TRADOS

Pra quem não conhece, TRADOS é uma ferramenta de tradução assistida. Um programa de tradução, por assim dizer. Carérrimo e cheio de mumunhas, dublê de quebra-galho e enchedor de saco, que eu já tinha visto mas nunca entendido. Meu maior cliente, a agência aberta por um ex-manicômio e onde hoje trabalham, fixos, outros 6 sobreviventes da Chefa Escrota, montou esse curso em dois sábados. Hoje foi o módulo básico, pra aprender aquele mínimo mínimo que serve pra usar o programa. Passei o dia numa sala de aula com meus ex-colegas e uns tradutores que não conhecia, ouvindo um instrutor de Arezzo falar sobre o programa mais chato do mundo de usar. Como eu adoro uma sala de aula, não importa muito o assunto (desde que não envolva números, naturalmente), foi um dia interessante, apesar do assunto ser pesado. O curso foi num hotel lá na casa do cacete, em Perugia, com almoço incluído. A senhora que administra o hotel é francesa mas está aqui há duzentos anos e preparou um almoço umbro como deus comanda, segundo o ditado: muita verdura grelhada, vagem crocantinha, lombo de porco cortado fininho, lentilhas, cicerchie (uma prima do grão-de-bico), um pão feito com farinha vecchio stile, moída no moinho de pedra (fica com um sabor muito, muito particular).

Gastronomia à parte, aprendi muita coisa. O programa é muito bem bolado mas logicamente tem mil falhas, e depende da organização e disciplina do tradutor (tô fodida); as opiniões sobre o quanto o TRADOS pode ajudar são muito divergentes e eu me coloco na trincheira daqueles que acham que ajuda só e exclusivamente quando se trabalha com muitos trabalhos bem parecidos, e mesmo assim ajuda somente a manter a uniformidade, mas não acelera o trabalho tanto assim (ainda mais no meu caso, já que sou rapidíssima em condições normais de temperatura e pressão, sem ajuda de coisa nenhuma). Provavelmente não justifica o investimento pesado, não só de grana – uns 700 EUROS, darlings – mas também de tempo, já que leva meses pra domesticar o programa bem o suficiente pra não alongar ainda mais o trabalho tendo que perder tempo descobrindo como funcionam os comandos e coisa e tal.

Mas o insight mais importante veio durante a conversa com o José: chegamos à conclusão de que nosso trabalho um dia será pra lá de mecanizado. Pra escapar dessa tem que passar pra tradução criativa, e nesse campo praticamente só sobram publicidade, que eu adoro fazer, e literatura, que eu AMO e sonho em fazer. E a paciência pra tentar achar meu lugar ao sol nessas áreas, vocês têm? Eu não. Então vamos empurrando com a barriga, até quando der. E quando não der mais a gente decide o que fazer.