29.09.03

hohoho

Tão pensando que apagão é só no hemisfério subdesenvolvido do mundo? Ha! Ontem foi um dia “bioloógico”, como definiu um colega dono de cachorro. Desde as duas da manhã sem luz nem água – TODA A ITÁLIA e mais a França, dizem. Digo “dizem” porque eu vivo num mundo sem TV ou rádio, e não gasto dinheiro comprando jornal, e por isso dependo da boa vontade de vizinhos e colegas de trabalho pra me informar sobre o que acontece no mundo. A piada que corre aqui é que o Berlusconi esqueceu de pagar a conta de luz – grande parte da eletricidade que empurra a Itália pra frente é comprada da França, desde que a galera aqui decidiu em plebiscito ficar longe da energia nuclear. Hoje já me andaram dizendo que foi tudo culpa de uma árvore que caiu em algum lugar da rede elétrica na França, e de um raio que caiu na Suíça. Não sei; só sei que a luz só voltou às quatro da tarde e que foi um dia chato, cinza, chuvoso, frio, chato, chato, chato. Pelo menos não trabalhei.

Postado por leticia em 12:36

26.09.03

E ontem vimos a segunda parte de La Meglio Gioventù. Lindissima, melhor ainda do que a primeira.

E a semana foi obviamente de caos total no escritorio e na vida em geral.

Chegou meu cartao do banco com o nome escrito errado, CLAAAARO.

Ja estah frio de novo e andar de bicicleta jah virou martirio.

Ha irritaçao escapando de mim por todos os poros.

Postado por leticia em 11:44

22.09.03

Ontem à noite teve desfile em Bastia. Essa semana é de festa, tem o Palio di San Michele. Os bairros ("rione"), que sao quatro, competem de tres maneiras: tem o tal desfile, com direito a carro alegorico e tudo, os jogos medievais, e a corrida em torno da praça principal. A festa começou na sexta-feira; fui jantar na taverna do Rione San Rocco (onde eu moro) com a familia da Marta. Cada rione tem a sua taverna, com menu tipico umbro (pappardelle com ragu de javali, torta al testo com linguiça ou presunto cru com pecorino, bruschettas, sopa de trigo, etc). No sabado rolou um show na praça, um conjunto meio tabajara que cantou musicas anos 70 (leia-se musica gay) vestidos a carater, com direito a perucao black power e tudo. Soh nao dancei até me acabar porque o pessoal aqui nao tem aquela tendencia rebolativa que os brasileiros tem, e eu fico com vergonha de me empolgar sozinha. Faltava a Hunka; teriamos feito mil coreografias viadas juntas. De qualquer maneira, ri tanto que no dia seguinte tava sem voz.

Domingo foi dia de faxina: de manha cedo em casa, e mais tarde na casa do Mirco, pra pagar o favor que ele me fez dando banho no Leguinho no sabado ;) E à tarde fui trabalhar na loja do maluco do Fabrizio, com a Carmen. Passei em casa rapidinho pra trocar de roupa e lah fui eu pra praça ver o desfile.

Como a Marta comprou a "assinatura" dos bilhetes, ou seja, comprou bilhetes pros quatro desfiles, mas desfilava ontem, me cedeu o bilhete. E lah fui eu me sentar lah no alto da arquibancada do meio, com a minha landlady atras e uma vizinha ao lado. O desfile é uma coisa teatral misturada com numeros musicais, tudo extreeemamente tosco e amador, é claro. Eu tenho verdadeiro horror a teatro, de qualquer natureza e grau de profissionalidade, mas acabei me divertindo, principalmente quando um dos carros alegoricos, que soltava fogo, quase quase pegou fogo. Mas tudo bem, faz parte. A lenga-lenga durou quase uma hora e meia, ao fim da qual eu jah tava com dor na coluna e morrendo de sono.

Depois fiquei pensando na pequenez da cidade pequena. O pessoal aplaudiu e ficou maravilhado com um livro gigante tabajara colocado sobre o palco, que foi montado na frente da igreja, que se abria e fechava. Imagina se vissem uma aguia da Portela que soh falta revirar os olhinhos, ou um dos carros malucos da Mocidade com gente pendurada em tudo que é lugar e neon a dar com o pau, ou uma comissao de frente do Salgueiro, ou um casal de mestre-sala e porta-bandeira (que eu acho a coisa MAIS LINDA DO MUNDO). A qualidade de vida no interior é barbara, a tranquilidade é otima, mas a probabilidade de virar um idiota com antolhos é muito, mas muito grande.

(detalhe pra fantasia da Marta, que fazia o papel de uma das criadas de um estranho escritor ingles assolado por terriveis pesadelos. Marta de touquinhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa)

Hoje nao fiz outra coisa que nao limpar, etiquetar, ensacar, encaixotar cartuchos, soh fui sentar a bunda no escritorio agora. To morta, e pretendo seriamente ir dormir às sete e meia da noite hoje.

Postado por leticia em 18:20

19.09.03

numeros

Sabe uma coisa engraçada? Cada pais tem o seu jeito de ditar numeros de telefone. Eu to acostumada a ditar sempre dividindo o numero de forma que a segunda parte, depois do tracinho, tenha 4 digitos. Aqui na Italia nao soh eles nao usam tracinho nenhum (eu fico completamente zarolha tentando ler os numeros sem nem um tracinho no meio, pontinho, nada!), mas se o numero tem seis digitos, falam de dois em dois! Fico louca, nao consigo decorar de jeito nenhum! E quando eu falo do meu jeito, ou seja, dividindo em dois grupos de tres digitos, ninguém me entende.

Mistérios da vida.

Postado por leticia em 17:49

Cineminha básico em Foligno ontem. Básico? São SEIS HORAS DE FILME, divididas em duas sessões de três horas. A próxima é semana que vem. O filme: La Meglio Gioventù. Eu gostei muito, apesar de ser fã declarada de cinema-boboca-americano-carro-que-cai-na-ribanceira-e-explode. Aprendi algumas lições:

. Certos homens ficam melhor com barba.
. TODO ATIVISTA é chato. Todo. Não interessa se a causa é justa ou não. São todos umas malas.
. Psiquiatria é linda nos livros, mas vai encarar os malucos na prática, vai. (Eu já encarei, digo por experiência própria).

Mas realmente, o filme é muito bonito. Os personagens são construídos direitinho, há alguns diálogos brilhantes, algumas (poucas) alfinetadas sutis à risível sociedade italiana. Bonito, bonito. Gostei. Fico muito feliz quando saio do cinema satisfeita.

(claro que o macarrão esperto que eu fiz pro jantar antes do filme pode ter ajudado a deixar tudo mais lindo. Comer bem é um dos grandes prazeres da vida. Fiz tagliatelle/talharim – massa com ovos, por favorrrrr, massa larga sem ovo não tá com nada – “saltato” com uns pedacinhos pequeniniiiinhos de bacon, espinafre, cenoura e pimenta-do-reino moída na hora. Nham nham.)

Postado por leticia em 17:46

18.09.03

Meu corpitcho é feinho mas não me deixa na mão: meu cotovelo já tá bom de novo. Movimentando-se muito bem, obrigada. Acho que nem hematoma vai ficar pra contar a história.

Gente auto-curante é isso aí.

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Leiam. Além de ter um sorriso parecido com o da Hunka, é mal-humorada na dose justa, escreve bem e é engraçada. LEIAM.

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Leiam a Flavinha também.

Postado por leticia em 10:27

17.09.03

eca

Legolas hoje comeu um grilo. Assim, abocanhou, mastigou, engoliu, lambeu os beiços e foi brincar de outra coisa.

Sem mais no momento.

Postado por leticia em 18:23

Vocês não têm IDÉIA da cotovelada que eu dei na quina da janela da sala hoje de manhã cedo. Sabe aquela dor que te joga no chão chorando, o que automaticamente faz o seu cachorro entrar em pânico e vir correndo na sua direção, abanando o rabo, tentando te lamber, bufando, não entendendo nada? Então. Foi assim. Uma das janelas estava aberta pra entrar um arzinho (gélido, diga-se de passagem), e eu, Amélia matutina, fui passar pano úmido no chão depois de varrer os quilos de pêlo do Legolas que se acumulam por toda a casa. Numa dessas passadas, puxando o rodo na minha direção, o cotovelo subiu normalmente, mas encontrou a quina da janela. E foi aí que eu vi tudo preto e caí no chão chorando de dor. E foi aí também que meu braço direito morreu para o mundo, e agora se recusa a fazer qualquer movimento mais esdrúxulo ou pegar peso de qualquer natureza. TÁ DOENDO PRA CACETE. E nem posso passar Gelol, porque a pancada foi tão forte que passou pela camisa de manga comprida e pelo moletom, e me deixou um arranhão vermelhíssimo.

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O frio realmente chegou pra ficar, parece. Pra ir do escritório ao almoxarifado recomeçou a lenga-lenga do tira-e-bota casaco.

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Ontem sucumbi à vontade de junk food e tracei um cheeseburger com molho quatro queijos na nossa pizzaria preferida. Digo junk porque hamburger é mentalmente associado a junk, mas nem tava tão trash assim: hamburger sequinho, pouco molho, pão de dimensões razoáveis, uma porção de batatas fritas sequinhas dividida por dois. Matou a fome e a vontade, e não me deixou com consciência pesada. E hoje estou pronta pra mais um dia de atum e saladinha. Uhuu.

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Terminei Moby Dick! E comecei Regina’s Song, do casal Eddings (o que a Marta me deu de presente semana passada). Eu gosto do estilo deles, embora ultimamente eles tenham começado a se repetir demais, e a usar itálicos demais. O assunto também me interessa; uma coisa meio thriller, meio C.S.I., meio psiquiatria forense e não. O prognóstico é de uma semana de leitura. Veremos.

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Preciso dar um livro de presente de aniversário atrasado pra irmã do Mirco, yoga, zen, cozinheira e não falante de nenhuma outra língua diferente do italiano. Aceito sugestões.

Postado por leticia em 11:20

16.09.03

Sexta-feira passada comprei dois brinquedinhos pro Legolas, que jah tinha detonado as "batatas fritas" de couro que minha avoh tinha mandado na ultima caixa. Comprei um osso de borracha LILAS e um "pesinho" de borracha, todo colorido, e que apita. Legolas agora nao sai à rua sem o pesinho que apita. Como ele é preto, aquele negocio colorido se destaca, e todo mundo para pra olhar e sorrir. Ou talvez seja porque ele anda na rua mordendo e consequentemente apitando o treco, sem parar. Oh vida, oh céus.

***

Ainda nao consegui terminar Moby Dick. To quase lah, mas é que nao é leitura facil. Periodos longos, muitos termos técnicos baleeiros que jah nao fariam sentido em Portugues, o que dirah em Ingles. Mas ele tem umas tiradas otimas, ah se tem! Quando tiver saco boto aqui alguns exemplos das pérolas de Melville.

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Fim de semana de trabalho na loja, no domingo. Eu e Carmen ganhamos até gorjeta, pela primeira vez em um ano de trabalho na loja! E nao foi pouca merda nao, dois euros e meio cada uma! Tah pensando o que? E isso é porque nao somos lindas, soh simpaticas. Imaginem se tivessemos belas bundas e peitos.

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E no sabado FeRnanda e mais dois brasileiros que tavam morando em Assis mas foram embora hoje foram comer feijao preto lah em casa. A cara da FeRnanda enfiando a cara na panela pra sentir o cheiro foi emocionante, admito. Feijao, arroz, linguiça umbra bem temperada, e farofa. Melhor, soh se tivesse guaranah (nao tinha). No jantar repeti a dose com a Carmen e a irma, que nao entendem o conceito de prato unico e acham que arroz, feijao, farofa e linguiça na mesma garfada é uma coisa muito estranha. Imaginem se eu tivesse feito couve picadinha (aqui nao tem couve igual à nossa), laranjinha, salada, ou outras coisas do genero.

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E domingo à noite fui com o lanterneiro assistir a Confidence, com aquele ator lindo de olhos puxadinhos cujo nome nao gravei, aquele chaaaaaaaaarme ambulante do Andy Garcia, e aquela mala do Dustin Hoffman. E' bem legal. Mas filme sobre picaretagem bom mesmo é Ocean's Eleven, ou entao As Nove Rainhas, que alias vi outra vez semana passada, em DVD. Tao show de bola que o lanterneiro nem dormiu.

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Estou otima, linda e maravilhosa. Correndo 40 minutos por dia, comendo pouco porque nao tenho saco de cozinhar enquanto o Legolas fica me pentelhando pra sair, entrando em calças que nao me cabiam. Como é lindo o emagrecer.

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Agora o negocio é me concentrar no recém-criado Fundo para Carteira de Motorista da Leticia. Como jah to vendo que nao vai rolar viagem ao Brasil no final do ano porque a crise economica é, digamos, grave, vou me concentrar na carteira de motorista. Nao hah vida sem carro, ainda mais agora que o frio jah voltou. Sim, o frio jah voltou. Um vento gelado que torna a minha vida bicicletistica muito, mas muito complicada. Vou seguir o conselho da FeRnanda e comprar um cofrinho. Quem sabe consigo juntar uma graninha basica, assim uns 500 eurinhos, pra tirar a maldita carteira? Depois soh fica faltando o carro. E o seguro obrigatorio. E o IPVA. Hm.

Postado por leticia em 12:09

12.09.03

Considerações gerais sobre a vida

Os móveis do meu atual apartamento são menos hediondos do que aqueles de Cipresso, atual lanterneirolândia. Mas eu queria muito saber quem foi que teve a idéia de pintar os móveis de vime de preto, e quem escolheu o tecido floridão das almofadas do sofá. A coisa boa é que o apartamento fica no andar térreo; quando estou preparando o almoço deixo a porta aberta enquanto cozinho, assim o Legolas deita no capacho e fica olhando “as modas”, como diz a minha mãe (ele sempre foi do tipo fofoqueiro que fica na porta ou na janela olhando o povo passar). De noite prendo na coleira dele um pisca-pisca que o Mirco me trouxe de NY ano passado, pra botar na bicicleta. Assim ele fica ali na porta de casa enquanto eu cozinho o jantar, e se dá na telha dele de ir ali na esquina fazer xixi, consigo encontrá-lo de longe – lembrem-se que ele é negão, e achar negão de noite em rua escura não é tarefa fácil. Por outro lado, ser andar térreo é uma droga porque não posso deixar as janelas abertas, porque da rua se vê a casa toda. Privacidade zero, e em termos de segurança também nao é lá essas coisas. Menos mal que agora já começa a esfriar de novo, e dormir com as janelas abertas já não é necessário. Também tem o Legolas, que tem um latidão que, embora inócuo, assusta qualquer um, o que me ajuda a dormir com menos medinho, quando fico sozinha em casa.

***

Exatamente em frente de casa tem uma creche (“asilo”, em italiano). De manhã a calçada do meu “predinho”, ou seja, logo do lado de fora da janela da sala/cozinha, vira um estacionamento. Por cerca de meia hora ouvem-se as crianças chorando, buzinas, as professoras dizendo “calma, calma, vem com a tia”, os cachorros dos vizinhos latindo (o Legolas é muito educado e não é de latir muito), mais crianças chorando e dizendo que querem voltar pra casa, etc. A creche reabriu semana passada, então imaginem a quantidade de crianças chorando traumatizadas por terem sido deixadas pelos pais pela primeira vez na vida! A coisa legal é que criança é muito bacana. Tem uma menininha LINDA, com um sorriso avassalador, cara de peste, que por acaso se chama Letizia (hohoho), que sempre pára em frente à minha casa pra ver o Legolas, que ridiculamente fica em pé com as patas no batente da janela, se exibindo. E uma outra coisa legal é ver a igualdade pais/mães, tanto de manhã quanto na hora do almoço, quando as crianças vão embora (a partir de outubro o horário passa a ser integral). A Itália é um pais muito machista, e ver pais tão participativos, tão íntimos dos filhos, tão cheios de cuidados, é muito, mas muito legal. (Provavelmente na avançadíssima Alemanha os pais já fazem isso há muitos anos, mas com certeza são pais feios, sisudos e mal vestidos, levando pra creche crianças feias, sisudas e mal vestidas).

***

A Martinha é um amor mesmo: hoje me veio com um livro do casal Eddings, comprado na internet. Ficou com pena de mim porque tenho poucos livros aqui e sem ler fico desesperada, e me deu de presente esse, em “lingua originale” :) Pra quem é subdesenvolvida, interculturalmente deficiente, tem diploma comprado, morou na Rocinha, e sobretudo é um personagem inventado, até que tenho bons amigos.

Alinhás, segunda-feira Martinha precisará das velinhas acesas de vocês. Acompanhá-la-ei ao médico (linda ênclise, obrigada). Amiga ex-médica é pra essas coisas.

**

Ontem fomos (tentar) jantar na festa da cebola em Cannara, aqui perto – aliás, pra onde a empresa vai se mudar, assim que terminarem de consertar a cagada que fizeram no pavimento do escritório novo. Cannara é famosa em toda a Itália por ter a melhor cebola do país, o que quer que isso signifique. Só que quando rolam essas festas, TODO MUNDO da zona vai pra lá, por falta de coisa melhor pra fazer. Ou seja, tinha tanta, mas tanta gente que não conseguimos comer nada, porque as filas eram gigantescas, e Mirco tem muito pouca paciência (leia-se paciência zero) pra filas. Acabamos jantando uma pizza muito tabajara numa pizzaria na entrada da cidade. Depois voltamos pro centro pra dar umas peruadas. A cidade é super bonitinha, como todas aqui da Umbria. Encontramos um outro Mirco, amigo de escola do lanterneiro, que se casa amanhã e vai passar a lua-de-mel na... Austrália. Pronto! UMA HORA E MEIA dentro de uma mini-igreja do século XII falando sobre a Austrália. [Mirco é absolutamente fissurado pela Austrália, já esteve lá 4 vezes e tem mapas fotos calendários chaveiro cartão-postal caneta da Austrália espalhados pela casa toda. Fora que ele gosta tanto de viajar que fica todo agitado só de falar no assunto, mesmo que a viagem não seja dele. No final da conversa o menino tava todo suado, agitadíssimo, com a boca seca. Credo.] E depois nada, porque a conjunção pizza ruim + agitação + muitas outras coisas chatas que andam acontecendo derrubaram o menino, que capotou na cama e dormiu feito pedra.

***

Aí hoje de manhã não venho trabalhar, pra poder resolver minhas coisas burocráticas. Fomos primeiro ao Commissariato de Assis, onde eu tinha deixado o meu permesso di soggiorno, pra mudar o endereço (quando se muda de comune, ou cidade, precisa comunicar à polícia e requerer residência no novo comune, mas pra isso eu, que sou estrangeira, preciso mudar o endereço no permesso di soggiorno, que é meu documento mais importante aqui). Como na semana em que deixei o documento eu tinha cortado o polegar cortando alho, não podia tirar as impressões digitais, que ficaram pro dia da entrega do documento alterado – ou seja, hoje. Lá vamos nos esperar numa fila (leia-se comentário acima sobre a paciência do Mirco com filas) cheia de gente estranha e sobretudo fedorenta: um casal de albaneses com três filhos crescidos e um na barriga, uma chinesa mais perdida que cego em tiroteio, um velho árabe, dois adolescentes albaneses que liam quadrinhos de Street Fighter II enquanto esperavam, um casal de russos, dois frades franciscanos da Indonésia, duas sapatonas romenas – todos devidamente identificáveis como estrangeiros por causa da infalível pastinha de documentos na mão. Assim como paciente de hospital público, que não vai a lugar nenhum sem sua pastinha com documentos, exames velhos e novos, receitas, nomes de remédios recortados das caixinhas pro caso de esquecerem, nós estrangeiros também levamos nossa pastinha de documentos toda vez que é preciso alterar, requerer, anular ou renovar alguma coisa. A minha pastinha tinha fotocópias do permesso di soggiorno, do passaporte, do codice fiscale (tipo o CPF), do contrato de aluguel, da declaração do meu landlord de que eu moro mesmo lá. Enfim; sei a nacionalidade desse povo todo porque 1) tenho olhos de lince e consigo ler de longe o nome do país escrito no passaporte na mão de cada um, e 2) porque a funcionária da polícia, ligeiramente estressada, não falava, mas urrava. O pessoal da fila dava muita risada porque a todo mundo que chegava no balcão faltava alguma coisa: ou as fotos 3 x 4, ou alguma fotocópia de algum documento, ou a assinatura de alguém. Chega uma hora que a mulher estressa geral e berra: QUANDO VOCES VÊM PRA CÁ, TÊM QUE SABER QUEM SÃO, ONDE MORAM, O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI, PORQUE EU NAO POSSO LEMBRAR DE TODO MUNDO, NAO POSSO DECORAR A BIOGRAFIA DE TODO MUNDO QUE VEM AQUI! Também, convenhamos, passar o dia inteiro repetindo coisas como “não, não posso dar o documento da sua mulher, ela tem que estar presente pra assinar, meu querido” não deve ser o trabalho mais agradável do mundo.

Depois de uma longa espera, a outra funcionária, a que me atendeu da outra vez e foi muito simpática, olha pra minha cara, lembra não só de onde eu sou mas também o que eu fui fazer lá (mudar o endereço), e começa a convocar a galera pra tirar as impressões digitais. Lá vamos nós, embrenhando-nos nas entranhas do prédio do Commissariato, que aliás já fica num buraco na praça Santa Chiara. Subimos ao segundo andar e formamos a clássica fila italiana: a que não é fila, mas um coágulo de gente amontoada totalmente fora de ordem. Primeiro as sapatonas romenas, uma vestida de camuflado da cabeça aos pés, a outra totalmente hominho. Depois a superfamília de albaneses confusos, cujas filhas já falam italiano com o sotaque de Bastia. Depois o casal russo – o cara tinha dedos tão grossos que as digitais de um dedo se confundiam com as dos outros. E depois eu, com meus dedos fininhos de fada, meus cinco sobrenomes que tornam logisticamente impossível o preenchimento de fichas, e as invariáveis perguntas e comentários:
- Mas a senhora está há quantos anos na Itália? (menos de dois)
- Mas a senhora é médica? E está fazendo o que aqui nesse buraco? (...)
- Mas por que todos esses sobrenomes? (megalomania monárquica de vovô)
- Guilherme equivale ao nosso Guglielmo? (sim)
- Mas nem se sente o sotaque!
- Mas você é tão branquinha!
- Mas tão nova e já médica! (temos dois anos a menos de escola, senhora)
Il solito discorso...

Depois fui ao Comune di Bastia requerer a residência. Agora tenho que esperar que a polícia venha à minha casa comprovar que eu moro lá mesmo, e depois posso voltar ao Comune pra fazer a carteira de identidade, que leva quinze minutos pra ficar pronta e é bem feinha. Próxima parada: eu na USL (“unidade local de saúde”, onde você se registra no sistema de saúde deles) pra fazer a carteirinha de saúde, lanterneiro no banco. Depois outro banco, depois supermercado pra comprar tomates-cereja que ele ama e eu abomino, depois almoço, depois parque com Legolas e seus brinquedos novos comprados na feirinha de Bastia, depois trabalho, ou pseudo, já que na ausência de chefes o ritmo diminui consideravelmente. Fora que ontem trabalhei feito um camelo e deixei tudo organizado pra hoje poder ficar sem fazer nada. Ho ho ho.

Però nada de post sobre modéstia hoje. Sem saco pra ficar filosofando muito. A vida é bela e os passarinhos cantam – nem sempre, mas de vez em quando sim.

Postado por leticia em 17:44

10.09.03

Eu juro que eu quero parar, mas nao consigo! Olha o quanto sao brilhantes no Portugues, e olha que lisonja eles acharem que eu devo ser velha por ser tao cheia de qualidades e experiencias:

eMail von Eu (eu@tepego.com) Inviato: 10/09/2003 10:02




kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

URL zum Thema: http://www.kippenhan.net/cgi-bin/dcforum/dcboard.cgi?az=show_thread&om=528&forum=DCForumID14
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Nachricht: #0
Titel: Paula,NAO È CERTO
Geschrieben von Valeria am 10-Sep-03 at 00:47 Uhr

Oi,Paula tudo bem que voce tomou essa atitude mais eu acho que nao é certo ,eu sei que essa discursao pode demorar,voce viu o exemplo dos politicos falando em relacao as ferias dos alemaes na Italia ,houve uma desculpa dipomatrica e a repercursao foi mundial.Nao quero dizer que uma Maria ninguem tenha este mesmo exito,mas como ela apareceu aqui e esta se sentindo tao superior e com nojo de todos nós brasileiros que moramos na Alemanha temos o direito de nós defender.Ela tem que entender uma coisa se nao é a Alemanha dar uma forma de viver aos italianos do Sul que sao chamados por eles de TERRONES oque seria da Italia já que terrones sao tambem pessoas nascidas no territorio italiano.Isso tudo dessa senhora é inveja ,ela ela deve ter pensado como a Alemanha dar ha essa pessoas a possibilidade de progredir já que eles mesmo sao racistas com a sua propria raca BAIXO ITALIA SAO TERRONES só prestam os italianos do NORD.Eles falao que eles pagao taxas paa as pessoas do sul viverem !
é aqui que pagamos para eles tambem e nao deixamos de comer pizza e ajudar os patriotas que eles rejeitao.
Alemao é Alemao do sul ao norte,e eles sao os primeiros a ajudar outros paíse em caso de emergencia
Um abraco
VL

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Nachricht: #1
Titel: RE: Paula,NAO È CERTO
Geschrieben von VL am 10-Sep-03 at 01:03 Uhr
In response to message #0


AHH!! Esqueci uma coisa visitei amigos em Rimini,eles pagao aluguel lá em uma casa com 3 quartos com jardim oque se paga aqui numa com 50 metros sem balcao .Eminha amiga nao acredita que o aluguel aqui e tao caro
VL

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Nachricht: #2
Titel: RE: Paula,NAO È CERTO
Geschrieben von Carol am 10-Sep-03 at 09:59 Uhr
In response to message #0

Eu acho que a Paula agil correto, essa moca aí já é uma berracao no Brasil (imagina só que até os outros estados do Brasil ela odeia), entao para que continuar colocando lenha no Fogo? Ela gostou da discussao voces nao perceberam que assim ela tinha o que fazer.

Além do que quem quer perder seu tempo para responder as mensagens absurdas dela que envie um email a ela oras bolas.

Se fossemos contar as experiencias dela, tipo : estudou medicina, deu aula de ingles por 2 anos, trabalhou como tradutora por 8 anos, vive na Italia a nao sei quanto tempo, mas isso e mais aquilo, a coitada deve ser uma velhota que está com falta né gente. Imaginem só solterona, feia, neurótica, etc. Tenhamos respeito perante seus Hormonios!!!!!!! }>

Acho que por aqui está faltando uns temas legais.

Ah so, wie gesagt, eu concordo com a decisao da Paula, acho até que demorou demais.
Ok. Fuiiiiiii


Ou seja, eu sou um fenomeno! Aos 26 anos tenho tantas qualidades e tanta experiencia acumulada que ninguém acredita que eu soh tenho 26 anos! Gente, eu sou foda. Ainda bem que esses pseudo-alemaes me alertaram, senao eu ia morrer sem saber!

***

Nada de post pra abalar as estruturas da sociedade burguesa hoje. Patrulha anti-internética intensa aqui no escritorio, e muito o que fazer também. A dopo.

Postado por leticia em 12:37

09.09.03

Prometo que é meu ultimo post sobre a feiura dos alemaes (a menos que um outro pateta nao volte a me encher o saco):

Recapitulando... Agora, por conta de nao ter gostado de Berlim:

- sou neguinha
- morei na Rocinha
- sou doméstica na Italia (engraçado que quando eu respondi que trabalhava num escritorio fazendo a parte de marketing internacional e ecologia em toda a Italia, ninguém me respondeu)
- deveria fazer um curso de italiano na Università per Stranieri di Perugia pra "aperfeiçoar a minha deficiencia intercultural" (engraçado que quando respondi no forum ao idiota que me falou essa besteira, dizendo "entao quer dizer que o diploma de 100% de aproveitamento que eu tirei por essa mesma universidade, no nivel mais avançado, vale muito! que bom, assim fico mais tranquila!" ninguém me respondeu)
- sou subdesenvolvida porque nao entendo que punk quer dizer liberdade e politica social
- comprei meu diploma (engraçado que quando respondi no forum ao idiota que veio perguntar ironicamente se eu sabia o nome dessa tal faculdade conceituada, dei o nome da universidade e o ano de formatura, ninguém me respondeu)
- tenho moveis feios (quando perguntei se isso tornava Berlim mais bonita, ninguém me respondeu)
- nao sei vender javali direito, por isso meu patrao me mandou embora
- sou horrorosa e brega
- o Mirco se chama Mico (quando perguntei se isso tornava os alemaes mais bem vestidos, ninguém me respondeu)
- moro no bairro pobre de Assis (engraçado que quando eu respondi que Assis nao tinha bairro pobre, ninguém me respondeu)
- o Mirco nao quer nada comigo porque até agora nao quis casar
- sou superficial e deveria ver o lado bom das coisas
- tenho qualidades demais, sou um personagem inventado por alguém que nao tem o que fazer nem tem amigos
- sou analfabeta porque escrevo sem acentos no blog e escrevo Berlim com M no final (engraçado que quando respondi no forum que escrevia sem acentos porque meu teclado é italiano e que Berlim em portugues tem M no final, ninguém respondeu)
- soh a minha mae me acha legal, ninguém mais no mundo
- sou da roça, por isso nao entendi direito o metro de Hamburgo e Berlim (engraçado que quando eu disse que era do Rio, ninguém me respondeu. Ou melhor, responderam que eu era da Rocinha. Reparem que morar na Rocinha nao significa absolutamente nao saber pegar metro.)
- nao tenho competencia pra conseguir um visto de estudo ou trabalho, por isso meu permesso di soggiorno é de doméstica (engraçado que quando eu respondi que vim com visto de estudo, que foi transformado em visto de trabalho, ninguém me respondeu)
- nao sei falar ingles direito, por isso ninguém me entendia na Alemanha (engraçado que quando eu respondi que dei aula de ingles por 2 anos e trabalho como tradutora hah 8 anos, ninguém me respondeu)
- sou pobre, por isso fiquei em albergue da juventude na Alemanha; se tivesse dinheiro pra ficar em hotel, teria adorado o pais, a gente, a comida, etc. (engraçado que quando eu respondi que o que mais tinha nos albergues era alemao, nao soh na propria Alemanha mas em toda a Italia, e que isso nunca impediu ninguém de curtir uma viagem, ninguém me respondeu)
- odeio os alemaes (quando perguntei se achar feio significa odiar em alemao, ninguém me respondeu)
- sou racista porque digo "neguinho vem me encher o saco" (engraçado que foram eles que me acusaram de ser neguinha, no modo mais pejorativo possivel)
- sou preconceituosa, porque achei os alemaes feios, mesmo tendo na verdade sido um pos-conceito, jah que estive lah e vi com meus proprios olhos
- moro num pais de garçons e funcionarios antipaticos (é verdade, mas quando perguntei o que isso tinha a ver com a feiura dos alemaes, ninguém me respondeu. Também comentei que mesmo assim a Italia é um dos paises mais visitados do mundo, se nao o mais; Roma soh perde pra Paris em numero de turistas por ano, e Paris também é famosa pela antipatia de seus habitantes. Perguntei por que a Alemanha entao nao é um pais tao procurado pelos turistas, jah que os alemaes sao tao lindos, limpos, corteses, angloparlantes e simpaticos quanto eles diziam. Ninguém me respondeu.)
- frequento o Burger King (engraçado que quando perguntei se na lingua dos patetas do forum, ou seja, o alemao, "comemos no Burger King" quer dizer "frequento o Burger King", ninguém respondeu).


Essa vida é muito engraçada... ;)

p.s.: Me acusaram também de nao ser modesta. Isso renderah um longo post amanha, se tiver tempo. Amanha falarei de modéstia; depois de amanha, de preconceito. Abalarei as estruturas da sociedade burguesa. Preparem-se.

Postado por leticia em 16:37

08.09.03

e o kiko?

Engraçado que varios dos patetas do forum, e devo admitir que minha mae também, se declararam horrorizados com a minha mudança "de retirante" jogada no caminhao. O que ninguém obviamente se preocupou em me perguntar foi o motivo da ausencia de caixotes. Simplesmente a distancia entre S. Maria e Bastia é de DOIS quilometros. Na boa, tinha necessidade de encaixotar tudo, pra depois de CINCO MINUTOS desencaixotar tudo outra vez? Nao, né. Entao tah.

E agora dah licença que o horario de trabalho acabou e vou dar uma corridinha com meu cachorrao, que ninguém é de ferro.

Postado por leticia em 18:42

Finalmente encerraram o assunto da feiura dos alemaes no tal forum dos patetas, que nao soh insistem no fato de que eu sou neguinha, morei na Rocinha, comprei meu diploma e atualmente moro no bairro pobre de Assis, mas também ainda nao entenderam que escrevo sem acento porque meu teclado nao os tem, e quando boto acentos é porque tenho tempo pra ficar acentuando na mao, no Word. To cagando e andando: nasci em Botafogo, morei na Lagoa desde que nasci, sou branca feito vela, Assis nao tem bairro pobre porque é um comune riquissimo (Bastia idem), meu diploma continua sendo foda, e o idiota que "corrigiu" minha falta de acentos cometeu um erro horrendo de concordancia verbal. Entao ficamos combinados: eu continuarei achando Berlim e os alemaes horrorosos, e esses ultimos, além de antipaticos, mal-vestidos, molambentos, e nao falam ingles. Pronto.

(Dos alemaes tenho pena porque sao feios, molambentos, sisudos e nao falam Ingles, mas desses brasileiros que se acham OOOOOS germanicos porque estao morando lah eu tenho é nojo mermo.)

Postado por leticia em 17:21

...

Então vamos ao exercício de hoje:

Relacionar as colunas, onde a primeira coluna representa mais ou menos (não tô com saco de procurar no post e copiar igualzinho) o que eu disse nos posts sobre a feiura dos alemães, e a segunda coluna representa o que os patetas do forum de brasileiros na Alemanha interpretaram:

(a) Como os alemães são feios!
(b) Tenho horror a brasileira caça-gringo
(c) Almoçamos no Burger King...
(d) Ninguém fala Inglês em lugar nenhum!

( ) Odeio os alemães
( ) Freqüento o Burger King
( ) Falo Inglês tão mal que ninguém me entende
( ) Toda brasileira é caça-gringo

Outro exercício, dessa vez relacionando os contra-argumentos dos patetas com os meus comentários:

(a) Como os alemães são feios!
(b) Como os alemães se vestem mal!
(c) Berlim é feia, suja e cheia de punks esquisitos
(d) Os alemães não sorriem jamais

( ) Os italianos têm pernas tortas
( ) Os italianos são filhinhos de mamãe
( ) Por que tantos travestis brasileiros vão trabalhar na Itália?
( ) O trânsito nas cidades italianas é louco por causa das lambretas, enquanto que na Alemanha o trânsito é super
organizado


Agora analisem comigo: mesmo que os argumentos da segunda coluna forem verdadeiros, Berlim torna-se, aos meus olhos, mais bonita, os alemães mais belos, simpáticos e bem-vestidos? Não, né. Então tá.

**

Ontem eu e Claudia trabalhamos na loja desde as onze da manhã. Só nós duas, sem o louco do Fabrizio, que é super gente boa mas absolutamente biruta e cansativo. Super light, poucos e bons clientes, gente disposta a pagar € 8,50 por um pacote de biscoitos de amêndoas, € 25 por uma garrafa de bom vinho umbro, € 28/kg de presunto de javali. No meio da tarde, quando o movimento tinha caído bastante, aparece uma americana meio mendigona, amiga do Fabrizio (ele é amigo de tudo que é maluco em Assis. Acho que ele se sente culpado porque nos paga mal e não nos dá presente nem bônus de Natal, nem adicional por trabalhar no feriado, e porque acha ruim que nós comamos na loja, então faz caridade pra quem não faz nada da vida. Bem do jeito que eu gosto.). Perguntei como é que ela foi parar em Assis, vindo da Pensilvânia, e ela começou a contar toda a história da sua vida, sua vocação para o claustro, suas duas expulsões de dois conventos das Clarissas, o tempo passado colhendo algodão no Novo México, entre outras coisas. Isso tudo bebendo uma cervejinha Moretti, que ninguém é de ferro (eu não, ela; não bebo cerveja). Quando viu uma procissão passando pela praça, indo na direção da Basilica di S. Francesco, foi pra porta da loja se benzer e pensar se deveria ir atrás ou não. Resolveu que não, porque o pessoal andava rápido demais, e suas pernas velhas não aguentavam. Então deu um longo suspiro e me perguntou se eu rezava. Respondi que não. Ela perguntou se eu sentia a presença de demônios. Levantei uma sobrancelha e disse que não só não sentia nada, como não acreditava em demônios. Então ela deu a sentença final: então, minha filha, você está de bem com Deus, e não precisa nem de reza, nem de psicólogo.

Mesmo ela tendo botado Deus no meio, adorei a velha.

**

Estou no pior dos humores hoje. Esse tempo nublado ACABA comigo. Acho que vou fazer uma sopinha de ervilha básica pra ver se eu melhoro, jah que nao posso contar com o lanterneiro, que estah de cama com febre alta e amigdalite.

Postado por leticia em 11:23

ainda!

Olha que essa historia dos alemaes tah é rendendo. A coisa mais legal que jah saiu disso tudo foi o fato de que eles acham impossivel uma pessoa ter todas aquelas qualidades que eu listei ali no final do mes passado, quando conseguiram me irritar realmente. Sabendo que eu tenho realmente todas essas qualidades, me senti AAAAAAAAA poderosaaaaaaaaaaaaaaa... Just too good to be true! E' ou nao é uma suuuper massagem no ego? Hm, agora fiquei me achando.

Ainda nao encerrei o assunto Alemanha. Mais tarde escrevo mais. Estou me sentindo ludica e gostaria de propor um exercicio simples aos meus leitores.

Postado por leticia em 08:59

05.09.03

Giovanni, que é como chamamos o Ion, romeno que trabalha fazendo os toners pra impressora a laser, voltou das merecidas férias na Romenia trazendo o filho pequeno, que ele nao via hah tres anos (porque sem documento nao podia voltar pra casa, e o permesso di soggiorno dele soh saiu no inicio de agosto). O garoto se chama Andrei e é uma gracinha, olhoes azuis como os da mae, que também trabalha aqui empacotando cartuchos. Fala pra caramba; logo logo vai aprender italiano. Virou logo o xodoh da empresa: a mae do Chefe Meio Idiota acaba de sair com ele na Mercedona do Chefe pra fazer compras. Ela é uma mulher microscopica, sabe quando a gente ve uns carros na rua que parece ter motorista invisivel, e depois olhando melhor vemos que tem alguém muito pequeno dirigindo? E' assim. Ela dirigindo (e fumando, que chaminé, putz grila) e o garoto atras; ela falando italiano e ele romeno. Que espetaculo :)

Postado por leticia em 17:05

peixe

Deu a louca no lanterneiro e demos uma de paraibas italianos, indo ao lago pra comer peixe: jantamos no Da Massimo ontem, famoso restaurante de frutos do mar no Lago Trasimeno. O lugar fica lá na casa do chapéu, mas vive entupido de gente, e sem reserva não tem jeito, não se acha lugar, e o maître exige pontualidade, além de se irritar se você não gostar do que ele te sugerir. Entao às oito e meia da noite lá estávamos nós sentadinhos à mesa, num cantinho perto de uma das janelas do restaurante. Menu da noite:

Antipasto frio:
- Mariscos refogados com farinha de rosca dentro de uma concha tipo aquela da Shell.
- Salada de lula, polvo e camarão com repolho roxo. A lula e o camarão eu tracei, mas meu relacionamento com o polvo é como meu relacionamento com Berlim: vi, provei, não gostei, e não pretendo voltar.
- Camarões em molho rosé, dentro de outra concha tipo Shell.
- Mariscos esquisitos, de concha retangular e comprida, refogados com farinha de rosca e servidos dentro da própria concha. Deliciosos.
- Uma salada de feijão branco e camarão, DIVINA.

Antipasto quente:
- Mariscos, de diversos tipos (eu prefiro os pequenininhos), em água e sal e com salsinha picada.
- Novamente mariscos de diversos tipos, refogados em molho de tomate. Ótimos!

Primo piatto:
- Gnocchi ao molho de lagostim. Cada gnocchinho pequenininho, redondinho, lindinho! E deliciosos, levíssimos, o molho é delicadíssimo! A porção pra dois é enorme, então levei pra casa uma quentinha sem o menor pudor, e hoje meu almoço será chiquerricamente gnocchetti de lagostim. Uhu!

Secondo piatto:
- Grigliata di crustacei. Camarões enormes e uns primos dos camarões, também enormes, na grelha.

Dispensei a sobremesa porque não tinha espaço pra mais nada, mas o Mirco ainda tomou um sorbetto al limone, e eu tomei uma meletta (mela = maçã), que é uma grappa aromatizada com uma maçãzinha amarela e pequenininha, do tamanho de uma cereja. O copinho é pequeninho também; você vê o copo chegando com aquela micro-maçã nadando em grappa, o perfume da maçã é delicioso!

Tudo isso, obviamente, regado a vinho branco gelado (esqueci o nome), DELICIOSO.

Mas, darlings, sinceramente... Give me a steak any time. Pode ser o marisco mais lindo e delicioso do mundo, o Mister Universo dos camarões, mas naaaada substitui a boa e velha carne de vaca no meu não tão delicado paladar...

***

Atenção: estamos todos terminantemente proibidos de não gostar de Berlim. Porque senão neguinho que não tem o que fazer começa a afirmar que você:
1) é negra (hahahahaha)
2) morava na Rocinha e agora mora no bairro pobre de Assis (mal sabem eles que nao ha bairro pobre em Assis... Hohoho)
3) comprou o diploma (quaquaraquaqua!)
4) é subdesenvolvida e não entende que punk significa liberdade, política social (mas hein?)
Entre outras coisas.

Então ficamos combinados: é proibido não gostar de Berlim. Entendidos?

Postado por leticia em 11:11

03.09.03

O sol que semana passada queimava até quem usava filtro solar 50 essa semana esquenta quem o vento frio congela. Hah menos de dez dias a temperatura à noite chegava aos 30 graus. Ontem à noite, 18 graus, e com o vento frio a sensaçao térmica provavelmente era muito mais baixa. CLARO que imediatamente todo mundo ficou doente: o lanterneiro, Martinha, Antonietta, e eu jah estou com dor de garganta e um ligeiro mal-estar. Como odeio ficar doente, amanha vou acordar melhor porque nao tem coisa mais chata do que ficar em casa mofando se sentindo mal.

Alias, amanha é o aniversario do Chefe. Vai ter festança aqui na casa, e é logico que nos meninas nao fomos convidadas.

Postado por leticia em 17:07

02.09.03

madrugar é bom e eu gosto

Jamais entendi esse lance de “não conseguir acordar”. Como todo mundo lá em casa já acorda acordado, só fui conhecer esse lado da humanidade, essa parcela da população que não funciona de manhã cedo, quando fui estudar em Valença, onde dividi quarto com a que hoje é a doutoríssima Hunka. A Hunka acorda mas não desperta, fica lá sentada na cama piscando, esfregando os olhos, meio apoplética, e leva um bom tempo pra recobrar a consciência. Como ela, milhões de amigos meus. Eu jamais consegui entender. Quer dizer, entendo que provavelmente é uma coisa constitucional, que você nasce com tendências matutinas ou não, mas caramba, deve ser muito ruim levar esse tempo todo pra despertar! O dia rende tanto quando você acorda cedo; é impressionante. Eu, por genética ou por hábito familiar, acordo já acordada e não preciso nem de tempo pra me ambientar, nem de café, nem de banho frio pra começar a funcionar. Acordo sabendo onde eu estou, onde está a porta, o que tenho que fazer; não fico me espreguiçando na cama, tenho pavor de ficar mofando na cama antes de levantar: acordo e levanto logo. Meu dia começa cedo; minhas manhãs são produtivas. Em compensação, depois do almoço minhas habituais rapidez e eficiência caem notavelmente. Depois que o sol se põe eu já fico meio depressiva. E não me chame pra nada depois das dez da noite, que meu sono vem cedo, e nada me destrói mais do que não dormir quando sinto sono! Até porque não consigo acordar tarde pra compensar, e se durmo depois do almoço me sinto O bagaço da laranja depois. Sou vampira ao contrário, completamente alérgica à noite...

Postado por leticia em 11:31

Minha casa nova, com seus moveis hediondos (o praga...):

Quando der tiro fotografias do lado de fora :)

Postado por leticia em 08:48