da série “perché l’Italia mi ha proprio rotto i coglioni”

Domingo passado o napolitano do andar térreo veio bater aqui na porta. Antes de bater aqui tocou na vizinha, a Mulher Mais Feia do Mundo, que é toda amiguinha e o convidou pra entrar. Como eu estava de pijama (era quase hora do almoço mas eu estava estudando há horas na minha poltrona Poang, com preguiça de trocar de roupa), fiquei quietinha e não abri. Mais tarde, na garagem, a caminho da Arianna, encontramos com ele. Tinha tocado pra perguntar se queríamos contribuir com uns eurinhos pra comprar velas antivento pra procissão do dia 15. Mirco falou que não, que éramos non credenti. O velho fez uma cara de quem não acha que isso seja compatível com a vida, mas não fez nenhum comentário.

No mesmo dia, à tarde, apareceu no quadro de avisos da portaria um papel explicando que a procissão passaria dia 15, pedindo pra que as pessoas interessadas em contribuir colocassem seu nome na lista logo abaixo, e principalmente pra que não se estacionasse na rua pra não atrapalhar. Não resisti; pesquei uma caneta da bolsa e escrevi: “É mais civilizado deixar a rua livre o ano todo, e não só quando passa a procissão, né?”. Mais tarde, a resposta: alguém escreveu “Essa pessoa que deixa esses comentários deveria ir morar sozinha no alto de uma montanha, né?”. Demos uma gargalhada quando vimos, mas quando caiu a ficha bateu uma tristeza. Porque o ditado “os incomodados que se mudem” é a coisa mais injusta e irritante desse mundo. Tem um estacionamento eLorme a quinze metros aqui do prédio, mas neguinho estaciona em frente à entrada, praticamente em frente à garagem, em cima da faixa de pedestres, ocupando duas vagas (ao longo da calçada oposta ao prédio tem vagas marcadas no chão, mas são poucas). Tudo bem que aqui não tem movimento nenhum, mas TEM UM ESTACIONAMENTO ALI DO LADO, hombre! Por que não fazer as coisas direito, até pra dar um exemplo legal pros seus filhos? Puta que pariu! Vai gostar de fazer coisa errada lá em Nápolis! Além disso deixam a porta do prédio aberta, jogam papel de bala e guimba de cigarro nas escadas, falam berrando, andam de salto alto dentro de casa… Quer dizer, eu que sou civilizadinha é que sou convidada a me retirar, sacaram?

Isso já aconteceu comigo n vezes aqui. Há alguns meses fui levar um DVD pra devolver, de bicicleta, e vi que depois da passagem de nível o trânsito tava todo parado. Desci da bici e fui empurrando pra ver o que era: simplesmente um cretino tinha parado o carro ao longo da calçada, sem seta nem nada, bem no ponto em que tinha um caminhão carregando entulho no outro lado da rua. Ninguém passava! Fiquei parada, abobalhada, até que o dono do carro voltou de sei lá onde é que ele tinha ido. Viu a minha cara de tsk tsk tsk e ficou puto: “tá olhando o quê? O quê que você queria que eu fizesse?” Incrédula, ainda tive forças pra dizer que o engarrafamento que ele estava causando já tava chegando lá na padaria Mela – a essa altura tinha gente buzinando por todos os lados – e que bastava ele esperar dois minutos no estacionamento em frente à farmácia, EXATAMENTE DO OUTRO LADO DA RUA, que logo alguém liberaria uma vaga e ele poderia estacionar. Depois dos primeiros xingamentos do cara eu desisti. Não tem como discutir com selvagens.

O retrato do italiano médio é exatamente esse. É o cara que pára o carro no meio da rua pra mulher ir comprar cigarro no bar, não dá seta nem nada, e quando alguém que vem atrás buzina, bota a mãozinha pra fora à moda siciliana e diz, com o cigarro pendendo dos beiços e oculões Dolce e Gabbana cobrindo todos os seios da face, “ma che cazzo vuoi?”.

Esse país anda me dando nos nervos ultimamente.