a reforma ortográfica

E visto que o post de ontem falava da língua como uma coisa Bela, vamos à minha opinião, que obviamente só interessa a mim mesma, sobre a reforma ortográfica.

Uma grande palhaçada.

Tudo bem que acentos complicam a vida tanto quanto o falecido ph de pharmácia. E isso quem lhes diz é uma pessoa louca por acentos, que os acha charmosérrimos e muito fáceis de usar. Apesar de absolutamente AMAR o trema, de achá-lo utilíssimo e ridiculamente fácil de usar, entendo que a tendência é ele sumir mesmo, pela dificuldade que a maioria das pessoas têm de usá-lo. Entendo que toda língua é uma coisa viva e blah blah blah. Minha pulga atrás da orelha com a reforma não é, acreditem, fruto de uma mente retrógrada que tem medo de mudanças.

O problema, COMO SEMPRE, é o motivo da reforma. Já martelei aqui um quagüilhão de vezes que pra mim uma coisa certa feita pelo motivo errado torna-se automaticamente menos certa. Todos os motivos por trás dessa reforma ortográfica são uma palhaçada, e portanto pra mim a reforma é uma palhaçada.

O lance é que não é por causa das diferenças ortográficas que há pouco escambo cultural entre os países de língua portuguesa. Não há porque não há; imagino que o motivo principal por trás disso seja a insignificância econômica dos países que falam a nossa língua, já que quem não tem riqueza não se impõe de nenhuma maneira, tanto menos culturalmente. Se a causa das escassas trocas não é a ortografia, então pra que diabos tentar uniformizá-la?

Pior: diferenças ortográficas são facilmente, instintivamente contornáveis. Até o Leguinho entenderia se eu dissesse pra ele “cadê a gatinha que você adoptou?” em vez de “cadê a gatinha que você adotou?”. As reais diferenças entre as variantes do português, no entanto, caem na categoria “não instintivamente contornáveis”, pois são de natureza gramatical (pensem nas mesóclises e no uso de estar + a + infinitivo em vez do nosso estar + gerúndio, que eu acho muito mais legal – sou totalmente gerundófila), de estilo (o português é bem mais formal do que o brasileiro, a começar pelo uso pomposo de títulos como Senhor Engenheiro etc) e principalmente de vocabulário (temos o famoso exemplo de “bicha”, que em Portugal quer dizer “fila”, mas há muitos e muitos outros completamente alienígenas). Nada disso será resolvido com a nova reforma ortográfica.

Então quer saber? Por enquanto vou continuar com meus tremas, que amo. Vou tentar me familiarizar com os novos não-acentos, o que será muito difícil. E depois vamos ver no que vai dar