Ontem começou o chatíssimo Festival de San Remo. Saca Festival da Canção? É isso, com o agravante que é um festival de música italiana, e eu detesto música italiana. Tudo é horrível com relação a esse festival: os cenários cafonérrimos, como os de toda transmissão televisiva italiana que se preze; os cantores incompetentes com suas músicas chatas; as mutretas infinitas que todo ano rodeiam o espetáculo (ano passado rolou até processo porque já se sabia quem seria a vencedora muito antes do festival começar, como desmascarou o Striscia La Notizia). E não sou só eu, reclamona profissional, que estou dizendo que o festival é um saco. Esse ano a única celebridade que veio foi um sósia do Elton John. A lista dos famosos internacionais que recusaram o convite foi imensa, e, segundo o telejornal do canal 5, a coisa está ficando mais embaraçosa a cada ano. Se eu fosse famosa e VIP, não viria nem se me dessem um caminhão de dinheiro. Pagar esse mico, eu, hein!
Mas como eu tava dizendo, eu acho a música italiana tão ruim quanto a brasileira. Já mencionei aqui que detesto MPB. Não gosto de Chico, nem de Gil, nem de Caetano, nem daquela mala da Maria Rita, nem daquele insuportável do Milton Nascimento, nem de música pop. Os únicos CDs de música brasileira que eu tenho são os da Marisa Monte, que já admirei muito mas desde que botou aquele nome absurdo no filho deixou de existir para mim, o Bossa n Roll da Rita Lee, e o Calango do Skank, que é divertidinho. Só. No Rio ficaram alguns dos Paralamas, comprados num surto de tenho-que-decorar-essas-musiquinhas-pra-poder-cantar-no-churrasco. Até gosto dos Paralamas, que me são particularmente simpáticos, mas hoje não me vejo comprando um CD deles. Do mesmo modo, não gosto da música italiana. Não ligo o rádio do carro nunca, porque não tenho saco pra ouvir sempre as mesmas músicas chatas aqui praticamente só toca música italiana. Mas vou voltar ao assunto música italiana lá embaixo.
Na verdade eu não sou uma pessoa muito musical. Se a música for do meu agrado e estiver tocando, eu acho legal, mas se alguém desligar não vou ficar irritada. Se a música for chata e estiver tocando, eu fico MUITO irritada. Não tenho a menor vocação pra descobrir novas bandas ou novos ritmos; não fico catando coisas bizarras em .mp3 como um certo japa que eu conheço. Vivo perfeitamente bem sem música; muito difícil me pegar cantando, até porque eu sou completamente desafinada. Só preciso de trilha sonora mesmo pra fazer faxina, pra dar aquela animaçãozinha básica e pra fazer parecer que limpar a casa é super divertido. De resto, não tenho nenhuma música que me lembre um momento, um lugar ou uma pessoa. Não associo jamais uma música a uma situação em particular. Jamais presto atenção à trilha sonora de um filme. Gosto de shows, mas só se forem com músicas que eu conheço e sei cantar (o do Live em Sampa foi di-vi-no). Gosto de dançar, mas posso ficar anos sem fazê-lo que não entro em crise de abstinência. Ou seja, pra mim música é uma coisa que tá ali, mas podia perfeitamente não estar que daria no mesmo mais ou menos como as frutas. Só dois produtos de consumo me destruiriam se deixassem de existir: chocolate e livros. Não me deixem sem ler que eu realmente viro bicho. Sou o tipo compulsivo que lê outdoor, propaganda no metrô, rótulo de shampoo enquanto toma banho, instruções e receitas na embalagem de TODAS as comidas, até de macarrão, manual de instruções de tudo que é eletrodoméstico, pedaço de jornal velho caído num canto, coisas escritas à mão dentro do sapato inglês do Mirco, o Boas Festas pré-impresso nas notas fiscais a partir de novembro, todos os detalhes do formulário pra depósito bancário, as lombadas dos livros na estante da casa daquele personagem do filme, todo e qualquer folhetinho que chegue às minhas mãos. É compulsivo mesmo, mecânico, involuntário, e já salvou minha vida várias vezes, especialmente porque tenho boa memória e dificilmente me esqueço de alguma coisa que eu li em algum lugar. Lembro de endereços de lojas que li na sacola de uma senhora no ônibus, do nome da empresa anunciada no metrô, da observação no pé da pagina da fatura do fornecedor. Eu acho que compensa o fato deu não ser muito musical…
Voltando à abominável música italiana: eu acho que o meu problema é que o tipo de música que eu gosto de ouvir não é compatível com nenhuma outra língua que não seja o Inglês. Convenhamos, crianças, rock em português é ridículo, perde credibilidade, não tem jeito. O mesmo pra música celta. O mesmo pra música de viado. É como bossa nova (que eu adoro, mas não tenho nenhum CD) cantada em, sei lá, alemão. Então eu acabo não gostando de mais nada cantado em outras línguas, já que tenho verdadeira alergia a música pop ou, pior, romântica.
Outra coisa com a música italiana é que, na minha opinião de não apreciadora mas não por isso não entendedora (meu irmão é músico, pô), ela tem frases musicais, combinações de notas que não se usam nem no Brasil e nem nos EUA. Só consigo lembrar agora das músicas dos Gemelli Diversi (Gêmeos Diferentes. O nome já seria o suficiente pra mandá-los pro pelotão de fuzilamento, na minha opinião. Agora imaginem a qualidade das músicas…) que pra mim são todas muito estranhas, difíceis de seguir. Tem duas outras ESTRANHÍSSIMAS tocando no rádio ultimamente (eu não ligo o rádio do meu carro, mas o Mirco liga o do dele) mas eu não consigo entender o nome, porque os locutores italianos são como os brasileiros, só dizem o nome da música quando dá vontade, e nem sempre com a melhor das dicções. O refrão de uma diz io ti amo, ma devo ucciderti (te amo, mas tenho que te matar). A outra não lembro mesmo, até porque a mulher canta num tom tão estranho que não entendo o que ela diz.
Comecei a notar isso durante as caronas com a Marta, que só escuta rádio. Comecei a pensar numa coisa que eu li em algum lugar, não lembro direito onde, falando sobre sistemas musicais de outras culturas, as orientais em particular. Parece que há povos que têm outras notas além das nossas do-ré-mi-fa-sol-lá-si. Eu não consigo conceber outras notas! É como se alguém viesse me dizer que em outros países existem outras cores primárias. Sei lá, um cor chamada bljerfs, que não é nem azul, nem amarelo, nem vermelho, e nem é uma combinação qualquer dessas cores. Você consegue imaginar? Nem eu. Esse tipo de informação scombussola meu céLebro.
Acho que vou ali ler um pouquinho pra ver se passa.
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E sexta-feira partimos pra Rotterdam, visitar a Stefania, irmã do Mirco, que está meio que morando por lá. Apesar da greve das companhias aéreas (toda semana tem greve de algum meio de transporte aqui na Itália, é impressionante), parece que a nossa, a BasiqAir, que é holandesa, não vai entrar nessa história e esperamos não ter problemas pra embarcar. Voltamos no domingo com a RyanAir. Cortesia da Stefania, claro, porque eu não tenho dinheiro nem pra ir ali na esquina, quanto mais à Holanda
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Vi Big Fish ontem. Digo “vi” e não “vimos” porque o Mirco dormiu. Achei visualmente bonito, como tudo o que o Tim Burton faz, mas não gostei do roteiro. Achei que ficou faltando alguma coisa. E agora cinema só semana que vem, porque já esgotamos todo o arsenal do Warner Village de Perugia.
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Mirco encheu tanto o meu saco que resolvi seguir seu conselho: aproveitar esse tempo de ócio desempregatício pra tirar minha carteira de motorista (eu estou usando a internacional, que só dura até setembro).