a song of ice and fire

Esse ano foi de poucas leituras, por n motivos. Esse mês, assim como novembro, vem sendo de muito trabalho, mas como ando com insônia crônica, acordo às quatro ou cinco da manhã e em vez de adiantar o trabalho vou lá pra minha poltroninha da IKEA ler. Antes de sentar abro a persiana pra ver o dia nascer, ou não, já que com toda essa neblina distinguir o dia da noite é tão difícil quanto dizer se um pintinho é macho ou fêmea. Mas estou tergiversando.

Depois de muito relutar, porque detesto começar séries inacabadas e ficar sem saber o final, acabei atacando a saga do George R. R. Martin, GRRM pros fãs, chamada A Song of Ice and Fire. Fantasy, lógico. São váaaaarios livros eLormes que eu achei que durariam até o próximo sair, provavelmente no começo do ano que vem (digo provavelmente porque deveria ter saído em 2006). Só que os livros são unputdownable. Totalmente.

Não vou falar da história aqui; a Wikipedia tá aí pra isso. O que eu queria dizer é o seguinte. O cara não tem assim um estilo estiloso, sabe, não é um Guy Gavriel Kay que escreve coisas que você fica com vontade de chorar de tão lindas (ou de tanto ódio por não ser capaz de escrever assim tão bem), nem um David Eddings pre-Mallorean que faz você gargalhar histericamente em público. Não é um mago das palavras, ecco. Mas o que não há de emocionante em termos de forma/estética é mais que compensado pelo conteúdo. São trocentos plots e subplots interligados sem um buraco, sem nada fora do lugar, sem nada pendente, sem nada que fique sem explicação ou que não tenha sentido. Não tenho a MENOR idéia de como alguém consegue criar uma variedade tão grande de histórias interligadas sem ficar maluco. Haja fluxograma. O fato é que as histórias são muito, MUITO, MUITOOOOOOOOOOO boas. Altas intrigas palacianas, muuuuita política, muuuuita podridão, personagens “so poisonous they could eat the Borgias”, como disse um jornal. Cada capítulo é um POV (point of view, aprendam) de um personagem diferente, de modo que à medida em que a história avança a sua opinião sobre cada um deles vai mudando sensivelmente. Claro que há gente cruel porque é cruel e basta, mas a maioria é como todo mundo, faz cagadas às vezes, faz escolhas idiotas, é mal entendida, tem seus momentos de glória, graça e razão. Tudo é relativo, toda história tem tantas versões quantos são os participantes, não há verdades universais. A cada capítulo que acabava em um cliffhanger eu ficava com vontade de jogar o bicho pela janela de ódio de não saber como o episódio continuava. E eu sonhei com a história TODAS AS NOITES, durante TODO O TEMPO em que li os livros. Malditos.

Como nada é perfeito, vamos aos problemas.

1) Os mapas são uma bosta. Ou então é a descrição geográfica dele que não é boa, não decidi ainda. O fato é que todas as vezes que alguém falava de ir pra um lugar pra outro ou de um fato acontecendo em um tal lugar eu não tinha a menor idéia da distância em questão. DETESTO isso, primeiro porque eu não posso ver um mapa que fico toda assanhada, e segundo porque às vezes – muitas vezes – saber exatamente onde fica um tal lugar e quem são os vizinhos é importante pra história. Mas não consegui “entrar” no mundo, geograficamente falando. Todos esses livros enormes lidos e eu ainda não entendo nada de onde fica o quê.

2) Os nomes. Nomes pra mim são cruciais. Um personagem (ou lugar, ou espada, ou cavalo) pode ser muito maneiro e bem construído, mas se tiver um nome idiota não adianta que comigo não pega. Os nomes do GRRM não são idiotas, mas têm três problemas fundamentais: são muitos, são muito parecidos entre si (Raynald e Rynald, coisas assim) e muitos são variantes de nomes digamos “normais”. Então temos Jon, Catlyn, Rickard, Lysa, Jaime e outras aberrações da natureza.

3) Pra piorar, a quantidade incrível de personagens vem acompanhada de banners, cores, às vezes apelidos, filhos bastardos, antepassados famosos, castelos cujo nome nem sempre é o nome das famílias que vivem neles. É muito confuso. E como política é política em qualquer mundo, real ou inventado, as alianças entre as famílias nobres vivem mudando, e acompanhar tudo isso é de arrancar os cabelos. No final de cada livro há uma espécie de glossário (gigante, por sinal) com o emblema, uma breve história e os principais membros de cada família, mas não ajuda muito.

De qualquer forma, se você gosta desse tipo de literatura, LEIA. Esses três defeitos (que são opinião puramente pessoal minha, ça va sans dire) são totalmente atropelados pela qualidade da história que ele conta.

E vamos combinar que Jaime e Tyrion Lannister e Arya Stark – principalmente Arya Stark – são tipo assim os personagens mais maneiros do-mun-do. E que o conceito de The Wall e The Night Watch é muito, muito foda.

P.S.: Tem dragões também, êeeeeeeee! : ))))))))))