31.07.03

Conteudo, sempre eclético, do caixote

Conteudo, sempre eclético, do caixote que chegou anteontem da mamae na casa da Marta:

. 2 pacotes de banana passa
. 1 pacote de farofa pronta
. 1 pacote de farinha de mandioca Tipity (a melhor)
. 1 caixinha de geléia de mocotoh Arisco/Colombo
. 1 calça branca da Animale que eu amo e fiquei muito feliz porque ainda dah em mim
. 1 short branco da Chocolate (idem)
. 1 saia de camurça leeenda da Eclectic (nao cabe muito bem, mas cabe)
. 1 saia prateada com lantejoulas transparentes, DIVINA, da Animale (cabe!)
. 1 par de Havaianas verdes com bandeirinha do Brasil pro lanterneiro
. 1 pacote de feijao preto (que abriu dentro da caixa, claro)
. 1 pacote de feijao manteiga, que eu AMO, mas infelizmente nao sei fazer tao bem quanto a minha avo...
. 1 pacote de imitaçao de Perfex
. 2 escovas de dente
. 2 caixas de sabonetes Natura (erva-doce e manteiga de karité, maravilhosos, cheirosérrimos)
. 4 pastilhas Garoto
. 1 colher de pau que nao é de pau, mas de bambu
. 1 fita métrica

Postado por leticia em 10:12

30.07.03

Tem gente que é burrinha

Tem gente que é burrinha mermo, né. Semana passada morreu um pai de familia quando tava atravessando a linha do trem. O pé ficou preso e ele morreu esmigalhado pelo trem. Aih essa semana morrem duas irmas fazendo a merma cagada: atravessando a linha do trem pra ir onde onde onde? "Al mare". Vou te dizer...

Postado por leticia em 17:59

Meu cabelo, aquele que tinha

Meu cabelo, aquele que tinha sido cabelicidizado, jah estah lentamente voltando ao normal, ou pelo menos ao que é normal no caso da minha anormalissima cabeleira. Agora estou com a classica e amiga juba, mas nao juba de cachos, mas sim de madeixas em crise de identidade, que nao sabem se devem enrolar-se como sempre fizeram tao bem, ou se devem ficar esticadas e espichadas no melhor estilo espiga de milho. No bojo eu diria que tah tudo OK: o que eu economizo de shampoo, jah que o cabelo tah bem mais curto, eu gasto em cremes e oleos pra domar cabelo duro. Quando eles estao afogados em cremes e oleos se comportam melhor. Mas hoje estou me sentindo tao linda que vou até tirar foto 3x4. Aquelas catatonicas que eu fiz uns meses atras dao vontade de chorar.

***

Coisas a fazer assim que eu me mudar (ou coisas que preciso de endereço fixo pra fazer):
- Tirar a carteira de identidade
- Tirar carteira de motorista
- Fazer a carteirinha de desconto no supermercado
- Pagar o seguro do meu cachorro
- Mandar milhoes de cartas e pacotes e cartoes-postais soh pra receber resposta depois hahahahahah

Postado por leticia em 17:36

29.07.03

O tédio anda tao grande

O tédio anda tao grande que nao tenho nem saco nem assunto pra escrever. No momento me encontro bezuntada de filtro solar, sentada no escritoro debaixo do ventilador que nao ventila, espantando as moscas e distribuindo pesos de papel pela sala porque o vento que entra pelas duas janelas e duas portas leva tudo embora se a gente deixar. Lah fora nuvens começam a encobrir o sol; dizem que vai chover hoje à tarde. Sei que a chuva é necessaria, a seca anda feia aqui na peninsula, mas po, pelo menos espera pra chover depois das seis e meia da tarde, quando eu jah estiver em casa... ;)

Sabe falta de saco total e absoluta? Sou eu esses dias. Acho que é o calor. Uma coisa é o calor de pais quente, onde tudo que é loja e escritorio tem ar-condicionado. Mas aqui nem ventilador direito tem, pra dormir soh com muita preparaçao psicologica. Nao tenho saco mais nem de comer (mentira, de comer sim, mas nao de cozinhar). Hoje almocei um risotto pronto com cogumelos porcini que tava HORRIVEL. Nunca mais compro comida pronta da Coop, eca. Pra completar o pouco queijo parmesao que eu tinha tava podre. Ou seja, o risoto que jah era ruim nem consegui disfarçar com parmesao. Pro jantar descongelei UM micro-filé de merluzo daqueles Findus. O numero de filés é impar e como eles sao muito mirradinhos eu faço dois por refeiçao, o que me dah duas refeiçoes e meia por caixa. A meia vai ser o jantar de hoje. De acompanhamento nem sei o que fazer, porque nao tem batata em casa e o supermercado onde faço compras tah fechado por motivo de luto (...). Oh vida, oh céus!! Pra completar, chegou ontem uma caixa do Brasil na casa da Marta, mas nao posso nem passar lah pra levar pra casa porque minha bicicleta (que alias nem é minha) nao tem cestinha nem porra nenhuma e nao me permite levar cargas maiores do que a minha fiel mochila Kipling.

E pra piorar mais ainda, Martinha tah de férias “al mare” (o coisa cafona isso de ir “al mare”) toda essa semana, e a vida no escritorio sem as suas historias dramaticas de desencontros amorosos fica um saco! A menina da calça dourada soh sabe falar do namorado e das férias que vai passar no Egito e outras coisas igualmente interessantes. Ela ainda tem o agravante de repetir a mesma piada duzentas vezes. Fora o fato de que ela se lembra soh de um verso por musica, e fica repetindo esse verso à exaustao.

**

Andar de bicicleta é otimo, mas nao com esse sol escaldante. Estou com os braços NEGROS, nao tem filtro solar que segure esse sol mediterraneo. Puta que pariu.

Postado por leticia em 15:45

28.07.03

Eu sou foda. Ontem no

Eu sou foda. Ontem no jantar o garçom escuta um pedaço da nossa conversa - eu falava sobre o Brasil - e vira pro lanterneiro e fala: melhor nao viajar ao Brasil sozinho, senao a signorina se irrita, sabe como sao as brasileiras... Duplo elogio: nao soh nao sacou que eu era brasileira porque falo tao bem o italiano que nao tenho sotaque, como nao me achou com cara de brasileira mulatinha caça-gringos (embora o resto do comentario tenha querido dizer que as brasileiras de forma geral SAO mulatinhas caça-gringos. O que nao deixa de ter um grande fundo de verdade, alias). Hah! Nisso que dah ter vocaçao pra lingua estrangeira.

Alias, minha nova incursao nas linguas estrangeiras é o Frances. Estou bitolada, quero aprender de qualquer jeito. Comecei botando meu celular em Frances, e com isso jah aprendi que teclado é "clavier", por exemplo. Tenho que dar um pulo em Bastia pra ver se rolam uns cursos baratinhos no Comune...

Postado por leticia em 12:15

Domingo de muito sol em

Domingo de muito sol em Roma com a Carmen. Precisavamos de um pouco de Roma, todas as duas. Pegamos o trem das 7:32 em S. Maria e lah fomos nos. Um calor do cao, eu toda coberta de filtro solar 60+. Rodamos, andamos, a Carmen (que é burra, porque fuma) quase morrendo de falta de folego - e olha que ela tem 21 aninhos... Almoçamos (mal) num restaurante de garçons feiissimos mas gentilissimos, depois meu amigo romano Guido nos encontrou no centro em frente ao Pantheon, e depois de mais umas voltinhas fomos tomar sorvete na Gelateria della Palma, que tem 238.986,45 sabores diferentes de sorvete. Descobri um de maracujah tao bom, mas TAO BOM que comi soh ele, sem chocolate nem nada! (quem me conhece sabe que TODO sorvete que eu tomo tem que ter alguma coisa chocolatica) E juro, quase chorei porque tava realmente muito bom, feito mesmo com a polpa da fruta e nao com suco pronto ou polpa congelada com gosto de nada. A balconista ficou rindo da minha cara de pateta, tomando sorvete de olhos fechados, aaaaaaaaaaah maracujaaaaaaaaaah...

Ou seja, a viagem foi inutil, soh gastamos dinheiro e sola do sapato, mas fofocamos muito. Também me irritei muito, porque como todo italiano a sua resistencia a mudanças é uma coisa impressionante, e ouvi dela coisas como:
- Sei que tenho que parar de fumar e comer melhor pro cabelo parar de cair, mas nao quero.
- Sei que nao deveria usar base no rosto no verao porque piora as espinhas, mas nao consigo.
- Sei que deveria usar oculos de sol pra proteger os olhos, mas nao gosto.
- Acho Spello linda mas nao Assis (sao parecidissimas as duas cidades, a unica diferença é que Assis tem aquela desgraçada daquela basilica gigantesca, e Spello nao).

Aiquiodio! Consigo conversar muito tempo com uma criatura dessas? 73 graus Celsius em Roma, 235% de umidade relativa do ar, e a menina com o rosto coberto de base no melhor estilo reboco, e lapis preto, claro que todo borrado, em volta dos olhos! Nao é de matar?

***

Ah, estou lendo The Bourne Ultimatum, o terceiro da série que começa com The Bourne Identity (que alias nao tenho e nao li). Uma merda. Se meus Penguin Classics nao chegarem logo do Brasil eu vou ter repetidos infartos literarios. Alias, sinto falta também dos meus amadissimos Asterix, e queria tanto aquele ultimo livro do Laerte, aquele com o personagem Deus! Alias, queria também o meu Cortiço, livro que eu amo e jah li trezentas vezes. Alias... Alias, jah decidi que vou ser muito rica e trabalhar pouco e morar numa casa com ralos em todos os banheiros e na cozinha, com aquecimento e ar-condicionado power, com horta e pomar, com duzentos mil cachorros (eu disse cachorros, e nao microcaes, hein), com uma biblioteca multilingue enoooooooooorrrrrrrrrrrrrme, com uma piscininha basica aquecida no inverno e fresquinha no verao, com uma vista maravilhosa pra Assis, e com home theater e todas as coisas boas tecnologicas. Soh.

Postado por leticia em 11:24

26.07.03

Uma amiga me escreveu dizendo

Uma amiga me escreveu dizendo que admira a minha coragem e o meu "me viro", e que ela nao iria alèm de Sao Paulo, e mesmo assim com emprego garantido. Eu respondi que pra nos, mulheres espertas descoladas interessantes e fortes, nao tem tempo quente. Acho que, como quase tudo na vida, o dificil é o primeiro passo. Depois as coisas vao acontecendo mais ou menos naturalmente, e no final voce nem percebe mais que o que voce tah enfrentando é mais do que a maioria das pessoas jah teve que encarar. Volta e meia alguém me diz "poxa, que coragem voce teve" e eu levo um susto, paro pra pensar e chego à conclusao de que porra, é coragem mermo, tem que ser muito macho pra sair de casa, de um pais de merda mas tao generoso quanto o Brasil, que afinal de contas é sempre a nossa casa, e começar tudo de novo. Enfrentar preconceitos, mudar habitos, encarar medos, aprender coisas, faz tudo parte do processo, mas acho que ninguém que mora no exterior ficou filosofando ou se preparando muito pra essas coisas antes de sair do Brasil. Voce toma a decisao de ir embora (ou entao vai embora querendo voltar mas acaba ficando, como eu), e quando voce ve a tua vida jah tomou outro rumo muito esquisito e anteriormente imaginavel. Eu às vezes penso que se tivesse sido menos afobada e tivesse planejado melhor a minha vinda à Italia, muitas coisas chatissimas que aconteceram nao teriam rolado, muitas desconfianças teriam sido evitadas, e tudo seria mais facil. Mas quer saber a verdade? Se eu tivesse ficado esperando e planejando, nao teria vindo NUNCA.

Comé que dizia o Bilbo Baggins? Que a estrada que passa na porta da sua casa pode te levar a qualquer lugar. Sair de casa é perigoso, voce nao sabe onde vai terminar.

E quer saber mais ainda? Acho OTIMO. Quem nao sai da toca nao sabe o que tah perdendo, e o mais triste é que jamais vai saber.

Postado por leticia em 10:05

25.07.03

E' claro que o tamanho

E' claro que o tamanho dos posts é diretamente proporcional ao tempo de ausencia do chefe no escritorio. Ninguém aqui fez absolutamente nada hoje. Nada. Acho otimo.

Postado por leticia em 17:14

O pai da dona da

O pai da dona da minha casa tem assim uns 698 anos de idade, e estah morrendo. Anda pela casa de cueca quando nao estah deitado na cama embaixo do ventilador. De vez em quando dah um urro, creio que de dor, embora dor do que eu nao saiba dizer. E é uma mala. Tem mania de luzes apagadas, janelas e portas fechadas. Eu NUNCA deixo a luz acesa quando saio de algum lugar, mas toda vez que eu to cozinhando ele entra na cozinha, apaga as luzes e desliga a TV. Soh depois que eu grito "To aqui!" ele pede desculpas e diz que pensava que nao tinha ninguém. O patrulha!

Seu banheiro, ao lado do meu quarto, fede horrivelmente. Rolam altos bafafas na casa nesses ultimos dias, toda hora tem gente visitando o velhinho, a filha dele toda hora tentando faze-lo sair pra dar umas voltinhas na varanda, rolam altas discussoes, um saco. Como eu jah ouvi de varias pessoas que ele sempre foi um homem muito ruim, e um desastre de pai, nem pena mais eu tenho. Mas é impossivel olhar pra um velho assim no fim da vida e pensar que daqui a pouco seremos nos.

Postado por leticia em 17:14

Dando início ao minidicionário gastronômico,

Dando início ao minidicionário gastronômico, vamos aos temperinhos:

aceto (pronuncia atcheto) = vinagre Me dá ânsia de vômito.
aglio = alho
alloro = louro Pouco usado. Eu amo.
anice (pronúncia anitche, sílaba tônica a) = anis ODEIO e não sei como se usa.
basilico = manjericão Dá um super tchan no molho de tomate!
cannella = canela. Pouco usada, considerada exótica.
carota = cenoura
cipolla (pronúncia tchipolla) = cebola
coriandolo (silaba tonica an) = coentro
dragoncello (pronúncia dragontchello) = estragão (brigada, Marcia :)
erba cipollina (pronúncia tchipollina) = cebolinha
garofano (sílaba tônica ro) = cravo
maggiorana = manjerona Na carne na grelha... nham nham...
menta = hortelã
noce moscata (pronúncia notche moscata) = noz-moscada. Indispensável pra um bom molho bechamel.
olio = azeite de oliva. Não é amarelo e fedorento como o azeite português ou espanhol ao qual estamos habituados no Brasil, mas azeite verde, delicioso. Num pãozinho tostado esfregado com alho, aiaiaiai, as bruschettas...
origano (sílaba tônica ri) = orégano
pepe nero = pimenta-do-reino Aqui na Umbria eles dizem que faz mal, na Toscana eles adoram. Eu amo.
peperoncino = pimenta vermelha Eles usam em tudo. Spaghetti all'aglio e olio con un pizzico di peperoncino...
peperone = o maldito odioso horripilante pimentão
prezzemolo (sílaba tônica no segundo e) = salsinha Praticamente não usam.
rosmarino = alecrim Amo amo amo amo... focaccia al rosmarino, AAAAAAAAAAAAH
sale = sal
salvia = sálvia (doh!) Raviolli de carne ou ricota e espinafre saltados com manteiga e sálvia... AAAAAAAAHHHH
sedano (sílaba tônica se) = aipo Eles comem muito na salada. Eu gosto do sabor que ele deixa, mas do bicho propriamente dito eu não chego nem perto. Uma pena, porque é um dos poucos alimentos com calorias negativas. Dá tanto trabalho pra digerir que você perde mais calorias na digestão do que as calorias que ele tem.
semi di finocchio = sementes de erva-doce (endro). ODEIO. Eles usam muito nas batatas no forno, aquelas cuja receita eu já dei aqui e são o sonho da vida, quando feitas com alecrim em vez dessa merda de erva-doce.
timo = tomilho
zafferano = açafrão. Zafferano é o nome de uma cidade siciliana aos pés do Etna onde obviamente há muitas plantações de açafrão. Normalmente conhecemos aquela porcaria tabajara em pó que neguinho vende no meio da feira, que deve ser misturado a outras coisas porque o verdadeiro açafrão é caro pra dedéu, mas o autêntico é ainda em plantinha; são como fiapos cor de vinho que soltam aquela cor amarelada no risoto alla milanese, ou naquele risoto divino que a gente come naquele restaurante bom daqui, com açafrão, salmão e camarão.
zenzero (sílaba tônica zen) = gengibre

O que a cenoura e o aipo estão fazendo na lista de temperinhos, você me pergunta. E eu respondo: a base do brodo vegetale, usado pra fazer risoto, sopinha no inverno e otras cositas mas, é feita com cebola, aipo e cenoura cozidos na água e sal, até virar caldo de legumes. Gostoso e saudável.

Postado por leticia em 12:40

Extra! Extra! Cabelicidio no interior

Extra! Extra! Cabelicidio no interior da Italia!

L.D., 26 anos, extra-comunitaria residente em Santa Maria degli Angeli, situada na Umbria, o coraçao verde da Italia, foi vitima ontem de um cabelicidio cometido por uma cabeleireira de cabelos cor-de-rosa, cujo salao estah localizado exatamente em frente à casa da vitima, e se chama Giusy (sic). O ocorrido foi comprovado hoje pela manha, quando a vitima acordou e se olhou no espelho, entrando em estado de choque devido ao estado lamentavel das pontas de suas madeixas, absurdamente ressecadas e espigadas apos o tratamento relax de ontem à tarde. A vitima hoje pela manha tentou reverter o quadro através de aplicaçao abundante de creme para cabelos ruins, mas os resultados nao foram satisfatorios. Ao que parece a causa da tragédia foi a preguiça da vitima, que nao teve disposiçao de ir a Perugia no calor insuportavel dos ultimos dias para ajeitar o pixete com sua cabeleireira de confiança e acabou cedendo aos encantos de um salao de beleza vagabundo na porta de casa.
- E eu que pensava que pior do que tava nao podia ficar... - diz desconsolada a vitima.
A tragédia comprova: fundo do poço tem porao sim.

Bem feito.

Postado por leticia em 09:37

24.07.03

Eu nao consigo entender como

Eu nao consigo entender como é possivel, nos dias de hoje, uma pessoa entrar num escritorio, ou na casa de alguém, ou numa loja, e acender um cigarro sem perguntar a ninguém se incomoda ou nao.

Soh muito dedo no olho pra dar jeito nessa gente de merda.

Postado por leticia em 17:33

Os italianos são hipocondríacos. E

Os italianos são hipocondríacos. E poucas coisas no mundo são mais chatas que hipocondria. Talvez seja porque eu, por motivos genéticos e psicológicos (ou alguém tem alguma dúvida de que quem não quer ficar doente, não fica?), quase nunca adoeço. O fato é que curtir a doença, como eles fazem aqui, me irrita muuuitooo. Não tem UM dia em que uma das meninas do escritório não me venha com dor de cabeça, nas costas, no dedão do pé, conjuntivite, a maldita “cervical”, enjôo, nervoso. Pombas, a mais velha sou eu, que tenho 26 anos! É possível ter todas essas dores, todos os dias? Quequeísso...

A minha reação quando sinto dor de alguma coisa é: que saco essa dor de cabeça (aliás, coisa que eu quase nunca tenho, só quando fico o dia inteiro de rabo-de-cavalo apertado ou quando durmo mal). A das meninas aqui é: aaaaaaaai que dor de cabeeeeeeeeça infernaaaaaaaaaal não aguento maaaaaaaaaais estou morreeeeeeeeeendo... Eu sabia que os italianos eram dramáticos, mas assim também é demais. E olha que EU sou muito dramática – minha mãe me chama de Yoná Magalhães – mas tudo tem limite, né, gente.

O engraçado é que eu digo que só fica doente de verdade quem pode, não quem quer, e eles não acreditam. Mas é a mais pura verdade: fora as doenças óbvias que te pegam pela sua fraqueza genética, as coisas do dia-a-dia não te atingem se você dorme bem, come bem, gosta do seu trabalho, está bem com a sua família, e NÃO QUISER FICAR DOENTE. Eu ODEIO ficar doente, e quando fico não perco o apetite nem o sono, o que me ajuda a me recuperar mais rápido. A última vez em que fiquei de cama foi em 2001 em Chiavari, quando tive uma amigdalite irritante que me deu uma febrinha chata por alguns dias. Antes disso, só uma amigdalite vai-e-vem muito provavelmente causada por microorganismos hospitalares (eu ainda tava no internato), e antes disso acho que por muitos anos não fiquei doente de verdade. Talvez seja só sorte de ter nascido com uma boa constituição física, mas acho que tem muito da cabeça também. Quem, como eu, acredita que doença é só perda de tempo e encheção de saco, acaba ficando menos suscetível a gripes e coisas do gênero. The mind is a powerful thing.

(Exceção é o Duduzão, que já teve TODAS as doenças e fraturas e acidentes e coisas estranhas do mundo, e não é nada hipocondríaco. Perguntem a ele quantas vezes ele já quebrou os ossinhos da mão, luxou alguma coisa, torceu o joelho e coisas do gênero. E nao botei o link ali à toa; aproveitem as dicas musicais do menino).

**

Curiosidade: aqui na Itália o que nós chamamos de prato de sobremesa eles chamam prato de fruta (porque toda refeição termina muito salutarmente com uma fruta). O prato fundo, ou de sopa, eles chamam de prato de massa – porque macarrão e risoto só em prato fundo. Talheres de sobremesa não existem. Colher de café não existe, só usam a de chá. Xicrinha de café existe, mas de chá não – pro café da manhã eles usam xícaras ENORMES, onde pobres biscoitos e croissants recheados de geléia de frutas são afogados no café com leite. Panelas com cabo? Pra quê, se com o cabo curto você pode queimar sua mão toda hora? Teflon? Dá câncer. (eu prefiro morrer de câncer do que passar a vida ariando panela, mas essa é só a minha opinião pessoal). Microondas? Dá câncer. (idem)

A vida aqui muitas vezes segue o slogan daquela velha propaganda do SuperNintendo, que anunciava um jogo super difícil de chegar ao final: pra que facilitar, se dá pra complicar?

**

Estou pensando em fazer pequenos ajustes no blog – um mini-glossário gastronômico, uma lista das coisas estranhas que existem aqui e não no Brasil e vice-versa, um microdicionário de palavras esquisitas, etc. Só me faltam o saco, o conhecimento de html e uma linha ADSL. No momento não tenho nenhum dos três...

**

Eu e FeRnanda outro dia passando em frente ao salão de beleza em frente à minha casa. Vemos um calhambeque ROSA E LILÁS estacionado em frente. Rimos; nossa, que cor estranha... Olhamos dentro do salão e vemos uma menina de cabelo rosa. FeRnanda: deve ser da garota de cabelo rosa, o carro combinando com o cabelo... Dias depois vejo a menina dirigindo o carro. Era dela mermo.

Hoje vou lá esticar o pixete no salão da garota. Se chama Barbara e é a namorada de um operário do Mirco, e aliás jah foi várias vezes em Cipresso, quando eu ainda morava lá, quando o garoto ia ajeitar o computador ou outra coisa parecida. Como ela também tem cabelo ruim, espero que tenha pena de mim e ajeite o meu cabelo direito...

Postado por leticia em 10:42

23.07.03

Que saudade de um bom

Que saudade de um bom pao arabe, e de uma couve picadinha pra comer com feijao...

Postado por leticia em 17:28

O menino que reabastece a

O menino que reabastece a maquina de comidinhas/bebidas/café aqui do escritorio é um gato, apesar de todo tatuado. Quando ele vem aqui é um rebuliço soh, eu me divirto. Cada biceps, mamma mia... ;)

***

Hoje, mjadra do mes passado pro almoço. Jantar: filé de merluzo com arroz branco e cenoura e milho. (eu sou assim, vivo em funçao de comida, e hoje jah estou planejando todas as possibilidades alimentares da semana que vem)

***

Enquanto isso... Tem uma lata de leite condensado, uma caixinha de chocolate em poh e um pacote de biscoitos estilo Maisena me implorando pra fazer palha italiana. Tudo bem que de italiana essa palha nao tem nada, até porque aqui nao tem leite condensado, mas enfim.

***

Estacionados em frente ao escritorio hoje, dois carrinhos de mao cheios de batatas. No deposito de caixotes, além das pegadas dos cachorros sobre as caixas, tem um engradado cheio de alho e outro de tomate. Roça... é isso aih.

Postado por leticia em 12:58

A novidade aqui é a

A novidade aqui é a revoluçao no codigo de transito: agora os italianos começam com 20 pontos na carteira de motorista, e vao perdendo pontos à medida em que fazem cagadas no transito. O mais engraçado é a indignaçao das pessoas que levam multas, mesmo por motivos obvios, como altissimos excessos de velocidade ou dirigir sem o cinto de segurança. Claro que logo na primeira semana teve gente que numa soh vez jah perdeu tipo 50 pontos (com menos de 5 anos de carteira os pontos perdidos sao dobrados. Jah conseguiram abaixar os 5 anos pra 2, no entanto.)

***

Ainda no assunto "esses italianos sao todos neuroticos", a FeRnanda me emprestou "Traçando Roma", do LFV, com ilustraçoes de Joaquim Fonseca. Eh simplesmente a coisa mais divertida, simpatica, deliciosa e bem-humorada que eu jah li nos ultimos tempos. LEIAM!

Postado por leticia em 08:57

22.07.03

Jah tenho a letra das

Jah tenho a letra das sereias, muito obrigada às 400.000 pessoas que me responderam :)

beijos :))

Postado por leticia em 08:55

21.07.03

Sabe o que eu queria?

Sabe o que eu queria? A letra daquela musica cantada pela Marisa Monte no primeiro CD dela, aquela das sereias. Alguém se habilita?

***

CALOR DOS INFERNOS! Nosso escritorio, que tem tres paredes de vidro, vira um microondas à tarde, depois de passar a manha toda absorvendo calor. Merda.

Postado por leticia em 18:38

20.07.03

Hoje salvei um gatinho. Tava

Hoje salvei um gatinho. Tava na sala lendo quando escuto um miado muito alto, o que significava que nao podia ser o gato da vizinha, que nunca sai de casa, mas algum outro que estivesse no corredor do prédio. Saih pra dar uma olhada e vi um gato preto, jovem, de grandes olhos amarelos, miando desesperado do alto de uma planta embaixo da janela desse andar. O coitado do bicho fez a burrada de subir e nao conseguia descer - uma classica idiotice felina, mas enfim. Na maior calma botei o bicho no chao, e ele veio todo dengoso pra mim, se esfregando nas minhas pernas. Nao era maltratado, mas também nao tinha aquele pelo brilhoso de gato que tem dono. Botei-o pra dentro e dei um pouco de leite; ele tomou metade e desdenhou o resto. Da varanda perguntei à senhora que mora no apartamento do lado, que estava estendendo as roupas no varal da varanda dela, se conhecia o gato, se tinha dono; ela disse que era o gato da pracinha, que volta e meia aparecia no bar ali embaixo do prédio ao lado. Desci as escadas com ele atras de mim, abri a porta da portaria e ele saiu, parou logo do lado de fora e ficou me olhando... Abaixei pra fazer carinho e ele pulou no meu colo. Ficou lah de olhos fechados enquanto eu fazia carinho na sua cabeça e atras das orelhas, depois o momento cat-person passou, botei o bicho no chao e entrei no prédio. Fiquei com pena, mas como vi que ele nao tava passando fome nem tinha pulga nem nenhum machucado, deixei pra lah. O pessoal do bar deve dar comida pra ele...

***

Vamos passar a semana de ferragosto (ferragosto é o 15 de agosto, quando a Italia INTEIRA para e sai de férias "pro mar") na Alemanha - era onde as passagens da RyanAir custavam menos :)

***

O vocabulario do lanterneiro tah cada vez melhor, agora jah estah até emitindo frases inteiras. A primeira oraçao aprendida foi: um bicho me mordeu.

Postado por leticia em 16:07

19.07.03

Tem séculos que eu to

Tem séculos que eu to dizendo que o mundo tah pra terminar, os sinais sao muitos. Ja Sei Namorar ocupa o segundo lugar na lista dos mais requisitados como musiquinha pra celular aqui na Italia.

Medo.

Postado por leticia em 11:48

Falei que os cogumelos mereciam

Falei que os cogumelos mereciam um outro post, entao aih vai: eu odiava cogumelos antes de vir pra cah. Alias, odiava um monte de coisas que vim a aprender a comer (e beber) aqui. Champignon no strognoff eu comia, mas nao passava disso, até porque no Brasil a gente nao tem habito de comer cogumelos - acho que porque temos coisa melhor pra comer. O que soh reforça a minha tese de que o italiano é meio chines: come de tudo, indiscriminadamente, como todo povo que jah passou por guerras e fome. Afinal de contas, quem tem boi gordo no pasto e feijao com arroz na mesa e mandioca no quintal vai ter idéia de ir catar COGUMELOS no bosque, aquelas coisas feias que, como diz o meu pai, crescem em madeira podre, em lugar umido e escuro? Nao, né. Fora que todos tem mais ou menos o mesmo sabor, e se nao forem temperados bem ficam com gosto de nada. Mas aprendi a comer, e nao soh com linguiça e creme de leite como na receita que eu dei ali embaixo, mas de tudo que é jeito. Como "contorno" (acompanhamento), com macarrao (viva os cogumelos porcini, sao perfumadissimos), no risotto (como o que eu fiz na casa da Simone em Milano), na pizza, na grelha acompanhando carne grelhada, picadinhos em cima da bruschetta, na salada, nham nham. Na loja do Fabrizio o Louco tinha uma enorme variedade de molhinhos prontos à base de cogumelos, todos otimos. De vez em quanto eu botava um dos molhinhos no meu sanduiche na hora do almoço. Show de bola. O melhor é que o bicho quase nao tem calorias. Mas é um saco de preparar, porque tem que lavaaar, descascaaar (cogumelo nao tem casca, mas tem que tirar a pelicula que tem no "chapéu" dele, é como se fosse descascar), picaaar, refogaaaar... Mas o melhor mesmo é franguinho ou carninha com molho de cogumelos feito no caldinho da carne que fica na penale e um pouco de vinho. Aaaaaaaaaaaaaaah...

(a mae do Chefe Meio Idiota tah cozinhando, tah vindo um cheiro de refogado aqui no escritorio, eu e Martinha tamos quase morrendo).

Postado por leticia em 10:15

Eu falei que vimos The

Eu falei que vimos The Italian Job semana passada? O filme é um saco. Nem o Edward Norton salva, porque faz o papel do escrotinho, como sempre, e esse papel jah cansou. As unicas coisas boas sao os carros deles, todos Cooper Minis, cada um de uma cor, e a espetacular jaqueta jeans da Charlize Theron. Alias, minha filha, voce é linda de morrer, sofisticadérrima e tal, mas QUE PORRA DE NOME E' ESSE? Charlize? Tua mae deve ter bebido muita cachaça Pitu durante a gravidez pra ter a idéia de botar um nome desses na filha.

***

E hoje nao rola nada de particular, porque é dia de faxina: faxina aqui no escritorio, faxina no meu quarto que tah emoooondo, lavagem no banheiro, e soh nao lavo os cachorros também porque a Arianna jah lavou semana passada, e eles aqui sao super reservados com banho, voces sabem.

***

Ter amigos fodoes é BOM: ontem recebi um envelope da Newlands cheio de coisas legais, bubus, fofas, bruxais e passarinhais, e o melhor: totalmente enuteis. Amei :))))))))))))))))))))))))
[pra quem nao sabe, todo o material distribuido no Fashion Rio - convites, bolsas, as gravatas dos seguranças, etc - foi desenhado por ela, tah?]

***

Enquanto isso... A vontade de comer geléia de mocotoh nao passa de jeito nenhum. E o desespero livral também: estou acabando The Pillars of the Earth (literariamente fraco, mas daria um bom filme, que dizem que jah foi feito mas eu nunca ouvi falar), e depois nao tenho mais nada inédito pra ler!!! Minha mae tah mandando, com o proximo caixotao, alguns Penguin Classics que deixei no Brasil, mas até a caixa chegar o que é que eu vou lerrrrrrrrrrrrrrrrr? O conceito de poupar livros me é totalmente estranho. Nao sossego enquanto nao termino. Levo o livro pra tudo que é lugar que eu vou: pro banheiro (mesmo quando vou soh pra escovar os dentes), pra cozinha ler enquanto como, pra trabalhar. E se por algum motivo devo abandonar o livro antes do fim, fico com pena dele. To falando sério. Tipo, eu tava lendo um livro meio chato sobre o Japao enquanto o Harry Potter nao chegava - nao que seja chato Japao, mas o livro é escrito com uma pagina em Ingles e outra em Japones, é um livro didatico pra quem tah aprendendo a lingua japa, entao é tudo escrito em oraçoes curtas e simples, e isso vai me irritando. Pois bem, o Harry chegou e eu tive que abandonar o Japan As It Is. Fiquei com pena dele, coitado, largado lah no armario perto dos Calvinos, do Decamerone, de um Ian McEwan, do Atlas of Middle-Earth, totalmente desenturmado. Coitadinho.

Postado por leticia em 09:53

17.07.03

Penne alla Norcina* Linguiças de

Penne alla Norcina*

Linguiças de suino (uma por pessoa; eu, que sou carnivorissima, sempre boto uma a mais pra dar um tchan)
Cogumelos (mas nao champignon em conserva, por favor, hein? cogumelinhos fresquinhos. Alias, os cogumelos dariam um post à parte qualquer dia desses.)
Creme de leite
Alho
Pimenta-do-reino
Azeite
Penne ou qualquer outro macarrao curto

Refogue o alho no azeite. Abra as linguiças, tire-as da pele e refogue-as no alho, como se fossem carne moida (bem, a linguiça nada mais é do que carne moida com gordura e temperos, enfiada em peritoneo). Quando estiverem bronzeadinhas, junte os cogumelos cortados em lascas e deixe cozinhar. Pra dar um super hiper tchan eu boto um pouco de vinho branco (cozinho tudo com vinho branco, fica sempre otimo). Quando estiver sequinho junte o creme de leite, misture bem, e misture ao macarrao cozido al dente. Pimenta-do-reino moida na hora e parmesao por cima, e pronto! Uma bomba calorica bissolutamente DELICIOSAAAAA.

*Norcino é quem vem de Norcia, uma cidade perto daqui, famosa pelos embutidos, presuntos, etc. A regiao é tao famosa por esse tipo de produto que em muitos supermercados em outras partes do pais ao lado da peixaria, da padaria, etc, tem uma parte chamada norcineria, soh com salames, presuntos e outras coisas igualmente horreeeendaaaaaaaas. Torta al testo com salame norcino ou presunto cru ou capocollo (um embutido feito do musculo do pescoço do porco) é o que hah, senhores.

Postado por leticia em 18:35

O show foi legal. Eu

O show foi legal. Eu nunca tinha visto o Mango na TV, e não tinha muita idéia de como era a cara dele. O cara tá há uns 20 anos na estrada, tem sempre alguma música tocando nas rádios. Tem uma voz rouquinha, gostosinha, embora de vez em quando dê uns agudos meio nada a ver. A música é bem comercialzinha mermo, mas tem algumas bem bonitinhas – recomendo Bella d’Estate, Mediterraneo, e a minha preferida, La Rondine.

O show foi na praça principal de Foligno, uma cidade bem antiga a uns 15 minutos daqui, indo na direção de Roma. No verão rolam esses shows na praça, com ingressos a preços módicos – e organização igualmente módica, sem nenhuma placa ou sinalização, nada. Demos mil voltas até chegar à praça, porque além das ruas do centro histórico que normalmente são fechadas ao trânsito, havia outras bloqueadas pra impedir que neguinho chegasse à praça por outros acessos, sem pagar. A praça é uma gracinha – aliás, a cidade é bem bonitinha. O palco, pequeno e simples, foi montado tendo a igreja principal da cidade à esquerda, e o prédio da prefeitura à direita. Várias botegas antigas rodeiam a pracinha – uma farmácia, uma padaria, uma loja de roupas íntimas, uma de artigos pra presente. No passado provavelmente eram locais de trabalho de sapateiros, alfaiates, ferreiros. A metade da praça em frente ao palco ficou reservada pro pessoal que comprou ingresso de cadeira; nós, com nossos ingressos tabajara, ficamos em pé, na metade de trás. No fundo da praça, atrás de nós, um monte de gente na janela de casa assistindo ao show, que nem neguinho que fica pendurado no viaduto no Rio pra ver o desfile das escolas de samba sem pagar ;)

O show começa com meia hora de atraso. Mango é um cara pequenininho, mirrado e cabeçudo – um paraiba napolitano. Dança fazendo aviãozinho, que nem jogador de futebol comemorando gol. Canta uma música – La Mia Città – e depois começa a bater papo com o público. Boa noite, Foligno! Fazer show aqui já tá virando hábito, já somos amigos íntimos! (ele fez show lá ano passado). Canta outra música, depois para de novo e aponta pra um holofote no alto de um prédio da praça: olha, infelizmente vocês não estão vendo a iluminação do show perfeita, porque aquele cidadão ali não quis apagar aquele holofote... O pessoal começa a bater palmas e a vaiar, e logo depois o holofote apaga. O show continua; ele pára praticamente entre todas as músicas pra explicar as canções, pra bater papo furado, pra conversar com a platéia. Que figura!

O engraçado é que quando rolam essas coisas a cidade pára. O número de pessoas era super pequeno, mas tinha tanto guarda na praça, e tanta gente com camiseta “Security” ou “Staff” ou “Estate in Piazza” (linda a camiseta, queria uma pra mim...) que parecia que o Bush tava vindo visitar. Aliás, era lindo também o menino (aqui se diz “frego”) que tomava conta da entrada na parte fechada da praça. Um nariz divino!!! Pena que olhando mais de perto vi que ele fazia as sobrancelhas... Aliás, muitos homens aqui fazem as sobrancelhas, dá vontade de chorar. Esse, além de ter as sobrancelhas feitas, fumava. Ah, meu filho, assim não tem nariz lindo que compense...

Postado por leticia em 10:39

16.07.03

Entao. Segunda-feira de manha partimos

Entao. Segunda-feira de manha partimos às tres, porque jah sabiamos que iriamos nos perder e precisavamos de tempo extra. Fomos eu, o lanterneiro e o Monstrinho, um iugoslavo de 18 anos que trabalha pra ele e é obviamente muito feio. Muitos cafés, muitos engarrafamentos e muita irritaçao depois, chegamos a Saronno, uma cidade-satélite de Milao, onde ficava o hotel 4 estrelas onde ficamos hospedados - eles por conta do fornecedor de tintas, eu pagando por fora, mas no final saiu soh por 40 euros, jah que a segunda pessoa nao paga a diaria inteira.

O hotel se chama Hotel della Rotonda. Rotonda é aquele negocio que no Rio quase nao tem e em SP tem duzias: rotatoria. Eu ODEIO rotatorias. Os arredores de Milao sao nada mais nada menos que coleçoes de rotatorias, onde voce corre o risco de ficar girando feito um retardado por horas a fio se perder a saida correta. A cidade é feia, feia, feia - pude ver de perto porque fui a pé do hotel até o centro da cidade pegar o trem pra Milano.

A estaçao nao era administrada pela Trenitalia, ou seja, eu, acostumada à bagunça das Ferrovie dello Stato, nao entendia nada dos horarios dos trens, além do fato que os nomes das cidades sao muuuito estranhos. Mas cheguei viva a Milao. De lah peguei o metro pro centro - merda de metro, diga-se de passagem; cheio, sujo e quente que nem o de Roma. Desci na estaçao Duomo, e subi as escadas toda feliz, obaaah, vou ver o Duomo de Milano - cheio de tapumes na frente, passando por reformas. Merda. Mas as laterais dao uma idéia do que é a igreja, que é simplesmente divina. Nao tirei foto nenhuma, mas o que nao falta é foto na internet, vao lah procurar. Enfim. Fiquei lah babando um pouco, liguei pra Simone (que também tem blog: lalonge.blogspot.com) e fui pra casa dela. Fiz um risotinho ai funghi porcini assim basico, uma saladinha, abrimos um vinho tinto, fofocamos, rimos, e depois saimos pra fazer turismo em Milano.

Turismo em Milano é assim: Duomo - Galleria Vittorio Emmanuele - Castello Scorzese - acabou. Nos duas batendo perna naquela cidade poluida, com aquela capa de nuvem que nao te deixa respirar, cheio de gente feia (leia-se imigrantes) na rua, e de vez em quando um japa saindo ou entrando numa Gucci ou outra coisa parecida. Glamour? Charme milanes? Gente chique? Mas adonde, que eu nao vi?

Ou seja, a unica coisa legal de Milao é a Simone, que é muito gente boa.

De noite (eu sei que é à noite, mas é que nao dah pra botar crase no a maiusculo...) fomos jantar, sempre às custas do fornecedor de tintas, num restaurante especializado em frutos do mar. Bom, restaurante especializado em frutos do mar longe do mar é aquilo: uma merda. Chapados de sono - acordar às tres da manha e pegar estrada por 5 horas né mole nao -, capotamos logo.

No dia seguinte fui a Milano de novo encontrar a Simone outra vez. Fiz amizade com um senegales que me deu de presente uma pulseirinha coloridinha e pediu pra eu avisar que o Marco do Senegal (ele) é fa do Brasil e do Ronaldo. Tah dado o recado. Encontrei a Simone na praça do Duomo, rodamos, fofocamos, almoçamos no McDonald's (pombas, comer em Milano é caro pra cacete, pelo menos no Mc a gente sabe que o preço nao passa daquele padrao...) e logo depois tive que voltar porque se deixassemos pra pegar estrada tarde pegariamos o maior transito.

Claro que pegamos transito de qualquer maneira, mesmo tendo partido antes das quatro da tarde.

Crianças, nao querendo ser repetitiva mas jah sendo... A cada dia que passa, a cada cidade que eu visito, confirmo a conclusao: Roma é tuuuuudo na vida, o resto é perfumaria.

***

Nao sou uma pessoa muito musical - prefiro a companhia de um livro - mas na viagem de carro ouvi meus CDs que eu trouxe do Brasil e hah muito nao ouvia. Entao agora menciono as Cançoes Mais Belas do Mundo, de acordo com os padroes Pacamanca de Qualidade:

Turn my Head - Live
Pillar of Davidson - Live
Run to the Water - Live
Para Ver as Meninas - cantado pela Marisa Monte

Vao lah baixar, vao.

***

Falando em musica... Hoje vamos ao show do Mango em Foligno. Foligno é a outra cidade "grande" aqui perto. O Mango tava de show marcado em Perugia hah alguns meses, mas ficou doente e o show foi cancelado. Basicamente ele é o unico cantor italiano que eu escuto sem reclamar. A musica italiana é uma coisa horripilante de tao ruim.

Postado por leticia em 18:39

12.07.03

No Brasil a mulherada é

No Brasil a mulherada é paranoica com as unhas. Aqui a mulherada é paranoica com roupas da moda, cabelos todos cheios de nove-horas, MUITA maquiagem, muito fio-dental (acho horripilantemente vulgar, além de me parecer extremamente incomodo). Por outro lado, nao usam muitas joias nem bijoux; dificilmente mudam brincos toda hora como nos gostamos de fazer no Brasil. Também tao cagando e andando pra coisas pra nos absurdas, como sutia e calcinha escuros sob roupa clara. Alça do sutia aparecendo, entao... aos montes. E blusa de uma alcinha soh, com sutia normal por baixo? E TOP TOMARA-QUE-CAIA COM SUTIA? Hein? Hein? Nem nos suburbios mais suburbanamente suburbanos e bregas voce acha uma coisa dessas, mas aqui na Italia, ou pelo menos na Umbria, é o que mais tem.

Postado por leticia em 11:34

11.07.03

Putz, que calor. Minha escrivaninha

Putz, que calor. Minha escrivaninha tah toda bezuntada de filtro solar proteçao 60 - que, jah percebi, nao adianta nada, porque infelizmente ainda estou bronzeada. Com esse cabelo ruim e a cara e os ombros queimados de sol, soh falta o bundao pra ficar parecendo exatamente o que eu nunca fui: mulatinha caça-gringos. Puta que pariu.

***

Hoje à noite teoricamente assino o contrato de aluguel do apartamento show de bola em Bastia. Acendam velinhas, darlings.

***

Domingo de madrugada vamos a Milao. O lanterneiro tem um curso de, bem, lanternagem (nao é tao simples quanto parece, mas é mais facil definir assim), pago pelo fornecedor de tinta, na capital lombarda, e eu vou na aba. Nao conheço Milao, entao acho que vai ser legal :) Chato vai ser passar direto pelo dia 15 de julho, quando eu, em teoria, estaria voltando pro Rio... Nao volto porque depois nao tenho mais dinheiro pra voltar pra cah. Mas perder bilhete marcado é muito desagradavel...

***

Estou precisando URGENTEMENTE de uma boa dose de geléia de mocotoh Colombo, sabor natural. Ou de coxinha de frango com catupiry. Claro que banana passa também serve. Infelizmente nao tenho nada disso aqui, minha mae ficou de mandar mas até agora soh vieram sandalias, camisetinhas, sutias e calcinhas, e shampoos pra cabelo ruim, conteudo das duas ultimas caixas que mami me mandou através do endereço da Martinha. Mas daqui a um mes vou ter meu proprio endereço em Bastia, e nao vou precisar dar o endereço dos outros pra receber coisas legais, huahuahua

Melhor parar de pensar em comida e continuar a minha dietinha, que tava indo muito bem até hoje no almoço, quando entrei em crise de abstinencia de cacau e ataquei o Nesquick às colheradas. Mula. Pra queimar todas essas calorias agora, soh indo pra Milao de bicicleta.

Postado por leticia em 16:00

08.07.03

Morar no exterior è, pelo

Morar no exterior è, pelo menos pra mim, um conjunto de flashes e de pontadas. Explico: as pontadas de dor sao agulhadas muito, mas muito dolorosas mas de curta duraçao que me vem quando vejo uma foto do Rio (ah, que falta me faz o Rio!), quando escuto o samba do aviao, quando penso nas risadas que davamos no Letras & Expressoes, na cara do japa quando via o sorvete que eu sempre fazia pras noitadas na casa da Newlands, na cara da Newlands quando descobriamos juntas alguma coisa bubu, quando penso na minha avoh e nas comidas gostosas que ela fazia pra mim, quando penso nas risadonas enormes imensas gigantescas que rolavam nos corredores do hospital com a Yasmine (a.k.a. Djésmine), com o Pfaender, com o Alexandre Queiroz que tah pra casar, com aquela louca da Patricia que nao fala mais comigo; quando penso no meu irmao cantando altissimo no banho, na risada da minha mae, no casamento da minha prima mais querida ao qual eu nao fui e nunca, nunca vou me perdoar por nao ter ido; e tantas outras coisas. Sao pontadas agudas, que incomodam MUITO, mas que logo passam. Passam porque a memoria fica; os momentos bons a gente carrega sempre, e nada nem ninguém consegue apagar.

Os flashes sao coisas estranhas que sinto de vez em quando toda vez que faço algo que aqui ja virou rotina, mas que è meio ou muito diferente de como era no Brasil. Como levar o lixo na lixeira. Nas grandes cidades os prédios tem uma lixeira por andar; voce sai no corredor com o saco na mao, abre a porta, abre a lixeira, joga o saco, e ele desaparecera misteriosamente – o que significa que os porteiros vao juntar os saquinhos em sacoes que depois serao recolhidos pelo caminhao da Comlurb. Aqui a gente tem que levar o saco na caçamba la fora. Ja virou rotina, mas esse tipo de coisa tipicamente causa flashes estranhos; me vedo na minha casa, saindo no corredor pra botar uma sacola na lixeira, e pensando em uma outra eu levando o lixo na caçamba la fora, e aih pisca a pergunta na minha cabeça: MA CHE CAZZO STO A FARE DI QUI? (sim, a pergunta vem em italiano mesmo). Nao é uma sensaçao muito agradavel, mas essa também passa.

Alias, essa pergunta vive me perturbando. Nao se enganem, eu ADORO a Italia, adoro morar aqui, e apesar de estar com a vida em stand-by no momento (sem carteira de motorista nem de identidade nem de desconto no supermercado porque nao tenho endereço fixo, sem contrato regular de trabalho porque aqui ninguém faz nada antes de setembro, etc), estou feliz. Mas fico me perguntando se nao era possivel ser feliz la na minha casa, na cidade mais linda do mundo, com uma familia legal, falando a minha lingua e comendo as minhas coisinhas tipicas de sempre. Fico me perguntando do que foi que eu fugi, ou se parei de fugir, se encontrei o que eu queria aqui. Fico imaginando se na proxima vez em que eu voltar pro Rio – e nao tenho a MENOR idéia de quando sera, por motivos puramente economicos – as pessoas vao me achar diferentes, se eu vou achar tudo diferente, se vou me irritar com a sujeira e os mendigos nas ruas, se vou adotar a posiçao paranoica de quem se desacostumou a ser assaltado rotineiramente, se o fedor da cidade vai me chocar, se o transito da grande cidade vai me assustar, se vou sentir falta do salame umbro, do prosciutto crudo, se vou achar a massa cozida demais, se vou achar a mozzarella com gosto de nada, se vou achar o sorvete horrivel tanto quanto hoje acho horrivel o chocolate brasileiro (soh consigo comer o diamante negro e o serenata de amor, acho todo o resto com gosto de vela), se vou continuar esquecendo palavras da minha lingua e de vez em quando inserindo expressoes ou gestos italianos no meio da conversa, se meus amigos vao me achar chata e esnobe e metida a italiana, se a TV brasileira que eu acho que ainda seja um pouco melhor do que a italiana vai me decepcionar e ser muito pior do que eu imaginava. E aih fico imaginando o meu retorno à Italia, e me vejo irritada com o sistema bancario neanderthal deles, com a burocracia tao ridicula quanto a nossa, com a xenofobia alimentar deles, com os zilhoes de impostos que vou ter que encarar sozinha, com a falta de transporte publico nessa cidade pequena, com a ausencia total e absoluta do maracujah na dieta mediterranea, com as panelas italianas que sao TODAS de cabo curto e NENHUMA de teflon (eles tem medo de teflon, de microondas, etc) e que SEMPRE me queimam a mao e nao sao nada praticas.

E o pior é que essa situaçao nem lah, nem cah é irreversivel. Eu, que nunca fui muito cariocona, de praia, malandra, gostosa, que odeio tropicalidades, que tenho horror a Maria Bethania e nao gosto de Chico, me sinto menos brasileira do que nunca, e jamais vou retornar ao meu estado de quase-carioca antes da minha vinda à Italia. Mas também sou muito pouco italiana, apesar do que dizem por aqui. Nao vou mais ser uma coisa soh, nunca mais. Nunca mais.

E’ necessariamente uma coisa ruim? Nao. Culturalmente é uma experiencia fenomenal; morar fora abre os olhos e a cabeça em um modo indescritivel. Mas emocionalmente é destruidor. Eu nao sou nem uma coisa, nem outra, eu nao sou nada. Nao sou nada.

Postado por leticia em 18:45

07.07.03

Por conta da orgia gastronomica

Por conta da orgia gastronomica do fim de semana, hoje o cardapio foi frugal, e vai continuar sendo, se a Suellen deixar. Vim de bicicleta trabalhar, ja bebi meus tres litros d'agua...

Sabe que eu ja to até me sentindo mais magra? ;)

Postado por leticia em 18:17

O fim de semana foi

O fim de semana foi ótimo, tanto em termos gastronomicos como de companhia. Lá fomos nós a Faenza no sábado depois do almoço. A estrada é uma bosta: tem um pedaço que tá em obras há anos por conta de uma fraude descoberta na empreiteira responsável (opa!). A paisagem muda radicalmente quando se entra na Emilia-Romagna; difícil explicar exatamente o que muda, mas as plantações são diferentes, tem menos azeitona – a Umbria é lotada de azeitona – e mais pedregulhos, as colinas são menos suaves, sei lá. A viagem foi curta, umas duas horinhas e pronto, e sem imprevistos, além da quase dormida do Mirco no volante que nos levou a parar num beira-de-estrada pra ele tomar um café e dois picolés.

Já na periferia da cidade, o lanterneiro vê um caminhão encostado num estacionamento abandonado onde outros carros estão parados, e encosta. São poloneses vendendo coisas estranhas da ex-URSS – ferramentas, instrumentos cirúrgicos, binóculos, capacetes de couro, ímãs, botas, e outras coisas igualmente interessantes. Os caras encostam, montam as barraquinhas – ou melhor, mesinhas -, e ficam ali parados esperando neguinho passar e parar. E o pior é que neguinho passa e pára mesmo – e não tinhamos só nós, mas váaarias outras pessoas, incluindo algumas senhoras cujo interesse nas pontas de furadeira e nos alicates e chaves inglesas eu não consegui entender. Saímos de lá com um porta-agulhas, dois pares de pinça de dissecção, duas coisas estranhas que achei geniais – tipo canetas que se esticam e viram tipo uma antena daquelas que se usam pra apontar no quadro-negro, com a ponta magnetizada pra pescar parafusos e outras coisas metálicas que adoram se esconder em cantos escuros e inacessíveis e debaixo de móveis e carros -, quatro alicates poderosos, duas chaves inglesas idem, e aqueles negocinhos de ferro com números e letras em relevo na ponta, que você bate com um martelo pra marcar numeração em baixo-relevo em peças industriais, chassis de carro etc. Tudo muito interessante.

Depois de uma leve perda de direção – lanterneiro, além de odiar dirigir, não tem o menor senso de direção, e eu não sou muito melhor que ele, ainda mais sem mapa na mão – finalmente conseguimos chegar na casa da Fran, que mora bem no centro, num apartamentinho legal. Depois de uma volta na cidade, que é um pouco maior que Bastia e muito bonitinha, fomos jantar em um fim do mundo lindinho chamado Terra del Sole, num restaurante chamado Osteria del Capitano. O menu é todo confuso, escrito em dialeto com a tradução em italiano do lado. Comemos super bem: de aperitivo, uma coleção de bruschettas e pera em cubinhos com queijo pecorino derretido (eca); de primo piatto eu mandei ver de pappardelle (uma massa mais larga que o talharim, é a minha preferida) verde com molho bolonhesa e muito parmesão, o lanterneiro tortellini recheados com ricota e espinafre com molho de tomate-cereja e manjericão, Fran talharim verde e amarelo com legumes, e o Marco, o marido simpático e bonitão dela, massa curta com molho à bolonhesa. Depois eu e Mirco dividimos pedacinhos de filé no azeite com alecrim, e Fran e o Marco os mesmos pedacinhos em vinagre balsâmico. Infelizmente a casa não tinha NENHUMA sobremesa com chocolate, e por isso só eu fiquei sem sobremesa... Não como nem zabaione nem panna cotta (esse último um pudim meio tabajara), então fiquei só na vontade.

Ontem todo mundo levantou tarde – eu acordei cedo mas tinha o Harry Potter me chamando, entao fiquei lendo – e depois de passar na agência onde a Fran trabalha, pra conhecer (a casa é LINDA e fica num lugar LINDO! Só achei o banheiro, todo afrescado e grande pra caramba, assim meio esquisito; eu ficaria inibida de fazer xixi num banheiro assim tão espaçoso ;), fomos dar uma volta em Brisighella, cidadezinha ali perto. Tem uma fortaleza antiga que tava fechada, depois caminhamos um pouco numa trilha até a torre do relógio, e voltamos pra casa, todos já azuis de fome. Fran e Marco tinham feito feijoada no dia anterior e torta de frango com palmito de manhã cedo, então eu fiz o arroz, a farofa, o pão de queijo; o Marco fez a caipirinha com a Nega Fulô que eles acharam dando sopa em cima do armário, tiramos a cerveja da geladeira e comemos até morrer, porque tava tudo ótimo. Claro que depois do almoço só nos restou dormir, e depois nos mandamos.

Na volta ainda passamos no cinema pra ver Charlie’s Angels 2. Eu adoro esses filmes despretensiosos, e tenho que dizer que a Cameron Diaz tá cada vez melhor como atriz cômica. Morro de inveja desses filmes, que devem ser divertidíssimos de gravar, além das roupas delas serem bárbaras hehehe

E aí hoje de manhã me sinto ainda no domingo, estou toda lenta lesada lerda meio baiana, e isso tá me irritando. Ainda bem que sei que depois passa, meus ataques de lerdeza nunca duram muito.

Postado por leticia em 11:10

05.07.03

E hoje vou a Faenza,

E hoje vou a Faenza, visitar a Fran*, que faz aniversario segunda-feira. As outras meninas de Roma nao podem ir, mas eu to precisando de uma social basica, to com saudade das meninas todas mas pelo menos as de Roma eu posso encontrar mais facilmente, jah que qualquer coisa é motivo pra me fazer ir a Roma (que é tudo na vida), e to doida pra comer a feijoada que o marido dela faz. Vou levar a farofa e preparado Yoki pra pao de queijo. Também to levando minha amiga Suellen, a solitaria mais faminta do planeta Terra. Volto amanha, e espero poder botar fotos no ar, assim que a Telecom Italia se dignar a reestabelecer a linha ADSL do lanterneiro.

***

Enquanto isso, preciso resolver logo minha situaçao contratual com o Chefe Meio Idiota. A dona do apartamento tchutchuco em Bastia vive me ligando querendo fazer logo o contrato. A boa noticia é que os atuais moradores nao vao mais embora em setembro, mas em agosto! Obaaaaaaa casa novaaaaaaaaa soh minha e do Legolaaaaaaaaaaaas, em frente ao supermercado ao cinema ao bosque publico à casa da Marta perto da estaçao de tre-eeeeeeeeeeeeeem...

Tudo bem que eu e Suellen vamos passar uma certa fome, porque com o aluguel mais as contas pra pagar, mais todas as taxas absurdas de transferimento de morador (é rapaz, tah pensando que é mole?), vou ficar assim digamos na merda financeira total e absoluta. Favor acender velinhas pra aparecerem umas traduçoes de vez em quando senao vai ficar preta a coisa pro meu lado.

***

Se essa dor de garganta e de cabeça passarem logo, eu agradeço muitissimo.

***

*A Fran, além de ser um amor, escreve bem e tem uns vizinhos muito estranhos.

Postado por leticia em 11:13

Eu tenho um defeito, que

Eu tenho um defeito, que muitas vezes é uma qualidade mas às vezes vira realmente um defeito: nao sei fazer nada devagar. Nao sou hiperativa ou superagitada, sou simplesmente rapida, e a lerdeza alheia me dah nos nervos.

Comecei a pensar nesse assunto quando vinha pra cah hoje, de bicicleta. Sou absolutamente incapaz de fazer um simples passeio de bicicleta. Qualquer movimentaçao bicicletal pra mim vira aula de spinning. Dependendo do que tiver tocando no walkman, entao, iiiiih... Resultado: cheguei toda suada e vermelha no escritorio hoje. Isso porque obviamente cheguei dez minutos antes da hora, e fiquei dando voltas em Rivotorto, aqui perto, pra passar o tempo. Voltas em alta velocidade, claro.

E aih fui desenvolvendo o assunto lerdeza na minha cabeça, e tenho que concordar com a minha mae: nosso maior medo em relaçao à velhice nao sao as rugas, o cabelo branco, a falta de saude, mas é a lerdeza. Vejo os velhos fazendo tudo em camera lenta, com a maiooooooooor calma do mundo, e me vem um pavor insano: serah que eu vou ficar assim também? Com certeza nao, no que depender da minha vontade, porque realmente nao sou capaz de ser lerda, mesmo que eu tenha todo o tempo do mundo pra fazer uma coisa, e nao tenha nada pra fazer depois. Mas e se (ou melhor, e quando) os musculos começarem a negar fogo, e se recusarem a manter o meu ritmo atual, nao-lerdo?

Se eu nao morrer de morte morrida ou de morte matada, vou morrer de morte lerdada. Ficar lerda vai ser a morte pra mim.

Postado por leticia em 11:08

03.07.03

Meu Harry Potter e meu

Meu Harry Potter e meu Ken Follett (The Pillars of the Earth) chegaram hoje pela Amazon! Excrusive o HP está aqui ao meu lado sobre a escrivaninha do escritório, me tentando, me chamando... (Não trouxe o tijolo pra passear nem conhecer meu escritório, é que normalmente chego na pracinha antes da hora da Marta passar, e pra não ficar esperando sem fazer nada levo sempre um livrinho. Ou livrão. Ou tijolão, como é o caso do senhor Potter.)

[Curiosidade: como ficou a tradução de “squib” em Português, hein? E de Dementor?]

***

Um termo que eles usam pra definir gente meio doida é “fulminato”. Já descobri que é uma coisa Umbra, desconhecida no resto da Itália, mas eu não consigo descobrir um termo que defina melhor a maluquice alheia! Um cara que leva um raio na cabeça – ou seja, que é fulminado por um raio – realmente não pode ser normal.

***

Ontem fui jantar pizza na casa da tia do Fabio (namorado da FeRnanda). Essa tia tem um irmão que mora em Firenze, e as filhas dele de vez em quando vêm aqui visitar o resto da família, que continuou morando aqui na roça. A mais velha, Francesca, 18 anos, totalmente fashion e descolada, macérrima, barriga de fora, cabelos revoando pra lá e pra cá. A mais nova, Giulia, 13 anos, meio meninão, descabelada, engraçadíssima! Demos muita risada, principalmente por conta do sotaque fiorentino das meninas. Os toscanos transformam a C entre vogais em R. Então eles falam rasa em vez de casa, rorra-rola em vez de coca-cola, etc. Ficamos dando risada até quase meia-noite, quando então voltei pra casa a pé – moro a dois passos de distância, como eles dizem aqui.

A coisa chata da noite foi a conversa com a tal tia do Fabio, que se chama Orietta. Começa já do nome, coitadinha. É nome de velha. É solteirona, sozinha, mimada – os irmãos pagam aluguel, contas da casa, consertam tudo que quebra dentro de casa, etc. Tem quase 37 anos, e há praticamente 20 trabalha numa papelaria no centro de Assis – do outro lado da praça em relaçao à loja onde eu trabalhei, aliás já fui comprar cartão lá algumas vezes, quando o doido do meu patrão precisava dar um presente a alguém. Como ela está sempre à disposição pra trabalhar, porque não tem nada melhor pra fazer, o patrão paga super bem, e o salário dela é muito além do que se esperaria pra uma pessoa na posição dela. Apesar disso, diz que vive sem dinheiro (e essa foi a primeira coisa chata da noite. Ora, me poupe, mora sozinha com o cachorro num apartamento todo pago pela família, não viaja, não tem carro, não se veste bem, não faz as unhas toda semana nem depilação, não faz escova dia sim dia não, não tem namorado, não vai ao cinema nem ao teatro nem às sagras aqui da zona [aliás, esse fim de semana tem sagra da torta al testo em Pila, perto de Perugia... nham nham] não tem porra nenhuma de despesa, comé que pode viver sem dinheiro? Isso me irrita assim MOOOOITO). Aí vem o pior: admite que não lava o cabelo quando está menstruada “porque foi criada assim”. Aaaaaaaaaaah, quer me botar doida é me dizer uma imbecilidade dessas. Viro bicho. Mas viro bicho com razão: já estive no porão do fundo do poço – essa minha crise lanterneiral de abril/maio não foi NADA perto da minha época seriamente depressiva – e sei que a gente só sai dessa quando quer sair, e que inventar desculpas ridículas é a coisa mais fácil e cômoda do mundo – e também a coisa mais inútil. E essa falta de vontade de sair do buraco, essa resignação infinita e cheia de suspiros de “e se...” e “mas eu...”, essa desculpa esfarrapada de “ter sido criada assim”, isso vai me dando uma irritação absurda, uma vontade de dar porrada. Pombas, TRINTA E SETE ANOS e até hoje não criou vontade de sair do buraco! Quequeísso! Vi que a FeRnanda tava sentindo a mesma coisa. Como esse tipo de conversa não leva a lugar nenhum, porque o cego que não quer ver não vê mesmo e com gente teimosa não tem o que discutir (eu sou teimosíssima e sei do que estou falando), nos levantamos, nos despedimos e fomos embora. O ar fresco da noite me acalmou, fez passar a vontade de falar em toscano (eu pego sotaque fácil, fácil), me fez dormir muito bem.

Que bom que dormi bem e fiz um estoque de sono, porque essa noite vai ser Harry Potter na cabeçaaaaaaaaaa.ù

Postado por leticia em 17:02

Se tem uma coisa que

Se tem uma coisa que eu odeio é gente termicamente desregulada. Um calor do cacete - quem nao concordar que 35 C sao um calor do cacete, eu mato - e neguinho fechando janela porque o vento é muito forte, botando casaquinho leve nos ombros... Até prova em contrario, vento nao é sinonimo de frescor - ou vento quente refresca alguma coisa? Ou entao um frio danado - 5 C SAO um frio danado, nao tem discussao - e neguinho saindo do escritorio e deixando a porta aberta. Nao é possivel! Vai ser desregulado assim na casa do chapéu!

Postado por leticia em 16:10

01.07.03

Sim, eu sou preconceituosa às

Sim, eu sou preconceituosa às vezes. Mas vejam se nesse caso eu nao tenho razao: digam se voces comprariam um produto de limpeza chamado Mastro Lindo - sendo que o Mastro Lindo em questao é um careca fortao desenhado no rotulo - cujo jingle na propaganda televisiva inclui os seguintes versinhos:

contra a gordura causa furor
a magia é o seu poder

Pois é. Eu também nao compro.

Postado por leticia em 10:40