considerações academico-ginasticais

Não sou uma esportista. Nunca fui. Mesmo quando estou fazendo um exercício do qual eu gosto, como Les Mills Combat ou spinning; mesmo lembrando de como me sinto bem depois do exercício, quando as endorfinas invadem a corrente sanguínea; mesmo sabendo que se eu não malhasse estaria mais gorda ainda; mesmo adorando sentir os músculos dos braços ficando mais fortes; mesmo curtindo a dor muscular do dia seguinte, quando mal consigo sentar pra fazer xixi ou levantar os braços pra prender o cabelo de tanto ferro que puxei; mesmo assim, se você me perguntar se eu preferiria estar fazendo outra coisa em vez de malhar, eu vou responder com duas páginas de coisas que considero mais aprazíveis. Mas não tem jeito, então eu malho.

As vantagens de se exercitar em casa são múltiplas. Primeiramente, não tem espelho. Segundo, malho na hora em que quiser (o que também é uma desvantagem, porque a tentação de deixar pra depois é muito grande). Terceiro, posso malhar de top e short (eu suo muito pouco, então MORRO de calor) em vez de bermuda e camiseta. Quarto, é muito mais barato. As desvantagens, bastante óbvias, são a necessidade de ter disciplina, a possibilidade de se machucar fazendo movimentos errados por não ter ninguém pra te corrigir (mas eu tenho ótima propriocepção e conhecimentos anatômicos razoáveis; nunca me machuquei), a ausência de socialização, que pra mim é a pior parte porque eu tenho meus momentos de eremita mas adoro bater papo.

Cheguei a frequentar academia na Itália, no meu primeiro ano lá. A academia mais famosa de Perugia, pertinho da estação de onde eu depois pegava o trem pra Santa Maria, dava desconto pra quem estudava na Università per Stranieri, e aproveitei por alguns meses. Depois nunca mais fiz, malho em casa desde então. Mas quando venho ao Rio me matriculo e vou pra academia, pra fazer coisas que em casa não posso ou não tenho saco – spinning, ioga, alongamento. Não faço step, que eu adoro, porque na minha filial não tem. E ainda não consegui fazer muay thai porque o horário é ruim pra mim, mas gostaria de pelo menos experimentar. O pessoal da Proforma é ótimo, as aulas são todas boas, os professores são uns a-mo-res, a estrutura é ótima. E até o ambiente de ratos de academia, que costuma irritar muita gente, me faz dar muitas risadas. Porque academia é que nem homem: é tudo igual, só muda o endereço, né. Os personagens se repetem num esquema praticamente shakespereano: tem o cara que urra a cada repetição na musculação, tem a piriguete que usa aqueles leotards medonhos da Kitanga, tem as velhas que MORAM na academia (normalmente fazem localizada, com caneleiras do peso de um rottweiler enroladas nos tornozelos), são íntimas dos professores e contam as repetições pra eles, tem os gordos que quando sobem na bicicleta os outros acham que vão pedalar dois minutos e cair estrebuchando no chão com insuficiência cardíaca mas que fazem tudo direitinho (essa sou eu), tem os adolescentes magrelos com a franja penteada pra frente que levantam pesos tamanho cotonete na esperança de ganhar corpo, tem os megamarombeiros que se alimentam praticamente de Amino 2222 e mais nada, tem velhos coroquérrimos que chegam se arrastando na academia mas todo dia estão cedinho lá puxando seus ferrinhos pra se manter de pé (na minha turma de spinning tem uma senhora de trocentos anos que vai de sapatilha especial pra spinning e pendura os oclinhos no guidon, botando-os nos olhos de vez em quando pra conferir o Polar; sensacional).

A fauna dos professores também segue um certo padrão: tem o professor que dá aula de localizada há anos pras mesmas velhas ressequidas e se comunica por código porque todo mundo já sabe a aula de cor, tem o pessoal da musculação que passa corrigindo os alunos que malham sozinhos e só falam de futebol, tem a personal que pariu anteontem e hoje já tá toda sequinha chicoteando a aluna que faz abdominal no BOSU, tem os entediados que ficam na sala de cardio sem fazer nada espiando as telas das alunas que fazem transport vendo Friends, tem sempre um professor velho destrambelhado ex-alguma coisa e grosseiro que dá a mesma aula há anos mas que todo mundo adora (no caso da minha academia, esse é o Juca, ex-professor de balé clássico que dá uma aula sem pé nem cabeça muito legal com um monte de exercícios de balé misturados com música francesa). Eu me divirto horrores e se deixar passo o dia na academia. Atualmente faço musculação cedo segundas, quartas e sextas, imediatamente seguida de spinning com o Fred, aula ótima com trilha sonora muito boa; às terças e quintas, spinning com o Fabão quando dá tempo, depois da natação da Carol, e ioga maravilhosa com a Bernadete seguida de alongamento mágico com a Lara à noite. Volto pra casa dormindo em pé de tão relaxada, e minha flexibilidade, que sempre foi boa, melhorou horrores. Só não perco peso, mas isso é um detalhe.

Mas as perguntas que não querem calar são: por que, ó céus, a pessoa entra na sala de spinning e vai direto sentar na ÚLTIMA bicicleta lá do fundo? Por que a pessoa passa a aula inteira no seu próprio ritmo, ignorando a música e as instruções do professor, e nunca volta pro banco? Se é pra fazer como lhe dá na telha, por que diabos não compra uma bicicleta e malha sozinha em casa? Por que, ó céus, ainda tem gente que insiste no maldito meião até o joelho? Por que, meldels, ainda tem mulher que malha de cabelo solto? (felizmente são poucas, pra ser sincera, mas me dão um nervoso indescritível). Por quê? Por quêeeeee?

2 ideias sobre “considerações academico-ginasticais

  1. Oi, Letícia!

    Depois de muitos anos acompanhando o seu blog, este é o meu primeiro comentário. Ficou longo pra caramba, foi mal aê.

    Moro na Alemanha e vejo personagens análogos aos seus colegas de malhação nas academias daqui. Já experimentei várias, das “low budget” até as mais sofisticadas. Não consegui me apegar a nenhuma. Detesto ser gorda, mas detesto ainda mais academias de ginástica. Prefiro fazer exercícios ao ar livre. Ou não fazê-los – é por isso que sou gorda.

    Nos meus breves e longínquos tempos de habituée, as figuras que mais me atormentavam nas academias eram os seres urrantes nos aparelhos de musculação, os velhos tarados e a galera do desodorante vencido (às vezes, num caso dramático de sobreposição de horrores, velhos tarados urrantes nos aparelhos de musculação com o desodorante vencido). Em uma das academias, o mais bizarro era quando me pediam para sorrir enquanto malhava (don’t ask). O grande mistério é para mim, entretanto, a mulherada que malha de maquiagem e jóias. Aquele meião horripilante não aportou por estas bandas, acho.

    Outra fonte de incômodo é que ainda não me acostumei com a nudez dos alemães (tanto em ambientes de lazer fechados, como academias ou saunas, bem como nos parques da cidade). No vestiário (e na piscina!) da academia, vi coisas que me traumatizaram mais que Freddy Krueger quando eu era pequena.

    Abraço,
    L.

    • Oi L., tudo bem?

      Cara, os fedorentos são realmente terríveis. Felizmente aqui no Brasil são espécimes raros, mas na Zoropa a coisa é endêmica.

      Esse negócio da nudez é mega questão de hábito, né? Minha cunhada morou anos na Holanda e vivia numa espécie de spa onde todo mundo passeava pelado pra lá e pra cá. Eu não vou num lugar desse nem sob ameaça de morte.

      Beijos e volte sempre!

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