opa

Ontem fui ver Era Uma Vez no México (é isso mesmo? Porque os tradutores italianos são tão criativos quanto os brasileiros e dão os títulos mais escalafobéticos possíveis aos filmes americanos). Meu humilde parecer:

– Quem escolheu e executou o corte de cabelo do Antonio Banderas merece ir pra fogueira.
– Quem desfigur… quem fez as cirurgias plásticas do Mickey Rourke merece um dedo no olho, e depois ir pra fogueira.
– A Salma Hayek é bonita, apesar do queixão, mas eu continuo detestando belezas do tipo exótico/selvagem/latino/tropical/vulgar.
– Gosto do Johnny Depp. Acho-o um bom ator, além de ter um rosto muito interessante ? gosto particularmente do seu nariz.
– O filme é absolutamente ridículo, excessivamente barulhento, todo o elenco é de uma canastrice ímpar, a trilha sonora fa paura.
– Espanhol não é um idioma, é um aborto linguístico da natureza.

No próximo fim de semana estréia (sim, estréia só agora ? quando eu falo que moro no coração do Zimbabwe não estou exagerando) Procurando Nemo : ))))))

**

No mais, acho que não consigo voltar ao Rio pro Natal. Não tem passagem de jeito nenhum, a menos que eu fique quase dois meses no Brasil, o que é absolutamente incompatível com a minha permanência no emprego aqui no escritorio. Então acho que vai rolar só lá pra janeiro… : (

Da série Coisas Italianas Que

Hoje: COZINHA E ADJACÊNCIAS

… Amo:

– Os armários da cozinha. Os armários que ficam em cima da pia têm um escorredor no lugar da prateleira de baixo. Assim você lava os pratos e os coloca diretamente pra escorrer, escondidos no armário; a água pinga dentro da pia e os bichinhos ficam lá, escorrendo e guardados ao mesmo tempo. Poupa-se assim o trabalho de secar os pratos.
– Os panos de prato. Todos os panos de prato, que são maiores do que os nossos, já vêm com uma alcinha em uma das pontas pra pendurar em um dos invariavelmente presentes ganchinhos.
– A lata de lixo escondida no armário debaixo da pia. Achei uma idéia ótima. Nada daquelas mini-lixeirinhas horripilantes dando plantão em cima da pia.
– Geladeiras e máquinas de lavar louça embutidas. Se bem que, se eu tivesse uma geladeira lindíssima, em inox, por exemplo, não a esconderia, muito pelo contrário…
– As mesas aumentáveis, que todo mundo tem. Tem visita e não cabe todo mundo na mesa? Abre-se a bichinha, gira-se ou monta-se um pedaço adicional, e eccola! Uma mesa com mais dois lugares.
– O forno, quase sempre elétrico, que esquenta rapidinho, sem aquela moleza dos fornos a gás.

… Odeio:

– A falta de ralo no chão, por motivos óbvios.
– As geladeiras, que muitas vezes são pequenas (como a da Fran).
– A implicância dos italianos com o forno de microondas.
– As panelas, quase sempre com cabo curto, e quase nunca em teflon (eles também implicam com o teflon).
– As torradeiras, que não fazem as torradas pularem. (pularem ou pular? Não sei!)
– A ausência de área de serviço. É comum ter a máquina de lavar roupa no banheiro ou na cozinha. Varal no teto? Nem pensar! São todos montáveis, como uma tábua de passar roupa. Assim, pra ocupar bastaaaante espaço. A única vantagem é que no inverno você bota o varal perto do termosifone que quiser, e as roupas secam rapidinho…
– A ausência de tanque de lavar roupa, causada pela ausência da área de serviço. Não consigo conceber a vida sem tanque de lavar roupa. Onde se lavam os panos de chão? Onde se esfregam as roupas brancas que a máquina de lavar não dá conta de clarear? No balde? E quantas vezes tem que mudar a água do balde? Olha, vou te dizer, sinto mais falta do tanque do que do ralo.
– O fato da galera não ser adepta do misto quente. Eu sou LOUCA por misto quente. Não só eles não são muito fãs da coisa, que aqui se chama toast, assim, em inglês, com pronuncia macarrônica, como também acham estranhíssimo comer queijo e presunto de manhã, ou no lanche da tarde. Presunto e queijo, pra eles, são substitutos mais ligeiros da carne, bons pra comer à noite, quando não pega bem se entupir de coisas pesadas. E nada de presunto cozido como o nosso, não senhor. Prosciutto cotto é coisa de turista. Italiano que é italiano só come prosciutto crudo.

Alinhás, sabe que esse tempo todo comendo pouca carne ? porque a carne deles é uma merrrrrrrrrrrrda ? me deixou meio intolerante? Ontem almocei bisteca e senti meu estrombo reclamando até tarde da noite.

mudinha

Aviso a todo mundo que tah esperando resposta a e-mail: nao sei quando vou poder responder! Soh semana que vem vao instalar uma internet decente aqui no trabalho, entao até lah fica tudo pendente.

beijos

O lanterneiro quer casar. Comigo.

Comigo. Não sei se rio, choro ou encho de porrada.

**

Quinta-feira começamos a mudança do escritório. Lá fomos nós subir em escada pra descarregar caixas e mais caixas de toner, que obviamente vinham cheias de teias de aranha, aranhas vivas, aranhas mortas, cocô de rato, entre outras delícias. Cheguei em casa coberta de poeira e teia de aranha. Como tinha sido, por outros motivos, uma merda de dia (giornataccia ; o sufixo accio/accia significa uma merda. Um dia de merda é una giornataccia, um trabalho horrível é um lavoraccio, e così via), Samuele se ofereceu pra me levar ao cinema. Veio me buscar com um bouquet de rosas vermelhas, que agora repousam num vaso aqui em cima da minha nova escrivaninha. Não gosto de rosas, ainda mais vermelhas ? coisa mais novelesca e lugar-comum ainda não foi inventada. Como os caras que descarregaram os móveis aqui fizeram alguma cagada e mancharam um pedaço da escrivaninha-balcão (estou na reception, como eles dizem aqui, assim, sem traduzir), botei o vaso em cima pra cobrir. Então; fomos jantar no enonè, que já comentei aqui, comi tagliatelle all?uovo con crema di funghi porcini e funghi porcini (de-li-ci-o-sas!), depois fomos ver Kill Bill. Achei bobérrimo. Visualmente tem grandes sacadas, mas os chafarizes de sangue e os braços cortados são excessivos. Mas tudo bem. Só que a sessão era tarde e fui dormir lá pra uma e meia da manhã.

**

Sexta-feira foi ooooo dia da mudança. Passamos o dia inteiro desmontando coisas, remontando coisas, achando coisas, perdendo coisas, enchendo caixas, carregando furgão, descarregando furgão, limpando chão, tirando pó, arrumando escrivaninhas, fazendo inventário. O novo escritório ficou lindo, minha escrivaninha-balcão-reception é enorme e cheia de lugar pra botar todas as minhas coisas, meu computador é novinho, minha impressora idem, o aquecimento funciona bem e por isso não precisamos mais trabalhar de casacão. Só que ainda não ajeitaram a internet ? só o computador do Segundo Chefe está conectado. A vista não é uma Brastemp ? estamos na zona industrial de uma cidadezinha pequena, em torno só há campos ainda não cultivados, algumas casas espalhadas, e MUUUUITA neblina. O dia foi causativo e fui dormir cedo.

**

Sábado fui dispensada do trabalho na loja à tarde, então trabalhei no almoxarifado, ajudando a botar em ordem a tralha, das sete e meia da manhã às seis e meia da tarde. Pelo menos toda a parte de papelaria e material de escritório ficou arrumadinha.

À noite Massimo veio me pegar. Queríamos ir ao cinema ver Mystic River, mas tava lotadaço e não rolou. Fomos pra um pub em Perugia bater papo, comer uma piadina com salame picante e mozzarella e beber Pepsi. Só que eu esqueço que não posso mais ir a esses lugares; a fumaça de cigarro é tanta que no dia seguinte fico completamente enjoada e não consigo comer nada.

**

Domingo trabalhei na loja de uma da tarde às sete e meia da noite, com a Claudia, que foi embora às três e meia, e com a Carmen. Foi um dia chatérrimo, de tempo feio e frio, pouca gente na rua, poucos clientes, poucas vendas, pouco tudo. Fui pra casa, dei uma dormidinha básica, e às onze Massimo veio me pegar. Eu, linda, sílfide decotada, esqueci que as calças estão caindo perna abaixo e acabam arrastando no chao, e tropecei várias vezes, mas é só um detalhe. Encontramos Claudia e quatro amigas (uma maaaaaais lindja que a outra, cruz-credo) no Velvet, boate super fashion de Perugia. Domingo à noite no Velvet é noite de música anos 80. Engraçado que além dos clássicos Prince, as velhas da Madonna, Walk Like an Egyptian e outros, rolou muita coisa que o pessoal dançava pulando e cantava cheio de alegria mas que eu nunca ouvi? Gozado isso. Fora as musicas italianas da época, que faziam o pessoal dar gritinhos e dançar como loucos ? sacam a reação da galera em fim de festa quanto começa a tocar abram suas asas, soltem suas feras? Então. Samuele apareceu meteoricamente, mas depois foi pra casa (e se deu mal, bateu com o carro). Acabei indo embora cedo, por motivos lanterneirídicos, mas não dormi nada, ainda por motivos lanterneirídicos.

**

E ontem foi o primeiro dia operativo aqui no novo escritório. Quer dizer, operativo my ass, porque não fiz nada além de montar escrivaninhas, instalar impressoras, instalar programa de compatibilidade de cartuchos, fazer listas do que tá faltando, etc. Capotei cedo na cama, mas hoje ainda estou com dor de cabeça. Uma noite mal dormida me destrói totalmente.

Ontem também chegaram as revistas totalmente viadas que a Marcinha mandou! Uma mais viada que a outra, bem mulherzinha mode on: Elle, Marie Claire, Nova, a revista dos Vigilantes do Peso? Hoje já tenho leitura construtiva antes de dormir! :)

**

Não tenho cachorro, tenho um grifo, uma quimera. Legolas é parte gato, porque adora se esfregar nas pessoas, e é louco por um peixinho. É parte sapo, porque come moscas e grilos. É parte cupim, porque mastiga madeira com uma facilidade… É parte coelho, porque ama cenoura, brócolis, couve-flor.

Preciso dizer que meus planos furaram de novo? Essa merda de 2003, quando termina, hein?

Meu pai, que tinha grandes probabilidades de passar Natal e reveillon sozinho em Vila Real, la no c* do judas em Portugal, porque o visto nao saia, agora sabe que pode ir ao Rio porque o visto tah pra sair, etc etc. Eu, que planejava ir pra lah passar as festas com ele e ter alguém pra me levar pro aeroporto, planejava deixar minha tralha na casa dele, planejava partir de Lisboa direto pro Rio, planejava achar passagem sem grandes problemas depois do reveillon, me fodi.

Nossa, realmente fiquei muito animada. Esse ano tah ficando melhor a cada dia que passa. Vai ser otimo ir sozinha ao aeroporto cheia de malas e com cachorro. Alias, vai ser muito facil arrumar um taxi grande o suficiente pra tudo isso. E vai custar pouco também, sair de Vila Real pra Lisboa de taxi… Que beleza.

Mais facil ainda vai ser arrumar passagem antes do Natal – sim, porque eu nao vou passar o Natal sozinha em VILA REAL, sozinha no apartamento do meu pai, né.

E o mais legal ainda é que eu TENHO que ir a Portugal deixar as minhas coisas, porque nao tenho dinheiro pra mandar pro Brasil. Fora que saindo de Lisboa o voo é direto pro Rio, enquanto que saindo de Roma o aviao ainda para em Milao, ou seja, a viagem acaba sendo mais longa, e pro Legolas é mais conveniente um voo direto, obviamente. Muito legal mesmo que tudo esteja dando certo exatamente do jeito que eu, mais do que queria, PRECISAVA. To adorando 2003, realmente. Jah to quase mandando tudo e todo mundo ir tomar no cu e indo morar numa ilha deserta com meus livros e meu cachorro, que essa tomaçao no rabo o tempo todo jah tah me enchendo.

Nao, nao consegui encontrar o meu contato em Roma porque, apesar de ter tido um pouco mais de tempo livre no sabado do que eu esperava, meu telefone arriou a bateria e oh! surpresa! nem a Ane nem o marido dela tem Nokia e nao pude recarregar, e o numero dela tava na memoria.

Feliz ano novo é o caralho.

Então hoje Martinha me conta

Então hoje Martinha me conta que o Chefe pediu a ela, pelo telefone (hoje está fora, em Turim), que ligasse pro commercialista (que seria assim o contador) da empresa pra saber que tipo de providência tomar pra me botar in regola, ou seja, pra passar a assinar minha carteira. Ah, too late, Marlene. Agora também não quero mais. Vai ser linda a cena:
– Então, vamos assinar o contrato?
– Não, estou indo embora.
– COMO, INDO EMBORA?
– Estou indo embora. Voltando pra casa.
– E comé que eu vou achar outra pessoa pra ficar no seu lugar? (leia-se tô fodido, ninguém na Umbria fala Inglês, comé que eu vou comprar cartuchos vazios a preço de banana de fornitores que só falam Inglês?)
– Só lamento. Culpa do seu amiguinho lanterneiro.
Segue risada maléfica.

Amanhã começamos a mudança do escritório. Vamos pra uma cidadezinha aqui perto, pra um galpão novo. Vai dificultar mais ainda a minha vida porque, se a Marta adoece, coisa que acontece com frequência, eu não posso pegar a bicicleta e vir trabalhar, ou pedir uma caroninha, porque o novo escritório é longinho da minha casa – aliás, longinho de tudo. Ainda bem que essa lamúria está pra terminar.

**

Cena italiana:
17:15, banheiro da estação Termini, Roma. Uma mulher entra esbaforida, após inserir os 0,60 na roleta. Abre a pequena mala em cima da bancada da pia, saca uma saiona e uma camisa, se despe da roupa do corpo e começa a vestir a saia, coisa que, levando-se em conta o design da mesma, levou um bom tempo. Passa a “tia” do banheiro e vê a mulher em pé no meio do banheiro, de sutiã cor de vinho, tentando abotoar a lateral da saia.

TIA: Nossa, que saia linda!
MULHER DE SUTIÃ: Brigada!
TIA: Bom, também, quando se é magrinha assim*, qualquer coisa fica bem, né…
MULHER DE SUTIÃ: … (sorriso satisfeito)
TIA: Eu nunca fui magra. Um horror pra comprar roupa!
MULHER DE SUTIÃ: Imagino…
TIA: Mas que que eu posso fazer, adoro comer!
Segue-se uma longa gargalhada. A mulher de sutiã termina de se vestir, dá boa tarde e vai embora. A tia do banheiro grita de longe um outro boa tarde e um boa viagem.

* Pra quem está aprendendo italiano: quando se usa um verbo impessoal, ou seja, com pronome si, o adjetivo vai pro plural. Essa frase em italiano fica assim:
– Quando si è magre, tutto ti sta bene…
Outro exemplo?
– Quando si è giovani, tutto sembra possibile.

**

Mental note: meia xícara de arroz + 1 brocolão e meio + 2 cenouronas = almoço pra uma semana inteira.

**

Acho que não enxaguei direito o Legolas anteontem. Ele tá todo cinza…

**

Quero ir ao cinema hoje. Quero ver Kill Bill.

**

Run to the water
and find me there
Burnt to the core but not broken
We’ll come through the madness
of these streets below the moon
with a nuclear fire of love in hearts

I can see it now, Lord
Out beyond all the breaking of waves
and the tribulation
It’s the place and the home of ascended souls
Who swam out there in love

Nuclear fire of love in our hearts é MUITO bonito.

(Run to the Water, Live, do CD The Distance to Here, que é FE-NO-ME-NAL.)

ociosa

Binão, o cobra da Ferro Italia que perdeu o emprego quando a empresa fechou e agora trabalha aqui fazendo consultoria, é completamente workaholic e fica nervoso quando não tem muito trabalho. Quando tem zilhões de coisas pra fazer, ele fica todo feliz e passa o dia assobiando (hábito abominável, aliás).

Como eu gostaria de ter essa vocação pro trabalho! Mas não tenho. ODEIO trabalho de qualquer natureza. Aqui no escritório esse ódio é muito maior, claro, porque o trabalho é particularmente chato, porque meu chefe é um imbecil, porque ganho pouco, porque moro sozinha, porque está frio, porque está tudo uma merda, etc. Mas o conceito de trabalho, de forma geral, já me dá urticaria.

Tipo, eu adoro traduzir. Tem vezes que me dá a louca e eu pego um pedaço de um livro que eu particularmente gosto e saio traduzindo. Mas só de saber que tem alguém esperando aquilo dentro de um prazo, ou que dessa atividade dependa a saúde da minha conta corrente, já me vêm os calafrios. Realmente nasci pra ser madame.

Sim, sou preguiçosa, mas isso não me impede de fazer as coisas, significa só que tenho que reunir mais forças pra fazê-las. Minha casa é muito limpinha, cozinho e lavo louça todo dia, não deixo acumular nada (só roupa pra passar, mas é até melhor, em termos de economia de energia) pra fazer dentro de casa, faço compras com uma certa frequência, já que vou a pé ao supermercado e não consigo comprar mais de uma certa quantidade de coisas porque depois como faço pra carregar tudo pra casa?. Saio de manhã às seis e meia pra correr, vou a pé a tudo que é lugar sem reclamar, sou rapidinha em tudo que faço, até no que não gosto de fazer. Mas também adoro ficar sem fazer nada, coçando o saco. E essa coçação so o não-emprego pode te dar.

Meu problema é que as coisas que eu gosto de fazer não são atividades assim digamos empenhativas nem de muita responsabilidade: ler, escrever, ler, cozinhar, ler, bater papo, ler, escrever, fazer compras, cuidar da casa, ler, brincar com meu cachorro espetacular, ler, comer, ler, etc. E agora? Agora não sei.

O lance da responsabilidade é forte comigo. Odeio ter mil coisas ou pessoas dependendo de mim – claro que tem a ver com insegurança, mas também tem muito a ver com preguiça. De qualquer maneira, prefiro trabalhar em equipe, o que não significa que eu jogue tudo pra cima dos outros, muito pelo contrário: normalmente acabo comandando o batatal, mas no final das contas o trabalho é feito por todo mundo junto.

Mas o mais grave dessa história é que a satisfação do trabalho feito, ou bem-feito, eu não tenho. Executar ordens de terceiros não me dá nenhum tipo de alegria. Alias, nem executar ordens de mim mesma: adoro fazer listas e gosto de riscar o que já foi feito, mas depois acabo perdendo a lista e deixando tudo pela metade. Não tenho todo esse estímulo de melhorar sempre, de dar o melhor de mim, de superar limites. Tenho muitao preguiça de superar limites. Acho um saco superar limites. Meu prazer jamais vem de uma coisa bem feita ou de um projeto realizado ou do fato de ter conseguido alguma coisa que eu sempre quis, mas de coisas simples e pequenas, como todas aquelas coisas ali que eu falei que gosto de fazer. Se escrevo um texto bom, do tipo que depois eu fico relendo e pensando putz, mandei benzão, fico contente, mas não saio corrigindo nada nem melhorando nada, escrevo e pronto. Sempre tive problemas com rascunhos; jamais em toda a minha vida escrevi um rascunho que depois, corrigido, virou texto. Escrevia um rascunho pra acontentar professores chatos que exigiam a coisa, mas o texto final era sempre outra coisa completamente diferente, sobre outro tema, escrito em modo diferente, de tamanho diferente, enfim. Voltar atrás e corrigir é muito doloroso pra mim.

Sei lá, sou meio folgada sim, mas tento compensar oferecendo em troca a minha brilhante e solar companhia hohoho Mas falando sério, eu não me incomodo de dar carona a, de cozinhar para, de ajudar a arrumar a casa de, de pagar cinema para, de levar pra passear cachorro/filhos de, de ajudar a estudar pra prova pessoas cuja companhia me é particularmente agradável. Acho uma troca normal: você me faz dar umas risadas, eu lavo a louça depois do jantar. Você me faz companhia pra ir ao cinema, eu dirijo. Você me dá algumas horas de papo interessante, eu pago o chopp (pra mim vinho tinto, por favor). Você me faz companhia na discoteca quando me bate aquela vontade de dançar, eu te hospedo na minha casa. Você me ensina, mesmo sem saber, alguma coisa de útil/interessante/curioso, eu te trago um brigadeiro, te dou um abraço. Acho naturalíssimo, balanceado e super válido, não só quando EU estou fazendo companhia, dando horas de papo, fazendo os outros rirem, mas também quando estou lavando a louça, dirigindo, pagando o chopp. (mas admito que me encontro mais frequentemente na posição de quem faz rir, de quem oferece um ombro amigo, de quem ensina alguma coisa, de quem dá horas de papo interessante). Troca, escâmbio, dar-e-receber, é disso que é feita a vida, né nao?

dia-a-dia

Almocinho light hoje: filés de merluzo cozidos no vinho branco com salsinha e pimenta-do-reino (ficaram rigorosamente com gosto de NADA, fiquei com preguiça de cortar a cebola, deu nisso.) e arroz de brócolis com cenoura – cozinhei tudo junto, pra poupar tempo, gás, espaço (e consequentemente detergente e tempo) e vitaminas. Fiz duas cenouronas e um brocolão e meio, e meia xícara de arroz. Sobrou pra cacete, ou seja, amanhã o almoço vai ser repeteco, com hamburger no lugar do merluzo.

Ontem aproveitei o solzinho delicioso da hora do almoço pra dar banho no legolas, que tava fedendo horrivelmente. As crianças passavam e se admiravam, porque ele fica quietinho, com aquela cara de cordeiro pronto pro abate, enquanto eu esfrego com sabonete Phebo e depois enxaguo na base da canequinha. Quando eu falo que ele é um cachorro espetacular, não é corujice minha não, é verdade. Um cachorro que não é alérgico a nada, come tudo e acha ótimo, se dá bem com todo mundo, quase não late, não tem pulga, e ainda por cima não se rebela quando toma banho não se acha em cada esquina não, tá pensando o quê!

E aí amanhã começa o UmbriaLibri 2003, uma feira dos editores umbros. Vou ver se convenço o Samuele a me levar a Perugia pra ver. Mas tenho que ir sem carteira, senão já sei que vou acabar morrendo nuns Calvinos, nuns livros de receitas…