de olimpíadas e paralimpíadas

Quem me segue (que termo mais idiota…) no Facebook tá careca de saber que eu sou tarada por eventos esportivos internacionais. Durante o resto do ano não tenho o menor interesse em esporte nenhum, mas há algo pra mim irresistível nesse murundu de bandeiras, nomes bizarros, caras diferentes. A TV fica ligada o dia inteiro e assisto a toda e qualquer partida, não importa a nacionalidade dos competidores.

Na verdade não sei explicar essa minha obsessão. Sou uma couch potato de carteirinha. Nasci sem a parte do cérebro responsável pela competitividade. Torço por todos, sempre, e fico tristíssima por quem perde, mesmo que tenha perdido pro Brasil. JAMAIS teria o sangue frio necessário pra participar de evento esportivo nenhum, sou péssima perdedora, se ganhasse choraria tanto que provavelmente desmaiaria, ficaria muda na hora de dar entrevistas, colapso total ao ouvir o hino brasileiro. Também não sou dessas pessoas que gostam de superar limites; adoro meus limites, somos amicíssimos, íntimos, e não tenho a menor intenção de tentar deixá-los pra trás. Quem me conhece bem sabe que a minha preguiça atinge níveis estratosféricos e se houvesse uma modalidade olímpica pra quem tem menos vontade de se mexer, eu ganharia de lavada. Então por que diabos eu gosto tanto dessas competições internacionais?

As Paralimpíadas, então, nem comento. Fico grudada na televisão, fascinada por esses super-heróis que fazem coisas inacreditáveis. Fazem-me morrer de vergonha da minha preguiça insuperável, mas masoquistamente continuo assistindo e pensando PUTA QUE O PARIU. Hoje estávamos vendo uma prova qualquer de natação, categoria Muito Fodidos, e a Carol perguntou, ao ver um atleta com os braços amputados logo abaixo dos ombros e pernas amputadas logo abaixo dos joelhos: “mas como aquele moço vai nadar se ele não tem braços nem pernas?”. Caralho, exclamou a princesinha; não sei, não sei. Mas o fato é que o fulano nadou, ondulando a coluna, e não só nadou como chegou na frente de um outro que tinha antebraços. Ontem vi a prova de salto em altura pra pessoas com uma das pernas amputadas: os atletas não usam prótese, saem pulando em uma perna só, tipo Saci, e saltam lindamente por cima da barra. Um dos competidores, um indiano feio pra dedéu, tinha as duas pernas, mas uma era inutilizável, com o pé virado pra trás ENFIADO NUM CHINELO DE DEDO. Pois ele estava lá competindo pelo seu país, atleta internacional, aplaudido pelo público que lotava o estádio.

E os atletas cegos? Uma nadadora ontem não foi avisada de que a parede da piscina estava chegando e deu uma mega cabeçada que deve ter doído pacas, mas ganhou a prova. Os corredores que voam, com uma das mãos ligada à mão do guia com uma cordinha, são espetaculares. Aliás, tomei uma simpatia gigante pelos guias dos corredores cegos. Imagina você preenchendo um formulário qualquer e no campo “profissão” você escreve “guia de corredores cegos”. Sensacional!

E os ciclistas? Céus, o que são aquelas pessoas VOANDO nas suas bicicletas modernosas no velódromo, sem uma perna, pedalando com uma perna só? Ou com uma prótese? Ou com os cotos dos antebraços apoiados no guidon? Ou com problemas graves de coordenação e com movimentos involuntários, como um chinês todo torto que ganhou uma prova e bateu um recorde? Que tal o ciclista espanhol que não tem uma perna e um braço DO MESMO LADO? Como diabo esse cara consegue manter o equilíbrio na bicicleta?

COMO ASSIM? De onde vem essa força de vontade dessas pessoas? O que é isso, gente? Tem pra vender? Porque eu tô precisando.

Minha nova ídala é a Ellie Simmonds, a nadadora inglesa com acondroplasia (nanismo) que é simpática, alegre, faladora e uma puta de uma atleta que dá cada sprint final de arrepiar os cabelos. E os nadadores brasileiros, todos, que simplesmente dão um show.

Aliás, uma coisa maravilhosa das Paralimpíadas é que as medalhas são melhor distribuídas do que nas Olimpíadas. Por algum motivo que não consigo imaginar, vários países fodidos mandam muitos atletas pra esse evento, incluindo o Brasil, que se não me engano ganhou mais medalhas nas Paralimpíadas em Pequim do que nas Olimpíadas. Ontem quem ganhou a medalha na tal prova de salto em altura com uma perna só foi um cara das Ilhas Fiji. O melhor time de vôlei sentado aparentemente é o Irã, e hoje vi um jogaço aço desse esporte – Alemanha e Egito. Egito! Quem já viu o Egito concorrer em alguma coisa? E a Turquia, time favorito pro basquete de cadeira de rodas masculino? Democracia total. Estou adorando. Me sentindo um cocô preguiçoso também, mas adorando. De repente até me animo a sair da fase couch potato e entrar pra uma academia. Talvez faça uma aula experimental de capoeira amanhã. E seja o que Darwin quiser.

5 ideias sobre “de olimpíadas e paralimpíadas

  1. -Quando assisto às competições paralímpicas (ô nomezinho feio) sinto-me a pior deficiente física e mental do planeta. Mas como já me considero caso perdido, o que me resta é aplaudir essa gente heróica e obstinada. Azar o meu que detesto suar e morar num lugar lindo (RJ), mas com um verãozinho de fazer inveja ao diabo. Vai correr um pouquinho para ver se você não some do mapa…

  2. Nem vou comentar da coragem, persistencia e dedicacao dos atletas paraolimpicos (paralimpicos? nao entendi a mudanca do termo). Inspirador. O que eu queria dizer mesmo e que me lembrei deste post quando vi uma senhora usando uma t-shirt com os seguintes dizeres hoje no supermercado: “I am sure I would be unstoppable… if I could only get started”. Go couch potatoes go!

  3. Infelizmente em países menos “prafrentex” a taxa de acidentes de trabalho e de trânsito é alta e com isso há muitos jovens deficientes, com isso a chance de sucesso nas paraolimpíadas aumenta.
    Um pouco triste que seja assim, ainda que não tire o mérito dos atletas.

    Eu acho que nossa competição de preguicite aguda e crônica vai ser pau a pau!

    • Sim, Alice, mas se já tem pouco dinheiro e incentivo pra esportes “normais”, como o pessoal com deficiência física arranja dinheiro pra treinar e participar? Claro que país fodido tem muito mais deficiente físico, mas estatisticamente os “normais” ainda são a maioria.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *