Montalbano

Anna Tropeano se n’era appena andata via che la porta della càmmara del commissario si spalancò battendo contro la parete e Catarella trasì a palla allazzata.

“La prossima volta che entri così, ti sparo. E tu lo sai che parlo sul serio” fece calmissimo Montalbano.

Catarella però era troppo eccitato per darsene pinsèro.

“Dottori, ci voleva dire che mi hanno acchiamato dalla Quistura di Montilusa. S’arricorda che le dissi di quel concorso d’informaticcia? Accomincia lunedì matino e io mi devo apprisintari. Come farete senza di mia al tilifono?”

“Sopravviveremo, Cataré.”

“A dottori dottori! Lei mi disse di non distrupparlo a mentre che parlava con la signora e io obbediente fui! Ma arrivò uno sdilluvio di tilifonate! Tutte le scrissi a sopra di questo pizzino.”

“Dammelo e vattene.”

Su una pagina di quaderno malamente strappata c’era scritto: “Ano tilifonato Vizzallo Guito Sera falle Losconte suo amicco Zito Rotonò Totano Ficuccio Cangialosi novamente di novo Sera falle di bolonia Cipollina Pinissi Cacomo”.

Montalbano cominciò a grattarsi in tutto il corpo. Doveva trattarsi di una misteriosa forma d’allergia, ma ogni volta ch’era costretto a leggere uno scritto di Catarella lo pigliava un prurito irresistibile. Con santa pazienza decrittò:

Vassallo, Guido Serravalle l’amante bolognese di Michela, Loconte che vendeva stoffe per tende, il suo amico Nicolò Zito, Rotondo il mobiliere, Todaro quello delle piante e giardini, Riguccio l’elettricista, Cangelosi che aveva invitado a cena Michela, di nuovo Serravalle. Cipollina, Pinissi e Cacomo, ammesso e non concesso che si chiamassero così, non sapeva chi fossero, ma era facile supporre che avessero telefonato perché amici o conoscenti della vittima.

La Voce del Violino, Andrea Camilleri.

In-tra-du-zí-vel.

uia

Hoje vai ser, aparentemente, um sábado cheio. Tenho que lavar o cabelo, torcer pro hominho da máquina de lavar vir, sair pra comprar umas saladas, frutas, verduras, porque só tenho cenoura e funcho na geladeira, traduzir, limpar a casa e estudar francês.

Logo de cara, duas boas notícias e uma não-notícia: só ontem fui ver que o cartão do Itaú tinha vencido em fevereiro e entrei em pânico, porque tava afinzona de comprar uns pacotes de farinha de mandioca e coisas assim em Foz do Iguaçu; pois bem, como é o banco mais eficiente do mundo, o cartão novo já tá lá em casa, e minha mãe vai mandar o bichinho lá pro hotel. Também recebi um e-mail de uma agência de traduções de NY que ficou mesmerizada com o meu currículo “impressive” e mandou umas coisas interessantes, que não vou detalhar porque não tem nada certo ainda. A não-notícia é que o hotel ainda não respondeu, o que anda me deixando num estado de irritação intergaláctico. Mais tarde mando um fax enfurecido avisando que se eu chegar lá e meus pacotes não estiverem separados num canto direitinho pra mim, vou rodar a maior baianona (mentira, que eu não sou disso, mas não custa assustar).

E agora dá licença que tenho umas coisas maneiras pra traduzir antes de tomar coragem pra lavar a cabeça. Ando cada vez mais de saco cheio com o assunto cabelo, e ultimamente sonho com freqüência que estou raspando a cabeça, feliz da vida.

friday

O dia foi um mix balanceado de coisas boas e coisas chatas.

A manhã foi produtiva em termos de tradução, mas por outro lado o hominho que deveria ter vindo consertar a máquina de lavar roupa, que agora deu pra fazer escândalo durante a centrifugação, me deu o cano. Chovia sem parar, mas a temperatura subiu e não precisei deixar o aquecimento aceso.

Almocei massa curta saltata in padella com abobrinha e berinjela em cubinhos, deixei molho de tomate pronto pro Mirco e fui mais cedo à escola pra xerocar umas coisas pros meus alunos. A primeira aula era à uma da tarde, com os Três Mosqueteiros, mas a bendita fruta da turma não pôde vir, então me concentrei em corrigir o dever de casa dos meninos, tirar dúvidas e fazer uns exercícios do livro-texto que tratavam da Escócia – um dos meninos é fissurado com a Escócia. Notei que estavam meio macambúzios e perguntei qual era o problema. O problema era que ontem eles tinham feito umas contas (são cunhados e amigos de infância e se vêem com freqüência) e notaram que a minha parte do curso com eles estava terminando. É que a política da escola é usar um professor não-madrelingua na primeira metade do curso, pra poder explicar a gramática em italiano, e um madrelingua pra segunda parte. Só que, queridos, em todas as vezes em que estive nos EUA e nos dois anos e tanto em que vendi vinho e javali a americanos ricos na loja do Fabrizio o Louco, nenhum americano jamais me perguntou de onde eu vinha. Aliás, sim, em duas situações: pra perguntar se eu era californiana, sabe-se lá por quê, ou então depois que me ouviam discutindo em italiano à velocidade da luz com aquela mala do Fabrizio, o que os levava a concluir que 1) eu não era italiana, porque italiano não fala inglês direito nem a porrada, e 2) não era americana, porque americano não fala bem italiano nem a porrada. E dali vinha a curiosidade. Por isso posso, absolutamente sem modéstia porque vocês sabem que eu não tenho dessas coisas, entrar na categoria native speaker, e os meninos, quando lhes disse que não eram obrigados a mudar de professor, foram logo depois da aula tentar falar com a lourinha que cuida dessas coisas, que estava fora mas depois ligaria pra eles. Resultado: não vamos mudar coisa nenhuma, vou dar mais 30 horas de aula pra eles, o que eu acho ótimo, porque são espertos, estudiosos, interessantes e engraçados e me divirto horrores com eles, e, melhor, me esforço realmente pra dar uma aula interessante, e faço com prazer. Sempre levo algum material extra pra eles lerem ou fazerem exercícios, recomendo filmes, livros, gramáticas e dicionários, e até hoje não houve nenhuma pergunta deles que eu não tenha sido capaz de responder. Como além de tudo isso sou muito engraçada e temos vários interesses em comum, diga ao povo que fico. Claro que a lourinha me deu a notícia mais tarde, na presença do chefe e da chefa da sede de Gubbio. Adoro quando ela faz isso. Esse tipo de coisa me dá o poder, por exemplo, de pedir pra ser paga sexta-feira dia 11, quando normalmente o pagamento é feito dia 15, mas como dia 15 já vou estar em Foz…

Às quatro e meia chegaram Burbone e Burbina, com quem também me divirto, embora também pene um pouco porque o pai não é exatamente talentoso em termos de pronúncia e a filha demora um pouco a aprender em relação ao pai, o que às vezes a irrita e faz com que ela perca a concentração. A coisa boa é que Burbone é médico do trabalho, e ontem finalmente consegui entender o que diabos é o raio do gelone, essa maldita dor no pé que todo inverno me maltrata horrivelmente. Aqui se fala muito de gelone, mas obviamente os camponeses não sabem do que se trata, e já ouvi as explicações mais absurdas. Sempre achei que fosse algo articular, porque a pele estica com o inchaço e fica brilhante e vermelha; se fosse algum problema só de pele, teria descamação, ou feridas, ou sei lá. E ele me explicou que realmente é uma inflamação articular, ou seja, uma artrite, parecida com a artrite reumatóide – se vocês derem uma googlada vão entender o pé no saco que é. Coça, dói pra cacete, incha – aliás, rubor, calor, tumor, dor, tá tudo lá. A boa notícia é que a pomada de corticóide que uso pro quelóide também serve pra artrite, o que significa que não preciso gastar mais dinheiro comprando remédio pra esse gelone, que ainda por cima é doença de pobre, que nem frieira, unheiro, essas coisas cafonas.

Enquanto esperava a Quarentona Estressada, que teve problemas no trabalho e no celular e não veio à aula nem pôde nos avisar, bati um papo a jato com um novo professor, um metido a gostosão enfiado num paletó risca-de-giz que acho que acabou de entrar na escola mas já tem a maior intimidade com todo mundo. Basicamente fizemos um acordo: ele vai me dar aula de francês, e eu a ele de português. Assim ninguém desembolsa nada e todos ficam contentes.

Também aproveitei o tempo livre pra começar mais um Camilleri da série do Montalbano, “La Voce del Violino”. Voltei mais cedo pra casa depois de esperar a Quarentona por 40 minutos, achei na internet o dicionário que eu tava querendo, vi que a porra do hotel não tinha respondido nada mas não quero nem saber e vou mandar entregar tudo lá mesmo e foda-se, fiz uma sopinha de legumes bobinha pro jantar, Mirco chegou dizendo que não íamos mais à festa do Roberto, felizmente, porque eu não tava com saco, sentamos no sofá pra ver C.S.I. que agora passa duas vezes por semana, quando começamos a bater cabeça fomos correndo pro quarto, e dormi com o Camilleri na mão e Grissom na TV, com o timer programado pra desligar em dez minutos porque eu não sou sócia da Light. Aliás, da Enel.

afe!

Sabe uma coisa que me irrita imensamente? Gente/empresa/qualquer um que disponibiliza e-mail mas não responde.

Mandei um e-mail pro hotel em Foz perguntando se tinha algum problema dar o endereço deles pra entregar umas coisas que pretendo comprar pelo Submarino pra trazer pra cá. Jacaré respondeu? Nem eles. Eu acho muito, mas MUITO grave um HOTEL, of all things, ter um endereço de e-mail disponível no site mas não responder às mensagens que chegam. Sou eu que tô ficando maluca? Eu acho que não.

ristorante

Hoje, depois de uma manhã insana na oficina, preparando as faturas de janeiro, finalmente consegui dar a primeira aula decente aos dois alunos de Petrignano. As aulas são no restaurante do hotel do Walter, que é o ex-companheiro da mãe do Ivan, o outro aluno. O Walter é um caso perdido, não presta atenção, não entende nada, não aprende mais nada, mas o Ivan é esperto. O problema é que eles nunca conseguem ter aula: esquecem, viajam, não podem, ficam doentes. Em teoria eu comecei com eles em fevereiro, mas só fui conhecer o Walter semana passada, e mesmo assim a aula durou meia hora porque ele chegou atrasado e saiu mais cedo.

A coisa engraçada é que a aula termina às oito, quando já tem alguns clientes chegando ao restaurante pra jantar. Nós ali, sentados num canto perto da porta da cozinha, discutindo o uso de there is e there are, e os clientes observando de longe enquanto pedem o filé com pimenta verde e verdura no alho. Outra coisa engraçada é que o toca-fitas que usamos pra ouvir as fitas do livro normalmente fica na cozinha, ao lado da máquina que faz a massa, ou seja, é todo coberto de respingos de massa de macarrão. Coisa de louco. Mas ontem até que me diverti, não posso reclamar. E também recebi uma sondagem telefônica de uma escola de línguas em Perugia onde nem lembrava mais de ter deixado o currículo. Parece que tem mais alguma louca querendo aprender Português, e se a garota concordar com o preço pode ser que role. Bom, muito bom.

basta!

Quando saímos da casa da Roberta, irmã do Gianni, ontem à noite, o termômetro do carro marcava – 4° C. Não aguento mais esse frio chato! Non ce la faccio più! No ‘ie la fo’ più!

Paramos pra visitar o Leguinho na volta e encontramos o Leo soterrado embaixo de mil cobertores, Demo descoberto porque afinal de contas ele é peludo pra isso mesmo, e Leguinho todo encolhido no seu cantinho. Amarrei um suéter velho de lã no pescoço dele, outro na cintura, pra cobrir as costas, dei boa noite e voltamos pra casa.

Só me restou terminar The Old Man and the Sea, que é uma delícia, e começar The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, que é outra delícia. E acordei hoje pensando em quanto fui idiota de não ter botado o ficus pra dentro de casa. Com esse frio, ele morreu, acho. Os cravos estão florescendo numa boa, o cactus vai bem, obrigado, as tulipas devagarzinho vão se manifestando. Mas o ficus morreu, e essa realmente me deixou triste.