To testando uma coisa…
Arquivo mensais:janeiro 2004
E ontem quem ganhou 38.500 euros no Passaparola foi um cara que participou de duzentos mil puntate (cada episódio de um programa televisivo se chama puntata) no ano passado, mas por causa de um erro teve que abandonar o barco. Depois ele foi conferir e viu que o erro não tinha sido erro, estava certíssimo, e recorreu. Mes passado ele voltou. É muito simpático, apesar de ter uma cara meio de maluco. Todo programa ele canta uma canção de ninar, sempre muito pouco convencional, antes de passar pra última parte do programa, em que há 21 perguntas, cada uma com a resposta começando com uma letra do alfabeto (lembrem-se que em italiano não existe a letra j). O cara acerta as coisas mais cabeludas, não tem pra ninguém! Mas quase sempre fica faltando uminha pra responder. Ontem ele acertou todas as 21, sendo que a última ele papou faltando 5 segundos pro tempo terminar. Tadinho, tava tremendo, e quando acertou a vigésima-primeira começou a chorar.
Não conta pra ninguém não, mas eu chorei também…
E ontem quem ganhou 38.500 euros no Passaparola foi um cara que participou de duzentos mil puntate (cada episódio de um programa televisivo se chama puntata) no ano passado, mas por causa de um erro teve que abandonar o barco. Depois ele foi conferir e viu que o erro não tinha sido erro, estava certíssimo, e recorreu. Mes passado ele voltou. É muito simpático, apesar de ter uma cara meio de maluco. Todo programa ele canta uma canção de ninar, sempre muito pouco convencional, antes de passar pra última parte do programa, em que há 21 perguntas, cada uma com a resposta começando com uma letra do alfabeto (lembrem-se que em italiano não existe a letra j). O cara acerta as coisas mais cabeludas, não tem pra ninguém! Mas quase sempre fica faltando uminha pra responder. Ontem ele acertou todas as 21, sendo que a última ele papou faltando 5 segundos pro tempo terminar. Tadinho, tava tremendo, e quando acertou a vigésima-primeira começou a chorar.
Não conta pra ninguém não, mas eu chorei também…
Fiz panquecas pro jantar, receita da vovó:
1 xícara de farinha de trigo
1 xícara e meia de leite
2 ovos
1 colher de sopa de óleo (eu não sei mais comer óleo, só uso azeite)
Sal a gosto
Dá umas 15 panquecas, acho. Digo acho porque é a primeira vez que faço panqueca, e minha avo já tinha me advertido que as primeiras sempre ficam espessas demais. Realmente meia concha de massa é suficiente pra fazer uma panqueca beeeem fininha o lance é ir girando a frigideira, quente mas fora do fogo, pra espalhar bem a massa, e só depois que não sobrar mais nada líquido na frigideira botar a bichinha no fogo. Fui testando as quantidades de massa aos poucos, então as 3 ou 4 primeiras panquecas ficaram super grossas um desperdício de massa… Com essas espessuras malucas, minha receita deu 12 panquecas.
Fiz recheios diferentes, porque eu não tinha uma quantidade suficiente de nenhum ingrediente. Então fiz algumas de espinafre com ricota, até acabar a ricota que eu tinha na geladeira. Fiz uma de presunto e queijo só deu uma, porque o resto do presunto tava no congelador. E mais três de cogumelo e iogurte. No fundo das assadeiras, molho de tomate bem temperado. Por cima das panquecas, mais molho de tomate, ao qual juntei um pouco de panna (tipo creme de leite), pra ficar menos tomático e combinar melhor com o espinafre, e também porque senão a panna ia estragar na geladeira; eu quase nunca uso.
Depois digo se ficou bom.
**
Já falei aqui que adoro um quiz. Tem um que eu gosto muito aqui na TV, Passaparola. É dividido em várias partes, mas a que eu mais gosto é a das palavras difíceis. O apresentador, que é um gordinho simpático, dá uma lista de palavras completamente doidas. Ele dá uma definição, e o participante tem que adivinhar a qual palavra se refere à definição. De vez em quando aparece uma palavra com raiz latina ou grega, e me dá um ódio danado quando neguinho erra. Mas é legal, eu gosto.
Adoro jogos com palavras. Inventei um, aqui no Word. Como não tenho Word em Português instalado, vou adicionando as palavras acentuadas ao dicionário do computador, assim, quando seleciono Portoghese Brasiliano antes de começar um texto, ele acentua automaticamente as palavras já inseridas. O meu jogo é assim: pra aproveitar que a janelinha da adição de palavras está aberta, vou brincando de mudar letras da palavra que estou inserindo, pra tentar formar o máximo de palavras possível (e assim inserir o máximo de palavras de uma só vez). Exemplo bobo: a primeira vez que digitei “mão”, fui lá inserir, e depois fui mudando a consoante, fazendo pão, não, tão, cão, dão, vão, e così via. Claro que a coisa vai evoluindo, e palavras como “possível” rendem possíveis, impossível, impossíveis, passível, impassível, etc. Fico horas nessa bobeira…
Fiz panquecas pro jantar, receita da vovó:
1 xícara de farinha de trigo
1 xícara e meia de leite
2 ovos
1 colher de sopa de óleo (eu não sei mais comer óleo, só uso azeite)
Sal a gosto
Dá umas 15 panquecas, acho. Digo acho porque é a primeira vez que faço panqueca, e minha avo já tinha me advertido que as primeiras sempre ficam espessas demais. Realmente meia concha de massa é suficiente pra fazer uma panqueca beeeem fininha o lance é ir girando a frigideira, quente mas fora do fogo, pra espalhar bem a massa, e só depois que não sobrar mais nada líquido na frigideira botar a bichinha no fogo. Fui testando as quantidades de massa aos poucos, então as 3 ou 4 primeiras panquecas ficaram super grossas um desperdício de massa… Com essas espessuras malucas, minha receita deu 12 panquecas.
Fiz recheios diferentes, porque eu não tinha uma quantidade suficiente de nenhum ingrediente. Então fiz algumas de espinafre com ricota, até acabar a ricota que eu tinha na geladeira. Fiz uma de presunto e queijo só deu uma, porque o resto do presunto tava no congelador. E mais três de cogumelo e iogurte. No fundo das assadeiras, molho de tomate bem temperado. Por cima das panquecas, mais molho de tomate, ao qual juntei um pouco de panna (tipo creme de leite), pra ficar menos tomático e combinar melhor com o espinafre, e também porque senão a panna ia estragar na geladeira; eu quase nunca uso.
Depois digo se ficou bom.
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Já falei aqui que adoro um quiz. Tem um que eu gosto muito aqui na TV, Passaparola. É dividido em várias partes, mas a que eu mais gosto é a das palavras difíceis. O apresentador, que é um gordinho simpático, dá uma lista de palavras completamente doidas. Ele dá uma definição, e o participante tem que adivinhar a qual palavra se refere à definição. De vez em quando aparece uma palavra com raiz latina ou grega, e me dá um ódio danado quando neguinho erra. Mas é legal, eu gosto.
Adoro jogos com palavras. Inventei um, aqui no Word. Como não tenho Word em Português instalado, vou adicionando as palavras acentuadas ao dicionário do computador, assim, quando seleciono Portoghese Brasiliano antes de começar um texto, ele acentua automaticamente as palavras já inseridas. O meu jogo é assim: pra aproveitar que a janelinha da adição de palavras está aberta, vou brincando de mudar letras da palavra que estou inserindo, pra tentar formar o máximo de palavras possível (e assim inserir o máximo de palavras de uma só vez). Exemplo bobo: a primeira vez que digitei “mão”, fui lá inserir, e depois fui mudando a consoante, fazendo pão, não, tão, cão, dão, vão, e così via. Claro que a coisa vai evoluindo, e palavras como “possível” rendem possíveis, impossível, impossíveis, passível, impassível, etc. Fico horas nessa bobeira…
casa
E ai vao as fotos do escritorio fatto in casa. Atentem às latas vermelhas que fazem de coluna de sustentaçao pras prateleiras de aluminio.
A porta, com a tal placa do Koala e o poster desenhado pela Newlands pro Fashion Rio. Pendurado na maçaneta, uma coisinha chinesa que ganhamos do restaurante chines onde vamos sempre. Da pra ver a ponta da minha escrivaninha, que o Mirco arredondou porque sabe que eu vivo dando topada, entao pelo menos que sejam topadas em algo nao pontudo, pra reduzir o grau de auto-destruiçao. No chao, arquivos com as faturas da oficina, que estou inserindo no computador.
Essa é a minha scrivania. Na prateleira do alto tem dois origamis que minha amiga Ayako fez, uma foto minha com a Ria, filipina, e Shi-Hong, chinesa, em frente à Università per Stranieri em Perugia, com o arco etrusco no fundo. Diarios e agendas. Um postal da Eurochocolate de 2002 (A Me Non Piace il Cioccolato – quem diz é o Pinocchio, claro), uma foto minha com a Hunka, na formatura dela, e a caixa rosa com coisinhas que nao sei onde botar.
Na prateleira de baixo, alguns livros, um segura-livros com uma bola de aço que o Mirco trouxe da empresa vendedora de ferro onde ele trabalhou por 5 anos, velas, um calendario do courier que trabalhava com a gente na empresa do Chefe Idiota, listas de livros a ler e a comprar espalhados em post-its e folhas impressas, uma caixa de CD-RW, e depois alguns dos feiissimos arquivos (raccoglitori) com meus documentos. Por ultimo, naquela caixona vermelha, traduçoes feitas.
Embaixo, apoiados na escrivaninha: o “almoxarifado” da Ikea, com gavetinhas pra selos, post-its, mouse reserva, mini-lampadas pra mini-luz, também Ikea, que esta logo abaixo do calendario, aparafusada naquele troço de madeira cinza-azulado encostado na parede, estoques de coisas de papelaria, etc. Em cima desse almoxarifado, uma pastinha rosa transparente que é meu porta-correspondencia, e um estojo cheio de canetas coloridas. Continuando em direçao à parede, o porta-correspondencia que virou porta-papel de carta (carta da lettera), blocos (blocchi), envelopes (buste), papel colorido (carta colorata), e apetrechos de escritorio (cartoleria) em geral. Grampeador (cucitrice), fita adesiva (scotch), furador (foratore, buca-buca, il coso che buca), uma almofadinha cheirosa cheia de cravos que o Mirco trouxe da Australia ha muitos anos e me deu de presente, um potinho pra comer sorvete que uso como porta-clips e post-it pequenos, um porta-incenzo azul que comprei na rua do Ouvidor, uma latinha de guarana que tomei na Sérvia (nem preciso dizer que era horrivel), incenso, meu computador velho, que hoje nao uso pra mais nada, mas nunca se sabe.
Espalhados sobre a escrivaninha, meu Moleskine, fotos que nao foram penduradas porque acabaram os imas, um CD que tenho que masterizar pra garota da calça dourada, formularios do banco, e essa coisa estranha plastificada que é a torta al testo que eu tenho que mandar pra Lia.
E o meu quadro de fotos…
E a escrivaninha do Mirco, também atolada de arquivos, almoxarifados, dicionarios, papelada, CDs, cartuchos de reserva pra impressora.
E pronto.
Hoje tem bicharada, tem sim
Hoje teve festa de Santo Antônio na praça, em frente à igreja de Santa Maria degli Angeli. Tem toda aquela papagaiada de benzer os bichos, dão bandanas pros bichos (claro que não peguei uma pro Leguinho, onde já se viu meu cachorro usando bandana de santo!) e distribuem pane benedetto pra galera. Aliás, o pão era de ontem, duro feito pedra.
O pessoal leva seus bichos pra praça pra abençoar, e leva também carros novos e tratores. Sim, tratores. Mas vamos por partes.
Leguinho não é um cachorro espetacular à toa: é o único cachorro que se auto-leva!
A praça tava lotada de gente. Olha o tratorzão que uma criatura levou pra benzer:
Tinha de tudo: cavalos, gatos, coelhos, passarinhos, peixinhos. Não vi cabritos nem porcos, coisa que, dizem, todo ano tem.
E a cachorrada, claro, em quantidades industriais. Desde os microcães, que decidimos não fotografar, até os imensos e patetas Terranova.
Muitos cachorros pentelhos, agitados e histéricos, como esse poodle mala, o beagle que não parava quieto de jeito nenhum, o Ercole (Hércules), imeeeenso e ferocíiiiissimo cachorro do Roberto, amigo do Mirco.
Claro que os clássicos não podiam faltar: basset hound, pastores alemães, basset, husky siberiano, bulldogs, os labradores da Croce Rossa Italiana (a Cruz Vermelha).
Algumas coisas não-identificadas também:
Esse é o cachorro do Moreno, amigo do Mirco:
E esse é um dogue de Bordeaux, raça que ficou famosa com um comercial de telefone celular, no qual um cachorro desses fala com sotaque napolitano.
Rolaram altas paqueras!
Depois fomos almoçar na Arianna, onde estavam preparando o último porco do inverno. Aliás, essa era uma porca. Almoçamos em meio a salames, presuntos imensos (a porca era meio assim, overweight, sovrappeso, balofa) e pedaços de carne que esperavam seu cruel destino no moedor de carne, pra virar linguiça.
Mais tarde pegamos um DVD (Jet Lag), uns pedaços de pizza al taglio que agora me pesam horrivelmente no estrombo, e mais nada. Domingo de chuva é assim: chato, mas bão.
p.s.: Amanhã boto as fotos do escritório criativérrimo e coloridérrimo. E das minhas meias coloridas, únicos souvenirs que eu trouxe da Sérvia…
Ciao ciao!
Mr. Crowe
Do jeito que a coisa anda, vou ter que abrir um fã-clube do Legolas
**
Grata surpresa no cinema, quinta-feira à noite. Fomos ver Master and Commander, que era o único em exibição que ainda não tínhamos visto. Mirco dormiu (quando ele tá cansado/estressado/irritado/agitado vamos ao cinema pra ele dormir), mas eu juro que gostei do filme, apesar do Russel Crowe e do assunto do filme normalmente detesto filmes sobre navios, submarinos, tempestades no mar e coisas do gênero. Mas dessa vez eu gostei. O que é aquele garotinho louro que perde um braço? O QUE É AQUELE DE RABO-DE-CAVALO E CICATRIZ NO ROSTO? Gente, que garoto lindo! Socorro!
ancora il freddo…
A coisa mais chata do mundo não é aula de matemática. A coisa mais chata do mundo não é filme da Xuxa, nem irmão que acende a luz do quarto enquanto você está dormindo, nem coceira na sola do pé, nem música sérvia. Dividindo o primeiro lugar da lista pacamanquiana de coisas mais chatas do mundo, juntamente com os Brasileiros Chatinhos que Moram na Alemanha e Se Acham OOOOS Alemães estão o frio e a neve.
Ao contrário da Luciana, desde a primeira vez que eu vi neve, já odiei. É bonitinho na hora, mas logo depois as ruas ficam imundas e a neve vira uma coisa cinzenta asquerosa. Fora que toda a complicação que a neve e o frio causam na sua vida já são suficientes, pelo menos pra mim, pra achá-la horrorosa, mesmo antes de virar a coisa cinzenta asquerosa.
Uma vez comentei com o Duduzão que a diferença entre o calorão e o frião é que o calorão te irrita, mas o frião, além de irritar, dói, e muda a sua vida. Pular umas ondinhas, jogar um balde de água na cabeça são suficientes pra aliviar o calor, pelo menos momentaneamente. Mas o frio não se alivia, meus queridos. Estando fora de casa não há modo de escapar, não importa o quanto você esteja bem coberto. Se estiver ventando, então, sai de baixo.
O ar frio corta o seu rosto, deixa a sua pele descascando e os lábios sangrando. Os olhos lacrimejam e o nariz escorre sem parar. As vias aéreas DOEM quando você respira. Suas extremidades (leia-se nariz, orelhas, mãos e pés) doem enquanto estão congeladas e principalmente durante o descongelamento. Uma vez fiz a burrice de entrar em casa num dia muito frio e entrar direto no banho mais ou menos quente. Putz grila, olhei pros meus pobres pezinhos e parecia que eu podia ver todos os capilares enlouquecento, dilatando feito doidos, comprimindo os tecidos adjacentes; a dor, a dor alucinante!!! E as orelhas, quando saem do ambiente gelado pra um ambiente requentado? Difícil conter a vontade de segurá-las, porque a sensação é a de que vão cair a qualquer momento.
O frio congela as portas do carro, que ficam difíceis de abrir. Se tiver chovido algumas horas antes, as ruas e estradas congeladas, ou mesmo nevadas, tornam o já pouco simples ato de dirigir (vocês já pararam pra pensar na complicação cerebral-motora que é dirigir? Né coisa fácil não, quéridos!) uma coisa de maluco. Outro dia fomos de carro até o Subasio. Com a Fiat Punto chegamos várias vezes a subir até o alto mesmo, e depois descer pelo outro lado, até Spello um lindíssimo passeio, diga-se de passagem, com ou sem neve. Mas dessa vez, com a Volvo, que é muito mais pesada, depois de um certo ponto não conseguíamos mais nos mover. As rodas giravam em falso e o carro saiu completamente de controle. Mirco é bom de roda, mas na ladeira congelada não tem piloto que tire a coisa de letra. Levamos séculos pra conseguir virar o carro e descer, e ficamos bem uns 5 minutos atravessados na estrada porque o carro simplesmente quis ficar naquela posição.
No frio cavalar mesmo, até a gasolina congela. Na Sérvia, no caminho de Majilovac ao aeroporto, vimos dois caminhões parados porque o diesel havia congelado. E o freio de mão? Perdi a mania de puxar o freio de mão quando estaciono o carro, agora deixo o bichinho engrenado porque senão na manhã seguinte ele se recusa a sair do lugar.
E as roupas? E a chatura de carregar sempre dúzias de apetrechos a mais pendurados sobre o seu corpo? E o saco que é ter que tirar luvas, chapéu/gorro, cachecol, casaco, malha de lã, toda vez que se entra em um lugar aquecido? E o outro saco que é ter que botar tudo isso de novo quando se sai do lugar aquecido? E os cabelos, que não secam nem com reza forte? (lembrem-se que cabelo ruim e secador são coisas incompatíveis). Eu saio na rua de cabelo molhado mesmo, não tô nem aí. No máximo taco minha boina cinza por cima, mas normalmente não uso nada. Os italianos ficam todos escandalizados achando que eu vou pegar pneumonia.
(E aqui faço um adendo de caráter estritamente pessoal: chapéu é que nem pé, não existe UM bonito sequer).
E as mãos descascando, por mais creme Neutrogena formulado para pescadores noruegueses que eu passe? E a dor nas articulações dos pés, que começa com uma coceirinha básica e depois vira um joanete vermelho?
E a impossibilidade de andar a pé na rua por causa do vento gelado? Essa é a pior. Eu adoro dirigir, mas como toda boa carioca sou acostumada a andar a pé pra lá e pra cá, subindo e descendo a Visconde de Pirajá pra ver as modas, parando pra comprar banana no cara que vende fruta na esquina, ou pra tomar um suco de fruta, ou um milkshake de Ovomaltine no Bobs de Ipanema vendo os pivetinhos encherem o saco dos outros na calçada; correr na Lagoa todo dia, mesmo no inverno; poder parar pra conversar com alguém que encontrei na rua sem ter que fugir pra algum lugar fechado por causa do frio. Essa prisão automobilística é horrível, horrível.
E as palavras italianas do
E as palavras italianas do dia são:
Paraculo = espertalhão, que passa os outros pra trás
Taroccare = adulterar o resultado de alguma coisa
Prendere per il culo = sacanear, fazer de bobo
Canone = assinatura da televisão aberta, obrigatoria
Palavras úteis pra explicar o bafafá que anda rolando por aqui, como bem já cantou a pedra a Simone. Já mencionei aqui, mais de uma vez, o programa Striscia la Notizia, que desmascara magos, sacaneia políticos, atores e qualquer um que seja flagrado fazendo besteira ou fazendo papel de bobo, enfim, revela podres de toda e qualquer natureza. Essa semana resolveram pegar no pé do Paolo Bonolis, que é um dos substitutos da dupla de Striscia, quando saem de férias, e que agora apresenta um programa chatérrimo e sem sentido mas que deu imensa audiência, pela RAI Uno. O programa, que se chama Affari Tuoi (pô, nem sei como traduzir isso… algo como o problema é seu, its up to you, its not anyones business but yours, sei lá), é mais ou menos assim: no começo, há um representante de cada região da Itália. Bonolis faz uma pergunta, sempre absurda (a única vez em que assisti ao programa a pergunta era qual dessas festas regionais era verdadeira: festa da cebola, do peito de frango, do arroz queimado, essas coisas), e quem responde corretamente e mais rápido é escolhido pra participar. Cada participante, e não lembro quantos são no final das contas, tem uma caixa. Quem ficou de fora também tem uma caixa. Cada caixa tem ou um valor em dinheiro, que vai dos dez centavos de euro ao meio milhão de euro, e há algumas caixas com outras coisas inúteis, tipo um ovo cozido, uma berinjela, etc. Basicamente o jogo é uma mistura de perguntas e de opções entre trocar a caixa por uma outra ou não. E o objetivo, obviamente, é abrir, no final do programa, uma caixa que contenha uma boa quantia de dinheiro, em vez de um ovo cozido ou dez centavos.
Pois bem. Striscia descobriu que todos os participantes são atores, que assinam um contrato de 600 euros e renunciando ao eventual prêmio premio esse que é decidido com muita antecipação, ou seja, a produção do programa já sabe quem vai ser o ganhador do último programa da série.
Striscia fez uma vinheta onde Bonolis aparece com uma linguinha de cobra, e depois o slogan: Paolo Tarocchis, The King of Paraculs. Dei tanta risada quando vi que saiu água mineral do meu nariz.
Esse assunto do programa taroccato, ou seja, onde é tudo montado e a produção decide quem e quando ganha o quê, foi puxando outros, e eles foram achando imagens de atores usados em mais de um programa do tipo Marcia Goldstein. Gente que vai pra TV fingir que está lavando roupa suja, mas que participa de outros programas do mesmo tipo, reciclando assim histórias e personagens.
Claro que a gente sabe que é tudo montado, mas uma coisa escandalosa assim, eu só tinha visto no festival de San Remo do ano passado, quando a vencedora já tinha sido escolhida meses antes do festival começar. O mais engraçado é que o pessoal na rua fica indignado, se sentindo preso per il culo, principalmente porque o canone, que sempre foi caro, aumenta todo ano: agora custa quase 100 euros anuais. Acho hilário o jeito que os italianos têm de transformar tudo num drama de proporções intergalácticas. Comé que podem levar a sério o que se passa na televisão, principalmente a SBTídica TV italiana? Tô falando sério quando digo que a Itália é o país mais divertido do mundo…