o atentado em Cabul

Semana passada morreram acho que 6 paraquedistas italianos em um atentado em Cabul. Superchato, também acho, mas os caras morreram 1) a trabalho e 2) não exatamente de maneira inesperada, já que ir ao Afeganistão nesses tempos não é exatamente como dar uma volta a pé num vilarejo na Provence. Por isso acho absolutamente, ridiculamente desnecessário o drama que se criou ao redor dessa história.

Funerais de estado, com direito a tiro de canhão e coisa e tal. Foram todos promovidos post-mortem, teve minuto de silêncio no Senado, a agência nacional de notícias fez um minuto de silêncio, ou seja, sem mandar notícias, o funeral teve cobertura ao vivo de não sei quantos canais de televisão. Le Frecce Tricolori (a Esquadrilha da Fumaça italiana) voando nos céus de Roma. Os caras foram promovidos a heróis nacionais. Só que, até onde eu sei, estar ajudando a levar a democracia (cof cof) lá pros cafundós do Judas, e não defendendo a pátria de perigos externos, não tem nada de heróico (acho que esse heróico perdeu o acento mas estou com preguiça de procurar). Até porque eles são muuuuuuuuuito bem pagos por isso; não deixa de ser uma espécie de mercenarismo moderno. Essa mania de transformar em mártir tudo que é soldado que morre em guerras idiotas anda me irritando deveras. Soldados em guerra morrem, cacete! Pra mim é muito mais merecedor de funerais de estado o peão que morre caindo do andaime enquanto estava construindo ponte porque o empregador não deu equipamento de segurança.

Ora, façam-me o favor.

sonho

Não sou de contar sonhos, mas esse foi divertido demais.

Rio de Janeiro, mais precisamente Copacabana. Só que no sonho a Nossa Senhora de Copacabana era suspensa sobre o mar, azul azul, uma coisa linda.

Lulu, que na vida real não dirige, no sonho dirigia um Mini Cooper conversível de uma cor horrorosa, aquele azul-geladeira-de-pobre, sacam, que na frente tinha uma pá tipo de trator-escavadeira. E eu e ela saíamos pela cidade da seguinte maneira: ela dirigindo o carro e eu sentada na cadeirinha vermelha da Carol (a que a gente bota no banco de trás do carro), na tal pá.

Corta.

Eu, ainda sentada na cadeirinha vermelha, segurando na lateral de um circular qualquer da São Silvestre, o cara a mil pela Nossa Senhora passando por cima do mar e eu na cadeirinha arrastando no chão. Lembro que quando cheguei em casa ainda comentei “puxa, mas isso desgasta demais a cadeirinha, que saco!”.

Corta.

Eu e Lulu, de novo no Mini Cooper, tentamos virar na Sacopã mas tinha um carro dos Carabinieri parado na entrada da rua. Abrimos o vidro e o carabiniere-mor, um grisalho bonitão mas logicamente irreal porque estava sem quepe, nos diz, em italiano:

– Signore, mi dispiace ma non potete salire perché stanno intervenendo.

(“Senhoras, infelizmente as senhoras não podem subir porque a polícia está fazendo uma intervenção”. Detalhe pro gerúndio que em italiano quase não se usa; deve ter sido uma interferência do português)

Corta.

Eu e Lulu no Cooper, no Rebouças, sem trânsito (ô sonho!). Paramos pra descansar, não sei do quê, e vem vindo um hippie de cabelão comprido e um terno verde surrado com uma garrafa de batida de coco na mão. Pergunta pra gente se não temos mais vodka pra dar um upgrade na batida dele que não tava lá essas coisas. A Lulu diz “lógico, querido” e passa uma garrafa de vodka pra ele.

Acordei.

mais carolinices e outras coisas

. Assim como mamãe e papei, Carol não tem jetlag.

. Então você é uma anta, puxa uma cutícula saliente com os dentes e acaba com um buraco gigante na face lateral do indicador direito que vai ficar ardendo uma semana. Bem feito. O único ponto positivo é que posso usar os band-aids coloridos da IKEA. Êeeeeeee!

. Remédio pra circulação das pernas (a.k.a. varizes), Clinique Repairwear… #velhicechegando

. Não só a tal universidade romana que eu mencionei, mas a de Pádua também está bolada com o nível de conhecimentos gerais dos alunos e também introduziu cursos de férias pra atualizar os conhecimentos da galera.

. Nós saímos MUITO à noite, porque vida social aqui = jantar fora. A Carol se comporta superbem, fica quietinha no carrinho ou na cadeirinha, normalmente entra no clima e come também (normalmente uma re-janta), quando começa a esfregar os olhinhos nós picamos a mula. Quase sempre ela dorme no carro, e aí tivemos que desenvolver um método de chegada em casa: como a garagem tem aquele sensor de luz que acende automaticamente quando a gente passa, e o elevador faz um blim-blom quando chega e ainda por cima tem aqueles spots de luz bem nos zoio da gente, passamos a parar o carro na garagem, subir a rampa no escuro e entrar pela porta da frente do prédio, sem acender as luzes. Subimos um lance de escada no escuro, chegamos em casa no escuro e botamos a madame no berço no escuro. Assim ela não acorda e não fica pilhada demais pra dormir de novo, coisa que já aconteceu algumas vezes. Vejam bem, ela não reclama, mas fica rolando na cama resmungando ou então conversando como se fossem dez horas da manhã, e demora pra burro pra pegar no sono de novo. Com o nosso novo método ela faz a transição carro-berço very smoothly. Vivendo e aprendendo.

. Nem sinal de dentes no horizonte. Quanto mais tarde, melhor, mas estou louca de curiosidade pra ver como vai ficar a cara dela com aqueles microdentes ridículos : )

potocas botenses

– Essa semana finalmente saiu o Superenalotto acumulado: quase 150 milhões de euros foram pras mãos de um fulano que mora em uma cidadezinha de 5.000 habitantes na Toscana. Apesar do buraco em que ele (ou ela) mora, ninguém sabe quem é o vencedor, mas isso não impediu os zilhões de boatos sobre possíveis milionários, incluindo o dono da casa lotérica – e não preciso nem dizer que esses pobres coitados estão submersos em cartas, telegramas, emails, SMSs e recadinhos mil pedindo dinheiro emprestado. Neguinho é foda, vou te contar.

– Pra minha mãe, que acha que eu exagero quando digo que a escola italiana é uma bela merda: a qualidade das redações das provas de admissão pras faculdades aqui é tão, mas tão ruim que uma das maiores universidades de Roma resolveu fazer aulas de alfabetização nas férias – o nome é esse mesmo, “lezioni di alfabetizzazione”, um intensivão de gramática e ortografia. E antes que alguém pergunte: não, o curso NÃO é pra estrangeiros.

– Vários problemas diplomáticos rolando com Malta por causa dos barcos cheios de imigrantes africanos que chegam à ilha de Lampedusa, uma merrequinha que pertence à Sicília mas fica mais perto da África que da Itália. O lance é que a guarda costeira maltesa normalmente é a primeira a avistar os barcos, e o que faz? Dá de presente uns salva-vidas, aponta com o dedo pra um ponto longínquo no horizonte e diz “a Itália fica ali, ó”. Os barcos, cheios de africanos sub-saarianos mortos de fome e de insolação, chegam à microscópica Lampedusa ostentando os salva-vidas malteses, logicamente deixando as autoridades italianas muito putas da vida. Essa semana a Itália vai se queixar formalmente com Bruxelas, pedindo ajuda oficial à União Europeia. Quero só ver no que vai dar.

– Começou o Ramadam, o mês em que os muçulmanos tem que jejuar até as oito da noite. Pra deixar a coisa ainda mais ridícula, se é que isso é possível, os coitados não podem nem beber água, que, como até o Leguinho sabe, não é alimento. Mas enfim. O resultado é que andam todos por aí exaustos, fracos, desidratados porque o calor realmente tá foda, e com hálito cetônico (o famoso bafo de fome). Vamos lá todos juntos repetir o mantra: religião é uma merdaaaahmmmmmmmmmmmmm religião é uma merdaaahmmmmmmmmmmm…

– O atleta italiano que ganhou medalha na maratona no ano passado em Pequim não terminou a prova no Mundial de Atletismo de Berlim esse ano. Teve caganeira. Coitado, deve ser horrível, mas que é engraçado, é.

de bodybugg e perda de peso

Então.

Os dois únicos poréns do bodybugg, por ordem de importância:

1) O software não é compatível com Firefox. Ainda bem que nas instruções essa frase tem “ainda” no final, porque usar IE é realmente uma tortura e assim que a versão compatível com o navegador da Mozilla sair, vou soltar fogos de felicidade.

2) É ALTAMENTE viciante. Pra quem tem tendências compulsivas como eu, o negocinho tem altas probabilidades de dominar a vida totalmente. Passo o dia inteiro contando calorias, decorando as tabelas de nutritional facts das comidas, conectando o trequinho ao computador toda hora pra atualizar as calorias gastas, olhando repetidamente pro digital display pra saber quantas calorias gastei até agora (embora o número mostrado ali não tenha, pra mim, nenhuma importância, dada a minha total incapacidade de memorizar números fora de um contexto visual – tipo, eu lembro que o ônibus que vai da IKEA ao centro de Roma é o 32 porque tenho na cabeça a foto mental do ônibus vindo pela rua, com o número bem visível na frente. Não consigo, de maneira alguma, ler um número numa frase e lembrar-me dele dez segundos depois). Imagino que com o tempo tudo fique tão automático que a dependência perca intensidade, mas por enquanto eu praticamente só penso no bodybugg e mais nada.

Não importa, lógico; nenhum preço a pagar pra emagrecer direito e de maneira definitiva é alto demais. Nenhum. Venderia a minha alma ao demo, se o demo existisse e a quisesse, lógico.

Estou aproveitando as papinhas da Carol pra preparar o meu próprio menu. Hoje vou fazer grão-de-bico, arroz integral, filezinho de vitela (a famigerada “fettina”, que eu ABOMINO mas hoje vou ter que engolir), couve-flor e vagem. Em papinha pra ela, em PF pra mim. Estou achando ótimo.

A coisa mais legal desse sistema é que você acaba aprendendo muito, mas muito mesmo, sobre alimentação. Segundo o meu programa, que é determinado pelos meus objetivos (perder peso e melhorar a performance “atlética”, ou seja, conseguir fazer os workouts com luvas de pesinho e sempre em versão alto impacto sem achar que vou enfartar, do jeito que eu estava antes de engravidar), eu tenho que manter uma certa proporção diária entre carboidratos, gorduras e proteínas. Acabo testando vários cardápios até chegar à proporção certa, e nessa ando descobrindo várias coisas sobre as comidas que fazem parte da minha dieta normal. Controlar as porções também fica infinitamente mais fácil, de modo que sobram calorias pros lanchinhos interrefeições pra eu poder não desmaiar de hipoglicemia e ainda por cima me divertir um pouco. Normalmente meus lanchinhos (dois por dia) se alternam entre iogurte desnatado branco ou de frutas e barrinhas várias. Uma que eu gostaria de ter descoberto antes, que na verdade só tem forma de barrinha mas barrinha não é, é a bananada em bastãozinho Frutabella, que comprei no Zona Sul. Na próxima vez que for ao Rio vou trazer uma mala só de bananada, juro; são só 90 kcal por porção, é uma delícia, tem potássio (ótimo pra quem está malhando pesadinho como eu), no sugar added, zero gordura, é prática e substitui com louvor a hedionda banana de exportação disponível aqui, que tem gosto de nem sei o quê – com certeza não de banana.

Outra coisa boa é que você tem sempre uma desculpa pra fugir de comidas das quais não gosta e que as pessoas insistem em te empurrar. Não posso, já acabei as minhas calorias de hoje, êeee. Muito importante em um país onde não gostar de certas comidas é praticamente um crime.

Já do lado da malhação, ainda não tenho coragem de encarar o ChaLEAN Extreme, que requer uma preparação física melhorzinha pra poder ser aproveitado direito. Não estou conseguindo nem fazer as séries de abdominais mais esquisitas do Turbo Jam; ainda tenho muito o que progredir até poder pegar pesado com o CE, porque quero fazê-lo direito. A coisa boa é que, como conheço todos os workouts TJ de memória, não preciso nem pensar na coreografia e assim sobra espaço mental pra concentrar a força nos grupos musculares certos a cada movimento. Parece besteira, mas só com isso estou conseguindo fazer as séries de peso com pesinhos de 3 kg, apesar de estar em péssima forma – quando comecei com o TJ pela primeira vez, tive que pegar os ridículos micropesos de 1 kg e custei até passar pros de 3, principalmente por causa do tríceps e dos músculos dos ombros, que andavam fraquinhos, fraquinhos. Felizmente a Carolina, sendo a Filha Mais Legal do Mundo, anda colaborando: quando percebo que ela está ficando com soninho, troco de roupa, boto o DVD, ligo o ar condicionado, encho a garrafinha de água e fico toda pronta pra que assim que ela capotar eu só precise dar play e começar. Mesmo quando ela acorda no meio da coisa, normalmente fica quietinha no berço se distraindo sozinha, e mesmo quando chora eu só preciso trazer o berço pra sala e ela fica me olhando terminar o workout.

Lógico que a casa está imunda e o trabalho que tenho que entregar semana que vem ainda nem foi tocado. Mas não importa. Como eu disse, se o demo quiser, minha alma está disponível.

O resultado da primeira semana da conjugação bodybugg + Chalene sai na segunda. Aguardem e confiem.

interior do zaire, o retorno

A volta pra cá foi, hm, estranha. Começou com um pequeno incidente diplomático, continuou com a impossibilidade de sentar perto do Mirco no avião (ele estava dois compartimentos mais pra frente, mas por sorte sentei ao lado de uma senhora MUITO gentil que estava viajando com a nora e a netinha pro Qatar), incluiu uma gigantesca vomitada da Carolina e poucas horas de sono (mas pelo menos nenhuma turbulência), culminou com a notícia de que o carrinho tinha ficado em Paris (eu também quase fiquei, se vocês querem saber, hohoho) e só chega amanhã, e terminou com uma viagem de carro tranquila até aqui em casa, sob um sol escaldante de 39 graus. A Filha Mais Legal do Mundo, que, foi mal aê, é a minha, fez o favor de dormir várias horas no ar condicionado com o Mirco pra eu poder desfazer as malas. Eu tenho um monte de TOCs e um deles é esse de não conseguir sossegar o facho antes de desfazer as malas, não importa o quão cansada da viagem eu estiver. Demorooooou pra eu conseguir arrumar tudo porque tínhamos três malonas, duas malinhas, uma bolsona da Carol, a mochila do Mirco e a pasta do laptop, mas consegui, e ainda deu tempo de fazer três loads of laundry e de pendurar tudo. A FMLdM ainda fez o favor de aturar a visita confusa da família do Mirco, que ela logicamente estranhou totalmente, com uma certa fleuma, e de capotar cedo. Acordou várias vezes de madrugada resmungando e choramingando mas era só pegar no colinho que ela recapotava. E só acordou de verdade mesmo às dez da manhã, o que me garantiu as horas de sono suficientes, embora meio que picotadas, pra encarar o dia de hoje.

Achei tudo muito estranho por aqui. As proporções da casa são todas diferentes. Estou achando o italiano da televisão engraçadíssimo. TODAS as minhas plantas não-suculentas morreram, TODINHAS, estou de luto. As únicas coisas presentes na geladeira eram um iogurte de morango light vencido no final de maio, que foi o meu café da manhã, e um saco de batatas tão velhas que há plantinhas saindo delas.

Aproveitei a falta de coisas pra comer além das 1.354 barrinhas de diferentes tipos que trouxemos do Rio pra começar uma reeducação alimentar comme il faut, e durante as poucas e curtas sonecas da Carol consegui configurar o meu bodybugg, meu novo melhor amigo. Ainda estou aprendendo a mexer no programa, e o fato de não morar nos EUA faz com que eu tenha que inserir praticamente TUDO o que eu como manualmente, mas não importa: por enquanto, estou gostando. Estarei dando mais detalhes conforme a coisa for ficando mais interessante. Já subi as informações da malhação de hoje e inseri tudo o que vou comer, e o cálculo do balanço calórico já foi feito, embora a contagem das calorias consumidas só vá terminar à meia-noite. Amanhã de manhã vou acordar e sair correndo pra ver se me mantive no déficit calórico que eu escolhi.

Fora isso tudo, bom, fica a saudade. Como eu já disse antes, dessa vez a coisa vai apertar mais porque eu fiquei tempo suficiente no Rio pra ligar o Carioca Mode, coisa que normalmente nem dá tempo de fazer. Hoje acordei repassando as conversas interessantérrimas e divertidíssimas que tive com meus amigos aí no Rio – com o pessoal da faculdade, do italiano, com a Newlands, pra não falar do meu überphoda irmão – e me deu uma tristeza infinita. Porque o que me espera, meus amigos, é papo sobre comida, carro e viagens ridículas a balneários lotados de italianos pouco educados. Acho que vai demorar um bom tempo pra eu conseguir entrar no meu Italian Mode.

rio

É muito estranho estar aqui por todo esse tempo. Desde que fui morar no Malawi nunca vim pro Rio por mais de duas semanas, o que significa que as minhas vindas assumiam um caráter entre o turístico, porque o Mirco vinha sempre comigo, e o quase-business, já que tinha que resolver ene coisas.

Dessa vez em entrei, dentro do possível com trabalho e Carol ao mesmo tempo, numa espécie de rotina carioca. Um lance muito bizarro. Praticamente me catapultei de um planeta pra outro, já que a minha (provisória) vida aqui é diametralmente oposta à minha vida no interior do Butão. A essa altura do campeonato, já sei do que vou sentir falta quando voltar pro interior da Suazilândia: o queijo Minas Solidão comprado no Zona Sul, o pão de queijo da Eldorado, os pães da Nutrella de 35 kcal por fatia, as pessoas de legging e tênis direto andando na rua sem maquiagem, a cabeçada everywhere (eu adoro cidade grande, calçadas cheias, fauna variada, essas coisas), táxi que você faz sinal no meio da rua e ele pára (Bastia não tem táxi, lógico), o sotaque carioca, a Lagoa, que é um desbunde imoral de tão desbundante, os trocentos salões de beleza com manicures ótimas, a escova progressiva, os passeadores de cachorro, o cinema legendado, o milk-shake de Ovomaltine do Bob’s, os restaurantes e farmácias que entregam em casa, o porteiro que leva as sacolas de compras até o elevador, as janelas que podem ficar eternamente abertas all year round, o gosto particular da água de filtro de barro, as notícias dadas na minha língua, o comércio aberto direto sem pausa pro almoço, a sala bem grande aqui de casa, a feira da Nossa Senhora da Paz, as Lojas Americanas (adoro), a luz. E isso porque eu nem fui à Cidade ainda. Não vou sentir falta da sujeira nas ruas, desse povo feio pra cacete, das vinte vendedoras por loja, paradas em pé feito um exército de dois de paus esperando cliente, das novelas cada vez mais pavorosas, do Sarney, do trânsito e da dificuldade de parar o carro, de shopping que cobra estacionamento, da mendigada, da ladeira ridícula aqui de casa que é um martírio pra subir com carrinho de neném, das coisas todas caríssimas, da mania chata que carioca tem de buzinar O TEMPO TODO, do prédio de odiosos novos ricos aqui atrás que gargalham a trocentos decibéis a madrugada toda, do caminho casa-aeroporto-casa, da parte velha do Galeão que chega a dar ânsia de vômito de tão feia, de ovo de codorna. Entre outras coisas.

Notem que nem estou considerando a parte social porque aí já seria sacanagem; TODO MUNDO que eu conheço aqui é mais interessante do que as pessoas que conheço no interior do Burundi. Vou sentir tanta falta de conversas interessantes que estou tentando não pensar no assunto pra não me deprimir.

Por outro lado, enquanto estou aqui sinto falta da pizzinha semanal no Penny Lane, do Legolas, de poder ir pra tudo que é lugar perto de casa a pé sem ter que encarar ladeira na volta, de poder deixar o carro aberto e ligado enquanto desço rapidinho pra tirar dinheiro no caixa eletrônico, da minha garagem eLorme onde tudo cabe, da minha televisão na sala, das minhas plantinhas queridas, do macarrão da Arianna aos domingos, dos meus armários novos, dos mil tipos de queijos, das minhas roupas de inverno, da Benetton, do Ipercoop que tem tudo, de morar no primeiro andar, de não pegar trânsito praticamente nunca, de falar italiano, da minha poltrona Poang maravilhosa, da minha cozinha sensacional. Entre outras coisas.

Enfim, vida de expat é boa, mas é uma merda.

rio

Cheguei no começo de junho. A viagem de avião com a Carol foi light à beça; ela é muito tranqüila e dormiu o vôo todo apertadinha no sling no meu peito e não encheu nem se encheu. A escala em Paris foi curta, ela mamou normalmente, tudo correu muito bem. Mirco ficou uma semana e depois foi embora; eu fiquei, teoricamente, pra dar uma descansada, conseguir fazer ginástica e emagrecer, e pra introduzir a Carol ao maravilhoso mundo das sopinhas. Ficamos até 15 de agosto.

Sim, a Carol foi introduzida ao maravilhoso mundo das sopinhas, e está amando tudo. O problema é que estamos fazendo mais sopinhas (ou papinhas, como quiserem) à base de inhame, cará, aipim, bertalha, couve, batata-baroa… Coisas, digamos assim, ligeiramente pouco européias. O mesmo com as frutas: ela delira mesmo é com banana e abacate (se bem que também é louca por pera), que até se encontram na Itália mas são uma bela merda. Então vamos ter que começar a dar uma acalmada com as coisas tropicais e tentar introduzir coisas mais de hemisfério norte pra ela poder ter o que comer quando voltar pra Itália.

Sim, estou conseguindo emagrecer, mas muito pouco. Não, não consegui relaxar. Nada. Porque, sendo uma imbecil, aceitei uns trabalhos gigantescos e infinitamente chatos que arruinaram o meu mês de junho inteirinho. E como Murphy é Murphy, a Carol voltou a acordar de madrugada pra mamar, o que estava me deixando um bagaço durante o dia, tendo que trabalhar. Em junho não malhei absolutamente nada. Agora ela voltou ao seu ritmo anterior e aparentemente parou de acordar de madrugada; não tenho mais trabalhos gigantes e estou conseguindo malhar um pouco. Mas, sendo uma idiota, não fui ao Vigilantes logo de cara, que era o que eu deveria ter feito, e agora estou aqui, toda atolada em contagens malucas de calorias. Estou doida pro meu bodybugg chegar logo pra facilitar as coisas.

O estresse do mês de junho foi tanto que eu consegui perder, logo na primeira semana, as seguintes coisas:

– 1 tubo de pasta de dentes
– 1 chaveiro com a chave de casa aqui da minha mãe
– 1 folha de papel preciosa com anotações de vocabulário do trabalho maldito infinitamente chato e longo
– O cartão de banco do Mirco que ele sempre deixa comigo pro caso de emergências.

Hoje, depois de deixar a Carol sozinha no berço rolando até dormir, resolvi dar uma arrumada geral nas tralhas. Encontrei tudo, menos a pasta de dentes, que parece que desapareceu mesmo. O chaveiro estava na maleta do laptop, em um bolso nunca antes utilizado. A folha de papel eu devo ter jogado fora sem querer, mas também agora não importa mais. O cartão do Mirco estava dentro da minha carteira que nunca sai de casa; como é o mesmo banco onde eu tenho conta, eu olhava praquele cartão e achava que era meu (sendo que o meu estava imediatamente ao lado). Enfim: estresse é uma coisa que eu não recomendo, sabe.

De resto, tudo OK. A Carol está achando tudo ótimo, adora passear em Ipanema, dorme no carrinho no meio da feira da N. Sra. da Paz, brinca com todo mundo, está compridona perdendo roupas e com o cabelo ridiculamente imenso tipo algodão-doce. Está quase sentando. Ri o tempo todo e, superada a fase do “anguuuuuuu anguuuuu”, deu pra gritar feito uma maritaca, o dia inteiro. Enfim, tudo nos conformes, fora o Skype, que anda uma merda, deixando o Mirco muito puto da vida.

Tirei o final da tarde de hoje pra ir colocando as coisas na mala – os zilhões de presentes que a Carolina ganhou, os seis pares de sapato e dois de botas que comprei, essas coisas – e fui escrevendo um post gigante na cabeça, mas agora estou com preguiça. Amanhã, se der, escrevo mais. Tenho outro trabalho pra entregar na terça e PRECISO malhar; todo o resto (pós-Carol, lógico) fica em segundo plano, inclusive a vida social.