festa não-estranha, com gente exquisite

A festinha foi um su. O único convidado que não veio foi a Quarentona Estressada, que mora num buraco lá na casa do chapéu, na Toscana, e falta aula há mais de uma semana porque tá sem carro. Ganhei vários livros (lógico), gift certificate da minha livraria preferida (claro) e outras coisinhas fofas. Arianna fez pizza de vários sabores, todos ótimos, eu fiz crostino com o salmão da eowyn (brigada, amiguinha, é uma delícia!!!), brigadeiro e quadradinho de laranja, não tiramos fotos porque me recuso, não cantamos parabéns porque tenho pavor, me diverti a valer, como diz meu irmão. Acabamos resolvendo inclusive deixar os móveis do jeito que estão, porque quando vem cabeçada aqui afastamos o sofá pra um lado e a mesinha de centro pro outro, pra dar mais espaço. Gostamos da arrumação e vamos deixar assim por enquanto, por um período de teste (quem vê TV deitado acha ótimo, mas quem senta tem que dar uma torcida básica de pescoço pra poder enxergar a mulherzinha do telejornal ou o Grissom e suas larvas, por exemplo).

E hoje o tempo tava uma bosta, como aliás nos últimos dias; frio e chovendo sem parar, um porre. Dormimos e/ou enrolamos a manhã inteira, almoçamos na Arianna, voltamos pra casa, dormimos e/ou enrolamos de novo; nesse meio tempo falei no telefone com meu pai, minha avó, meu avô, e Valerrí de Parrí (saudades de você, amiga!) e com minha mãe no Skype. Vencida a preguiça, pegamos a sessão das 7 e pouco no cinema. Vimos Be Cool. Achamos muito mais ou menos, mas tem seus momentos. Se bem que, IMO, a melhor parte do filme é o close nas ancas biquinadas da Uma Thurman que pega sol num colchão colorido com vista pra L.A. Ela tem estrias nas ancas. Bastantes.

porrada! porrada!

Quarta-feira eu estava no bem-bom do meu lar, traduzindo minhas coisinhas depois do almoço, quando o Mirco liga da oficina pedindo pra eu ir buscá-lo porque um marroquino ex-funcionário dele tinha entrado no escritório e lhe dado vários socos e pontapés.

A história é a seguinte: ano passado meu sogro, que é buono come il pane mas péssimo pai, administrador e dono de cachorro, emprestou uma bela grana a esse marroquino. Até aí nada de mais, se não fossem os seguintes poréns: ele sempre se recusou terminantemente a emprestar dinheiro à filha, que queria abrir um bed & breakfast; o marroquino em questão já tinha sido mandado embora e readmitido por ele mesmo mais de uma vez; o marroquino em questão vivia arrumando confusão com todo mundo na oficina, até mesmo com os outros marroquinos, que não o suportam; alguns meses depois de ter pego o dinheiro, e tendo pago só duas prestações, o marroquino em questão pediu demissão e picou a mula. E então o Mirco entrou com o advogado na história.

Essa semana, provavelmente, deve ter saído a decisão oficial de que uma parte do salário dele, na nova empresa onde trabalha, vai ser descontada pra saldar a dívida com o Ettore. Como ele sabe muito bem que quem articulou a coisa toda foi o Mirco, porque o Ettore não sabe nem o nome do país onde mora a filha, quanto mais pra que serve um advogado, volta e meia o marroquino em questão aparece lá na oficina pra ameaçar. Inclusive os Carabinieri já tinham sido notificados, porque uma vez o marroquino em questão apareceu por lá ameaçando o Mirco de morte, entre outras coisas desagradáveis. Dessa vez ele entrou na oficina, porque o Ettore, que além de tudo aquilo lá em cima é teimoso feito uma mula, insiste em deixar o portão aberto, invadiu o escritório, onde o Mirco tava de costas pra porta, falando no telefone, e começou a porrada. Levou um soco só, o primeiro que o Mirco deu em toda a sua vida, e deu vários – porque infelizmente o imigrante, em certos aspectos, é mais bem protegido pela lei do que o italiano, e se o Mirco revidasse seriamente iria perder a razão. Conseguiram segurar o cara, que ainda falou alguma coisa em árabe com os outros marroquinos – eles o detestam tanto que contaram pra gente que os ameaçou caso testemunhassem contra ele.

Quando cheguei na oficina, os Carabinieri tavam lá anotando tudo, fomos ao hospital em Assis e ontem de manhã o Mirco foi entregar a denúncia formal e o relatório médico. Não houve nada de particular: contusões, hematomas, dor na nuca e leve tonteira, e dor no esterno, porque foi onde ele levou o soco mais forte, mas nada de ooooooooh. Só que agora fica aquela coisa: eu já cansei de surpreender o Mirco tarde da noite na oficina, concentrado no trabalho, às vezes no escritório, às vezes dentro do forno, pintando. Pular o portão é sopa no mel; eu mesma já pulei mais de uma vez, inclusive cheia de casacos e cachecóis. Um cara desses, que não tem nada a perder, entra armado na oficina, ou então entra desarmado mas pega uma chave de roda qualquer dos carrinhos de ferramenta, e bye bye lanterneiro. Legal, né?

níver

Então, meu aniversário tá chegando. Já pensaram no meu presente? :)

Normalmente detesto aniversário, e sinceramente não vejo muito o que comemorar, embora tenha que admitir que até o momento o ano tenha sido relativamente proveitoso. Mas ao mesmo tempo quero reunir os poucos e caros amigos que tenho aqui. Ainda não decidi direito o que fazer. Estou pensando em juntar umas vinte pessoas, eu e Mirco incluídos, aqui em casa, no sábado. O problema é o menu: não quero passar o dia inteiro pilotando fogão e me estressando no dia do meu aniversário, mas também não queria abusar da Arianna – Mirco sugeriu pedir a ela pra fazer umas pizzas no fogão a lenha do quintal. Sugestões de balacobaco são bem-vindas.

uia

Tirou as palavras da minha boca. Dá vontade de imprimir todas as fotos e guardar pra mostrar pra italiano bobo que diz que brasileira é linda. Pobre nunca é lindo. Pobreza, infelicidade, ignorância, dificuldades, doença, tudo isso enfeia. Feio que tem filho com feio acaba perpetuando o feio. E aí resulta na Miss Sergipe.

A Fernanda só não falou dos nomes das meninas, bizarros, cheios de kás, ipsilons, dáblius; nomes inventados, nomes pseudo-estrangeiros, nomes de personagens de novela. Tristeza, viu.

porre…

O tempo virou, e feio. Um invernico, por assim dizer, no meio de uma estação que deveria ser mais temperada. Chove, venta horrores (bora de 135 km/h em Trieste), neve e mais neve no norte, mar agitadíssimo, frio. Aqui chove sem parar, e as sementes de manjericão, que plantei toda esperançosa semana passada quando achei que fosse esquentar de verdade, devem ter entrado em hibernação até segundo aviso. Os cravos, que já tinham começado a florescer, daqui a pouco apodrecem no chão da varanda. A única que tá achando legal é a tulipa, que curte o frio amarradona. Que bosta.

o weekend dos mortos-vivos

Acho que nunca dormi tanto na minha vida como nesse último fim de semana. Na sexta-feira dei aula pra uma turma nova, um funcionário aposentado dos correios que, honrando a fama da classe, é mais lento que jabuti de ressaca, e uma estudante do último ano de Psicologia que nas horas vagas dirige uma agência de detetives particulares. A aula vai das sete e meia às nove e meia da noite, e no meio da coisa comecei a sentir as malditas facadas atrás do olho esquerdo. Logo a situação se deteriorou, principalmente porque o escritório da escola já tava fechado (damos aula no escritório de um engenheiro que passa a maior parte do tempo fora e nos aluga a sala) e não tinha como arrumar água pra tomar o remédio anti-crise. Lágrimas desciam do olho esquerdo, não de dor, mas porque algum oba-oba neural devia estar rolando por ali; eu não sabia mais nem o que tava dizendo, e quando a aula terminou só faltei ajoelhar no chão e chorar. Só que o sofrimento não tinha acabado: eu ainda tinha que ir a Perugia pegar uma latinha de tinta que o fornecedor da oficina tinha deixado do lado de fora do portão pra eu pegar (adoro esses provincianismos!), já que o Mirco tinha saído pra jantar com o Moreno, em estado de ansiedade intensa porque tá indo pra Argentina outra vez agora à tarde, do outro lado da cidade. Não sei como consegui chegar lá, e muito menos como consegui voltar pra casa. Mas consegui, e quando cheguei em casa me joguei na cama e chapei.

Mirco não chegou muito tarde, e eu ainda estava em estado de decomposição cerebral. Acordamos no sábado no nosso horário natural, um pouco antes das sete, e nos preparamos pra sair de casa. Dei aula das dez ao meio-dia pra outra turma nova, duas meninas muito legais e espertas; ainda fofoquei meia horinha com a Rossella, até que senti as pontadas retro-orbitais de novo e piquei a mula. Fazer faxina tava completamente fora de cogitação porque eu mal me agüentava em pé; fiz um risoto de aspargos selvagens que nem a minha cara, Mirco chegou às duas, comemos e fomos direto dormir – os dois com dor de cabeça. Eu acordei às sete da noite, tomei um caldinho de feijão instantâneo Maggi, cobri o Mirco que tava todo torto no sofá, tentei sentar pra escrever ou traduzir mas não dava, voltei pra cama. Acabei dormindo outra vez lá pras dez da noite. Eram três e meia da manhã quando o Mirco me acordou perguntando se eu não queria fazer companhia pra ele enquanto ele JANTAVA. Comeu uma piadina com salame e voltamos pra cama. Acordamos domingo às dez da manhã, coisa absolutamente inédita na minha vida. A cabeça ainda estava dolorida, mas dava pra suportar. Almoçamos na Arianna, fomos ao cinema ver After the Sunset (bobiiiiiinho mas divertidinho) e depois jantamos no chinês da via Settevalli com a Roberta e o namorado. Adoramos chinês porque é sempre tudo igual em qualquer restaurante que você for, custa pouco e ainda dão brindes ridículos na saída. Dessa vez peguei um anel de acrílico colorido e uma coisa estranha pra pendurar não sei onde.

Pensamos em pegar um DVD, mas algo nos dizia que não conseguiríamos assistir ao filme todo sem dormir. Não deu outra. Botei o timer da TV em 15 minutos e dormi antes de ouvir o puf! dela desligando…