31.03.06

gomma bucata

Estava quase na altura da saída pra Rivotorto, ultrapassando um velhinho e ouvindo Green Day nas alturas, quando começo a ouvir um barulho estranho. Putz, o pneu. Bosta. Não tinha onde encostar na estrada, então rodei mais uns cem metros e peguei a saída. Como em Rivotorto nada acontece nunca e ninguém passa, consegui parar o carro em uma espécie de baia lateral, sem incomodar ninguém. Desci e olhei o pneu: completamente estourado, caramba. Liguei pra escola pra avisar pra Simona que eu chegaria atrasada, porque nunca troquei pneu e provavelmente iria demorar. Ela teve a feliz idéia de ligar pro meu aluno engenheiro brilhante, que, morando em Bastia, tinha necessariamente que passar por ali. Cinco minutos depois lá vem ele com o seu Toyota. Trocou o pneu em inglês e lá fui eu, a oitenta por hora como uma velhinha, até a escola. Conversamos por uma hora e nos despedimos. Mas ganhei uma aluna particular, a mulher dele, obá. O resto do dia foi light; sexta-feira é o dia dos alunos educados: um engenheiro, um filho de dentista, um filho de médico, um médico. E que coisa linda sair da escola com um pouquinho de luz ainda no céu! Dilissa!

Postado por leticia em 21:17

30.03.06

promoção?

Minha chefa hoje me convocou pra um papo na cozinha do segundo andar (os tradutores trabalham full-time e não voltam pra casa pra almoçar, cozinham lá mesmo). Me propôs o "cargo" de director of studies, posição que aquela louca da Cristina, com quem trabalhei na outra escola, ocupou por um ano, com competência duvidosa. Fiquei de pensar. A proposta é boa porque o contrato seria a tempo determinado, o que eliminaria os meus gastos com INPS (sou eu que pago, como doméstica do Ettore, pra poder ter uma aposentadoria um dia), e teria direito a férias, décimo-terceiro, e todas aquelas coisas legais que eu nunca tive na vida. Só que eu não sei se quero criar um vínculo oficial com a minha chefa desvairada. Porque eu não gosto nada dela, sabe. E não poder almoçar em casa é uma coisa muito chata; se eu conseguisse emprego mais perto de casa trocaria numa boa. Não discutimos salário porque não deu tempo, mas fiquei de pensar. Tenho que fazer algumas contas, pra entender o limite mínimo de euros por hora que eu posso aceitar. Semana que vem eu resolvo.

Postado por leticia em 22:14

29.03.06

jantar marromeno

Como hoje eu ainda estava meio assim-assim, Mirco resolveu jantar fora. Veio me encontrar em Foligno, deixamos a Uno largada em um canteiro em um lugar de pouco movimento e fomos pra Trevi. Quem indicou o restaurante foi o Gianni, que é um amor mas meio complicado; levamos séculos pra achar o tal lugar, que é escondido pacas. Restaurante bonitinho, bisteca fiorentina cheirosa na mesa ao lado, eu não tava com muita fome porque só tinha conseguido almoçar às quatro da tarde, mas como tinha sido basicamente tudo abobrinha e cenoura e pouquíssimo macarrão, achei que poderia encarar um jantar. De primo encaramos o risotto della casa, mínimo duas pessoas (veio uma bandeja inteira, comida pra cacete), delicioso, com tartufo e uma espécie de creme de queijo (a garçonete disse que era gruyère e parmesão). Mirco pediu filetto al pepe verde, que veio mais altinho e suculento do que o normal, e eu fui de scamorza, meu queijo preferido, na grelha – nada de particular. Não conseguimos terminar a garrafa de Rosso di Montefalco, nosso vinho mais amado. Estávamos tão cansados os dois que nem curtimos nada direito. Mas foi a primeira vez que fomos a Trevi; a cidade é lindinha e de dia deve ser uma delícia. Ficamos de voltar.

E pra sair da cidade? Cacetes estrelados, mas um mínimo, um mínimo de sinalização estradal não, né? A cidade fica no alto de uma colina e é óbvio que precisávamos descer, mas por onde, se giramos em círculos várias vezes e demos de cara com várias ruas fechadas ou com mão invertida por causa de obras? Depois de uns 15 minutos conseguimos finalmente achar a estrada certa. E como quarta-feira é o pior dia da semana em termos de televisão, nada nos restou a fazer senão dormir e digerir.

Postado por leticia em 22:12

28.03.06

Foi um dia chato estranho e deprimente e não quero falar dele não.

Postado por leticia em 21:10

27.03.06

caramba

Ótima surpresa hoje: primeira "aula" de conversação com um engenheiro que mora aqui em Bastia e que precisa refrescar o inglês porque parte pros EUA a trabalho por uma semana. Meu melhor aluno até hoje: ótima pronúncia, erros poucos e bobos, bom vocabulário. Nada surpreendente, queridos, porque ele é um homem que lê. CONHECI UM ITALIANO QUE LÊ. Um engenheiro, of all things. Simpático, educado, inteligente, gosta de viajar, come coisas estranhas quando viaja, e lê, inclusive em inglês. Não é um espanto? Normalmente conversação é um porre, mas nossa hora hoje passou voando. Não falta assunto pra quem se interessa por tudo. Que coisa maravilhosa!

Postado por leticia em 22:07

26.03.06

casa dolce casa

E pra compensar a canseira de ontem, e porque o Mirco trabalhou o dia inteiro, fiz só uma vitamina rápida pro café da manhã e sentei ao computador pra projetar nossa cozinha no Kitchen Planner da IKEA. Passei o dia INTEIRO só nisso – parei pra almoçar na casa dos tios do Mirco, e depois do almoço ele dormiu até as oito da noite – e devo dizer que me diverti horrores. Aproveitei pra também esquematizar a nossa futura lavanderia e pra catar inspirações de móveis na internet. Jantamos uma pizza no Penny Lane e chapamos. De vez em quando um domingo nada assim cai muito bem.

Postado por leticia em 21:05

25.03.06

Roma é tudo na vida, parte dez elevado a vinte e seis

Não dormi muito bem. Acordei às quatro da manhã e comecei A Short History of Nearly Everything, do Bill Bryson, aquele que a Cora comentou há algum tempo e que já estava na minha estante há séculos me esperando. Estou AMANDO e quase fiquei triste quando chegou a hora de levantar e ter que parar de ler pra me arrumar, tomar um bom café da manhã e sair correndo pra pegar o trem das seis e vinte pra Roma.

Porque hoje foi dia de Roma, queridos, aquela que é tudo na vida.

Li um pedação do livro no trem, mas trem bom é trem que te adormece, e não ofereci resistência: chapei mesmo e só acordei em Orte, com o Mirco telefonando perguntando se tava tudo OK. Sim, sim; abandonei o pobre Bill e fiquei admirando a vista da janela. A viagem de trem pra Roma é uma das minhas preferidas. Vê-se de tudo: cavalos no "quintal" de galpões, carneirinhos pastando, cachorros pastores, casas lindas e imensas, casas horrorosas amontoadas praticamente de cara pra linha do trem, roupas nos varais, bosques, outros trens, carrões de luxo estacionados em frente a casas que caem aos pedaços, pinheiros alinhadinhos no topo de colinas. Gradualmente fomos abandonando a neblina invernal da Umbria, e quando cheguei a Roma o céu estava aberto.

Eu tinha combinado com a Julie que se chegasse em Roma e o tempo estivesse uma titica eu esperaria por ela lá mesmo, lendo meu livrinho, mas com o céu azulzinho não tive outra alternativa: saí perambulando pelas ruas, e marquei de encontrar a Julie na Piazza Barberini. Eu nunca faço o mesmo percurso quando vou a pé da estação ao centro (eu SEMPRE vou a pé da estação ao centro), e hoje não foi diferente: poderia ter chegado à Barberini rapidinho, mas, depois de uma perambulada na estação pra ver as vitrines, embiquei na Via Cavour e dei uma volta desgraçada, virando aqui e ali, seguindo o meu péssimo instinto de orientação e fuçando ruelas e escadarias. Virei na Via degli Annibali e dei de cara com o Coliseu. Peguei a Via dei Fori Imperiali, passei em frente ao Foro Romano assim como quem não quer nada (cês tão entendendo direito o que eu tô falando? PASSEI EM FRENTE AO FORO ROMANO, DEI DE CARA COM O COLISEU, ETC ETC. Roma é realmente tudo na vida.), caí naquele furdúncio da Piazza Venezia, peguei a inevitável Via del Corso, entrei na nova Galleria Esqueci o Nome bem na hora em que tavam abrindo a Zara e a galera que tava esperando na porta entrou estourando boiada, saí da Galleria e depois do Palazzo Chigi virei na Via del Tritone, que subi até chegar à Barberini. Não sei como a Julie me viu e reconheceu lá da casa do chapéu, deu tchauzinho e lá fui eu encontrar mãe e filha. Eu trouxe pra Camila um exemplar do Gênio do Crime que comprei no Rio em novembro passado e tava só esperando uma oportunidade de dar o presente. Espero que ela goste. As duas são muito simpáticas e é muito engraçado ouvir a Camila falando português com sotaque baiano e italiano com sotaque napolitano :) Dali descemos toda a Tritone de novo, passamos por trás da Piazza Colonna e de Montecitorio, ali pela zona do Pantheon, e fomos pegar sol sentadinhas na Piazza Navona. Batemos papo até a Ane ligar: estava estacionando o carro lá na casa do chapéu, e dali a meia hora deveríamos nos encontrar com ela em frente à Zara da tal Galleria. Voltamos tudo de novo até a Via del Corso e entramos na galeria, que é linda, pra esperar Ane e companhia.

Quando finalmente chegou, quase tive dois trecos: primeiro porque eu gosto MUITO da Ane e do Alfredo e tenho uma imensa admiração por ambos; segundo porque a Isabella é a coisa mais fofa simpática e sorridente desse planeta. Você olha pra cara dela e ela ri. Você faz careta e ela ri. Você mexe qualquer parte do seu corpo sem um propósito específico e ela ri. E ri franzindo o nariiiiiiiiiiiiiiiiiiz! Sabe criança que você quer morder de tão gostosa? Ecco.
Dali caminhamos mais um pedaço de volta à zona Pantheon, pra catar o restaurante que o Alfredo tinha reservado pro almoço, seguindo uma dica de um amigo. Chama-se, se não me engano, La Tavernetta, fica na Via degli Spagnoli (uma ruazinha insignificantemente linda perto da Piazza delle Coppelle) e é administrada por brasileiras. Pagamos dez euros por cabeça e comemos um primo e um secondo (o menu é bem limitado, lógico, mas tudo dá vontade de comer), bebemos água e vinho. Nada de extraordinário, mas honesto. Dali voltamos ao Pantheon pra encontrar outras duas primas da Julie, voltamos ao restaurante pra elas almoçarem, voltamos ao Pantheon pra catar a Gelateria della Palma (na Via della Maddalena), que faz uns sorvetes divinos e onde eu SEMPRE vou pra tomar sorvete de maracujá, de novo ao Pantheon pra reencontrar a família da Julie, e de lá a pé pro Coliseu, que elas ainda não tinham visto. Quando eu cheguei, bem cedo, não tinha nada de especial nas ruas, mas àquela hora da tarde já havia vários tapumes montados pra Maratona di Roma do dia seguinte. Fui batendo papo com o Alfredo e desviando dos tapumes e dos turistas. No Coliseu nos despedimos, e voltei a pé pra estação, sempre pela Via Cavour porque meu trem saía dali a meia hora e eu não podia me dar ao luxo de me perder, embora a vontade fosse grande. Àquela altura do campeonato meus pés também já tavam digamos pedindo arrego, e, agradecida a mim mesma por ter saído de casa com a mochila praticamente vazia, foi com grande prazer que sentei na minha poltrona do Eurostar (não tinha trem de pobre naquele horário) e continuei com o Bryson. Eurostar não é Eurostar se não atrasa; cheguei em Foligno com três minutos de atraso, e o trem da conexão pra Perugia estava só nos esperando. Em vinte minutos estava em Bastia. Mais cinco minutos de carro e cheguei em casa.

Felizmente Marco e Michela tinham desistido de jantar fora, porque eu não teria agüentado não. Eu AMO passear a pé em Roma e o dia foi maravilhoso, mas muito cansativo. E vou fazer uma pequena confissão aqui: eu prefiro perambular em Roma sozinha. Não sei por qual motivo, mas não gosto de dividi-la com ninguém. Tudo bem que eu caminho rápido demais e detesto esperar gente lenta, mas não é só isso. Gosto de passar horas quietinha, sem trocar uma palavra com ninguém, só observando e cheirando e ouvindo e pensando. Amo.

Postado por leticia em 21:02

24.03.06

fante

Terminei Ask the Dust, do John Fante, mas, quer saber?, não me impressionou muito não. DETESTO personagens que fazem tudo errado sempre. Vou ficando irritada e não consigo ver mais nada no livro além de uma grande irritação. Também não sou muito chegada em malucos, então já viu. Mas enfim, é um livro que TEM que ler, então li. Missão cumprida.

Postado por leticia em 21:54

23.03.06

i cavalli

Os cavalos me reconheceram hoje :) Quando desci do carro vieram todos na minha direção. Não vi o potrinho, mas tive que entrar correndo no galpão pra dar aula porque cheguei em cima da hora. Quando saí, lá vieram eles de novo pra perto de mim. Estou eu distribuindo as maçãs quando sinto um bafo no meu braço. Era o potrinho, que não sei como tinha conseguido fugir da cerca! Tinha uma feridinha pequena na lateral direita do pescoço, sem dúvida por causa do arame farpado, e me olhava com aqueles olhinhos tristes e assustados de quem não conhece nada de bom nessa vida. Dei-lhe uma maçã pequena que ele pegou com os dentes, mas sem saber bem o que fazer com ela, ficou lá, com a fruta presa na boca, os beiços arreganhados, sem ir nem vir. Acabei cortando a bichinha em pedaços e só assim ele comeu. Depois coçou a coxa no meu carro. Fiz muito carinho nele, que no início se assustou mas depois curtiu.

A cada dia que passa mais eu tenho vontade de virar vegetariana.

Postado por leticia em 22:52

22.03.06

:)

Por uma feliz coincidência de cancelamento de aulas, consegui passar o dia inteiro na faculdade hoje. No total, sete horas de aula, obá! De manhã, inglês com aquela louca desvairada, que, fora alguns assassinatos fonéticos, fala muito bem. Mas é louca, então não conta. Eu tinha levado meu almoço, como sempre, mas como fiquei depois da aula corrigindo deveres de inglês dos colegas, que a maluca manda fazer mas NUNCA corrige, acabou ficando tarde e fui convidada pra almoçar na mensa (o bandejão) pela Giorgia, felizmente o único exemplar perugino da turma. Acabamos dividindo a mesa com o Ioannes, o tal grego que tinha me aconselhado a colar na prova de Linguistica Generale, e que usa aquela faixa no cabelo que nem jogador de futebol argentino. Vou dizer uma coisa, não comi nada mal (tortiglioni, que é um tipo de macarrão que eu e o Mirco odiamos, com molho de tomate bem gostosinho; mais uma porção de batatas fritas meio murchas mas OK, mais pão que levei pra casa e mais maçã e mais água) e paguei míseros 1,80 euros. Eu teria direito à carteirinha pra comer de graça, porque sou pobre, mas não tenho tempo de passar na agência pra pegar e como não assisto às aulas mesmo, o bandejão não me serve.

Depois do almoço, direto pra aula de Linguaggio della Devianza, que basicamente estuda a criminalidade organizada ou não. A professora é uma criminóloga toscana (todos os nossos melhores professores são toscanos) gordinha, com voz firme e claramente pulso idem. O assunto foi máfia; duas horas de máfia, desmascarando mitos e esclarecendo coisas – as bolsas Gucci falsificadas que se encontram em todo camelô senegalês de qualquer grande cidade italiana são fabricadas, e muito bem fabricadas, em estruturas pertencentes às diversas organizações mafiosas do sul da Itália. São tão bem feitas que a Guardia di Finanza já encontrou várias vezes bolsas falsificadas nas lojas originais – nem os próprios gerentes das lojas, habituados a lidar com os produtos originais, reconheciam a diferença. As fábricas ficam no sul do país, lógico, e são especializadíssimas. O comércio ilegal organizado pela máfia é todo bem compartimentalizado: senegaleses não se envolvem com drogas, então vendem bolsas falsificadas. Com os chineses ninguém consegue se misturar (muito menos compreender). A "importação" de imigrantes ilegais é quase sempre uma atividade mafiosa, assim como a especulação imobiliária. o desembarque das tropas americanas na Sicília na Segunda Guerra só foi possível porque os chefes mafiosos deixaram. Foram duas horas muito interessantes.

E à tarde tivemos três horas de Teorie e Tecniche di Comunicazione di Massa, com a jovem professora toscana que fala rápido e deixa os meus colegas desesperados e revoltados, ho ho ho. Falou-se de Matrix pra ilustrar o fato de que hoje só sabemos do mundo o que a mídia nos diz, que não é tão fácil distinguir realidade de ficção, etc. Falou-se da versão italiana de The Nanny, que rebatizou a Fran como Francesca e lhe deu uma origem ciociara, uma coisa meio Sophia Loren, meio vulgar, meio desbocada, pra permitir que os espectadores italianos achassem graça na coisa, já que por aqui ninguém sabe nada da cultura judaica e piada de judeu não existe. Também foi interessante, mas perdi os últimos dez minutos, porque tive que sair correndo pra dar aula pro arquiteto, aquele do cachorro preto.

Mas eu adoro dias assim. Vou dormir com o cérebro devidamente exercitado e devidamente agradecido.

Postado por leticia em 22:36

21.03.06

opá

Estou eu indo tranqüilamente pra faculdade, pra assistir à aula de sociologia, quando escuto, já nas redondezas do estacionamento, um ploft. E depois do ploft um barulho de coisa metálica se arrastando no asfalto – namely o meu cano de escapamento. Sorte que deu pra estacionar e assistir à aula normalmente; no intervalo liguei pro Mirco, e depois da aula ele veio com o Moreno e várias ferramentas pra dar uma olhada. O escapamento simplesmente explodiu, o que não é surpreendente, considerando a qualidade do asfalto de todas as estradas de todos os percursos que eu faço rotineiramente. Pra ir a Ponte San Giovanni (à livraria ou ao Ipercoop) todo mundo dirige na esquerda, porque a pista da direita de toda a estradinha que atravessa a cidadezinha de Collestrada é uma sucessão infinita de crateras lunares. Quando vou de scooter pulo feito um cabrito. Pra ir pra Foligno, idem; a superstrada anda detonadíssima na pista da direita, onde rodam os caminhões. As ruazinhas por trás da Coop de Foligno, por onde passo pra evitar dar uma volta enorme no caminho pra escola, são esburacadérrimas e tem um buraco em especial que eu JAMAIS consigo evitar no caminho de volta pra casa, à noite (cês sabem que eu não enxergo nada à noite), e o barulho que o carro faz quando passa por ele é assustador.

Então foi isso, a descarga bateu em alguma coisa e estourou. Mirco desmontou a bichinha e voltou pra casa com o carro fazendo o maior barulhão. Deixou o Volvo comigo e lá fui eu pra Foligno ouvindo Loreena McKennitt :)

Postado por leticia em 23:19

20.03.06

saco cheio

Esse clima britânico JÁ ENCHEU OS COLHÕES. Não pára de chover e fazer frio há semanas e ninguém agüenta mais, tá todo mundo deprimido e doente e sem saco e sem conseguir se concentrar. PORREEEEEEEEEE!

Meno male que hoje tem o terceiro episódio de Lost.

Postado por leticia em 07:39

19.03.06

la stalla

E à noite jantamos, como sempre, com Marco e Michela. Não sabíamos aonde ir, e eu sugeri o La Stalla (literalmente, O Estábulo), lugar do qual já tinha ouvido muito mas que eu não conhecia. Fica no que era efetivamente o estábulo de um grande casolare antiguérrimo na subida pra Assis. Na casona funciona um hotel, e o La Stalla é o restaurante do hotel. O menu é totalmente típico e rústico e eles são famosos pela torta al testo assada nas cinzas, como naquele pé-sujo de Gubbio aonde fomos com a Roberta na Festa dei Ceri do ano passado. O pessoal aceitou a sugestão e fomo-nos.

O lugar era realmente uma estrebaria, socorro. No meio da sala principal, a "churrasqueira" gigante onde antigamente funcionava a lareira monstruosa, daquelas nas quais você pode entrar e sentar em meio ao fogo, se quiser. Por sorte nos colocaram numa sala lateral onde não fomos defumados e com um pouco mais de calma pro bebê Alessandro. A comida demorou um pouco pra chegar, mas quando chegou... Eu pedi uma torta com prosciutto logo de cara. Normalmente não gosto do prosciutto sem queijo, mas pedi como prato principal um formaggio al coccio, ou queijo na tigela de barro: gruyère (que aqui chamam groviera), caciotta, fontina e scamorza, todos queijos que eu amo, derretidos juntos com uma colherada de vinho branco na tigela de barro, na brasa. Acabou que veio a torta antes e eu acabei comendo sem queijo, mas olha, vou te dizer, tanto a torta quanto o prosciutto tavam DI-VI-NOS. O queijo chegou com o acompanhamento de uma batata assada nas cinzas, coisa de louco. E de sobremesa, porque eu não sou de ferro, um creme de café feito lá mesmo, maravilhoso. Os meninos comeram carne na brasa e se fartaram. As lingüiças tavam com uma cara ótima mesmo. Ninguém comeu massa porque todo mundo come na casa da sogra no almoço e quando tem tagliatelle fatte in casa todo mundo acaba repetindo, então no jantar tem que se controlar um pouquinho. Mas gostamos do lugar e vamos voltar. Na próxima vez vou pedir um primo. As receitas são todas supernormais – carbonara, ragù, gnocchi com abobrinha – mas se tudo é feito lá mesmo e não industrializado, deve ser o ó.

Postado por leticia em 23:11

Hoje à tarde fomos ver The Constant Gardener. Gostamos muito. Os saltos cronológicos no roteiro não comprometem, os flashbacks são compreensíveis, a história é interessante, o visual é bonito, a mão do diretor é visível. Gostamos do resultado final, de verdade.

Postado por leticia em 23:00

18.03.06

passeio

Aproveitamos que não tava chovendo e, apesar do ventinho gelado, fomos levar Leguinho e Demo pra passear em Santa Maria. Como gostamos de andar a pé! E como os cachorros são bobos e passeiam todos orgulhosos! Leguinho obedece e não puxa a coleira, mas o Demo não foi acostumado e pula o tempo todo, se enrola nas minhas pernas, responde às provocações de microcães chatos, um porre. Mas ele é tão bonzinho que sempre o levamos junto, apesar da encheção de saco que ele às vezes é.

Postado por leticia em 22:14

17.03.06

elezioni 2006

No início de abril vamos ter eleições políticas aqui (as eleições administrativas são pra prefeito e, acho, presidente de região), pra escolher outro presidente do conselho de ministros e senadores. Então não se fala de outra coisa na televisão.

O lance é que aqui tem a lei da par conditio, ou seja, todos os candidatos têm direito à mesma exposição nos meios de comunicação. Tudo em teoria, lógico, porque em um país onde o Presidente do Conselho é dono dos três canais privados, tudo isso não tem o menor sentido. Em qualquer hora do dia ou da noite você liga a TV e em algum lugar vai dar de cara com o cabeção careca e bronzeado artificialmente do Cavaliere. Na terça-feira teve debate entre o carecão e o Prodi, da esquerda, de quem na verdade eu não desgosto: é um homem incrivelmente culto e inteligente, inseridíssimo no contexto da Comunidade Européia (já foi presidente da Comissão), e com idéias bem claras do futuro que a Itália pode ter dentro da Europa. Rifkin, aliás, cita muitas frases dele no seu livro. Mas a Bota nunca viu outro comunicador tão hábil quanto o Berlusca, e tenho muito medo da sua reeleição, porque as pessoas ainda têm medo de comunista por aqui e a probabilidade de neguinho votar no Berlusconi pra não votar nos "comunistas" é real. Eu não vi o debate porque só de olhar pra cara do Berlusconi eu tenho vontade de vomitar, mas pelo que ouvi parece que o Prodi, que não fala como político, ou seja, é rápido, sucinto e direto, levou a melhor. Utilizou-se o sistema americano, com tempo limitado pra responder às perguntas, e é lógico que quem tem que enrolar, apresentando dados falsos sobre número de novos empregos, aumento da produtividade, redução dos gastos públicos, e estatísticas inventadas em geral, precisa de mais do que dois minutos. No final parece que Prodi conseguiu falar dos seus planos futuros pra Itália, DENTRO DA COMUNIDADE EUROPÉIA, enquanto que o Berlusca só conseguiu mostrar esses dados ridículos, falar mal da esquerda em geral e desmentir o que o Prodi dizia, e insistir sobre a grandeza da Itália, o valor do made in Italy (aqui se fala tanto disso que eu já enjoei), etc etc. Como se Prada e Gucci pudessem ser consideradas indústrias de grande porte, sabe.

O pior é que tem muita gente que vota no Berlusconi porque ele é um grande empreendedor. Não há dúvidas de que o seja, apesar dos meios altamente suspeitos que usa pra chegar aos fins, porque hoje não é mais possível construir grandes fortunas em tão pouco tempo sem ter todos os duzentos rabos presos. Mas isso não significa, muito pelo contrário, que ele seja um bom líder político. Um homem com aquela cara bronzeada artificialmente, aquele sorriso falso, aquelas palavras retorcidas, aquela retórica engana-pamonha, e o passado de leis salva-rabo que ele aprovou não merece minha confiança nem se tiver que lhe perguntar que horas são. Mas tem gente que cai na armadilha, porque admira o grande homem. Como se todo self-made man envolvido com a máfia fosse automaticamente um bom líder.

Eu tenho nojo.

Postado por leticia em 21:34

16.03.06

os cavalos

Hoje fui dar aula em uma empresa na zona industrial de Foligno. Em frente ao galpão tem um pedaço de campo, cercado com arame farpado, onde vivem uns seis cavalos, com um potrinho. Nem uma casinha pra eles, nem um tetinho, nada. Um frio do cacete, chuva sem parar (porque chove há semanas aqui e ninguém agüenta mais), e os cavalos todos em pé um juntinho do outro pra se esquentar, tremendo de frio. Ontem os vi pela primeira vez, mas o tempo tava bonito, não tava muito frio, e nem reparei que eles não tinham abrigo. Hoje trouxe dois quilos de maçãs pra dar a eles e quase morri de pena quando os vi sob a chuva daquele jeito. Chorei muito à noite, principalmente porque fiquei sabendo que eles são cavalos de abate, pra virar carne, o que obviamente não justifica o tratamento dado a eles, e que pertencem a um filho da puta de Foligno famoso por maltratar seus animais. Como tem vários ganchos na máfia, nunca lhe aconteceu nada, apesar das infinitas denúncias e abaixo-assinados. Passei a tarde inteira numa angústia tremenda, sem saber o que fazer ou com quem falar, chorei muito em casa à noite e não conseguia parar de pensar nos bichinhos. Amanhã vou ligar pro Spartaco, que trabalhou com a WWF por um período, pra ver o que podemos fazer. O que eu faria com um homem desses, que maltrata animais e polui o solo com óleo dos carros velhos acumulados no seu quintal? Eu o amarraria a um dos seus pobres cavalos e o arrastaria no asfalto até virar carne moída. Juro. Pra mim pena de morte é só pra quem maltrata bicho, velho e criança. Pena de morte, com requintes de crueldade.

Postado por leticia em 22:21

15.03.06

Os efeitos dessa stepação toda dia sim e dia não são basicamente dois: uma parte da celulite está indo embora e sendo substituída por musculinhos durinhos que eu não lembrava mais que tinha, e meus joelhos estão mais detonados do que joelho de jogador de futebol. Não vejo a hora dessa merda de tempo melhorar de vez pra eu poder botar o nariz pra fora e caminhar, correr, sei lá, pelo menos pra alternar com o step. Bosta.

Mas a primavera está pra chegar, eu sei, apesar da neve no país inteiro. Porque os três sinais cardinais já começaram a dar o ar da graça: semana passada uma mosca entrou aqui em casa, anteontem achei um percevejo morto fresquinho em cima da máquina de lavar roupa, e, mais importante porque pontualíssimo, meu cactus querido começou a espichar botõezinhos cor-de-rosa. São as primeiras flores aqui de casa, todo ano. Bom :)

Postado por leticia em 13:06

14.03.06

step by step

Fiz 45 minutos de step hoje de manhã, vendo Priscilla the Queen of Desert. Compramos o DVD porque eu amo esse filme e o Mirco ama as paisagens australianas. É uma das coisas mais divertidas que eu já vi, o visual é es-pe-ta-cu-lar, e, cá pra nós, o Guy Pearce é um pedaço de mau caminho até quando faz papel de viado com batom azul e avestruz na cabeça dançando Ce Ce Penniston.

Postado por leticia em 22:25

13.03.06

o cavaliere ataca novamente

As notícias da semana são duas:

Uma, já meio velha, é o sumiço do pequeno Tommaso, de 18 meses, um menino epilético que foi seqüestrado da casa dos pais na semana passada, depois de um presumível assalto em casa. Ninguém consegue descobrir por que diabos o garoto foi seqüestrado, já que a família não é rica, e o país inteiro – Papa, jogadores de futebol, os imbecis do Festival di Sanremo que felizmente passou voando e eu não vi (ganhou uma música que faz barulho de pombo, juro, procurem no google), apresentadores mil – está implorando pra devolverem o menino, que precisa de anticonvulsivantes duas vezes por dia pra não ter crises. O problema é que encontraram em um porão da casa um computador do pai, com fotos pedopornográficas dentro. E um diário da mulher, que um dia escreveu: meu marido gosta de ver crianças peladas. Ô país pra ter histórias cabeludas!

A outra foi o desfeite que o Berlusca deu numa jornalista durante uma entrevista. ANTES QUE ALGUM CHATONILDO DE PLANTÃO PARENTE DOS BRASILEIROS CHATINHOS QUE MORAM NA ALEMANHA E SE ACHAM OOOOOS ALEMÃES VENHA ENCHER O MEU SACO: eu NÃO vi a famosa entrevista e só fiquei sabendo o que os telejornais contaram, muito parcialmente, como sempre. Minha opinião é completamente parcial porque eu abomino o Cavaliere, como qualquer outra pessoa de bom senso. O que eu vi na TV foi o careca dizendo pra jornalista "deixa eu falar senão vou embora", ela meio que interrompendo mas nada de grave porque todo italiano só sabe falar gritando e interrompendo, ele se levantando e dando a mão à jornalista e dizendo a senhora deveria se envergonhar, e depois a frase-chavão de todo político idiota, "a senhora acabou de demonstrar como é uma pessoa da esquerda".

Conhecendo o seu Berlusca como nós conhecemos, o que eu imagino que aconteceu é o seguinte: ela deve ter feito alguma pergunta cabeluda, e ele, usando a tática milenar dos políticos filhos da puta, retorceu e revirou e respondeu o que ele quis usando estatísticas a seu favor mas que nada tinham a ver com o que tinha sido perguntado. Ela deve ter interrompido pra dizer que não era isso o que ela tinha perguntado, ele fingiu ficar ofendidinho e se mandou, deixando no ar aquela frase feita tipo Grissom. Só pode ter sido isso. Alguém que tenha visto a entrevista sabe me explicar melhor o que aconteceu?

Postado por leticia em 22:50

12.03.06

funerais, filmes e jantares

Tivemos um funeral hoje, do pai do Lello (apelido de Antonello), amigo meio afastado do Mirco. O Lello é um cara legal mas MOITO estranho e com fortes tendências de Elesbão não tem amigos. O pai tinha câncer há muito tempo e há semanas estava firme e forte na morfina.

Depois da cerimônia na igreja ridícula de San Vitale, em Viole di Assisi, não fomos ao cemitério. Passamos pra pegar o Moreno em casa e fomos pra Perugia ver Wallace and Gromit. Sinceramente, esperava coisa melhor. Talvez a dublagem também não ajude, sei lá.

Mas pra dar uma alegrada fomos jantar no Sparafucile, em Foligno. Adoramos comer lá porque a comida é bem tradicional umbra, vemos a cozinha de perto como se estivéssemos jantando na casa de um amigo, e o preço é honesto. O menu:

Antipasti: uma fatia de queijo de cabra meio mofado DELICIOSO, pedacinhos de focaccia de alecrim feita em casa com azeite cru, cebola assada com farinha de rosca polvilhada por cima, salmão defumado, alcachofras no azeite com hortelã, omeletinha de verdura.

Uma porção muito pequena de feijão branco tipo canellini ligeiramente picante, um manjar dos deuses.

Uma porção muito pequena de frascarelli (tipo um minimacarrão sem ovo na massa) cozido na lentilha com um fio de azeite por cima, de comer chorando.

Tagliatelle de brócolis com pedacinhos de lula, ótimas.

Um filé pequeno na brasa, ao ponto, com batatas assadas no forno com alecrim.

Um petit gateau de chocolate com sorvete, tudo feito ali mesmo (vimos as meninas preparando o sorvete pro dia seguinte).

Tudo isso regado a um Rosso di Montefalco de uma cantina que não conhecíamos, e que eu fiz a mongolice de derramar bem no forro do meu casaco delicioso da Sisley. É mole ou quer mais?

Postado por leticia em 23:41

11.03.06

boh!

Passei o dia inteiro em casa sem fazer la-da. Sabe o que é nada? Mirco trabalhou o dia inteiro e eu fiquei em casa rodando pra cima e pra baixo sem fazer nada. Tinha feito faxina ontem à tarde, porque cheguei cedo em casa, e hoje não tinha nada pra fazer. Quer dizer, tinha; passei roupa e dei uma geral na sala, mas depois poderia estudado. Mas não conseguia me concentrar nem pra ler (estou lendo um Roth, The Ghost Writer, que não está me entusiasmando muito não), quanto menos pra escrever, então não fiz nada. Deixei a televisão ligada e fiquei pensando na morte da bezerra, deitada no sofá.

Fazer nada de vez em quando é absolutamente crucial.

Postado por leticia em 22:34

10.03.06

ugh

Então ontem à noite ligamos a TV no Bruno Vespa, aquele nojo, e demos de cara com aquela vaca da Alessandra Mussolini (sim, a neta do Duce), de minissaia e botinha até o joelho, combinando direitinho com o batom rosa-paquita e o cabelo Farrah Fawcett, discutindo acaloradamente com Victoria Luxuria, que obviamente é uma transexual. Com MOOOOOOOITO mais classe que a Mussolini, LÓ-GI-CO. Enquanto a vaca loura falava por cima do que a Luxuria dizia, repetia os mesmos argumentos idiotas de quem não tem argumentos, e ofendia todas as bichas do mundo, fazendo careta de "cruzes, que diabos será isso" quando Luxuria falava em gays, lésbicas e transgender, a Luxuria, de terninho e camisa social branca, cabelos recatadamente presos e maquiagem light, veio documentadíssima. Leu trechos de discurtos demagógicos da Mussolini dizendo, feito o Papa, que amor não tem sexo, que todo mundo sabe dar carinho independentemente da escolha sexual, e todas aquelas coisas que todo mundo diz quando quer se fazer passar por bonzinho. Luxuria deitou e rolou na maior classe, lendo o que a Mussolini tinha escrito pra rebater todos os comentários da vaca loura contra gays etc. Teria sido muito divertido se não se tratasse de um assunto tão sério quanto o casamento gay (assunto sobre o qual não tenho opinião formada, diga-se de passagem e com muita honestidade). Acabei me sentindo envergonhada pela Mussolini, sabe, quando a gente se envergonha pelos outros?, porque, please, uma candidata a qualquer cargo importante NÃO PODE aparecer de minissaia e botinhas e batom rosa-paquita e cabelo Farrah Fawcett na televisão, não podeeeeeeee, e acabei desligando a televisão.

Mas a Victoria Luxuria ganhou de lavada. Até porque a Mussolini, acusada de fascismo, se saiu com essa: meglio fascista che froci, literalmente melhor facista que bicha.

Postado por leticia em 22:31

09.03.06

pizza boa

Toda vez que como a pizza 1822 no Penny Lane, nossa pizzaria preferida, eu penso em como gostaria que as pessoas viessem aqui me visitar. Porque eu quero compartilhar essas coisas com todo mundo, sabe. Pizza di speck (tipo um presunto cru defumado), scamorza (um queijo levemente defumado, primo distante do provolone) e milho, uma diliça. Outra que eu também amo é a Teddy Boy, com batata ralada fininha, lingüiça e alecrim. Tem a Revolver, com salaminho picante. Rapaz, tem muita pizza boa, e eu fico sempre imaginando a Hunka iria adorar essa, o Tuco iria ficar louco com essa, etc.

Venham, dahlings. Please.

Postado por leticia em 23:23

08.03.06

weirdo

Fui à aula de inglês na faculdade hoje, pra ver o que rolava. A professora é maluca e isso todo mundo sabe há anos, mas eu queria saber o quão maluca. Então fui.

Acabou que me diverti. A mulher é completamente doida mesmo, e a base laranja mal aplicada ao redor do rosto, acabando no meio do queixo, não ajuda, mas pelo menos ela fala inglês direito. Falou umas duas besteiras fonéticas, mas no bojo correu tudo bem. Só que ela, sendo doida, não segue nenhum roteiro de aula: sai vomitando informações completamente não-relacionadas entre si, palavras das quais ela vai se lembrando à medida em que avança com a aula, pergunta coisas sem pé nem cabeça pros alunos. Coitadas das meninas, estavam quase arrancando os cabelos porque não entendiam coisa nenhuma. E eu resolvi não criar caso com a mulher; avisei que não posso freqüentar as aulas mas não disse que é porque ensino inglês, peguei as apostilas que ela deu (e que já xeroquei e deixei na escola pros meus alunos mais avançados) e fingi que fazia anotações. E tomara que ela não implique comigo, porque realmente eu não tenho saco pra discutir com gente doida.

Postado por leticia em 22:18

07.03.06

bella giornata!

Ontem começou o segundo semestre do primeiro ano. Tendo aula a tarde toda na escola, não consegui ir à primeira aula de Sociologia, mas hoje de manhã fui. Fui de carro porque depois tinha que sair correndo pra Foligno porque tinha aula em Cascia. Assim que estacionei o carro começou a cair uma neve, mas uma neve, com um vento miserável, que parecia até que estávamos, sei lá, na Sibéria. Neguinho na rua sendo arrastado pelo guarda-chuva aberto, a neve acumulando na roupa, na cabeça, nos carros, um fim do mundo! Da janela da sala de aula via-se um palmo de neve acumulada nos telhados, e nada de parar de nevar. E eu rezando pra não parar mesmo, porque queria assistir também à aula da tarde, de Teorie e Tecniche di Comunicazione di Massa.

A aula de Sociologia foi legal. O professor é novinho e cabeludo (até o ano passado era professor-assistente) e explica muito bem. Mas falou de várias coisas que não estão no manual, ou seja, vou precisar das anotações das minhas coleguinhas CDF Elisa e Ludovica pra complementar as aulas de segunda-feira que vou perder sempre. Mas dá pro gasto. Vai ter uma primeira prova em abril, escrita, só sobre essa chatice teórica, e a segunda prova, sobre aquela parte legal das novas sociedades orais e tecnológicas, vai ser em junho, junto com outros zilhões de provas que se acumularam pra mim porque não tive tempo de estudar pras de fevereiro. Se eu botar meu calendário de provas aqui vocês vão chorar comigo, juro.

No final das contas nevou em Cascia também, que é mais alta do que Perugia, e consegui assistir à aula da tarde porque quando neva lá pra cima é mais seguro não dar as caras, porque o risco de não conseguir descer a serra é real. A aula foi INTERESSANTÍSSIMA, e me corta o coração saber que nunca mais vou conseguir assistir a nenhuma. Caramba, como eu amo aprender coisas. O tema do dia foi a facilidade de filtrar as informações antes de repassá-las ao público, e vimos um filme feito por uma produtora independente mostrando como a queda da estátua do Saddam foi ridiculamente montada – eram uns gatos-pingados adolescentes que, parece, nem eram iraquianos, e que só obedeciam às ordens dos soldados americanos. Uma jornalista iraquiana, anti-Saddam, diga-se de passagem, disse que guerra contra os Estados Unidos é que nem um filme de Hollywood: todo mundo sabe quem é o mocinho e quem é o bandido e como a história vai terminar, mas a gente gosta de assistir assim mesmo. Ho ho ho.

E eu perdendo essas aulas :(

Postado por leticia em 22:04

06.03.06

begoninha

É ótimo ter a manhã livre, porque resolvo um milhão de coisas, mas assim já é demais. Se não trabalho, não ganho, e realmente não tô podendo, ainda mais com futuro apartamento pra mobiliar, né. Quem me salva é a Begonia, que sempre consigo enfiar nas minhas manhãs livres. Me divirto ensinando português, ela aprende rápido e é uma fonte inesgotável de satisfação pro professor, e ainda ganho bem. Magavilha.

Postado por leticia em 22:56

05.03.06

boh!

Fomos ver Proof com Mario e Maria Rita hoje à tarde. Ô filme estranho! Não posso dizer que não gostei, apesar da lentidão, mas também não posso dizer que gostei. Muito esquisito. Gwyneth Paltrow com aquela eterna cara sofrida de mulher que não come, Anthony Hopkins normal, Jake Gyllenhaal muito bom. A história é estranhíssima e fala de matemática, assunto que eu normalmente abomino mas é lógico que em um contexto assim diferente não é um problema. Saímos do cinema meio atordoados porque não sabíamos se tínhamos gostado ou não. Eu, hein.

Postado por leticia em 23:44

04.03.06

de Luca

Hoje de manhã li rapidinho o tal Tre Cavalli, de de Luca, que peguei na biblioteca. Achei chatão. Não gosto de frases curtas jogadas ali pra dar efeito. Não gosto de flashbacks desorganizados que você demora pra botar em ordem. Não gosto de personagens bizarros como esse jardineiro de 50 anos que se envolve com uma prostituta de 30 (estou sendo muito sintética, a história é estranha pacas). Não gostei de quase nada no livro; há alguns trechos brilhantes como conteúdo, mas não gostei da forma. Então não vou ler mais nada dele, já que a própria Bibliotecária Loura disse que todos os seus livros são estilisticamente parecidíssimos e ou você gosta ou não gosta (pelo grunhido que fez quando pedi o livro, ela está na segunda categoria).

Terminei de ler o livro correndo e parti pra faxina. Eu, hein.

Postado por leticia em 13:40

03.03.06

anta auditiva

Não tem coisa pior do que aula com aluno chato, putz grila.

Hoje substituí a Liese, que está no hospital, dando aula pra senhora Giuseppina, que fez a primeira aula comigo mas depois o horário ficou incompatível. Ela é professora e é muito, mas muito chata e metida – que nem a filha, que é aluna da escola há anos e vive sendo jogada de professor pra professor, porque ninguém a suporta.

O pior é que ela, sendo professora de italiano, acha que sabe tudo de gramática, e que o problema é "só" entender e ser entendida. Então eu deixo a gramática pra lá, porque ela não quer mesmo, e só faço os listenings de practical English do livro. Xeroco só as páginas que interessam, enfio a fita no som e vamos lá. O problema é que ela não entende LA-DA, nem o primeiro listening do primeiro livro. Tipo, o cara tá no avião e a aeromoça pergunta o que ele quer beber, e ele responde diet Coke, e nem isso ela entendeu – NEM COM A FOTO DO CARA COM UMA DIET COKE NA MÃO. Cacetes estrelados!!! Depois toca o telefone do cara, num restaurante, e ele, obviamente, responde Hello. Toquei a fita SETE vezes e ela não entendeu, e, o que é pior, nem deduziu, que ele estava dizendo Hello. "Pra mim não é Hello", disse, e eu respondi, é que ele pronuncia certo, enquanto que os italianos pronunciam "ellô". Putz, que aula comprida que não termina nunca!

Postado por leticia em 22:36

02.03.06

E hoje é aniversário da FeRnanda, que ainda não voltou do Brasil.

Postado por leticia em 07:26

01.03.06

Tô falando sério, poucas coisas na vida são mais gostosas do que uma focaccia de alecrim.

Postado por leticia em 08:29