carolinices

– Boa noite, Carol.
– Boa noite, mãe.

Apago as luzes. Ela começa a beliscar a minha mão, como sempre. Sinto a frequência respiratória dela cair, sinal que está pegando no sono. DO NADA ela começa a chorar.

– Caraca, quê que houve, amor?
– Tô com medo das bruxas!
– Que bruxas?
– As bruxas da montanha…
– Que montanha?
– Nenhuma…
– Mas de onde você tirou isso? Quem falou que existe bruxa?
– Ninguém…
– Onde você viu bruxa então?
– Lugar nenhum…
(mais choro)
– Tô com saudade da Manu…
– Puxa, eu também…
– Tô com saudade do Guigui…
– Eu também, meu amor.
– Tô com saudade da Marina…
– Somos duas.
– Tô com saudade da Vovó Telma…
– Idem.
– Tô com saudade do Tio Tuco…
– Eu também, querida.
(mais choro)
– Tô com dor na orelha…
– Ah é?
– Com dor no alto da cabeça…
– Ahn. Onde mais tá doendo?
– No meu dedo!
(mais choro por uns dois minutos, depois capotou)

***

Carol desenha um ônibus e o motorista segurando o volante.
Eu: Não tem nenhum passageiro não?
Carol: Não.
Eu: Puxa, coitado, ele vai ficar dirigindo sozinho?
Carol: Mãe, é importante aprender a ficar sozinho. Quando eu vou pro supermercado com o papai você fica sozinha em casa e não reclama, né? Então.

***

Eu: Carooooool, já botou o tênis? Já pedi tem meia hora, cê tá parada na frente da televisão hipnotizada? Vai logo, vamos chegar atrasadas, bota esse tênis!
Carol: Mãe, você tem que aprender a es-pe-rar.

***

Carol: Mãe, quero ovo rosa.
Eu: Hein? Nunca vi ovo rosa, quequeísso?
Carol: Aquele que você abre e joga na panela e a gema fica rosa.
Eu: Ovo frito?
Carol: Pode até ser ovo frito, mas ele fica ovo rosa.

***

Eu: Qual foi o verde de hoje no almoço da escola?
Carol: Espinafre. Você faz espinafre pra mim no jantar?
Eu: Vou fazer outra coisa, tá, pra você não comer espinafre de novo.
Carol: Mas eu quero espinafre! E faz muito bem pra saúde! O cocô fica todo verde escuro.

***

Eu: Toma logo esse suco pra gente poder sair.
Carol: Ué, mas você não vive falando que suco faz mal, que é cheio de açúcar?

***

Carol tosse.
Eu: Bota a mão na frente da boca, tá?
Carol: Tem razão. Se tossir em cima do coração dá doença, né.
Eu: Amor, mas o coração fica dentro do peito, protegido, não dá pra tossir em cima dele a não ser em caso de cirurgia torácica a céu aberto.
Carol: Peito? Mas eu não tenho peito.
Eu: Peito é tudo isso aqui, ó (passo a mão pelo tronco dela). PeitoS, no plural, são esses aqui (mostro os meus). Você pode chamar peito de tórax também, se quiser.
Carol: Ah, então eu prefiro tórax.

4 ideias sobre “carolinices

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