que parto

A Fabiola postou esse vídeo aqui hoje, que me deixou em lágrimas.

Chorei porque detesto ouvir gente contando que foi tratada mal por médicos e enfermeiros em um momento tão significativo. Mas acho que neguinho anda exagerando muito com esse negócio de “o parto é da mulher”, “parto ideal” e coisa e tal.

Vamos combinar uma coisa? O parto humano NÃO é legal. Ponto. Não cabe subjetividade aqui. Não é legal por um motivo muito simples: somos os únicos mamíferos que andam em posição ereta. Nossos cérebros se desenvolveram, precisávamos das mãos livres pra fazer coisas maneiras como temperar a carne assada, enfiar miçangas e bater no tambor, tivemos que ficar em pé. Mas a nossa esperteza aumentou muito mais rapidamente do que a nossa bacia foi capaz de se adaptar, de modo que hoje nós humanas sofremos o diabo a quatro pra parir, enquanto que todas as outras mamíferas vão ali, dão umas voltinhas, aparecem as perninhas do rebento e em dois minutos pluft, caiu no chão um filhote inteirinho e todo pimpão, que logo logo fica em pé e sai pulando sobre a crosta terrestre. O parto humano é uma merda. Cheio de fluidos nojentos – tem líquido amniótico, tem xixi, tem cocô, tem sangue, tem pedaço de placenta. No-jo. Quem fala que parto é uma coisa linda ESTÁ MENTINDO – ou pra si mesmo ou pros outros, pra parecer cool. O que é lindo é o neném que nasce, é o ato de dar vida a um outro ser humano, mas o processo todo até chegar lá é abominável e incrivelmente doloroso. Ou alguém acha que cagar na cara do obstetra é suuuuuper legal? Que é uma coisa linda escancarar as pernas ou acocorar pra criança sair? Que é o maior barato dar luz à placenta? Isso pra não falar nas complicações. Quem falar que parto é uma coisa natural só não vai levar uma trauletada porque claramente nunca estudou obstetrícia. Se o parto humano fosse uma coisa “naturalmente fácil” não haveria uma altíssima taxa de mortalidade de mulheres no parto em países sub, até hoje, e no mundo inteiro, ao longo da história da humanidade. Vai lá ver se tem vaca toda hora morrendo de parto. Tem não senhor. Claro que tem gente que tem partos mais lights – o meu, que foi relativamente light, já doeu pra cacete, imagina quem fica sei lá quantas horas ou dias em trabalho de parto. Mas a maioria sofre, porque contração DÓI para caráleo. Dói, dói, dói. As minhas duraram só umas quatro horas e mesmo assim pedi epidural, por um motivo muito simples: ninguém merece.

Olha só: dor é um sintoma. Sentir dor não enobrece porque a dor não serve pra absolutamente nada a não ser pra avisar que há alguma coisa muito errada acontecendo em alguma parte do seu corpo (se o que acontecer depois dessa dor vai ser positivo ou não é indiferente; seus receptores pra dor são democráticos e não fazem distinção). Todo o respeito do mundo por quem tem alta resistência à dor, dilata rápido e por isso prefere encarar sem anestesia, ou por quem tem fobia de agulha. Um pouco menos por quem acha que tem que sofrer pra “estar presente naquele momento”, porque acha que é mais mãe se sentir tudo, porque sei lá o quê. Eu não teria feito a menor questão de estar presente no meu próprio parto, se tivesse sido possível; só queria pegar a minha filha no colo assim que ela nascesse, mas não preciso sentir dor – nem as pernas – pra isso. Eu quero estar presente na vida dela, na educação dela. Se a mãe estava acordada ou não quando o filho nasceu não vai fazer a menor diferença na vida da criança, e sinceramente não vejo por que deveria fazer diferença na vida da mãe. Aliás, acho até que parto voluntariamente com dor tem consequências psicológicas a longo prazo bem negativas, porque EM ALGUM MOMENTO esse sacrifício todo vai aparecer e ser devidamente jogado na cara. Ou vão dizer que nunca ouviram uma mãe falar pro filho “puxa vida, eu aguentei nove meses de gravidez, X horas de trabalho de parto pra você agora me tratar assim?”. Minha mãe nunca me disse isso, mas eu já perdi a conta das vezes em que ouvi outras mulheres falando coisas desse tipo. Coisas que nunca, jamais deveriam ser faladas, sabe. Sentidas, sim, normal; mas faladas, não. Nunca. Mas na hora em que o calo aperta a gente bota o ressentimento pra fora, porque somos humanos. Então um grande viva ao parto sem dor. Detesto masoquismo.

Aí entra o lance da cesariana. Faz-se cesariana demais no Brasil? Não há dúvidas. O parto cesáreo é esse bicho de sete cabeças que neguinho fala? Nem de longe. Então por que essa choração toda se não deu tempo de fazer normal e teve que rolar cesáreo? Em outras palavras, WHAT THE FUCK é a diferença? A criança nasceu? Nasceu bem? Nasceu com saúde, Apgar maneiro, foi logo pro colo da mãe? Então neguinho está reclamando do quê??? Porque lhe foi negada a escolha? Pode ser; também fico puta quando não posso escolher. Mas a mulherada está levando essa parada ao extremo. Tem horas que parto normal simplesmente não é a melhor alternativa (se ainda não entendeu que o termo “normal” é completamente enganoso, volte e leia lá a parte das vacas), e a famosa escolha à qual elas acham que têm direito simplesmente não existe. Fico puta com histórias como a que uma das entrevistadas relatou – o médico marcou a cesárea pras cinco da manhã porque ele queria ir à praia depois. Pelotão de fuzilamento pra esse desgraçado. Sou contra cesárea com hora marcada, mas não sou contra cesárea. Acho inclusive mais civilizado, se vocês querem saber. Na verdade o que me deixou muito puta nesse lance toda desse vídeo foi a falta de respeito generalizada comum a todas essas histórias. A mulher que foi largada na sala de parto sozinha por três horas me deixou soluçando. O médico que entra na sala pra fazer um parto e não sabe o nome da paciente é um filho da puta. Mas tem horas que realmente só o médico sabe qual é a alternativa melhor, e nessa hora não dá mesmo pra ficar discutindo alternativas, de modo que cada caso é um caso e que o termo “violência obstétrica” não se encaixa em todas as situações. Pra quem quer uma analogia, normalmente pacientes leigos, por mais bem informados que sejam, não ficam discutindo técnica operatória com o cirurgião que vai lhes tirar um tumor/cisto/pinta/catarata/unha encravada. Acredito que informar e tratar com gentileza são coisas cruciais, e o oposto disso é, sim, uma forma de violência (leia-se abuso de autoridade, complexo de jaleco, como quiserdes), mas deixar a escolha nas mãos do paciente leigo, que aparentemente é o que neguinho quer, pelos comentários que leio por aí, já é um pouco demais.

Essa história toda rendeu um breve thread no FB (quem quiser seguir dê uma olhada aqui) com um ponto de vista muito interessante da Amandita. Se as mulheres fossem melhor informadas sobre o que é a gravidez e como é um parto provavelmente não haveria esse debate todo, esses extremismos todos e esses traumas todos. E eu teria que aturar muito menos gente falando que gravidez e parto são coisas lindas. Porque gravidez é outra coisa altamente idealizada, né. A percentagem de mulheres com gestações ultra light é minúscula. Os sintomas mais comuns da gravidez incluem dor nos peitos, enjoo, vômitos, prisão de ventre, hemorróidas, varizes, burrice temporária (baby brain), excesso de emotividade, azia, insônia, sono durante o dia, edema generalizado, prurido (perguntem à Fabiola), aumento definitivo do tamanho dos pés, dor nas costas, hipersensibilidade a certos cheiros, gases e meteorismo, entre outros. Quero ver alguém ter coragem de dizer que passar quase um ano – porque estamos falando de 40 semanas marromeno; quase um ano, portanto – sentindo pelo menos uma dessas coisas é legal. Olha só, o que eu estou dizendo é que uma coisa é dizer “vale a pena passar um ano inchada, arrotando, enjoada, fazendo xixi a cada meia hora, com os peitos doendo e vomitando, faço tudo pelo meu filho” e outra, completamente diferente, é juntar as mãozinhas e recitar “ai, gravidez é uma coisa tão linda”. Façam-me o favor, né. Tanto não são coisas legais, gravidez e parto, que o nosso cérebro faz com que a gente se esqueça da intensidade das sensações desagradáveis desses dois eventos, porque senão mulher nenhuma teria mais que um filho. Tem que ser muito cara-de-pau pra dizer que a-do-rou ficar grávida. Eu achei maneiro o ato de estar dando origem a uma nova vida, porque realmente é muito maneiro, inclusive do ponto de vista biológico, mas todo o resto é só um grandíssimo pé no saco, e não deixa de ser pé no saco só porque o objetivo é a coisa mais linda do universo (porque todos os filhos são, claro). Eu acho que não é um conceito muito difícil de entender, mas eu tendo a fazer contorcionismos mentais meio bizarros. Bear with me please.

Di orecchini e babbo natale

Mia figlia non ha le orecchie bucate per gli orecchini. Devo ammettere che ci ho riflettuto parecchio prima di decidere di non farlo quando era neonata. In Brasile tutte le bimbe escono dall’ospedale già con gli orecchini installati. A me non l’hanno fatto; ho deciso di farmele forare, le orecchie, quando ero già grande, a forza di sentire altri bimbi chiedere a mamma se ero maschio o femmina perché portavo sempre i capelli corti e non ero particolarmente carina. Ho deciso io ed è stato un episodio epico nella mia vita: mi ricordo il vestito che portavo quel giorno, la farmacia, il dolore (ho vomitato, da quanto mi ha fatto male), la rottura di zebedei che è stato prendersi cura dei buchi appena fatti perché non si infiammassero (e tanto si sono infiammati lo stesso). Se me l’avessero fatto appena nata non avrei sentito tanto dolore (e probabilmente nessuno avrebbe chiesto a mamma se ero maschio o femmina), ma non rimpiango questa loro scelta. Anzi, li ringrazio per avermi rispettato. Perché credo che la libertà di scelta sia una delle cose più importanti che un genitore possa regalare a suo figlio – entro i limiti della ragionevolezza, ovviamente. Oggi sono una patita di orecchini e quando ne esco senza, normalmente per fretta, mi sento mezzo nuda e passo il giorno a toccarmi il lobulo, come se gli orecchini fossero degli arti fantasma.

Mia figlia ha quasi quattro anni e qualche giorno fa le ho detto che Babbo Natale è solo un personaggio fittizio. Personalmente non me lo ricordo come traumatico, il momento in cui ho scoperto che in realtà era un cugino che si travestiva ogni anno per portarci dei regali, che ci compravano i nostri genitori e nonni. Ma non ho neanche ricordi particularmente fenomenali dell’attesa per Babbo Natale. Forse perché né io né mio fratello eravamo molto focalizzati su questa cosa di regali. Ci piacevano, ovviamente, ma a noi basta poco per renderci felici (a me, in particolare, una penna colorata già mi rende la giornata più gioiosa). E quindi abbiamo deciso di dirlo subito a Carolina che Babbo Natale è un personaggio inventato, così come i Barbapapà, Nemo, le principesse Disney e tanti altri. Le abbiamo spiegato che i regali per Natale li comprano i genitori, e che visto che il Natale è, per noi, semplicemente un giorno in cui non si va a scuola e nient’altro, e considerando che lei ha già un mucchio di giocattoli e libri, che compriamo semplicemente quando li vediamo in giro e li troviamo interessanti, tutte queste cose di Natale, regali, Babbo Natale, Gesù Bambino e Befana sono una grandissima boiata. Il mondo è già abbastanza magico senza che abbiamo bisogno di raccontare le balle ai bambini, che si meritano decisamente più rispetto.

E parlando di rispetto (or lack thereof), un altro aspetto delle feste di fine anno che mi fa venire la spuma in bocca è la mania orrenda, idiota e antipedagogica di associare regali (e dolcetti) alle buone azioni. Come se alcun bambino si fosse mai comportato “bene” durante tutto l’anno solo con il pensiero di guadagnarsi un giocattolo e un torrone a Natale. E poi il concetto di “comportarsi bene” che cazzo significa? In Italia, o almeno in Umbria, comportarsi bene vuol dire non sporcarsi, non sudare, non correre. Mia figlia invece fa tutte queste cose – orrore, orrore, gioca addirittura con l’acqua a casa e si bagna tutta! – ed è felice, indipendente e intraprendente. Per me comportarsi bene vuol dire non rompere le scatole agli altri, punto. Categoria che ovviamente esclude “non sudare” e altre assurdità che sento spesso in giro. E quindi solo chi non si sporca ha diritto a regali? Con i quali giocheranno pochissimo, tra l’altro, visto che i bimbi si stufano subito e che è molto più divertente giocare, che ne so, con una stecca di legno? Bisogna essere come i soprammobili, reprimendo tutti i loro istinti infantili più primitivi di correre, saltare, ridere, imitare, fare i versi strani, per poter mangiarsi un ovetto Kinder? Ma fatemi il favore.

Non voglio nemmeno entrare più di tanto nell’argomento battesimo, che considero la più grande mancanza di rispetto nel confronto dei bambini. Sono completamente, totalmente atea, ma anche se non lo fossi non credo che avrei battezzato mia figlia. Perché le decisioni che ci cambiano la vita, come bucarsi le orecchie e entrare a far parte di una setta, sono assolutamente personali e fatte con cautela e cognizione di causa. Trovo il battesimo dei bambini una pratica schifosa (e con “battesimo” voglio dire l’inserimento del bambino in qualsiasi realtà religiosa, con o senz’acqua in testa). Il mio disprezzo per le religioni – tutte, senza eccezione – non è una novità per chi mi conosce, ma ho particolare antipatia per questa imposizione religiosa ai bimbi. La trovo disgustosa, e mancante di rispetto tanto quanto dire ai figli che è la Befana che gli porta i dolcetti. Non si mente ai bambini, punto. Non per paura di creare dei traumi irrisolvibili, ma perché non si fa, per principio. Mentire è brutto e se diciamo a loro di dire sempre la verità, con quale faccia tosta gli lanciamo queste bugie natalizie e bibliche? Io questa faccia tosta non ce l’ho. E quindi niente Babbo Natale, niente Befana, niente Bambino Gesù (che secondo me Carolina ha sentito nominare solo in mezzo alle bestemmie del padre e del nonno). Non abbiamo nemmeno un albero di Natale, che anche se è microscopico non riesco a trovargli un posto; preferisco occupare gli spazi della sala con la cucinetta di legno di Carolina e la sua propria Billy piena di libri e DVD. Capisco l’importanza, per l’essere umano, di feste e rituali, ma, come dico sempre, una cosa buona fatta per il motivo sbagliato, per me, è meglio non farla proprio. Facciamo festa quando ci sentiamo di farla. Per festeggiare un compleanno, un viaggio, la bella canzone che abbiamo ascoltato in macchina. Basta e avanza, no?

de música, eutanásia e fim do mundo

Ontem calhou de ler esse post da Dri e de ouvir essa música

http://www.youtube.com/watch?v=rBw7qX_jOqE

no mesmo dia, e comecei a pensar sobre o assunto morte. Não de maneira mórbida (engraçado que “morbido” em italiano quer dizer “macio”); eu sou uma pessoa pragmática, com formação médica e non-believer até a raiz dos cabelos, de modo que encaro a coisa de maneira muito natural. Nosso destino é virar húmus, e não consigo imaginar nada de mais nobre e poético. De modo que deixo aqui, em público, pra todo mundo ver, minha vontade de, quando chegar a hora, que logicamente espero que demore muito pra vir, 1) ser eutanasiada, se for o caso; não acho que sentir dor enobrece e passar anos feito um pé de couve murcho numa cama não é pra mim; 2) ser cremada, porque ocupar espaço depois de morto é totalmente out, néam; 3) OBVIAMENTE não ter missa de nada, senão eu volto do além pra puxar a perna de quem tiver encomendado um só rosário que seja; e 4) que qualquer que seja a cerimônia de adeus, por favor toquem essa música acima (caprichem no coral, tá) e/ou essa aqui, também deles, que tem uma letra linda.

“With a nuclear fire of love in our hearts” é um dos versos mais lindos que eu já li. As letras do Live são todas meio malucas, porque o Ed tende ao esotérico-espiritual-era de aquário, mas ele já escreveu tantos versos lindos que eu volta e meia me pego repetindo uma frase dele, como um mantra. Run to the Water, em particular, sempre me traz lágrimas aos olhos. Como disseram num thread de comentários de outro vídeo deles no YouTube, a sensação que a música deles me dá não é de tristeza; não são lágrimas de tristeza ou de felicidade ou de raiva, mas de sentimento puro e simples. Tinha muito tempo que eu não ouvia Live. Não vai acontecer de novo de passar tanto tempo assim sem ouvi-los; de vez em quando preciso de umas sacudidas sentimentais assim pra acordar.

Run to the Water

Oh desert speak to my heart
Oh woman of the earth
Maker of children who weep for love
Maker of this birth
‘til your deepest secrets are known to me
I will not be moved
I will not be moved

“don’t try to find the answer
When there ain’t no question here
Brother let your heart be wounded
And give no mercy to your fear”

Adam and eve live down the street from
Me
Babylon is every town
It’s as crazy as it’s ever been
Love’s a stranger all around

In a moment we lost our minds here
And lay our spirit down
Today we lived a thousand years
All we have is now

Run to the water
And find me there
Burnt to the core but not broken
We’ll cut through the madness
Of these streets below the moon
These streets below the moon

And I will never leave you
‘til we can say, “this world was just a
Dream
We were sleepin’ now we are awake”
‘til we can say

In a moment we lost our minds here
And dreamt the world was round
A million mile fall from grace
Thank god we missed the ground

Run to the water
And find me there
Burnt to the core but not broken
We’ll cut through the madness
Of these streets below the moon
With a nuclear fire of love in our hearts

Yeah, I can see it now lord
Out beyond all the breakin’ of waves
And the tribulation
It’s a place and the home of ascended
Souls
Who swam out there in love!

Run to the water
And find me there
Burnt to the core but not broken
We’ll cut through the madness
Of these streets below the moon
With a nuclear fire of love in our hearts
Rest easy baby, rest easy
And recognize it all as light and rainbows
Smashed to smithereens and be happy
Run to the water (and find me there)
Run to the water

carabinierices

Ligam-nos dos Carabinieri (a polícia militar daqui) pedindo pra gente comparecer ao quartel pra assinar uns documentos relacionados à Carolina. Sabendo que a coisa se referia ao pedido de adicionar os meus sobrenomes, fomos. Somos atendidos por um Carabiniere pedaço de mau caminho, muito educado e gentil como todos os Carabinieri que já encontrei e que já me pararam no trânsito ou já me atenderam de alguma maneira. Ele pega uma folha de papel quadriculado (inexplicavelmente eles aqui usam papel quadriculado pra tudo), daqueles vagabundos que de tão fino não se pode usar caneta pilot porque senão mancha o que estiver por baixo, e começa a anotar os nossos dados. Anotados os números das carteiras de identidade e os nomes dos dois no tal papel vagabundo, dá-se o seguinte diálogo.

Carabiniere Pedaço de Mau Caminho: Mas vem cá, isso tudo aqui é sobrenome?

Eu: É.

Carabiniere PMC: Tá… E é comum no Brasil ter cinco sobrenomes?

Eu: Não, é que a minha família é antiga mesmo e meu avô tinha mania de genealogia.

Carabiniere PMC: Tá… E vocês querem então que a sua filha tenha SEIS sobrenomes, cinco seus e um do pai?

Nós: Isso.

Carabiniere PMC: Motivo…?

Eu: Porque ela é filha de duas pessoas e não de uma só.

Mirco: Porque tem juízes na cidade dela com esse sobrenome, pode valer um pistolão no futuro, nunca se sabe.

Carabiniere PMC: Esse monte de sobrenome não vai complicar a vida dela não?

Eu: Nunca complicou a minha. Pelo contrário, todo mundo se lembra de mim. É só dizer “sou aquela dos cinco sobrenomes” que todo mundo sabe quem é.

Carabiniere PMC, sorrindo: Tem razão. Bom, era só isso, senhores.

Saímos, nos olhamos, começamos a rir. “Papel quadriculado???”, dissemos ao mesmo tempo. “Timbrado era pedir muito?”, disse o Mirco, sacudindo a cabeça.

No problem. O importante é que o processo siga adiante e ela ganhe os meus sobrenomes. Não importa se ela só vai conseguir decorar todos quando estiver na faculdade.