avatar

Finalmente consegui ver Avatar, tipo depois de todas as pessoas do planeta. Moreno me emprestou o Blu-Ray e vi sozinha em casa, num dia em que a Carol tava na Arianna e eu precisava MUITO de uma tarde de ócio.

Decepção total. Veja bem, o visual é realmente fenomenal, os caras fizeram um trabalho espetacular, os bichos são maneiríssimos e coisa e tal, mas, putz… O roteiro. O roteiro matou o filme. A palhaçada inicial com o lance dos Marines já me irrita, sabe, essa coisa do militar americano que eu acho o horror dos horrores e tal. Mas quando aparece o comandante ou sargento ou sei lá o que com aquele sotaque de redneck, bronzeado, falando em gíria militar, cheio de cicatrizes de batalhas passadas e, a gota d’água, A PORRA DA CANECA DE CAFÉ ETERNAMENTE NA MÃO, eu quase desliguei a televisão. Que ódio! Que ódiooooo! Tanta tecnologia, tantos anos, tanto esforço, tanto dinheiro jogado no lixo! Com um roteiro maneiro, ou pelo menos não idiota, teria saído um filmaço-aço-aço, mas não. Que ódiooooo! Lógico que a coisa foi só piorando, aquela coisa do bom selvagem, do civilizado que se deixa civilizar pelos bárbaros, blah blah blah. Merda de desperdício de gráfica foda (a única cena que realmente achei ridícula foi aquela dos n’avi sentados no chão naquele ritual místico-religioso-babacóide deles, porque ficou parecendo ala coreografada de escola de samba, sei lá).

Enfim, o fato é que tem muito tempo que não vejo um filme decente. Só conseguimos ir ao cinema aos domingos, quando deixamos a Carol à tarde na Arianna, mas se só tem porcaria pra ver, não resolve muito. Achei Solomon Kane uma merda (jesus, quem é aquele ator canastrão? Socorro!). Adoramos O Segredo de Seus Olhos, mas tive que insistir muito porque o pessoal queria ver uma porcaria dessas comédias pastelão italianas que me dão instintos homicidas. Ainda não consegui arrastar ninguém pra ver Toy Story 3, mas também não sei se quero ver em italiano, sinceramente… Só me resta ficar re-re-re-re-re-re-re-re-revendo os que a Carol adora, Cinderela, Toy Story 2 e Shrek (a trip do Aladdin aparentemente passou).

guia para hackear línguas

Lembram que outro dia eu falei que tinha uma coisa legal de trabalho rolando? Pois essa coisa legal era a tradução do Language Hacking Guide do Brendan.

O Brendan trabalhou comigo naquele manicômio em Foligno e saiu correndo antes de adoecer, coisa que vários de nós deveríamos ter feito, mas não sem antes me apresentar ao Couchsurfing. De modo que tenho muito a agradecer a ele, como se não bastasse ele ter sido companhia sensacional nos poucos meses em que convivemos pessoalmente.

O lance é que o Brendan é um aprendedor de línguas. Tipo assim, o que você faz da vida, meu filho? Aprendo línguas. In loco. Não é ótimo? Não consigo imaginar outra profissão mais legal no mundo. E ele escreveu um e-book ensinando qualquer um a aprender línguas fácil e rápido como ele, usando métodos… hm, diferentes, dos quais tenho certeza que você nunca ouviu falar. E eu tive a honra de traduzir pro português, aprendendo muito no processo porque sou gramaticófila assumida e nunca confiei muito em métodos “comunicativos”. Mudei de ideia radicalmente e só estou esperando a Carolina se ajeitar com o sono pra eu poder me jogar de cabeça no francês (porque, vamos combinar, nenhum método do mundo, a não ser talvez a aplicação de um chip diretamente no lobo frontal, funciona quando você dorme em média 4,5 horas por noite, né).

A coisa funciona assim: quando você compra o guia, ele vem em várias línguas (cujo número vai aumentar em setembro), de modo que você pode comparar a versão na sua língua com a versão da língua que estiver estudando – isso ajuda muito, como qualquer pessoa que já leu Harry Potter em outras línguas pra aprender porque já sabe o livro de cor e salteado está careca de saber. Você também ganha um exclusivo conjunto de worksheets com “deveres de casa” e checklists pra ajudar você no percurso. Mas não é só isso! Tem também um arquivo em Excel com listas de palavras pra você aprender, tudo explicadinho no manual. Mas tem mais! Muitas entrevistas com outras pessoas que aprenderam línguas usando métodos não-convencionais e contam as suas experiências ao Brendan. Então veja só: o manual em várias línguas (o original em inglês e traduções em português, francês, italiano, espanhol, alemão e polonês, por enquanto), mais as worksheets, mais o arquivo em Excel, mais as horas de entrevistas interessantíssimas, custa só 49 dólares. Ridículo, inclusive porque ele dá uma lista bem longa de recursos grátis online pra aprender línguas, todos já devidamente bookmarkados ou baixados como apps no meu iPhone, obrigada. O preço vai aumentar em setembro porque vão ser adicionadas váaaaarias outras línguas e vão rolar muitos updates de links, algumas seções vão ser aumentadas etc – e se você comprar agora os updates depois são de grátis.

De modo que eu recomendo al-ta-men-te.

ajudinha

Lá vou eu pedir ajuda aos universitários de novo. Dessa vez é uma coisa meio específica.

Estou traduzindo um jornalzinho interno de uma multinacional com uma “filial” italiana bem desenvolvida, de modo que a empresa tem um time de futebol bem organizado que joga regularmente contra times de outras empresas. Esse jornalzinho interno, depois de traduzido pro inglês (que é o que eu estou fazendo), vai circular na casa-mãe americana e na filial inglesa. Só que o jornalzinho segue totalmente o esquema italiano, principalmente com relação ao futebol, de modo que não sei exatamente como proceder.

Funciona assim: qualquer jornalzinho, de escola, de paróquia, de cidade pequena etc tem o que eles chamam de “pagella”, ou “boletim escolar”, dando notas aos jogadores. Trata-se sempre de um parágrafo curto pra cada jogador, beeeem irônico, e termina com um apelido merecido naquela ocasião. Então, por exemplo, um cara que jogou muito bem e estava em todos os lugares ao mesmo tempo foi apelidado de Homem-Aranha. O parágrafo fica mais ou menos assim:

SOBRENOME 8 [o sobrenome vem sempre em maiúsculas e seguido da nota, normalmente sem nada separando]: Já pendurou as chuteiras oficialmente há muito tempo e o físico não é mais o mesmo, mas sem ele o time não teria vencido – o cara estava em todos os cantos ao mesmo tempo! Sensacional a defesa contra o Fulano. HOMEM-ARANHA

SOBRENOME 5: A vida de casado aparentemente tem lá suas consequências… Como as coisas mudaram, Sobrenome! Quem te viu, quem te vê! Praticamente dormindo em campo, só acordou quando Beltrano fez aquela falta assassina no Fulano. Ou pode ser que ele tenha acordado quando a esposa entrou no estádio… CASANOVA ADORMECIDO

E por aí vai. Tchutchuca, não é mesmo. Superengraçado, ha ha ha. A minha pergunta é: um texto desse tipo faz algum sentido na Inglaterra ou nos EUA? Existe algo ainda que remotamente parecido no mundo anglófono? Melhor dizer pro cliente cortar essa parte ridícula que não interessa a ninguém, até porque fala-se de jogadores italianos que ninguém das outras filiais deve conhecer, ou traduzo assim mesmo e foda-se o mundo que não me chamo Raimundo? Tenho pra mim que as pessoas vão ver esse SPIDER-MAN no final de um parágrafo louco e pensar WTF?, amassar o jornalzinho e jogá-lo fora lindamente, but that’s just me. Se alguém me der uma luz sobre o assunto, agradeço.

Beijo no coração.

carolina e o sono

Como eu disse, muito obrigada pelos conselhos. “Chill out” foi o melhor que eu recebi, de um leitor cuja filha começou a dormir direito do nada. Como segundo a minha mãe tanto eu quanto meu irmão só fomos dormir decentemente aos 4 anos, presumivelmente sem que ninguém tenha mudado nada na nossa rotina, é possível que essa coisa de dormir mal seja uma fase que um dia vai passar espontaneamente, até porque eu já tentei tudo o que li/ouvi/pesquisei/inventei sobre o assunto, fora deixá-la chorar.

De qualquer maneira, a Carol começou a dormir melhor. Do nada. Começou dormindo direto duas noites seguidas, sem que eu tivesse feito nada de diferente, e acordando de madrugada no resto da semana mas caindo no sono de novo no máximo meia hora depois e sem fazer a confusão toda dela de me arranhar, fazer down dog, ficar passando os pés nas barras do berço pra fazer barulho, essas sandices suuuuperlegais de aturar de madrugada. Na manhã do segundo dia ela só acordou pra tomar a mamadeira às oito da manhã, e como parecia estar bem desperta aproveitei o ensejo e não a coloquei de novo pra dormir. Adiantei o almoço, adiantei a soneca da tarde e adiantei o jantar e a hora de dormir à noite. Ficamos nesse esquema a semana passada toda, eu acordando a coitada às nove e meia da manhã, dando almoço às onze e meia, meio-dia, ela tirando a soneca de uma a duas e meia mais ou menos, lanchinho logo depois, jantar às seis, no máximo seis e meia e cama às nove. Ela continuou acordando de madrugada, mas no mesmo esquema de levar menos tempo pra pegar no sono e sem arranhar a minha mão toda me levando à loucura. Em duas ocasiões ela vomitou a mamadeira TO-DA junto com o jantar e acabou indo pra cama de barriga vazia. Eu achava que ela acabaria acordando com fome lá pra meia-noite, mas ela aguentou firme e só mamou às seis, que é o horário de café da manhã de pedreiro dela. Não tem coisa mais nojenta do que a sua camisola e o seu cabelo pingando vômito de espinafre e mozzarella de búfala, mas pelo menos o vômito serviu pra gente saber que ela consegue dormir só com o jantar, sem a mamadeira depois. De modo que a mamadeira da noite foi sumariamente abolida, totalmente sem traumas.

Já faz duas semanas que ela pega no sono sozinha, sempre, sem encher. Ainda não tenho uma amostra grande o suficiente pra comprovar estatisticamente se ela dorme melhor quando vai pra cama mais cedo, mas aparentemente é isso mesmo. A minha teoria é a de que quando fica cansada demais ela não consegue fazer nada direito, nem mamar e nem dormir. O cansaço também acaba comigo, fico (mais) insuportável e demoro (mais ainda) a pegar no sono, mas infelizmente não me impede de comer; aparentemente, portanto, ela é muito parecida comigo no quesito resistência física à falta de descanso. A diferença é que ela precisa de muitas horas de sono, enquanto que pra mim bastam poucas, mas boas. Hoje ela dormiu às OITO e venho notando que chegar até as nove é um pequeno suplício pra ela. Acho que vou deixar que ela durma mais meia hora de manhã pra ver se ela aguenta firme até as nove, porque ir pra cama às oito da noite é sacanagem, o Mirco chega em casa às oito e meia… Agora são dez e meia e ela deu uma chorada mas parou sozinha. Vamos ver o que a madrugada dirá.

os vampiros

Moreno me emprestou Twilight e New Moon em Blu-Ray, insistindo que eu os visse porque achava que eu iria gostar.

Olha… Tem muitos anos que eu não vejo dois filmes tão idiotas. Espero de verdade que os filmes tenham ficado muito aquém dos livros, porque tem tanta gente boa que eu conheço que gostou dos livros que me recuso a acreditar que sejam tão ruins e estúpidos assim. Festival dos clichês, anyone?

A Coisa Irritante Número Um são os cabelos amarelo-Cheetos dos vampiros louros. Queísso, gente? Ter cabelo amarelo com cara de peruca de plástico é efeito colateral de vampirice? Faz favor, né!

Coisa Irritante Número Dois: a Bella. Meldels, que garota cha-ta! Chata, chata, chata de marré deci! Não tendo lido os livros, não sei se a personagem é assim mesmo ou se é a atriz que é um horror, mas o fato é que achei a garota chata, com aqueles olhos caídos, a boca eternamente aberta, toda a graça e entusiasmo de uma batata cozida e a expressividade do cigano Igor, a falta de personalidade, a falta de interesse geral. A larica do vampiro devia estar feia mesmo pra ele se apaixonar por aquela coisa.

Coisa Irritante Número Três: os diálogos 100% chavão. “Não consigo imaginar a minha vida sem você”. Vômito.

Coisa Irritante Número Quatro: o Jake. Se você achava que só a Globo era capaz de transformar caras-de-pobre feito o José Mayer em galã, se enganou. Com essa nareba de Jackson Antunes antes da cirurgia, meu filho, você pra mim só vai ser galã quando todos os homens do mundo morrerem de autocombustão.

Coisa Irritante Número Cinco: esse lance da pele brilhante quando os vampiros se expõem ao sol. Hein? Num mundo como o nosso, onde ninguém nem olha duas vezes pra punks, megatatuados, gente com piercing no cu, gordas de biquini na praia, alguém sinceramente acharia uma coisa estapafúrdia um muchacho coberto de glitter?

Coisa Irritante Número Seis: o excesso de clichés nos roteiros. O vampiro que finge não gostar mais dela de um dia pro outro pra salvá-la e ela acreditar; ela que finge que está puta com o pai pra poder fugir de casa e salvá-lo e ele que acredita; a história toda dos lobisomens; a mãe pseudomaluquinha; o vampiro rasta. Ai meus sais…

Os efeitos especiais do primeiro filme são uma merda; os do segundo, um pouco melhores. As sobrancelhas da Bella estão melhores no segundo filme. Cada vez que vejo o Jasper fico com vontade de bater nele; tudo nele me irrita, a começar pelo nome (e pelo cabelo).

A única coisa legal que eu vi foi o lance da “instalação” com os chapéus de formatura (tenho certeza que eles têm algum nome específico mas estou com preguiça de procurar) na parede da casa dos vampiros. Criativo.

E pensar que neguinho faz fila pra ver essas merdas. O mundo anda me irritando deveras ultimamente.

ah, itália…

Eu venho dizendo há anos que a Itália é o país mais divertido do mundo. É tão surreal que se não existisse precisava inventá-la.

Quem já viu televisão aqui sabe do que eu estou falando. Antes do telejornal da manhã todos os canais fazem o que eles chamam de “rassegna stampa”, que resume-se a LER em voz alta, às vezes sublinhando as frases mais importantes com marca-texto, as manchetes dos principais jornais do país. Não estou brincando. O cara fica lá sentado de frente pra câmera atrás de uma escrivaninha cheia de primeiras páginas de jornais, e vai lendo em voz alta e sublinhando. Não é uma coisa?

E as roupas dos repórteres? Quando eu estudei em Chiavari com a Syrléa a gente dava gargalhadas com o terno de veludo cotelê amarelo-mostarda e a barba por fazer do apresentador do TG5, que por sinal continua lá até hoje e continua volta e meia aparecendo com barba de dois dias. As apresentadoras mulheres muitas vezes usam roupas abomináveis, estampas berrantes, decotões, brinco gigante em uma orelha só, coisas que deveriam ser proibidas por lei tipo paletozinho vermelho-Paloma-Picasso com botões dourados e om-brei-ras. Pra não falar dos cabelos. Já vi cabelo amarelo com a raiz escura, franja caindo nos olhos é um must, cabelo chapinhado escorrido cobrindo as laterais do rosto é supercomum. Maior profissionalidade, vou te contar.

sos dvd

Obrigada a todo mundo que deu pitacos sobre o sono da Carol. Todo mundo me ajudou de alguma forma. Estou com preguiça de entrar em detalhes agora, mas fiz algumas mudanças na nossa rotina e a coisa parece estar tomando o rumo certo (ou então ela mesma é que entrou no esquema, o que me parece mais provável).

Preciso da ajuda de vocês de novo pra uma coisa muito séria: meu DVD player novo. Meu Turbo Fire acabou de chegar e não vou conseguir fazer enquanto não achar um jeito de desbloquear o DVD player, que não lê nem o Turbo Fire nem o ChaLean Extreme (mas lê os Turbo Jam sem problemas, vai entender). E como é que vou ver meu Tropa de Elite amado? O mundo definitivamente seria um lugar mais feliz se não existisse essa palhaçada de área isso, área aquilo.

Meu DVD player é um Samsung Blu-Ray modelo BD-C5300. Se alguém souber me ajudar, agradeço imensamente. Sempre desbloqueei todos os DVD players que tive, mas não estou conseguindo achar o código pra esse novo. Socuerro!!!

Update: A internet é uma coisa linda mesmo. Problema resolvido :) Valeu, Camila!

isaura

A Isaura aqui tem trabalhado pacas. Só coisa chata. Mas apareceu uma parada legal aqui agora. Tem a ver com línguas. Tem a ver com o Brendan. Só podia ser legal : ) Mais novidades quando a coisa sair do forno.

e a copa, hein?

Bom, fodeu tudo, né. Sinceramente nunca acreditei muito na nossa seleção, mas o Brasil era dado como favorito aqui em todos os programas de futebol, de modo que a derrota pra Holanda foi realmente um banho de água fria.

Foi lindo ver a Argentina perder daquele jeito. E não só porque eles me são incrivelmente antipáticos e arrogantes, mas porque acho o Maradona uma das figuras mais odiosas da face da Terra e merecia um tapa na cara bem estalado. Não consigo entender isso do cara ser um ídolo mesmo sendo um idiota. Nunca fui capaz de entender a supremacia do talento (ou do esforço) sobre a integridade de caráter. O cara jogava pra cacete, granted, mas É UM FILHO DA PUTA! Drogado! Arrogante! Desonesto! Cara, se tudo isso não anula completamente o talento que ele tinha então eu não quero mais viver nesse mundo não.

Isso me lembra uma conversa que tivemos uma vez à mesa do jantar na casa da Arianna. Estávamos falando de um ex-funcionário do Mirco, que chegou a ser muito amigo dele, que é completamente maluco. O Ettore dizia que não entendia por que ele nunca namorava, porque era tão trabalhador. Oi? Ele é maluco, ma-lu-co, desequilibrado, inconsistente, louco! Quem é que atura isso? “Mas ele trabalha tanto!”, repetia o Ettore, como se isso resolvesse todos os problemas do mundo. Já ouvi coisas desse tipo de muitas outras pessoas. “Ah, ele pode ser burro/chato/desonesto/mulherengo/sujo/mau com os filhos/violento com a mulher/etc, mas é tão trabalhador!” SOCORRO! As pessoas aqui levam a primeira frase da Constituição a sério demais (“L’Italia è una repubblica fondata sul lavoro…”). Detesto esse conceito de botar o trabalho no centro do universo. Sou só eu que considero o trabalho um mal necessário? Um meio pra chegar aos fins? Coisa mais chata isso de ter uma vida tão vazia que só resta trabalhar; estou de saco cheio dessa gente ignorante. E não estou falando só dos meus sogros não, que não são capazes de contar uma história direito, muito menos de explicar o que estão vendo na televisão porque mal sabem escrever; temos amigos da nossa idade cuja vida se resume a trabalhar e nada mais importa. Gente que passa a vida juntando dinheiro sabe-se lá pra quê, já que nunca o aproveitam, e nunca o aproveitam porque não saberiam o que fazer sem trabalhar, pois nunca fizeram outra coisa. Coisa mais chataaaaaa!

menu de verão

Eu sinceramente nunca entendi essa coisa do apetite das pessoas seguir as estações, mas aqui isso é levado muito a sério. A minha vontade de tomar sorvete não diminui nada no inverno, e tampouco no verão tenho menos vontade de comer massa ou outras coisas que como sempre. Mas aqui é só falar de carne no verão e todo mundo começa “aaaaaaaaaaah, tá calor demais pra comer carne… Eu no verão só como mozzarella, melão com presunto etc”. Meu estômago deve ser temperature-insensitive or something.

A coisa boa do verão é poder comer fora – fora no sentido de do lado de fora de casa. Aqui em casa comemos na varanda sempre que vem gente pra jantar. Na Arianna o verão inteiro é almoço e jantar na mesa do quintal, inclusive nos dias tórridos nos quais eu daria um dedo mindinho por um ar condicionado. Pra Carolina é uma bênção, porque ela fica perambulando pra lá e pra cá enchendo o saco dos cachorros e jogando restos de alface dentro da casinha dos gansos, doida pra destruir as plantas confusas da Arianna mas sabendo que não pode, então apontando e fazendo “ahn? ahn?” e depois fazendo “não não não não não” com o indicador, às vezes vindo até a gente na mesa pra filar um pedaço de qualquer coisa. Ela continua comendo pouco, e entrou naquela fase pentelha de gostar de uma coisa num dia e nem querer olhar pra ela no dia seguinte, mas algumas constantes existem, como a mozzarella, azeitonas, tomate e um cream cracker dos Vigilantes que encontrei estranhamente por aqui (o Weight Watchers italiano fechou há anos por má administração) e que prefiro aos crackers normais porque tem menos sal e gordura e é de farinha integral. Essas coisas ela nunca recusa. Todas as outras coisas dependem do humor do dia. Sacoooo.

Enquanto isso, todo mundo continua me perguntando por que é que ela nunca tomou sorvete nem comeu doce nem batata frita. Hello? A garota já não come quase nada, vou ficar enchendo a barriga dela de coisas de valor nutricional zero? Pra que acostumá-la com essas coisas? Tudo o que nunca aparecia lá em casa quando eu era pequena eu não como até hoje – bala, chiclete, fritura, cachorro-quente. Refrigerante quando eu era pequena chegava a estragar; hoje eu tomo Coca de vez em quando, e admito que tomaria mais frequentemente se a coisa não fosse praticamente venenosa, mas corto sem sacrifícios nas minhas fases de contagem hardcore de calorias. Todos os outros refrigerantes do mundo por mim poderiam perfeitamente nunca ter sido inventados. Detesto doce de padaria. Não como nem brigadeiro. Por que vou ficar dando essas coisas pra minha filha? Não entendo. Na porchetta de aniversário do Ettore uma senhora que eu nunca tinha visto, uma daquelas parentas que aparecem uma vez na vida e outra na morte, trouxe uma barra de Galak pra Carolina. Prestem atenção, a velha trouxe 400 g DE CHOCOLATE BRANCO, que nem chocolate de verdade é, pra uma criança de nem um ano e meio!!! Sou eu que sou louca ou pára o mundo que eu quero descer? Isso em um país onde as pessoas vivem pra comer e o fazem muito bem, obrigada; em um país de pessoas que não morrem nunca provavelmente graças à dieta mediterrânea; em um país onde ainda é normal voltar pra casa pra almoçar e onde as avós fazem macarrão em casa nos fins de semana e onde as pessoas só comem carne vermelha muito de vez em quando porque “faz mal”, onde não se frita praticamente nada, onde a comida que encontramos nos supermercados é super-hipermega controlada e vem cheia de selos e carimbos e autenticações pra gente ter certeza do que está comendo. Juro que não entendo.