blergh

Julho foi um mês lento, de pouquíssimo trabalho. Mas mal cheguei de viagem e já me entupiram de coisas novamente. É bom porque sem trabalho não tem grana, e sem grana não tem viagem nem livro nem jantar fora, e sobretudo porque eu estava com medo de agosto também ser um mês lento, já que muitas empresas fecham pra férias pelo menos dez dias. Mas não, aparentemente meu faturado esse mês vai ser normal. Não chega a compensar julho, mas também não é nenhuma tragédia.

O chato é que só tem coisa chata! A maioria das traduções que eu faço são chatas mesmo, mas sempre aparece alguma coisa de interessante, ou pelo menos engraçado, tipo catálogos de móveis ou cozinhas que são absolutamente hilários. Mas tenho tido uma série de coisas horripilantemente chatas pra fazer, e haja paciência. Com esse calor, então, trabalhar é muito muito chato. Então estou fazendo assim, ó: de manhã cedo, enquanto o calor ainda não é assassino, vou de bicicleta até a Coop comprar as verduras do dia ou pão fresco ou o iogurte que acabou. Volto pra casa, trabalho um pouquinho, dou uma limpada na casa se for preciso, trabalho outro pouco, preparo o almoço, comemos, trabalho de novo (porque se sentar pra ler eu durmo), e lá pras três, depois que o Mirco volta pra oficina, ligo a televisão no quarto, com o ar condicionado ligado. A programação das férias parece que é melhor do que no resto do ano, porque o meu gosto definitivamente não combina com o gosto dos italianos, que gostam é de ver mulher de biquini falando asneira sobre o jogo de futebol de ontem, ou de assistir a cantores decadentes cantando aquelas músicas velhas que são as mesmas há quarenta anos. Eu fico vendo séries. Começa com duas horas de The District, que não é o máximo mas também não é um horror. Depois tem aquela série com a Elaine do Seinfeld, que também não é o máximo mas dá pro gasto. Depois tem Two and a Half Men. Mudo de canal e tem The McLeod Sisters, uma série australiana cheia de cavalos, ovelhas e bichos da roça, bem legal. Depois tem reprise de Friends. E depois chega a hora do jantar.

Superprodutiva a minha vida atualmente.

bichos

Eu me dou relativamente bem com insetos. Só não gosto mesmo dos domésticos que enchem o saco, leia-se formigas, baratas, moscas e mosquitos. De resto não tenho grandes problemas – mas claro que quando um besouro vem voando na minha direção aquela aceleradinha da freqüência cardíaca rola – e também não tenho horror a outros bichos tipo aracnídeos em geral, lagartixas etc. Aqui em casa tem duas aranhas, o Geraldo e o Paolo (em italiano aranha é masculino, por isso dei nome de homem), que chegaram aqui pouco depois que nos mudamos. Vou limpando as teias que eles abandonam, com seus casulos vazios de jantares mosquíticos, mas os deixo quietos. Super amigos.

Depois tem as abelhas, das quais já falei. Acho abelha o máximo. Aliás, acho todos os insetos sociais o máximo, fascinantes, desde que não venham pra cima de mim, lógico. Continuo podando as flores à noite quando as abelhas estão mimindo, mas quando saio pra varanda de manhã cedo, pra primeira regada, não posso deixar de sorrir ao vê-las todas entretidas com os meus cravos.

Só que esse verão tá pior. Não estamos no térreo e por isso as moscas e mosquitos são poucos, mas o que tem de bicho esquisito invadindo a nossa casa não tá no gibi. Aquelas mariposas pequenininhas e achatadas, que ficam grudadas na parede parecendo uns adesivos, estão particularmente à vontade aqui no escritório. Volta e meia acho minhoquinhas ou centopéias no chão da sala, umas primas do bicho-bola, porque quando eu encosto nelas com um pedaço de papel pra levá-las lá pras plantinhas elas se enroscam todas. A horta da Arianna foi invadida por formigas que fazem casas subterrâneas tão grandes que se acontece de estar perto das raízes de uma planta, com a erosão a coitada não agüenta e cai – os arbustos de lavanda são particularmente suscetíveis, aparentemente. Outro dia achei um besouro GIANT no nosso banheiro, lindo, verde metalizado. O lance é que normalmente essa bicharada toda fica letárgica durante o inverno longo e frio, mas o último inverno não foi nem uma coisa nem outra, e aparentemente todo esse povo que deveria ter ficado dormindo, com o metabolismo lá embaixo, ficou acordadão e, sem nada melhor pra fazer, se reproduziu. Então agora não temos só os acordados, mas os acordados e a sua prole. É uma coisa impressionante.

Repito: de modo geral esses bichos não me incomodam. O meu problema, senhores, são as vespas. ODEIO vespa. O-D-E-I-O. E não sei o que é que esse nosso prédio tem que as vespas AMAM. No verão passado a vizinha de cima, a “soldada” que marcha dentro de casa com sapato de salto alto o dia inteiro, teve que chamar uma empresa especializada, porque quando ela percebeu o vespeiro pendurado no teto da sua varanda ele já estava grande feito um melão e não dava pra encarar com Baygon e vassoura, que é o que eu faço. Eu também destruí umas duas proto-casas de vespas. Esse ano já foram três, uma no meio dos cravos, uma no meio do alecrim – que sacrilégio! – e uma pendurada na varanda da soldada. Eu fico morrendo de pena, porque, coitadas, dá um trabalhão danado e tal, é bonitinho, aqueles buraquinhos todos perfeitinhos, com as tampinhas brancas e uma pré-vespa dentro cochilando e comendo, mas pô, não dá, né. Afogo todo mundo com Baygon, dou uma vassourada na casinha, e depois que todas as vespas estão mortinhas da silva é que eu vou lá varrer tudo e jogar no lixo. Estar no topo da cadeia alimentar tem suas vantagens, after all.

a planta

Vocês lembram da planta azul extra-terrestre, né. Eu falei que tirei foto das flores fosforescentes do ano passado, mas não estou achando. Mas observem o ritmo de crescimento da bichinha em 2006, 2007 e agora.

Quando comprei (1 euro a mini-muda) era assim, em junho de 2006.

Em junho de 2007 ela já tava assim.

E esse ano, completamente descontrol, uns 10 cm pra fora do vaso.

Não reparem na luz; não sei tirar foto direito. Ela agora tá menos azul, mas é sempre muito bizarra. Parece o Perito Moreno. Não tá com cara de que vai dar flores, o que é uma pena, porque as flores também são MOITO alienígenas.

burô

Se você acha a burocracia brasileira um pé no saco, experimenta dar um pulinho aqui na Bota.

Meu pedido de renovação do permesso di soggiorno foi feito em maio… DO ANO PASSADO! Com o documento provisório que te dão até o definitivo chegar eu posso fazer tudo – tirar novos documentos, renovar a carteira do sistema de saúde, abrir minha própria atividade, o que eu quiser – menos uma coisa crucial: botar os pezinhos em países da área Schengen. Que inclui praticamente toda a Europa, à exceção da Grã Bretanha e da Suíça (essa última só até o final do ano, quando assinarão o tratado).

O dedo na ferida: a partir desse mês a Ryan Air passa a ter vôos diretos de Perugia pra Barcelona (atualmente só tem Londres, que é caríssima e chata, e Frankfurt, que não me interessa). Mirco achou um vôo ontem por 10 euros, taxas incluídas. MAS NÃO PODEMOS IR PORQUE O MALDITO DOCUMENTO NÃO CHEGA! Poderia estar dando um pulo em Paris pra visitar a Newlands, mas não posso. A Hunka vem pra cá em setembro e quero ir a Praga visitá-la, mas se o documento não chegar até lá, nada feito. Veja bem, uma passagem pra Barcelona por DEZ EUROS significa que o cidadão tem a obrigação moral de ir. Ele simplesmente TEM QUE. E eu que quero, não posso! Ódio.

Ô pai, dá uma agilizada na cidadania lusitana da mamãe, plís (é muito mais rápido por aí, logicamente), porque essa vida de subdesenvolvido já encheu e eu também quero ser civilizada. Não vejo a hora de chegar a minha vez.

as flores não morrem

As abelhas estão sumindo no mundo inteiro e blah blah blah, mas parece que aqui em Bastia elas ainda estão na ativa. Pelo menos na minha varanda. Gostam de uma planta suculenta em particular, uma que cresce toda torta pra um lado, a ponto de eu ter que apoiar o vaso numa parede pra ela não tombar com o peso. O que raios se passa na cabeça da bichinha, meudeus, não tá vendo que não tem sentido crescer pra um lado só! Sim, tentei virar o vaso, tentei botar um pauzinho e amarrar os ramos tortos, mas a bicha é danada e até agora resistiu a todas as minhas tentativas de endireitamento. Deixei pra lá.

Mas eu tava dizendo é que as abelhas adoram as miniflores dessa tal planta, que não sei nem como se chama. Hoje fui à varanda pra podar os cravos e esses também tavam completamente abelhosos. Melhor podar à tardinha, quando as abelhas vão mimir.

Aliás, eu já enalteci meus cravos aqui pelo menos uma vez, e vou fazê-lo de novo porque eles merecem: ô planta guerreira, rapaz! O tempo anda uma bosta desde o início do mês, chuva, nublado, sol e vento se alternando durante o dia, uma coisa meio britânica, sabe, cada aguaceiro bizarro, depois um solzinho esquisito, depois um mormaço bunda, depois um chuvisco que nem molha, depois um vento que leva embora até os teus pensamentos. As outras plantas andam meio estressadas com essa maluquice meteorológica, pelo que eu percebi, principalmente as azaléas que meus colegas de turma trouxeram quando vieram jantar aqui no mês passado. Já adubei todo mundo e acho que agora elas vão dar uma acalmada. Mas os cravos, vou te dizer… Não tem santo que lhes dê mau humor! Dão flor o ano todo, não sujam a varanda porque nem flores nem folhas caem, mal precisam de adubo… Minha dica pessoal é podar, podar, podar. Nada de peninha: o ramo começou a ficar feio, corta sem dó! Se não cortar logo vai acontecer o que acontece comigo, que sou uma monga sentimentalóide: o ramo vai ficando feio e seco mas dá flor mesmo assim, e depois que dá flor você não tem mais coragem de cortar, e fica aquele murundu de ramos compridos com cara de secos, folhas amareladas horrorosas e as flores lindinhas na ponta. Como narizes na ponta de verrugas, digamos assim.

Outra coisa importante é adicionar mais terra de vez em quando, porque as raízes dos cravos são power e ocupam tipo todo o espaço do mundo. Externamente a planta não te dá nenhuma indicação de que está sofrendo por falta de terra, mas se você tirar a bicha do vaso vai ver que não tem mais um grãozinho de terra dentro, é tudo uma massa sólida de raiz. Muito bizzarro.

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Enquanto isso, mudei meu cactus mais velho de vaso. É um cactus com folhas cactosas, e não tipo bolinha, e sempre foi o primeiro a florescer, de todas as plantas da varanda. De uma hora pra outra as folhas foram ficando amareladas, murchas e horrorosas. Não joguei fora porque não tenho coragem; minhas plantas são como bichos de estimação pra mim. Mas não sabia o que fazer. Mudei o vaso de lugar, botei pra dentro de casa, botei pra fora, botei na chuva, botei no seco, botei no sol, botei na sombra, dei adubo pra planta suculenta e nada. Resolvi mudar o bichinho de vaso quando vi o esforço hercúleo que ele tava fazendo pra fazer uma florzinha. Um botãozinho rosa-magenta na ponta de uma folha sã, na extremidade de duas folhas murchas (digamos que esse tipo de cactus é tipo uma solitária, saca, sim, o verme, com vários componentes que formam uma espécie de corrente comprida. Quando digo “folha” estou me referindo a um desses componentes). Fiquei com peninha, passei-o pra um vaso um pouco maior, com terra nova e adubada, cortei fora as folhas murchas e agora estou na espera. Vamos ver se o coitado se recupera.

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A planta da IKEA (ela tem nome, mas eu não lembro qual é; chamamos de planta da IKEA porque roubamos uma folhinha na primeira vez que fomos lá, há muuuitos anos, a Arianna plantou, cresceu, me deu duas folhinhas, plantei e cresceram) me deu um susto danado nesse inverno. Eu tava sentada na minha poltroninha lendo um livrinho quando olho pra fora e vejo uma coisa marrom toda caída. Era a minha planta da IKEA! Quase tive um treco. Achei que fosse culpa minha, porque tinha passado as plantas do hall do elevador lá pra fora cedo demais, visto que ainda estava meio frio, e fiquei me martirizando. Matei a planta da IKEA! O mais estranho era o cheiro que ela emanava. Nunca tinha visto um negócio assim. Normalmente minhas plantas simplesmente morrem, não ficam moribundas e com um cheiro estranho. Mudei a coitada de lugar, cortei os ramos murchos e fedorentos – que por sinal eram muitos, porque até dois dias antes a planta estava um ESPETÁCULO de linda e folhuda e cheia de amor pra dar – e depois de ter podado tudo o que podia vi que tinha vários brotinhos saindo do tronco e dos ramos maiores, e alguns raminhos novos já todos verdinhos e frescos. Agora ela já tá melhor, já começa a encher de novo, mas continuo sem saber o que houve. Ou fungo ou vírus, imagino, mas não sei por que as outras plantas vizinhas não pegaram nada. Vai entender.

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Ah, e lembrem-me de botar a foto da Planta Azul aqui. Tô com preguiça de ir lá fotografar, mas quero que vocês vejam o antes (quando eu a comprei, há exatamente dois anos) e o depois. Primeiro porque a planta (outra suculenta) parece que veio de outro planeta de tão esquisita, e segundo porque ela cresceu moooito. Parece que esse ano não vai dar flores, mas no ano passado deu – são rosa fosforescente (tô falando que é meio alienígena) – e eu fotografei. É só questão de catar e subir. Quando eu tiver com saco.

a nova Chalene

Como me enchi de pagar taxas de importação quando compro coisas nos EUA e mando entregar em casa, toda vez que viajo pros EUA ou afins compro coisas online antes de viajar, aproveitando esse delicioso momento de dólar que não vale um figo seco, e mando entregar no lugar onde vou ficar durante a viagem. Dessa vez comprei uns bumper stickers no ebay e os únicos DVDs da Chalene que eu ainda não tinha. Um deles experimentei na casa da eowyn mesmo, mas os outros são com aquela maldita bolona inflável e tive que esperar voltar pra casa pra testar.

Rapaz… A bola é um porre mas vai ser eficaz assim lá na casa do chapéu! Malhar com a bichinha faz toda a diferença do mundo, especialmente os abdominais. Quando terminei de subir a ladeira pro ponto de ônibus, depois da faculdade, todos os meus músculos estavam doendo, parecia que eu tinha vencido o Iron Man. Socorro!

Amanhã tem mais :)

clausura

É estranho ficar em casa o dia todo. Sem falar com ninguém, em silêncio. Não tenho ligado a TV nem ouvido música, porque tive aquela revisão e uma tradução no começo da semana e agora tenho que estudar. Só falo com a menina do balcão do pão no supermercado e com o Mirco na hora do almoço; de resto passo o dia muda. É muito estranho, principalmente pra mim, que falo pelos cotovelos, inclusive quando não interessa a ninguém o que eu tenho a dizer. Ontem à noite o vizinho de baixo (não o carabiniere com cara de peru, o vizinho de trás) deu um festão que foi até meia-noite e meia, e foi tão esquisito! Porque já está frio o suficiente pra eu deixar as janelas fechadas, e a casa vira uma bolha, isolada acusticamente. Às vezes falo sozinha, relendo um pedaço do livro de Marketing que não entendi direito, e minha voz soa estranha.

Não vejo a hora de poder começar a trabalhar normalmente, pra falar com clientes pelo telefone, pelo menos de vez em quando.

la tempesta

Rapaz, vou te dizer… Já ouvi falar e li em várias fontes que a Itália é o país campeão de raios no mundo, e acho bastante provável. Chove muito pouco, pra quem tá acostumado com o Rio, mas quando chove, socorro! Parece que o céu vai cair sobre as nossas cabeças! Cada trovoada de tremer a casa, ventos furaconídeos, agora há pouco começou a cair granizo e tive que botar as plantas pra baixo da varanda do vizinho de cima (porque planta suculenta é guerreira, mas não vamos exagerar). Fiquei, sei lá, quarenta e cinco segundos do lado de fora a quando entrei estava encharcada e congelada. O estabilizador do computador toda hora dá um apito, coitado.

O bom é que fica um silêncio… Os velhinhos e as crianças que passam a bella stagione na rua, falando muito alto como sempre, estão enfiados em casa. Normalmente a italianada fala tão alto que nem fechando as janelas com vidro duplo tem-se paz dentro de casa, mas com o tempo assim quem é que bota o nariz pra fora! Minha casa virou uma bolha. Na verdade essa é uma das únicas coisas boas do inverno: o silêncio. Porque eu odeio gritaria.

Ainda bem que eu acordei cedo e às oito e meia já tava na porta do supermercado (de bicicleta, lógico) pra comprar os tomates-cereja e o pão fresco pro almoço : P