a região central da Itália foi "interessada" por uma onda de mau tempo... Interessada ficava a sua avó!

Toda essa informação incompreensível vem, obviamente, ilustrada por imagens de satélite, gráficos estranhos, setinhas que se movem, símbolos absolutamente indecifráveis.

E a galera só querendo saber se vai dar pra ir al mare no feriado...


Postado por leticia em 08:07

26.04.04

...

Falta pique também pra continuar nesse trabalho chato. Meu tutor já sacou que eu não tenho nem saco nem vocação pra coisa, porque vive me perguntando o que é que eu gosto e o que eu não gosto, e quando me apresenta aos clientes diz que eu estou em período de teste, pra saber se quero ou não trabalhar nessa área. Hoje fomos visitar um cliente odontotécnico com um consultório lindo e simpático, e me deu a maior vontade de arrumar um emprego part-time assim bem idiota, tipo secretária de médico ou dentista. Pouco empenhativo pro céLebro e pouco time-consuming, ou seja, perfeito. Já voltei a comprar jornal pra procurar emprego. Vamos ver o que rola. Acendam velinhas.

Postado por leticia em 14:45

eventinho básico

E ontem foi dia de uma feira internacional de transportes em Verona. Lá fomos nós sair de casa às 6:30 da manhã, porque o Mirco ganhou convites de um fornecedor de tinta e, sabemos, de grátis até injeção na testa. São mais ou menos 4 horas de viagem. A estrada até Cesena é péssima, esburacadíssima, estreita, e ainda por cima interrompida em alguns pontos por causa de obras que se arrastam há anos. Mas o visual compensa: é um longuíssimo trecho elevado, como um viaduto mesmo, por cima do vale do rio Savio. A paisagem é deslumbrante, e é interessante ver como tudo vai mudando de aspecto à medida em que nos aproximamos da Emilia-Romagna, terra da Franzoca. As colinas emilianas são menos gentis, mais rochosas, os verdes são mais escuros; as casas não são mais grandes casas de campo feitas de pedra, mas de alvenaria. Depois de Cesena caímos na autostrada com 3 pistas em cada direção, e a viagem ficou mais fácil. Passamos por Forlì, por Faenza, por Imola (trânsito horrível porque ontem foi dia de corrida), passamos por fora de Bologna, pegamos a estrada na direção de Modena, cidade famosa pelo vinagre balsâmico, e chegamos a Verona.

A feira, no Riocentro lá deles, era muito menor do que se esperava pra uma feira internacional. Mas eu, com anos de experiência de congressos médicos, não vi nada de diferente dos nossos eventos, guardadas as devidas proporções: mulheres magras, bonitas e pouco vestidas apresentando furgões, stands oferecendo os onipresentes salgadinhos, batata frita, balinhas, café e refrigerante, vasos de flores já meio murchas espalhados por todos os cantos, gente fazendo fila pra tirar foto na boléia do caminhão, brindes inúteis distribuídos, muita papelada – panfletos, estudos, artigos de jornal e revista, propaganda, cartões de visita, posters, muitas sacolas de plástico e papelão. A viagem de volta foi mais tranquila porque o tempo melhorou, mas ficamos com fome até as 4 da tarde, pois não queríamos parar pra comer antes de Imola com medo de pegar a galera voltando da corrida. Queríamos ir ao cinema, mas faltou pique.

Postado por leticia em 14:23

de titio, raios & cia

Sábado recebi um telefonema deliciosamente inesperado do meu tio Égas, irmão mais velho do meu pai. Acabei falando também com meu avô, que fez 93 anos dois dias depois do meu aniversário, com a minha tia Ilse, e com a mulher do meu tio, a tia Iara. Acho que bateu a nostalgia geral porque a filha do tio Égas, a Paola, tá morando na Dinamarca e ficou todo mundo meio bobo com essa debandada das netas mais velhas. De qualquer maneira fiquei muito feliz dele ter ligado.

Na noite de sábado rolou uma forte tempestade aqui na zona, e hoje o telefone da agência não parou de tocar por conta de clientes que queriam denunciar danos causados por raios. Um raio caiu na torre da praça central de Assis, bem do lado da loja do Fabrizio o Louco, e derrubou um pedaço de pedra da torre da igreja que caiu dentro de um escritório – não sei os detalhes, não vi o telejornal regional ainda. Ainda bem que aqui em casa deixamos tudo desligado antes de sair pra jantar com o Fabio e a FeRnanda, por isso não queimou nada.

Postado por leticia em 14:21

24.04.04

promessa

Juro que mês que vem tem texto meu inédito.

Postado por leticia em 11:01

Instruções:

1. Pegue o livro mais próximo de você;
2. Abra o livro na página 23;
3. Ache a quinta frase;
4. Poste o texto em seu blog junto com estas instruções.

"Now, Michael!" his wife said. "Keep calm now, Michael, dear! Keep calm!"

Do conto "Taste", do livro Completely Unexpected Tales, Roald Dahl.

Não lembro mais qual foi o primeiro blog onde eu vi isso.

Postado por leticia em 10:47

blah blah

Dois balacobacos rolando por aqui, um bobo e um sério. O sério: dez novos países, alguns bizarros, estão pra entrar na Comunidade Européia. Eu não tenho nada a ver com o peixe, mas tô achando que tá virando um samba do crioulo doido, saca só: Hungria, Polônia, Malta, Chipre (Chipre!!!), República Tcheca, República Eslovaca, Eslovênia (ai!), Lituânia (ei!), Letônia (ui!) e Estônia (hein?). De qualquer maneira, espero que a entrada na CE dê um empurrãozinho de desenvolvimento a esses países. Pobreza não tá com nada.

E eu tenho a maior vontade de conhecer a Estônia, juro. Tenho visto vários documentários interessantes sobre a Estônia na TV ultimamente, e tudo me parece muito bonitinho. Quanto à língua, a única coisa que eu sei é que eles têm duplas e triplas vogais, com valor distintivo, ou seja, uma palavra tipo agua significa uma coisa, aagua outra e aaagua outra. Estudei com uma garota estonese (existe isso?) em Perugia por alguns meses no longínquo 2002. Pena que era muda feito um peixe e ninguém aprendeu nada sobre a Estônia com ela.

O outro bafafá é o assunto principal lá na agência nos últimos dias. Entrou na programação da TV essa semana o comercial de uma companhia de seguros que não tem escritórios fixos, só trabalha por telefone. A propaganda, que eu achei muito cruelzinha, é assim: um cara chega numa agência de seguros, senta e diz que precisa fazer um seguro pro carro. O agente de seguros pega uma máquina de calcular, digita um valor inicial, o valor do seguro propriamente dito, e depois começa a adicionar:
- Tantos euros pelo aluguel da sala, tantos pela minha gravata...
- Peraí! Tenho que pagar o aluguel da sala também?
- Você tá pensando que isso tudo aqui é de graça?

Na verdade o que acontece é que essas agências de seguro por telefone se multiplicam e morrem na mesma velocidade. Como o dinheiro pra reembolsar os sinistros vem dos prêmios pagos pelos clientes, se os prêmios são muito baixos a empresa não consegue cobrir todos os sinistros, e é nessa que você se fode – é o famoso barato que sai caro. Você paga uma merreca, mas quando bate o carro e precisa do reembolso a empresa demora a pagar, ou não paga nunca, paga em parte, ou, pior, já faliu e você nem percebeu. O caso dessa agência da propaganda é particular, porque eles são conhecidos no mercado, mas de qualquer forma acho muito feio fazer comercial atacando os outros. Até porque, por exemplo, a empresa onde eu estou estagiando é uma das mais antigas da Itália, tem costas largas e está bem no mercado acionário, e paga os sinistros rapidinho, sem lenga-lenga, e é por isso tudo que custa um pouco mais. Quer pagar um pouco menos? Basta pesar a relação custo-benefício, o mercado é livre, ninguém obriga ninguém a pagar mais só por pagar.

Sei que as grandes empresas de seguros do país estão se mobilizando pra tirar o comercial do ar, e fazer com que essa agência da propaganda se retrate publicamente na TV. Claro que a essa altura do campeonato o estrago está feito, mas, enfim...

Eu me divirto horrores com essas polêmicas italianas.

Postado por leticia em 10:46

22.04.04

hmpf

Ah, quanto ao Stomp: sou mais a bateria da Mangueira, any time. Onde já se viu batuque em caixa de fósforo ser coisa original?

(O número dos tubos de borracha foi lindíssimo, sutil, delicado, engraçado, um primor. E parabéns à simpatia do grupo. Mas que o espetáculo é repetitivo e cansativo, isso é.)

Postado por leticia em 19:40

nem igor, nem dara

Ontem uma cigana que vive pedindo esmola no sinal de S. Maria (eu deveria dizer O Sinal, ou Il Semaforo, porque só tem um, então vira uma coisa importantíssima, um super ponto de referência) veio me pedir uns trocados com a eterna criança no colo. Normalmente eu finjo que não vejo, porque odeio essa gente que coça o saco o dia inteiro e de noite vai roubar galinha dos outros (já roubaram da Arianna várias vezes), mas dessa vez olhei bem na cara dela e falei “não, minha filha”. Não é que ela me soltou um vaffanculo e ainda me chamou de escrota (stronza)? Só não abri a porta do carro com força suficiente pra catapultá-la até Foligno porque tava com o filho no colo. Feladaputa. Na próxima vez vou fazer como já fiz na estação Carioca: perguntei se a mulher tinha trabalhado pra mim alguma vez. Já estou imaginando o diálogo com a cigana desdentada:

- Ma Lei [sente a educação] ha mai lavorato per me?
- No, signora.
- ALLORA PERCHE’ CAZZO TI DEVO DARE DEI SOLDI, MIGNOTTA CHE NON SEI ALTRO? MA VA’ A TROVARTI UN LAVORO, BASTARDA INUTILE!

Sou muito fina, mas há coisas que realmente me tiram do sério. Ciganicídio já!

Postado por leticia em 19:34

é primaveraaaa... te amuuuu!

O dia hoje foi um esplendor. Céu claro, sol quente e brisa fresca, humor dos melhores. Mesmo tendo feito algumas visitas a clientes chatos o dia foi interessante. Poder andar de carro com a janela aberta, o vento fresco te descabelando loucamente, é uma bênção. Como sou meteorologicamente otimista, hoje vou tentar dormir sem meias.

Menu do jantar Fratellão de hoje:

- salada de feijão branco com alface cortada finiiiiinha e ovo de codorna
- carne assada fria em fatias finas com batata assada recheada com vagem e parmesão
- pudim de chocolate (que ainda tenho que decidir se ficou bom ou não, por isso ainda não dou a receita)

E todos esperamos que saia aquela piranha da Carolina, ou o paraculo do Tommaso.

Postado por leticia em 19:32

20.04.04

velhice

Meu primeiro presente de aniversário chegou quinta-feira, vindo do norte da Itália. A Lidia, gentilíssima leitora italiana que testa tudo que é receita que eu boto aqui, me mandou um espetacular par de meias cor creme com vaquinhas, que infelizmente não fotografei porque já foram usadas e estão penduradas na corda pra secar.

Na sexta-feira rolou o balacobaco básico aqui em casa, com FeRnanda e Fabião e Renata e Stefano. O strogonoff ficou bom, o guaraná acabou, o vinho tava ótimo, o bolo ficou uma bosta porque só lembrei de botar o fermento quando o bicho já tava na forma, mas a serata foi ótima. Batemos muito papo, rimos, fofocamos, e acabei ganhando mais dois presentes, além da companhia dessas pessoas maravilhosamente normais e educadas que eu dei a imensa sorte de conhecer aqui no interior do Burundi: uma vela-potpourri da Renata, e uma coleção de meias (claro!) coloridas da FeRnanda.

Essas outras meias o Mirco me deu de presente de torcicolo semana passada. A da boquinha ridícula tem escrito “con mille baci”, com mil beijos. A do ursinho tem um coraçãozinho de plástico pendurado. São do tipo antiderrapante, pra ficar passeando em casa sem precisar de chinelo. Claro que ele escolheu propositalmente as duas mais ridículas, e claro que eu adorei.

Sábado passei a manhã dividida entre passar toneladas de roupa, falar com meu pai, minha mãe e minha avó no telefone, e ouvir o último CD do Live (ótimo, mas falarei mais dele aqui quando tiver ouvido mais vezes) que eu me dei de presente quinta-feira passada. Lá pra hora do almoço chega o moço das entregas de uma floricultura tabajara de Torgiano: Mirco tinha me mandado um ficus (eu não gosto de flor cortada pra botar em vaso, prefiro coisas vivas, com raiz, plantáveis), que eu já transplantei pro vasão que comprei ontem. Almoçamos, dormirmos e partimos pra Toscana, visitar a Stefania. O namorado dela veio da Holanda com vários amigos pra comemorar o aniversário dele (dia 16) no agriturismo onde a Stefania trabalha, e não pudemos recusar o convite.

Então lá fomos nós, lemmings, pegar a estrada na direção de Firenze. Saímos em Valdarno e passamos por Montevarchi e Cavriglia antes de entrar na região do Chianti. Pra quem não tá ligando o nome à pessoa, Chianti é um rio, em cujo vale se produz o vinho de mesmo nome, o mais famoso da Toscana. Aquele que o Hannibal Lecter tomou num dos seus jantares canibalísticos, lembram dele contando pra Clarice que comeu o fígado do fulano with a nice Chianti? É um vinho seco, que pode ser muito bom ou muito, muito ruim mesmo – aliás, dada a imensa quantidade de barris que se produz atualmente, a probabilidade de achar um Chianti ruim é bem alta. Todo mundo faz Chianti hoje em dia, e claro que desse oba-oba não pode sair só coisa boa.

Pois então: todas as cidadezinhas microscópicas do vale do Chianti vivem em função da produção desse vinho. As colinas são maravilhosamente regulares, cobertas de videiras que, nessa época do ano, parecem mortas, secas, desfolhadas (a colheita só rola no final do segundo semestre). Algumas casas antigas aqui e ali, a maioria agriturismos ou bed & breakfast, porque são edificios históricos cuja manutenção é cara, mas com os benefícios fiscais que o governo dá pra quem investe numa estrutura hoteleira a coisa fica viável. Como resultado, muitas famílias proprietárias de casarões abandonados impossíveis de vender porque custam uma fortuna entraram nessa pra conseguir reformar a casa.

Lá fomos nós pela estradinha estreita e cheia de curvas, no meio de chuva e neblina: Radda in Chianti, Gaiola in Chianti, Greve in Chianti, até chegar a Panzano in Chianti, onde fica o tal agriturismo, que se chama Fagiolari. O lugar é maravilhoso, uma lebre atravessou a estrada esburacada logo na nossa chegada, e a Stefania já encontrou javalis passeando à noite no bosque, mas não há maravilhosidade que resista a tempo feio + gente esquisita, por isso não posso dizer que nos divertimos muito. No dia seguinte demos um pulo em Panzano pra comprar pão pro almoço, passamos no açougue mais famoso da Itália, onde a bisteca, que por melhor que seja eu considero carne de quinta, custa uma fortuna,

compramos um bom pecorino e molhos de carne de caça (faisão, lebre e javali) e voltamos pra almoçar as sobras do jantar de sábado. Viemos embora no domingo à tarde, e fomos jantar com o Marco e a Michela, amigos de escola do Mirco que casaram no ano passado e foram uma outra ótima descoberta, porque são ótima companhia. Excrusive devem vir jantar aqui amanhã, se eu conseguir achar ingressos pro Stomp pra hoje à noite em vez de quarta-feira.

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Muitas das pessoas que me escreveram dando os parabéns disseram pra eu não esquentar com a idade. Eu não tenho o menorrrrrrrr problema em envelhecer! Muito pelo contrário, acho a vida do jovem tão ridícula, tão idiota (e olha que eu fui uma jovem espertinha, madura, observadora, mas mesmo assim fui ridícula e idiota), que não vejo a hora do tempo ir passando, deu ir ficando mais interessante, mais segura, com mais histórias pra contar, enfim, melhor – como um bom Brunello.

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Comprei e plantei petúnias brancas e vermelhas. Lindas!
As dálias estão crescendo bem. Os cravos parece que empacaram.
Comprei manjericão adulto também. A previsão do tempo não é muito animadora e as sementes que plantei tão cedo não vão dar as caras.

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O presente oficial do Mirco vai ser a minha wishlist da Amazon. Só tenho que ter tempo de comprar...


Postado por leticia em 09:12

17.04.04

27 anos.

Postado por leticia em 09:09

14.04.04

E fiquem com um pedaço de La Forma dell’Acqua que, como previsto, não está me decepcionando nadinha... Tradução amanhã ou depois. Os negritos são meus.

Il signorino Giacomo è il classico esempio di figlio di papà, aderentissimo al modello, senza uno scarto di fantasia. Il padre è notoriamente un galantuomo, fatta eccezione di una pecca di cui dirò in seguito, l’opposto della bonarma Luparello. Giacomino abita con la seconda moglie, Ingrid Sjostrom, le cui qualità ti ho già a voce illustrate (...). Ti faccio l’elenco delle sue benemerenze, almeno quelle che io ricordo. Ignorante come una cucuzza, non ha mai voluto né studiare né applicarsi ad altro che non fosse la precoce analisi dello sticchio, eppure è sempre stato promosso a pieni voti per intervento del Padreterno (o del padre, più semplicemente). Non ha mai frequentato l’università, pur essendo iscritto a medicina (e meno male per la salute pubblica). A sedici anni, guidando senza patente la potente macchina del padre, travolge e uccide un bambino di otto anni. Praticamente Giacomino non paga, paga invece il padre, e assai profumatamente, alla famiglia del bambino. In età adulta costituisce una società che si occupa di servizi. La società fallisce due anni dopo, Cardamone non ci rimette una lira, il suo socio a momenti si spara e un ufficiale della guardia di Finanza che vuole vederci chiaro si trova di colpo trasferito a Bolzano. Attualmente si occupa di prodotti farmaceutici (figurati! Ha il padre che gli fa da basista!) e spende e spande in misura di gran lunga superiore ai probabili introiti.

Appassionato di macchine da corsa e di cavalli, ha fondato (a Montelusa!) un Polo-club dove non si è mai vista una partita di questo nobile sport, ma in compenso si sniffa che è una meraviglia.

Se dovessi esprimere il mio sincero giudizio sul personaggio, direi che trattasi di uno splendido esemplare di coglione, di quelli che allignano dove ci sia un padre potente e ricco. All’età di anni ventidue contrasse matrimonio (...) con Albamarina (per gli amici, Baba) Collatino, alta borghesia commercializia di Palermo. Due anni dopo Baba presenta istanza di annullamento del vincolo alla Sacra Rota, motivandola con la manifesta impotentia generandi del coniuge. M’ero scordato: a diciotto anni, vale a dire quattro anni prima del matrimonio, Giacomino aveva messa incinta la figlia di una delle cameriere e l’increscioso incidente era stato al solito taciato dall’Onnipotente. Quindi i casi erano due: o mentiva la Baba o aveva mentito la figlia della cameriera. A parere insindacabile degli alti prelati romani, aveva mentito la cameriera (e come ti sbagli?), Giacomo non era in grado di procreare (e di questo si sarebbe dovuto ringraziare l’Altissimo). Ottenuto l’annullamento, Baba si fidanza con un cugino col quale aveva già avuto una relazione, mentre Giacomo si dirige verso i brumosi paesi del nord per dimenticare.

In Svezia gli capita di assistere a una specie di auto-cross massacrante, un percorso tra laghi, dirupi e montagne: la vincitrice è una stanga bionda, di professione meccanico e che di nome fa appunto Ingrid Sjostrom. Che dirti, mio caro, per evitare la telenovela? Colpo di fulmine e matrimonio. Ormai vivono assieme da cinque anni, ogni tanto Ingrid torna in patria e si fa le sue corsettine automobilistiche. Cornifica il marito con svedese semplicità e disinvoltura. (...) Corre voce, assolutamente non controllabile, che magari* l’austero professor Cardamone padre ci abbia inzuppato il pane con la nuora. E questa sarebbe la pecca di cui ti ho accennato all’inizio. Altro non mi viene a mente. Spero d’essere stato pettegolo come desideravi.

Nicola.

*magari em italiano quer dizer "talvez", ou então, quando está no exclamativo, vira "quem dera!". Em siciliano quer dizer "também".

Postado por leticia em 23:23

De volta ao conforto do lar, inventei de fazer a massa e os molhos da lasanha da sessão Fratellão de amanhã. Ficou linda, e eu, que não sei cozinhar sem provar tudo, já posso adiantar que ficou tudo uma diliça.

A festa de aniversário antecipada vai ser sexta-feira, porque a irmã e o cunhado da FeRnanda acabaram tendo um contratempo e não conseguiram ficar até segunda. Sem grilo: vou ter mais tempo de fazer meu strogonoff, coisa que não teria conseguido anteontem, porque trabalhei na loja daquele doido varrido do Fabrizio. Então amanhã vou visitar o açougueiro do supermercado, que já ficou meu amigo e hoje disse que eu tenho uma pele linda e não pareço ter 27 anos, pra comprar carne pro bendito strogonoff. O único ingrediente que não tenho é o molho inglês pra temperar a carninha, mas na hora a gente inventa...

Em tempo: a lasanha eu fiz seguindo uma receita do Cucchiaio di Argento (Colher de Prata), a bíblia da cozinha italiana, que estou comprando em volumes separados de primi piatti junto com uma revista de fofocas, uma vez por semana. Escolhi a receita clássica alla bolognese: ragù que ficou fervendo por muito tempo, temperado com cebola, alho, bacon, pimenta-do-reino e vinho (usei tinto em vez do branco indicado na receita), molho branco que pela primeira vez na vida não empelotou, e nada de mozzarella, mas só parmesão ralado e queijo tipo caciotta (um parente melhorado do queijo prato) em pedacinhos pequenininhos entre as camadas de massa, só pra dar um tchan.

Postado por leticia em 23:19

é maquilage, creuza

E então hoje, como presente 2-em-1, ou seja, antecipado de aniversário e por ter feito várias coisas hoje no trabalho que precisavam ser feitas, me dei um novo rímel da Clinique, que o meu da Mac acabou. Espero que não seja do tipo que borra, como era essa da Mac. Espero um dia ter grana o suficiente pra ter coragem de pagar 25 € num rímel YSL waterproof sem pestanejar.

Postado por leticia em 23:18

filmitchos

Fato: estou me brigittebardotziando. Ver bicho sofrendo me dá tanta ou mais pena do que ver gente sofrendo. Cheguei a essa conclusão depois de ter virado o rosto váaarias vezes durante Hidalgo - Oceano de Fogo, cada vez que um cavalo se machucava, caía, tinha enxaqueca, indigestão, escarlatina. Não aguento ver, não consigo, e não adianta saber que é tudo mentira: me sinto péssima.

[Eu gostei do filme. As paisagens são lindas, há muitas belas tomadas, e os tecidos que a Jazira usa são DI-VI-NOS!]

**

Aí fui ver a Paixão do Mel, com FeRnanda e Fabião. FeRnanda chorou rios e se emocionou horrores, “principalmente por saber que foi tudo verdade”. Eu, descrente que sou, não me angustiei porque era Cristo sofrendo, mas porque era alguém sofrendo, ponto. Talvez se tivesse sido uma foca, um cachorro, um papagaio sendo chibatado, teria me angustiado mais ainda, não sei.

Adorei o lance do aramaico e do latino, adorei ver tantos atores italianos ali no meio (embora em termos de atuação mesmo ninguém tenha feito nada, visto que o filme é sobre chibatadas e assim sendo não deixa espaço a grandes diálogos ou interpretações inesquecíveis. A coitada da Monica Bellucci, linda até quando está suja e fedida, se fala duas frases em aramaico gaguejante é muito ), adorei os figurinos. Mas a Paixão é só isso: um filme cujo argumento central é a chibatada. Não ensina nada, não diverte, não deixa triste, não excita, não romantiza. Não faz nada. Sabe o filme totalmente, absolutamente desnecessário? Sabe aquele que não serve nem pra te irritar por ter visto um filme ruim? Então. Porque o filme não é ruim. É simplesmente inútil, o que eu considero pior que ser ruim e/ou chato. Totalmente inútil. Você fica lá vendo as chibatadas, todo aquele sofrimento exagerado (porque sinceramente acho pouco provável que alguém consiga sobreviver por tanto tempo a tanta chibatada, porrada e cuspe na cara) te incomodando, e depois o que acontece? Nada. Lhufas. E não venham dizer que é porque eu não acredito em Jesus, porque não é. Eu não só não acredito como não conheço a sua história, e continuei do mesmo jeito, ou seja, sem conhecer nada, uma vez que o filme conta só a parte das chibatadas e nada mais. O problema é que quem já conhecia a história não aprendeu nada de novo, e quem não conhecia permaneceu inguinorante. EU SEI que o filme é mesmo somente sobre chibatadas, já sabia disso antes de sair de casa pra ir ao cinema, mas mesmo assim achei decepcionante, vazio, chibatasófilo em excesso, muito pior do que eu imaginava.

Perdi, além dos 7 euros do ingresso, tempo precioso. Não gostei disso não.

**

Pra compensar, pegamos Lost in Translation anteontem em DVD. A-do-rei :) Adorei as celulites e a barriga da menina (esqueci o nome), adorei a parte estética do filme, adorei as cores, adorei os diálogos, adorei os atores, adorei tudo. Só não colocaria aquele beijo, ainda que casto, no final.

Postado por leticia em 22:50

11.04.04

...

Hoje e amanhã trabalho na loja do Fabrizio, o Louco, e amanhã vai ter festinha antecipada de aniversário aqui em casa, pra aproveitar que a irmã da FeRnanda e o marido tão aqui na área.

Quero escrever sobre Hidalgo e a Paixão de Cristo, que vimos anteontem e ontem, respectivamente. Mas preciso de um tempinho e não sei se vai dar, porque agora vou correr, fazer máscara de creme no cabelo, dar uma geral na casa antes de ir me empanturrar no almoço de Páscoa na Arianna...

E antes que alguém venha me chamar de mal-educada... Boa Páscoa, o que quer que isso signifique.

Postado por leticia em 09:05

09.04.04

biblioteca pacamanca

Como fiquei pastando no sofá o dia inteiro, terminei Disgrace (que achei realmente uma desgraça, chatíssimo) e comecei e terminei Magdalene. Fiquei curiosa: quem será que teve a idéia de transformar esse livro em filme? Porque o tema é até interessante, com grandes possibilidades de aprofundamentos e ramificações, mas o livro é escrito em linguagem quase infantil, e com uma superficialidade que não cai bem, considerando-se a seriedade do assunto. Confesso que fiquei meio desorientada, meio "ué, mas é só isso?". Mas agora quero ver o filme.

Hoje comecei La Forma dell’Acqua, de Andrea Camilleri. Já comentei aqui o quanto gostei de La Mossa del Cavallo, que é absolutamente fe-no-me-nal. Esse que comecei hoje é o primeiro de uma série de gialli (romances policiais) que têm* como protagonista o Commissario Montalbano, e que inspiraram uma série televisiva de sucesso no ano passado. Esperamos que La Forma dell’Acqua seja bom o suficiente pra fazer minhas narinas pararem de abrir e fechar de tanta raiva por ter perdido tempo lendo dois livros chatos.

* O verbo tá no plural porque gialli é plural de giallo, não fiquei inguinorante do dia pra noite não, tá?

Postado por leticia em 12:49

é a idade...

Chuva até Pasquetta (a segunda-feira depois da Páscoa). Sabe depressão meteorológica? Então.

Pra mudar de assunto: quarta-feira fomos jantar no Massimo, restaurante de frutos do mar mais famoso da zona, lá pros lados do Lago Trasimeno. Fomos com um amigo de infância do Mirco e a mulher dele. Comemos super bem, detonamos três garrafas de bom vinho branco, batemos um papo muito agradável, apesar de ter sido um saco aguentar um cigarro do Marco entre um prato e outro (considerem que houve 3 antipasti, 2 primi e 1 secondo). Tava frio mas não muito, meus sapatos maravilhosos detonaram meus pés, cheguei em casa meio tontinha mas nada de muito complexo. Só que eu devo ter dormido em uma posição esquisita, porque ontem de manhã acordei com o pescoço e o ombro esquerdo muito doloridos. Fui trabalhar do mesmo jeito, mas à medida em que o tempo passava a dor ia piorando. Quando acabou o expediente da manhã e fui pegar o carro pra vir pra casa almoçar, percebi que estava toda paralisada de dor, o ombro completamente duro e imóvel. Pra sair da agência foi um parto, porque eu não conseguia virar o pescoço pra ver se vinha carro da direita. Cheguei em casa, me joguei no sofá e dali não saí mais. Simplesmente não conseguia me mexer. Fabião e FeRnanda vieram pra sessão semanal de Grande Fratello (cujo paredão foi completamente armado. Todo mundo odeia aquela piranha da Carolina, comé que saiu o Bruno, tão legal, coitado, que precisava do dinheiro pra casar?), mas trouxeram rango do McDonald’s porque eu realmente não estava em condições de cozinhar.

Hoje acordei melhor, mas ainda estou dolorida. Aí vêm os pitacos da galera hipocondríaca: foi o colpo della strega (golpe da bruxa), ou seja, golpe de ar frio! Arrã, falei. Frio onde, se na quarta-feira à noite eu tava toda encasacada quando saí do restaurante pra entrar no carro, e nem estava tão frio? Se dormimos com as janelas do quarto fechadas e com um edredom de pena de ganso super pesado? Meu diagnóstico é a síndrome do bêbado mesmo – quando bebemos dormimos feito pedras, mudando pouco de posição, por isso é comum acordar com o braço dormente. Se eu fosse um braço e meu dono, bêbado, dormisse a noite inteira com todo seu peso em cima de mim, eu também ficaria dormente e dolorido, por culpa de meus nervinhos esmagados por horas a fio.

Postado por leticia em 12:47

07.04.04

papatinho

A pergunta do dia é: meus geloni* me deixarão usar meus sapatos marrons altíssimos com cristaizinhos Svarowski azuis pra ir jantar frutos do mar hoje à noite ou vou ter que dar uma de pimba e ir de salto baixo mesmo?

*Gelone é uma inflamação articular e cutânea das extremidades (pés e mãos) causada pelo frio. Os sintomas são vermelhidão, prurido, e uma dor feladaputa.

Postado por leticia em 12:22

tolinhos!

Berlusconi anda contando vantagem por conta dos acidentes estradais, cujo número caiu muito depois da introdução do sistema de pontos pra carteira de motorista. Aí eu fiquei pensando numa coisa que de vez em quanto me fustiga o céLebro: por que é tão difícil pra maioria das pessoas fazer as coisas pelos motivos certos? Eu, hein!

O lance é que aparentemente não interessa a causa mas sim o efeito: se neguinho bota o cinto de segurança, aparentemente não faz diferença se bota porque se não botar e o guarda vir ele leva multa ou então se ele bota porque sabe que tem que botar, por motivos de segurança. Mas eu acho que faz toda a diferença do mundo. A diferença é a seguinte: eu, por exemplo, uso cinto desde pequena, o que quer dizer MUITO antes do cinto virar obrigatório no Brasil. Minha mãe não gosta, acha desconfortável, mas pra essas coisinhas técnicas da vida papai é rei e nos acostumou desde cedo. Hoje eu boto o cinto assim que entro no carro, não tiro nem pra manobrar, nem se tenho que ficar esperando no carro. Esqueço que o cinto existe, não me incomoda de jeito nenhum, nem no calor – pelo contrário, se esqueço de botar (e só esqueço quando estou usando bolsa a tiracolo, porque a alça da bolsa atravessando o peito dá a sensação de que estou de cinto) sinto que fica faltando alguma coisa. Ou seja, eu não uso porque tenho medo de levar multa, mas porque SEI que, pra minha própria segurança, é melhor usá-lo.

Meu tutor, que como a maioria dos italianos tolinhos acha que é invencível e invulnerável, acha o cinto uma bobeira e só usa porque tem medo de levar multa. A diferença entre nós dois é que, se por acaso a lei do cinto terminasse, ele pararia de usar, e eu não.

Por isso insisto no fazer as coisas pelo motivo certo – porque senão quando a motivação errada acaba, a gente pára de fazer. É como se eu só limpasse a casa quando tivesse visita. O resto do tempo a casa ficaria imunda. É claro que isso não acontece, porque eu sei que tenho que limpar a casa, por ene motivos óbvios. Não paro na faixa de pedestres pra velhinha atravessar só porque tem uma placa, ou porque tem um guarda parado a 50 metros de distância, ou porque senão a velhinha me xinga. Paro porque quando sou eu que estou atravessando também fico com raiva de quem não pára. Pago meu aluguel em dia não porque se eu não pagar o Stefano pode me mandar embora de casa, mas porque simplesmente tenho que pagar, se fosse eu a proprietária também ia ficar irritada se meu inquilino não pagasse. Posso ainda dar o exemplo da mãe idiota que diz pro filho parar de surrar o irmãozinho porque senão ela vai chamar o papai. Que ódio que essa frase me dá! O dia em que o pai morrer o filho vai achar que pode surrar quem quiser, porque a mãe não vai ter ninguém pra chamar.

Acho tão mais válido viver assim, sacando sozinho por qual motivo precisa fazer isso e não aquilo. Tão mais fácil ser capaz, mais ou menos, de distinguir o certo do errado, sem precisar ser condicionado pavlovianamente com multas, ameaças, leis. Na verdade só precisa de bom senso mesmo. O problema é que anda em falta no mercado...

Postado por leticia em 08:16

eu olhei pra ela, ela olhou pra mim

Enquanto escovava os dentes depois de tomar café (acordei cedo pra correr, mas o vento sopra gelado lá fora e perdi a vontade) vi uma barata passeando no chão do banheiro. Baratas e formigas são coisas raras por aqui. O inseto chato italiano por excelência é a mosca, que aliás já começou a aparecer duas semanas atrás, quando o tempo deu sinais fortes, embora enganosos, de que iria melhorar (leia-se "esquentou, as moscas chegam"). Mas barata em casa eu nunca tinha visto.

Como barata é coisa de pobre, batizei-a com o nome da minha vizinha vagaba, afoguei-a em Baygon e joguei seu cadáver no lixo.

Postado por leticia em 07:58

sonhos sonhos são

Acordei hoje e vi na minha caixa postal um e-mail de uma amiga de faculdade muito querida, a Super Pediatra Sabrina, com quem há muito eu não falava. Fiquei muito feliz, não só por ter reativado esse contato, mas também por causa das boas notícias que ela deu. O engraçado é que eu sonhei com ela essa noite. Foi um sonho muito bizarro, cheio de casamentos simultâneos e amigos em comum correndo pra lá e pra cá pra assistir a todos. E aí a Sabrina hoje me escreve dizendo que tá pra casar. Transmimento de pensação :)

Postado por leticia em 07:51

desgraça mesmo

Por que ninguém me disse que Disgrace é TODO escrito no presente – estou falando do tempo verbal? Por que ninguém me disse que esse livro é chato, chato, chato, cansativo, vazio, que parece escrito por uma criança, em frases curtas, com metáforas bobas? Por que esse livro ridículo ganhou o Booker Prize? Deve ser pelo mesmo motivo pelo qual o Paulo Coelho ganha prêmios na França.

Estou quase terminando e a única passagem interessante até agora é:

"(...) Sometimes I have felt just the opposite. That desire is a burden we could do well without."
"I must say," says Lucy, "that is a view I incline towards myself."

E que diabo são essas frases sem nenhuma contração pronome-verbo? Vai ver que na África do Sul é assim, os pais falam com os filhos como se fossem âncoras do telejornal, com os verbos todos por extenso...

(Claro que existe uma outra hipótese possível: a de que eu seja muito burra e ignorante e não tenha entendido algum mecanismo literário inovador inventado pelo Coetzee. Mas continuo achando o livro uma porcaria. Infelizmente eu tenho esse problema incurável: tenho pena de livros, tanto dos deixados nas prateleiras quanto dos largados lidos até a metade. Por isso agora tenho que terminar de ler.)

Postado por leticia em 07:48

05.04.04

obaaaa! :)

Meu lanterneiro se compadeceu da minha crise literária depois que eu acabei de ler a gueixa e me levou pra passear na Libreria Grande. Ganhei de presente:

. Toujours Provence (Peter Mayle)
. Encore Provence (Peter Mayle)
[O primeiro da série, A Year in Provence, não tinha. Hmpf.]
. The Magdalen (Marita Conlon-McKenna)
. Disgrace (J. M. Coetzee)
. La Forma dell’Acqua (Andrea Camilleri)

Fiquei feliz :)

Postado por leticia em 20:30

ai meus sais

Uma das muitas diferenças entre o lanterneiro e eu é o fato de que ele, pra relaxar, gosta de sair de casa. Quando eu estou cansada ou irritada só quero ficar quieta, não quero ver ninguém, não quero conversar, não quero me arrumar, não quero sair de casa. Quero dormir e pronto. Outra coisa: ele consegue "desligar" a consciência de um ambiente desagradável, se a companhia for boa. Eu não.

Quinta-feira passada fomos a Assis encontrar Fabião e FeRnanda na Piazza del Comune (ali mesmo, onde eu trabalhava, na loja do Fabrizio, o Louco). Tava rolando um show com uns cantores que fizeram sucesso no último Festival di Musica di Sanremo (uma das coisas mais chatas que eu já vi na vida). Gente, eu ODEIO música italiana. Odeio. E não consigo simplesmente fingir que não tá acontecendo nada e curtir a boa companhia. A música fica martelando no meu ouvido, me irritando, me irritando, até que eu chego ao ponto no qual se alguém me perguntar as horas eu respondo rosnando. O Mirco bocejando, morto de cansaço depois de um dia de trabalho que começou às seis da manhã e terminou às oito da noite (pra mim também, porque tenho ficado direto na oficina substituindo a Elisabetta, a secretária, que só volta das férias amanhã), mas queria ficar lá, ouvindo aquela porcaria, vendo gente feia em pé na praça. Socorro!

Único ponto positivo da noite: conheci a Lisa, uma italiana da outra província da Umbria que fala Português perfeito e canta música brasileira. A FeRnanda nos apresentou e achei a garota muito gente boa.

Nem acreditei quando finalmente deitei na minha caminha e consegui fechar os zoinho.

Postado por leticia em 19:17

Meu aniversário tá chegando.

Postado por leticia em 07:33

04.04.04

nega do cabelo duro

Ontem fui relaxar os cabelos em Perugia. Aproveitei pra cortar também. Agora a casa inteira tá fedendo a soda cáustica.

Aqui os salões de beleza são completamente diferentes dos nossos. Não tem essa de cada cliente ser seguida por um profissional: todo mundo faz tudo. Hoje quatro pessoas diferentes mexeram no meu cabelo. Ninguém se veste de branco nem usa avental. As duas sócias desse salão dividem o tempo entre varrer o cabelo do chão, atender o telefone, cortar cabelo e fazer escova nas clientes, fumar, trazer salgadinho da padaria da esquina pras ajudantes. Não há manicures nem depiladoras especializadas e essas atividades são as menos populares do salão. Ninguém te traz água mineral nem cafezinho.

Essa minha cabeleireira, a Giuliana, foi uma descoberta e tanto, por dois motivos: ela não enche meu saco perguntando coisas da minha vida e contando coisas da vida dos outros, e faz exatamente e exclusivamente o que eu digo a ela pra fazer. Se eu digo que não é pra fazer assim mas assado, ela faz assado, sem lenga-lenga. E ainda por cima lembra do meu nome e do corte que eu gosto. E olha que eu só vou lá de três em três meses – tem quase dois anos, tudo bem, mas elas têm tanta cliente que eu fico admirada dela lembrar de mim. A mulher é profissional pra caramba. É a Madonna dos salões de beleza.

Saio sempre satisfeita depois de pagar os 36 euros de sempre, pelo relaxamento, bálsamo e corte. O fedor de soda cáustica vem de brinde.

Postado por leticia em 15:20

03.04.04

hm...

Olha, eu sei que não é da minha conta e que é feio falar mal dos outros sem nem conhecer, mas essa minha vizinha de nome cafona tem uma vida muito estranha. Não botou seu nome em nenhum lugar: nem no interfone, nem no escaninho, nem na campainha. As contas ficam lá embaixo no escaninho semanas inteiras, o que me leva a crer que não é ela quem paga. Não sai de casa quase nunca; é o seu homem que vem visitá-la, mas acho que não dorme aqui. TODAS as suas calcinhas (ela lava e pendura no varal da varanda todas de uma vez) são pretas. Todas.

A única coisa a seu favor até agora é que a varanda dela é toda florida. O problema é que uma garçonière florida é comunque sempre uma garçonière... (Flabb, corrija meu galicismo por favor que eu tô por fora).

Postado por leticia em 19:29

geisha disso...

Ah, estou lendo Memoirs of a Geisha, que comprei na lojinha furreca do aeroporto de Ciampino domingo passado. Depois digo o que achei.

Postado por leticia em 18:34

Momento rádio-relógio

Coisas que eu aprendi visitando clientes estranhos nessa semana e girando pela zona de Assis e Bastia:

. É possível quebrar uma costela tossindo.
. Couro de cervo normalmente é muito fino, leve e granulado como textura, mas a moda européia outono-inverno 2004 é esse couro tratado a vácuo, que então fica liso, brilhante, pesado e rígido. Vai entender.
. Italiano no volante, perigo constante.

Postado por leticia em 18:32

nham nham

A sessão Fratellão de quinta-feira, que não teve paredão mas terminou com uma nomination interessante (se a piranha da Carolina não sair agora, eu vou ter um ataque), foi à base de belisquete. O pão de queijo sumiu em dois tempos, como sempre. Depois fiz a torta de frango da Marcinha, com um recheio que ficou delicioso, com frango bem temperado, ervilha, milho e queijo ralado. Só que a massa, que ela tinha falado que ficava densa e pesada, acabou saindo fofa e leve. Não entendi nada.

Também fiz pizza, que achei que ficou meio seca, mas o Mirco adorou e só faltou aspirar com a boca as migalhas da assadeira. Não tem receita: a massa é farinha de trigo, água quente, fermento em pó e uma pitada de sal. Comentei com a Arianna sobre a secura da minha massa e ela falou pra botar um pouco de azeite na próxima vez. No final das contas saíram duas coisas sem a menor cara de pizza, de formato absolutamente irregular, porque a consistência ridícula não permitia o uso do rolo de macarrão. Uma fiz com cebola e sálvia, e a outra com alecrim e sal grosso.

A receita desses cookies foi levemente adaptada de uma do allrecipes.com, site de receitas americano que tem muita porcaria (lógico), mas de vez em quando algum lampejo de criatividade culinária. Esses cookies ficaram ÓTIMOS.

Cookies de café com gotinhas de chocolate

Ingredientes
2 ovos inteiros
1 1/4 de xícara de açúcar
1/2 de manteiga ou margarina em temperatura ambiente
2 2/3 de xícara de farinha de trigo
1 colher de sopa ou um envelope de fermento em pó
Algumas gotinhas de baunilha
2 xícaras de gotinhas de chocolate meio-amargo
Uma xicrinha de café de café (horrível essa repetição, mas fazer o quê)

Preaqueça o forno a uns 180o C. Bata, como sempre, os ovos, a manteiga e o açúcar até formar um creme claro, leve e fofo. Adicione o café (que pode ser do tipo instantâneo, desde que já dissolvido em água) e as gotinhas de baunilha. Aos poucos vá juntando a farinha de trigo e o fermento, e quanto estiver bem batido desligue a batedeira e incorpore as gotinhas de chocolate, mexendo sem muita empolgação pra não quebrá-las. Pingue a massa às colheradas em uma forma grande, untada levemente ou então forrada com papel manteiga, deixando espaço entre as "poças" de massa porque os bichinhos se espalham enquanto cozinham e viram aqueles cookies-zões típicos americanos. Em dez minutos ficam prontos: macios, com o chocolate derretendo dentro, e um perfume maravilhoso na sua casa.

A receita original tinha amêndoas tostadas, mas eu não achei no meu supermercado fiel e pra dizer a verdade fiquei com preguiça de procurar mais. Eu usei um fermento que já vem com baunilha, mas da próxima vez vou botar umas gotinhas de baunilha a mais na massa porque dessa vez eu nem senti o gosto.

Ah, e o café dá mais perfume e cor do que gosto.

Postado por leticia em 18:28

02.04.04

tamo ficando véio

Parabéns, Duduzao! :) Beijos!

Postado por leticia em 06:45

01.04.04

cigarra

Eu ODEIO trabalhar. O-D-E-I-O. Detesto. Tenho pavor. Alergia, coceira, comichao, pesadelos. ODEIOOOOOOOOOOOOOO.

(e devo ter algum cromossomo alemao em algum lugar que nao se manifestou, digamos, capilarmente, mas me deixou completamente desprovida de qualquer coisa que lembre jogo de cintura e capacidade de improvisaçao.)

Mudando de assunto pra eu nao me irritar mais ainda, porque hoje FeRnanda e Fabiao vem jantar e nao quero estar de mau humor: vou fazer a receita de torta de frango da Marcinha, pao de queijo, pizza de cebola com salvia e de alecrim com azeite, e de sobremesa tabajara uns cookies de café com gotinhas de chocolate que se ficarem bons eu boto aqui. (se nao ficarem eu nao toco mais no assunto, e todo mundo vai fingir que esse assunto nem rolou, tah? ;)

Postado por leticia em 18:47